14 - Terraço

2024, Brasil.
Charlotte on.

Peguei o elevador e subi mais um andar. Caminhei pelo corredor, procurando o quarto 408. Parei em frente à porta e hesitei por alguns segundos antes de criar coragem para bater. Dei duas batidas leves.

Ouvi passos do outro lado se aproximando. Quando ele abriu a porta, percebi que estava com o cabelo úmido, provavelmente recém-saído do banho.

Ele começou a fechar a porta atrás de si, mas parou por um instante, analisando minha roupa.

— Você vai assim? — perguntou, arqueando uma sobrancelha.

— Vou para onde? — respondi, confusa.

— Esqueci de avisar, né? — Ele deu um sorriso de lado. — Quero te levar a um lugar. Mas, se fosse você, colocaria uma blusa de frio.

Ele voltou para dentro do quarto enquanto eu, ainda parada do lado de fora, retruquei:

— Então vamos ter que descer para pegar minha blusa no meu quarto.

— Não precisa. — Ele reapareceu segurando um moletom da McLaren. O logo chamava atenção, mas o que realmente me marcou foi o nome dele e o número estampados.

— Obrigada! — Sorri enquanto pegava o moletom, e ele retribuiu com um sorriso discreto.

Vesti o agasalho, que ficou, obviamente, enorme em mim.

— Ficou ótimo em você. Quem sabe assim você reconsidere para qual equipe torce. — Ele usou um tom brincalhão, e eu revirei os olhos, tentando disfarçar o sorriso que escapou.

Entramos no elevador. Ele apertou o botão para o último andar.

— O que vamos fazer no último andar de um prédio em São Paulo? — perguntei, mais para mim mesma.

Ele não respondeu, e ficamos em silêncio. Não era exatamente confortável. Senti que ele estava distante, e sabia por quê.

Quando as portas do elevador se abriram, me deparei com o terraço do prédio. Havia um sofá grande e convidativo, e a vista para a cidade era simplesmente deslumbrante. O céu estrelado parecia ter surgido para completar o cenário.

— Meu Deus, eu nem sabia que esse lugar existia! — exclamei, olhando em volta.

— Eu gosto de vir aqui à noite, especialmente no sábado. Ajuda a me concentrar para a corrida de amanhã.

Ele se sentou no sofá e fez um gesto para que eu me juntasse a ele.

— O que você quer falar? — perguntou, direto.

— Eu te devo uma satisfação — respondi, tentando encontrar as palavras.

— Não, Charlotte. Não deve. — Sua voz era calma, mas firme. — E, sinceramente, não estou muito afim de falar disso agora.

Aquelas palavras me deixaram sem reação por um momento. Engoli seco.

— Por favor, Lando. Me deixe falar — pedi, minha voz saindo quase como um sussurro.

Ele suspirou, longo e pesado, antes de finalmente assentir.

— Eu não queria 'terminar' com você — comecei, fazendo aspas com os dedos. — Michael estava me perseguindo desde que saíram aquelas fotos nossas juntos. Ele disse que, se eu continuasse com você, iria atrás não só de mim, mas de você também.

— Por que não me contou nada? — A voz dele continuava calma, mas havia algo de magoado em seu tom.

— Não sei. — Minha voz falhou um pouco. — Acho que fiquei com medo. E, quando estou com medo... eu fujo. Achei que me distanciar seria a melhor solução. Não queria que você se machucasse ainda mais por minha causa. Não queria te colocar em perigo.

Ele me observou em silêncio por um instante antes de responder:

— Fico feliz que tenha me contado a verdade. — Ele respirou fundo. — Era só isso?

Lando fez menção de se levantar, mas eu segurei sua mão, impedindo-o.

— Tem mais — disse, e ele se sentou novamente, dessa vez com os olhos presos aos meus.

— Sei que te perdi, Lando. Mas quero que saiba que nada do que sinto por você mudou desde aquele dia.

Ele desviou o olhar, encarando o céu estrelado. Depois olhou para baixo, como se tentasse organizar seus pensamentos. Finalmente, seus olhos voltaram para os meus.

Lando soltou uma risadinha baixa antes de dizer:

— Você não me perdeu, Charlotte. — Sua voz era suave, quase um sussurro. — Enquanto você me quiser, eu ainda estarei aqui.

Eu sorri, mas era um sorriso tímido, quase inseguro. O jeito como Lando me olhava fazia com que eu me sentisse exposta, como se ele enxergasse algo em mim que nem eu mesma sabia que estava ali.

— Mas, às vezes, sinto que você tenta me empurrar para longe — ele finalizou

Suspirei, desviando o olhar.

— Não é isso... — minha voz saiu quase como um sussurro. — É só que...

— Você tem medo. — Ele completou por mim, com aquela certeza que às vezes me irritava e outras vezes me fazia admirar a sua coragem de encarar as coisas de frente.

O silêncio entre nós voltou, mas ele não parecia ter pressa. Era isso que sempre me confundia nele: sua paciência comigo. Como se ele soubesse que um dia eu iria ceder, mesmo que eu não acreditasse nisso.

— É difícil pra você entender, Lando. — Finalmente quebrei o silêncio, cruzando os braços em uma tentativa de me proteger do peso da conversa. — Você está acostumado a conseguir tudo o que quer.

— Isso não é verdade. — Ele balançou a cabeça, e sua expressão se suavizou. — Você acha que foi fácil conquistar você?

Eu o encarei, tentando medir se ele estava brincando ou falando sério.

— Conquistar? Você acha que já conseguiu? — levantei uma sobrancelha, tentando esconder a vulnerabilidade que suas palavras causavam em mim.

Ele riu, um som baixo, carregado de provocação.

— Não vou negar que foi difícil. Mas, Charlotte, eu não sou de desistir.

Soltei uma risadinha irônica

— Você pode até negar, mas quem está usando meu moletom agora?

Revirei os olhos, sentindo o calor subir ao meu rosto.

— Não se empolgue. Eu só aceitei o moletom porque estava com frio.

Lando se inclinou levemente para frente, sua proximidade me deixando ligeiramente desconcertada.

— Frio, é? Sei

Minha respiração ficou presa por um segundo, mas me recuperei rápido.

— Fica tranquilo, Norris. Não vou te dar esse gostinho.

Ele ergueu as sobrancelhas, um sorriso contido nos lábios.

— Talvez você não perceba, mas já me deu. Só o fato de você estar aqui já diz muito mais do que qualquer palavra sua.

O peso das palavras dele pairou no ar por um instante, e eu soube que ele estava certo. Não era sobre ele. Era sobre mim. Sobre o medo de me permitir sentir algo que eu não sabia controlar.

— Você está disposto a esperar? E ir com calma? — perguntei baixinho, sem olhar para ele — Mesmo que eu goste de você, eu ainda... sabe. Eu quero tentar, mas ultimamente aconteceu muita coisa.

— Por você, estou disposto a qualquer coisa. — Sua voz era tão suave que quase não acreditei no que tinha ouvido. — Desde que você queira me encontrar no fim disso tudo.

Olhei para ele, finalmente, e o brilho em seus olhos fez com que algo dentro de mim se quebrasse. Uma barreira, talvez.

— Não sei como você consegue me suportar. — Sorri, tentando aliviar o clima.

— É fácil. — Ele se inclinou um pouco mais, os olhos presos nos meus. — Porque você vale a pena.

E, por mais que eu quisesse responder, dizer que ele estava errado ou provocar mais uma vez, a única coisa que consegui fazer foi sorrir.

— Eu nem sabia que esse lugar existia — comentei, quebrando o silêncio que pairava entre nós. A vista do terraço era incrível, mas a presença dele fazia tudo parecer menor, quase insignificante.

— É um bom lugar para fugir de todo mundo. — Lando olhou para o céu, apoiando uma de suas mãos em minha perna.

Ri baixo, cruzando os braços. — Então, o que eu estou fazendo aqui? Pensei que eu fosse "todo mundo".

Ele virou a cabeça para me encarar, os olhos brilhando sob a luz suave da cidade. — Você sabe que não é.

O tom dele fez meu coração bater mais rápido. Por um momento, eu não soube o que dizer, então me concentrei no horizonte.

— Você sempre fala essas coisas como se fossem óbvias — murmurei, sem encará-lo.

— Porque são — Ele deu de ombros, como se não tivesse acabado de bagunçar meu mundo.

Suspirei, tentando aliviar o peso no peito. — Talvez você tenha vindo ao lugar errado para fugir de mim.

— Ou talvez eu tenha trazido a pessoa certa para fugir comigo — Já fugimos demais um do outro, não quero continuar com isso.

Eu senti o calor dele ao meu lado. Lando se aproximou, mas não de um jeito invasivo. Era como se ele apenas quisesse estar ali, perto o suficiente para ser notado, mas sem pressionar.

— Você acha que tudo isso é fácil para mim? — perguntei, finalmente o encarando.

Ele arqueou uma sobrancelha, curioso. — Isso o quê?

— Você. Nós. Essa... coisa que parece não ter definição.

Por um segundo, achei que ele fosse desviar o olhar ou desconversar, mas ele não fez isso. Em vez disso, inclinou a cabeça levemente, analisando-me como se tentasse desvendar um enigma.

— E por que você acha que precisa de uma definição? — Ele deu mais um passo, quase imperceptível, mas o suficiente para que a distância entre nós diminuísse. — Algumas coisas não precisam ser explicadas, Charlotte. Elas só... são. Não precisamos definir nada, pelo menos por agora. Poderiamos só... apreciar a companhia um do outro. Já seria um ótimo começo.

— Isso é fácil pra você dizer — rebati, a voz mais baixa do que eu pretendia.

— Não, não é. — Ele soltou uma risada curta, mas sem humor. — Você acha que é fácil estar perto de você e não... — Ele parou, balançando a cabeça como se tivesse dito demais.

— E não o quê?

Ele respirou fundo, os olhos fixos nos meus lábios. — E não te beijar.

Minha garganta secou, e meu coração pareceu disparar. O silêncio que se seguiu foi quase palpável, e eu sabia que era minha vez de falar, mas as palavras simplesmente não vinham.

— Você não está falando sério. — Foi tudo o que consegui dizer.

— Quando se trata de você, Charlotte, eu nunca brinco.

O peso daquelas palavras me atingiu com força. A proximidade dele era quase sufocante, mas de um jeito que eu não queria escapar.

— Lando... — minha voz falhou.

— Eu posso te beijar? — Ele inclinou a cabeça, os olhos nunca deixando os meus.

Meu coração estava tão acelerado que eu tinha certeza de que ele podia ouvir. Não havia provocação na voz dele, apenas sinceridade. Ele estava me dando a escolha, e era isso que fazia tudo parecer tão certo.

— Sim.

A resposta escapou antes que eu pudesse pensar demais, e, em segundos, seus lábios encontraram os meus. Foi lento, quase como se ele estivesse esperando que eu recuasse, mas eu não fiz isso. elo contrário, deixei que o calor dele me envolvesse, cada movimento carregando uma mistura de desejo e delicadeza. Seus dedos roçaram levemente meu rosto, um toque que parecia ao mesmo tempo urgente e cuidadoso, como se ele quisesse guardar aquele momento para sempre. O beijo aos poucos foi cessando e tivemos que no separar pela falta de ar. Encerramos com tres selinhos.

Quando abri os olhos, vi que ele estava sorrindo.

— Você não sabe o quanto eu queria fazer isso... — ele disse com a voz calma

— Eu sei sim... porque eu também queria.

[...]
contagem: 1837

Oii amigas, como vocês estão?

Nem um comentário? sério? 😢😓

Me contem se estão gostandoooo.

Comentem dmss e votem para me ajudar.

Bjocas💗
Até o prox

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top