08 - Silverstone

2024, Inglaterra
Lando on.

O paddock de Silverstone estava mais movimentado do que o normal, mas não era exatamente uma surpresa. Correr em casa sempre tinha um peso diferente, uma energia que me deixava ao mesmo tempo ansioso e empolgado. Enquanto os mecânicos ajustavam os últimos detalhes no carro e o treino livre ainda estava a alguns minutos de começar, eu estava jogado no sofá do motorhome, girando um boné nos dedos.

Carlos apareceu na porta, já com aquele sorriso despreocupado de sempre.

— Preparado para o show, Norris? Ou tá mais interessado em ficar pensando sabe-se lá em quem?

Olhei para ele e revirei os olhos, tentando disfarçar o sorriso que teimava em surgir.

— Muito engraçado, Sainz. E eu tava pensando no TL, pra sua informação.

Ele deu uma risada curta e entrou, sentando na poltrona ao lado.

— Claro que estava. E a Sauber ganha o próximo mundial de construtores, certo?

Soltei um suspiro, largando o boné no sofá.

— Tá bom, tá bom. Talvez eu esteja pensando um pouco... nela.

Carlos arqueou uma sobrancelha, claramente se divertindo.

— Nela?

— Charlotte — retruquei, meio irritado comigo mesmo por estar falando disso em voz alta.

— Charlotte? Tipo, a irmã do Charles? — ele perguntou e eu assenti com a cabeça — Uh! Isso está ficando interessante

Ele se inclinou na poltrona, cruzando os braços com uma expressão que misturava curiosidade e provocação.

— Então, o que aconteceu pra você estar assim? Não é só mais uma das suas brincadeiras, né?

Dei de ombros, tentando parecer despreocupado.

— A gente foi juntos pro hotel ontem. Dei uma carona pra ela e pro Charles.

— O Charles tava lá? — Carlos riu, balançando a cabeça. — Como você ainda está vivo?

Revirei os olhos.

— Ele não fez nada demais. Quer dizer, ele lançou uns olhares, mas nada que eu não possa lidar.

Carlos me observou por alguns segundos antes de falar, o tom mais sério.

— Tá, mas e a Charlotte? O que rolou?

Fiquei em silêncio por um momento, deixando as lembranças do dia anterior voltarem. O selinho. O jeito como ela brincava comigo e, ao mesmo tempo, fazia questão de manter o controle da situação. Ela era diferente, e isso era ao mesmo tempo irritante e... interessante.

— Ela é... complicada — comecei, coçando a nuca. — Não é como as outras garotas, sabe? Charlotte é difícil de ler. Um minuto ela tá rindo das minhas piadas, no outro tá me colocando no meu lugar. É tipo... um desafio constante.

Carlos sorriu, balançando a cabeça.

— E você gosta disso, né? Nunca vi você tão mexido assim, Norris.

— Eu não estou — retruquei rapidamente, mas meu tom não convenceu nem a mim mesmo. — Ta, tudo bem, talvez eu esteja... Mas.. Eu só... ela é a irmã do Charles, cara. Tem muita coisa que pode dar errado.

— É, mas também tem muita coisa que pode dar certo — Carlos respondeu, dando de ombros. — Se você realmente gosta dela, talvez seja hora de levar isso mais a sério.

Carlos me observava atentamente, e foi impossível não soltar um suspiro pesado antes de continuar.

— Eu não sei como me sinto — confessei, olhando para o chão. — Quer dizer, ela me deixa de um jeito que nunca nenhuma outra garota deixou . Eu acho que gosto dela, Carlos. Gosto de verdade. E isso me... eu não sei o que fazer.

Carlos arqueou uma sobrancelha, como se não acreditasse no que estava ouvindo.

— Que? Isso é uma novidade. Você sempre sabe o que fazer, Norris.

— Não dessa vez — admiti, frustrado. — Charlotte não dá sinais claros. Um dia ela age como se estivesse interessada, mas no outro... parece que só tá jogando.

— Jogando? — Carlos soltou uma risada curta. — Talvez ela só esteja tentando entender você, porque, sejamos sinceros, Norris, você também não é exatamente uma pessoa fácil de entender.

— Não é isso — interrompi, balançando a cabeça. — Eu tô tentando, sério. Mas ela tem esse jeito... ela sabe exatamente como me desarmar, como me deixar sem palavras. Isso nunca aconteceu comigo antes.

Carlos ficou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse ponderando o que dizer.

— Talvez ela esteja te testando — disse, finalmente. — Querendo ver até onde você vai por ela.

— Ou talvez ela só ache divertido brincar comigo — retruquei, mais amargo do que pretendia. — Porque, na real, é o que parece às vezes.

Carlos me lançou um olhar mais sério dessa vez.

— E se não for? E se ela estiver tão confusa quanto você?

Não respondi. A possibilidade era tão desconcertante quanto o resto dos meus sentimentos.

Carlos se levantou, cruzando os braços enquanto me encarava.

— Lando, se você realmente gosta dela, para de criar desculpas e faz alguma coisa. Mostra que você é mais do que só palavras ou piadinhas.

Eu ri, sem humor.

— Como se fosse fácil.

— Realmente não é fácil! Mas você tem que tentar

Deixei o boné de lado e passei as mãos pelo rosto, tentando organizar os pensamentos que estavam uma bagunça.

— E se eu estragar tudo? — perguntei, mais para mim mesmo do que para Carlos. — Charlotte não é como as outras. Ela tem um jeito... e se eu fizer algo errado e ela me descartar?

Carlos arqueou uma sobrancelha, apoiando o cotovelo no braço da poltrona.

— Estragar o quê, exatamente? Até onde eu sei, vocês nem começaram nada.

Suspirei, frustrado.

— É disso que eu tô falando! Como eu começo algo, se nem sei o que ela sente? Ela acabou de sair de um relacionamento, Carlos. E, honestamente, acho que ela não quer se envolver com ninguém agora.

Carlos inclinou a cabeça, observando-me com atenção.

— Tá, vou ser sincero com você, Norris. Eu conheço a Charlotte. Ela é forte, mas o término não foi fácil pra ela. Talvez ela realmente esteja sendo cautelosa... e a sua fama de pegador definitivamente não ajuda.

— Exatamente. — Balancei a cabeça, amargo. — Todo mundo comenta. Todo mundo fala que eu não levo nada a sério. Como eu vou convencer alguém como Charlotte de que eu sou diferente?

Carlos sorriu de leve, mas havia algo sério em seu olhar.

— Você tem razão, ela provavelmente ouve muita coisa sobre você. Mas sabe o que pode fazer a diferença? Suas ações. Se você mostrar que tá falando sério, ela vai perceber.

— E se ela nem quiser perceber? — retruquei, frustrado. — Talvez ela só ache divertido brincar comigo.

Carlos soltou uma risada curta, mas não de deboche.

— Norris, se tem uma coisa que a Charlotte não faz, é brincar com os sentimentos de alguém. Ela não é assim. E mesmo se fosse, ela já teria demonstrado que não é nada sério. Charlotte é mais parecida com Charles do que você imagina.

— Grande consolo... Charles provavelmente me mataria se soubesse metade das coisas que passam pela minha cabeça quando eu penso nela.

Carlos deu uma risada alta

— Agora é sério. Se ela tá dando abertura, por menor que seja, é porque você mexeu com ela de algum jeito. O problema é: você tá disposto a enfrentar isso ou vai ficar criando desculpas?

— Eu não tô criando desculpas — retruquei, mas minha voz não soava tão convicta quanto eu gostaria.

Carlos se recostou na poltrona, cruzando os braços.

— Então prova. Porque se continuar nessa, você vai perder a única coisa que parece realmente importar pra você em muito tempo.

Dei de ombros, tentando mascarar o desconforto.

— Eu só... não sei como me sinto. Ou talvez saiba, mas não sei o que fazer com isso.

Carlos deu um sorriso compreensivo, mas cheio de malícia.

— Sabe o que eu acho? Que você tá assustado porque, pela primeira vez, você realmente gosta de alguém. E você sabe que ela não é qualquer uma.

Soltei um suspiro pesado, encarando o chão.

— Ela é diferente, cara. Nunca me senti assim antes. Charlotte me tira da zona de conforto e, ao mesmo tempo, me faz querer estar perto dela o tempo todo. Isso é... novo pra mim.

Carlos levantou-se, batendo de leve no meu ombro.

— Então para de complicar as coisas e mostra que você é mais do que o que dizem por ai.

Olhei para ele, tentando absorver o que tinha acabado de ouvir. Talvez ele estivesse certo. Talvez eu só precisasse tentar.

— Só não esquece de tomar cuidado com o Charles — Carlos acrescentou, com um sorriso de canto. — Porque se ele achar que você vai machucar a irmã dele... talvez a gente precise providenciar sua fuga de Mônaco.

Não consegui evitar o sorriso, mesmo com a ideia nada animadora.

— Não ajuda muito, Sainz.

— Mas é a verdade. Agora, vai lá. Mostra no treino que você sabe o que tá fazendo, e depois resolve o que tem que resolver com a Charlotte.

Peguei o boné, coloquei na cabeça e me levantei. Era hora de parar de fugir, de uma vez por todas.

O treino livre foi bem tranquilo, ao menos para mim. Consegui um terceiro lugar que, embora não fosse o ideal, estava dentro do esperado. Sabia que a McLaren tinha um bom ritmo para a qualificação, então não tinha motivo para me preocupar demais. Ainda assim, a mente estava longe, como sempre, mas não mais com as mesmas incertezas de antes. Eu tinha algo com que me preocupar, mas, ao contrário do que imaginava, não era o carro ou o desempenho. Era Charlotte.

Quando o treino terminou, fui direto para o paddock, ainda absorto nos pensamentos sobre o que Carlos havia dito mais cedo. Eu estava decidido a tentar, de alguma forma, mostrar para ela que não era apenas mais um piloto perdido em piadas e joguinhos.

Logo que passei pela área das barracas, vi Charlotte. Ela estava conversando com alguém da equipe da Ferrari. Respirei fundo, chegou a hora de começar a fazer ao invés de só cogitar.

— Olha só quem resolveu aparecer — falei me aproximando de Charlotte

— Pensei que você fosse me ignorar o dia inteiro — ela respondeu abrindo um pequeno sorriso

— Não tinha te visto ainda — falei e coloquei minha mão em sua cintura, ela colocou a mão em minha nuca e deu um beijinho em minha bochecha

— Como foi no TL — perguntou

— Ah, foi tranquilo. Consegui um P3.

— Parabéns, Londonboy!— Charlotte respondeu, com aquele sorriso provocador.

— Você gosta mesmo de me chamar assim, né? — retruquei, divertindo-me com a situação.

Ela deu de ombros, sem perder o sorriso.

— Só uma maneira de te provocar.

— Você e esses seus joguinhos. Uma hora isso vai me deixar louco — falei, tentando manter a calma, mas a frustração começava a transparecer.

Charlotte olhou para mim, com um olhar sério agora, como se estivesse refletindo por um instante.

— Você realmente acha que é só um mero joguinho? — perguntou, desafiando meu olhar.

Fiquei em silêncio por um momento, tentando entender onde ela queria chegar. Mas antes que eu pudesse dizer algo, ela continuou, com uma intensidade inesperada.

— Lando, você não é só mais um. Não é só diversão para mim.

Fiquei sem palavras por um segundo, tentando processar o que ela disse. Mas logo um sorriso apareceu no meu rosto.

— Ah, então é isso... agora eu sou importante, né? — perguntei, brincando, mas sem esconder o toque de curiosidade.

Charlotte cruzou os braços, me encarando com um sorriso travesso.

— Você sempre foi importante, Lando. Só estava esperando perceber isso — ela respondeu, com aquele olhar que me desafiava de novo.

Eu me inclinei um pouco, com a voz mais suave e um toque de provocação.

— Então, qual é a próxima jogada? Porque, se for para continuar com isso, vou ter que jogar mais sério.

Ela deu uma risadinha, balançando a cabeça.

— Ah, você vai mesmo? Então mostra aí, porque acho que você está jogando bem no time errado.

E com isso, ela deu um passo para trás, como se estivesse me desafiando mais uma vez, mas com o olhar suavemente divertido.

Eu sorri de volta, sem perder o ritmo.

— O jogo é seu, Charlotte. Eu só estou aqui para ganhar.

Ela riu, claramente se divertindo com o jogo.

— Veremos, Londonboy. Veremos.

Eu estava prestes a dizer algo, mas Charlotte não me deixou continuar. De repente, ela parou, se virou e me olhou com um olhar tão profundo que me fez perder a linha de pensamento. Em um movimento suave, ela se aproximou e, antes que eu pudesse entender completamente o que estava acontecendo, seus lábios encontraram os meus.

O beijo foi intenso, mas calmo, como se a gente estivesse se comunicando sem palavras. Não era apressado, mas tinha uma carga de sentimentos que tornava tudo ainda mais envolvente. O tempo parecia ter parado ao nosso redor. Não havia pressa, apenas a troca de sensações que vinham do toque, da respiração que se misturava, da suavidade dos lábios dela contra os meus.

Quando ela se afastou, ambos ainda estávamos sem palavras, como se estivéssemos processando o que acabara de acontecer. Seus olhos brilhavam, e o sorriso que surgiu no seu rosto era algo que eu não conseguia descrever. Era como se ela soubesse exatamente o efeito que tinha sobre mim.

Eu sorri de volta, ainda sem saber o que dizer, mas com a certeza de que aquele momento havia marcado algo profundo.

— Vamos para o restaurante jantar? Os meninos ja estão la — Ela disse

— Claro! — respondi

— Me conta a estratégia da McLaren amanha para a Qualy

— Haha! Engraçadinha. Claramente vou contar minha estratégia para uma garota que torce para a Ferrari

Ela riu.

— Pode me falar, já te falei que estou torcendo por você dessa vez — disse me olhando com um olhar calmo

— Tudo bem respondi Bom, pretendemos começar com o pneu...

E assim fomos para o restaurante. Andando de mãos dadas pelo paddock calmo e vazio, até nosso destino

[...]

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