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*Tenho que sair, não tem mais nada no freezer, nem nada para comer...

Era a segunda vez que falava sozinha naquela manhã.

Ende me alertou um dia antes que a energia logo acabaria e hoje, um sábado, no dia em que normalmente eu me levantaria tarde e juntaria o café da manhã com o almoço, em plenas seis horas da madrugada eu estava de pé, faminta.

Ele me explicou também que o mundo lá fora estava um caos, mas que eu precisava sair e fazer um pequeno estoque de alimentos para alguns dias, e não passar o dia inteiro depressiva chorando no sofá da sala, pois precisaria de muita energia para sobreviver aos meus últimos dias...

Ende falou exatamente desta forma e eu o questionei.

*Qual a diferença entre tudo acabar hoje ou daqui há uma semana, quem lhe disse que após você sair por aquela porta eu não vou me cortar e sangrar até morrer, para por um fim nisso tudo de uma vez e acabar com o meu sofrimento?

Ele segurou minhas mãos com as suas, onde os vários dedos pareciam ter sido arrancados.

*Se você não fosse capaz de aguentar eu não estaria aqui...

*Por que eu? Por que minha vida? Por que tudo isso está acontecendo? Por quê? - eu gritei por entre lágrimas.

*Em que mundo você vive Sarah?

*Eu já não sei, até dias atrás ele era perfeito...

*Para quem ele era perfeito Sarah? - ele disse e saiu.

Eu tive muito tempo, sozinha o dia todo para refletir sobre aquilo e cheguei a conclusão de que ele estava certo: o meu mundo egoísta era perfeito, mas o mundo lá fora não o era de jeito nenhum.

Os noticiários ainda conseguiam transmitir flashes sobre a onda de violência que, segundo os especialistas, vinha de uma fonte inexplicável, não tinha relação com religião, política ou qualquer outro estopim que gerara outras tantas guerras.

Algumas pessoas desapareciam, outras destruíam, outras tentavam manter a ordem das coisas e eu permanecia ali, alheia a tudo.

As lâmpadas se apagaram e a TV que desde a noite anterior só transmitia chuviscos, finalmente encerrou o seu chiado irritante, mas com o silêncio dela eu pude prestar atenção aos gritos que vinham lá de fora, terríveis de se ouvir.

Senti medo e desejei não ter que sair e permanecer na segurança do que restara do meu lar me pareceu a melhor das opções, mas um Ende surgiu do nada ao meu lado, vindo da direção do meu quarto.

*Eu pulei a janela... - se explicou.

Senti um enorme alívio ao vê-lo, por mais estranho que isso parecesse, Ende era a única coisa boa que restara do mundo que eu conhecia até poucos dias atrás.

*Diga logo de uma vez! - eu disse forçando um sorriso.

*Cinco...

E saímos para fazer compras.

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