Prólogo
Aquela era a quarta vez que Jimin se encontrava no templo de Afrodite por vontade dos pais. Para ser bem sincero, ele não achava que tinha tanto a agradecer — embora o pai discordasse muito — já que sua "grandeza" fora lhe dada unicamente para o controle do pai.
Ter vinte e três anos e não ter nenhum controle sobre a própria vida era um porre e além de tudo, cansava mais do que qualquer um podia imaginar.
É claro que Jimin não tinha nenhuma vontade de ser como os outros caras da sua idade. E nem poderia, a maioria virava soldado do seu pai e se preparava incansavelmente para uma guerra que todos sabiam que jamais aconteceria. Mas também não queria ser príncipe. Queria muito menos ser parte do milagre que Afrodite deu aos seus pais. Mas mesmo assim, ainda era grato pelos privilégios que tinha como príncipe, o ruim era o quanto tinha que sacrificar para tê-los.
— Acaba não sendo privilégio nenhum, no fim das contas.
— Perdão, senhor. Não consigo ouvi-lo — O guarda que o acompanhava, com uma armadura polida e expressão solene, mantinha-se atento aos arredores, demonstrando uma lealdade palpável. Seus passos silenciosos ecoavam no corredor de pedra enquanto se aproximava.
— Eu não disse nada. Deixe a toalha aqui — Jimin disse desgrudando uma pétala de rosa do seu corpo. O homem fingiu não entender que deveria sair imediatamente — Acho melhor você virar para frente. Se meu pai souber que você está tentando me olhar…
O guarda fez uma reverência e deixou o templo.
— Idiota — Jimin resmungou quando o guarda se virou.
Ele se secou rápido e vestiu apenas seu chiton. Estava calor e o ar estava seco, o resto do corpo se secaria conforme fizessem o caminho longo de volta para casa. Em seguida, tentou pentear o cabelo com os dedos antes de colocar sua coroa de ouro.
Ninguém poderia negar que Jimin era o homem mais lindo do reino. Afrodite tinha sido generosa demais com ele.
Talvez eu realmente tenha um motivo para agradecer.
Por via das dúvidas, fez seu último culto à deusa e deixou o templo.
— Vamos — Foi a única coisa que ele disse durante todo o trajeto de três horas.
Mas isso não o impediu de pensar.
Ele teve muito tempo para tentar descodificar o que é que tinha ouvido na madrugada anterior, quando seu pai fora chamado às pressas — e às escondidas — pelo profeta.
Como tudo o que fazia, Jimin foi escondido, tinha chegado primeiro que os pais. Usou roupas de soldado e andou o tempo inteiro com a cabeça baixa, caso fosse visto de rabo de olho, seria apenas ignorado pelo pai, assim como todos os outros soldados eram.
Conseguir a roupa para esse tipo de oportunidade foi a parte mais difícil, afinal, teve que roubar e tentar diminuir sozinho o tamanho das vestes. Bom, pelo menos ele achava que aquela tinha sido a parte difícil. Tudo mudou quando escutou o profeta dizer ao rei que o filho precisava de segurança máxima.
— Meu rei, o senhor sabe que podemos interferir e mudar o destino. A princesa não corre perigo, será uma boa rainha.
— Não compreendo. Para ser a rainha teria de se casar com o próprio irmão, o que o senhor está insinuando? — O rei Park conseguiu demonstrar o nojo em sua voz.
— Oh não, meu senhor. Park Jimin não será o seu sucessor. Afrodite tem planos maiores para ele, isso inclui um casamento grandioso. Creio que sem filhos, mas a princesa Roseanne lhe dará muitos netos.
— Afrodite que se foda. Meu filho será rei, ponto final.
— Com todo respeito, meu rei. Afrodite já reservou a pessoa certa para ele. Se o senhor tentar impedir, ela se revoltará e tentará tirá-lo do senhor. E como eu já esperava que o senhor não aceitaria, dou o conselho para que aumente a segurança do rapaz. Nós sabemos o que houve da última vez que Afrodite levou uma competição à sério. E ela parece obcecada pela beleza de Park Jimin.
— Maldita Afrodite! Se acha tão esperta. Acabarei com toda essa autoridade que ela acha que tem sobre o meu filho. E ele jamais poderá saber sobre essa conversa, estamos entendidos?
Jimin apressou o passo para chegar em casa primeiro que o pai. Entrar não tinha sido difícil, ele passou por um segurança e murmurou:
— Enforcamento em praça pública é a punição perfeita para traidores. Você nunca me viu aqui, entendeu? — Seu tom era raivoso e ameaçador.
— O senhor tem a minha palavra — O segurança respondeu com uma reverência.
Ao chegar em seus aposentos, pegou sua irmã vasculhando suas coisas.
— O que você está fazendo aqui?
Ela respondeu com outra pergunta.
— Não vou perguntar onde você estava. Isso aqui está me chamando atenção, como é que você contrabandeou esse tanto de óleo? E que dor você tanto sente para ter óleo que — Jimin a interrompeu.
— Leve quantos quiser! Contanto que não diga ao rei que eu saí.
Jimin correu para trás de um biombo e trocou de roupa com rapidez.
— Você estava vestindo roupas de um soldado. Como conseguiu?
— Não interessa. Você pode pegar emprestado se quiser, agora saia daqui, futura rainha, preciso pensar.
Roseanne não gostou nada do apelido. Pensou que Jimin estava tirando sarro dela. Ele sabia o quanto ela sonhava em ser rainha. E ele sabia que sua morte era o único jeito possível de isso acontecer, já que, seu pai nunca deixaria o trono na mão de uma mulher enquanto tinha um filho com vida e saudável.
— Você deveria parar de abusar da sorte — Roseanne disse seca.
— Sorte? Que sorte?
— Te vi beijando um soldado esses dias. Poderia ter sido pego pelo nosso pai.
— É bom saber que você é fofoqueira, farei questão de te banir quando for rei. Agora, por favor, saia, preciso pôr meus pensamentos no lugar.
Roseanne saiu sem reclamar, enquanto isso, Jimin fingiu que não percebeu a falta de um frasco em sua prateleira.
No caminho de volta do templo para casa, Jimin conseguia perceber a diferença do tratamento que o pai tinha dado a ele durante a manhã. Perguntou sobre planos para o futuro, torcendo para que o filho mencionasse que estava saindo escondido com alguma mulher, para assim, poder tirá-la da jogada.
Ele pensou tanto, que o caminho pareceu se encurtar, e quando menos esperava, já conseguia ver as vigas da fachada de sua casa.
— Meu príncipe, seu pai pediu para que eu lhe apresentasse aos novos homens que te acompanharão.
— Me acompanharão no que?
— Em tudo. O senhor não está autorizado a sair sozinho a partir de hoje.
Jimin parou de imediato e o soldado o acompanhou.
— Por onde meus pais andaram durante a manhã?
— Estavam no templo de Afrodite, senhor. Deixaram o templo um pouco antes de sairmos de casa. Eles estavam… bom, não é da minha conta o que tentaram fazer, mas caso esteja preocupado, ouvi dizer que passaram no templo de Hera logo em seguida mas já deixaram e estão a caminho da casa.
Já era de se esperar que o rei entrasse em desespero para tentar fazer com que um filho casasse e herdasse o trono. Jimin só não queria que ele levasse a mãe nessa viagem sem futuro. O rei era egoísta demais para sequer pensar nas consequências que uma gravidez aos cinquenta anos poderia causar na rainha, que era frágil e que só conseguira parir Jimin por ele ter sido um presente divino de Afrodite. Mas lá estavam eles, acreditando em um boato nunca confirmado pela deusa, tentando fazer amor nos templos de Hera e Afrodite para serem recompensados.
Ele não queria olhar nos olhos da mãe quando percebesse que o desespero do pai para gerar um filho homem tinha falhado.
Já tinha um bom tempo que Afrodite vinha deixando de aceitar os cultos de Jimin, apenas por ele seguir as ordens do pai.
— Hera não vai ouvi-los, senhor. Acho que deveria contar a eles.
Jimin o encarou.
— Como você pode ter tanta certeza?
O homem à sua frente estava desconfortável, mas parecia estar ansioso para ser útil.
— Bem… Hera é uma deusa um tanto quanto rancorosa, senhor. E como todo mundo já está cansado de ouvir, ela foi contra o seu nascimento.
Jimin nunca tinha escutado tal história, porém, sua expressão permaneceu impassível, queria que o guarda continuasse falando.
— Os deuses não interferem mais em nenhuma vida que não seja a deles.No passado sim, hoje nem tanto. Mas ela não poderia dizer não ao rei, poderia? Afrodite gosta de ter todos em sua mão, ela é assim, todos os filhos dela são — o guarda percebeu que tinha ofendido o príncipe e se apressou com as desculpas — Perdão, senhor. Só estou tentando dizer que o rei deveria parar de tentar ter outro filho e deixar com que o senhor arrume uma esposa e tenha filhos logo.
Não era o que ele queria dizer, no entanto, aquilo serviu para que Jimin continuasse tentando ligar os pontos. Como ele ousava dizer que os deuses não interferiram em vidas alheias se tudo o que Afrodite fazia era baseado em dar ordens ao rei?
Apesar de tudo, Afrodite não falava diretamente com ele. Sequer respondia aos seus cultos, e mesmo assim, tinha planos para ele. Que tipo de planos?
É claro que ele nunca saberia, porque Afrodite não queria que ele soubesse.
Quando chegou em casa, seus pais sorriam de orelha a orelha. A mãe estava ajudando e ensinando um servo novato a pôr a mesa de jantar do jeito que o rei gostava.
— Aí está ele. Meu futuro rei — Disse o pai.
Jimin teria ficado animado se não tivesse escutado nada na noite anterior. Teve que fingir um sorriso e se sentar à mesa enquanto a mãe lhe apresentava um grupo de pessoas novas, que ele jamais seria capaz de lembrar o nome.
— Onde está Roseanne? — Jimin perguntou.
— No quarto, revirando o presente que ganhou do pai.
— Presente?
— Seu pai deu a ela um arco de caça. Eu disse que isso não é trabalho para uma mulher de mãos tão delicadas quanto as de Rose, mas ele insistiu que vocês precisam aprender a se defender. Ele sente que tempos difíceis estão por vir e dessa vez eu acredito nele.
— Coma bem rápido, meu amor. Seu pai e eu temos que lhe apresentar aos seus novos guardas.
— Eu não preciso de mais de um guarda, posso me virar sozinho.
— Você precisa. Não vamos questionar as ordens do seu pai, ele sabe o que é melhor para você.
Minutos depois, Roseanne e o pai adentraram a sala de jantar.
Os cabelos dela estavam presos em uma única trança que caía em seu ombro esquerdo. As vestes eram sempre brancas com detalhes dourados. Jimin e ela sempre trocavam acessórios quando seus pais ou amigos erravam o presente. No braço, ela usava um bracelete de ouro, tinha sido um presente que Jimin ganhara de um soldado com quem esteve durante algumas noites.
Ele tinha amado o presente, um bracelete de ouro dado por seu amado soldado, continha não apenas o brilho do metal precioso, mas também o calor da devoção que se desdobrava a cada toque. Cada vez que Jimin o usava, sentia a lembrança ardente de uma paixão proibida e a delicadeza do fato de seu amado ter pensado nele durante todos os meses que tinha passado em alguma missão secreta e voltado direto para os braços dele.
Esse foi o primeiro erro.
Quando os pais de Jimin estavam dormindo, o soldado conseguiu entrar no quarto do príncipe e após uma madrugada intensa de amor, ele acabou por adormecer nos braços de Jimin e pela manhã, não conseguiu sair do quarto sem ser visto.
Por sorte, os dois tinham sido pegos pelo chefe dos soldados. E por um pouco mais de sorte, Jimin ainda era o príncipe, e se fosse preciso usaria e abusaria do poder para que seu "namorado" não fosse mais uma vítima da espada do rei.
Jimin, olhando nos olhos do soldado, sentiu a gravidade da situação. Uma decisão difícil pesava sobre seus ombros, e ele sabia que as palavras que seguiriam certamente iam alterar o destino do soldado.
— Minha escolha é clara — Jimin disse, sua voz, normalmente firme, adquirindo uma tonalidade pesarosa, o tom que ele usava quando precisava ser o príncipe. — Você precisa ir para longe daqui, para um lugar onde nossos segredos possam existir em paz, longe dos olhos curiosos e das lâminas do meu pai. Nós dois sabemos que se ele não te matar, Afrodite vai.
Os olhos do soldado refletiam uma mistura de confusão e desapontamento, mas Jimin continuou antes que as palavras se transformassem em lágrimas.
— Eu prefiro ter você vivo, inteiro, e longe, do que tê-lo perto e pagar o preço com sua vida. Se eu puder oferecer-lhe um caminho seguro, uma chance de construir algo além deste inferno, eu farei. Isso é o melhor para nós dois, mesmo que signifique suportar a dor da distância.
Jimin manteve seu olhar fixo no soldado, buscando compreensão nos olhos. Ele sabia que essa decisão seria difícil para ambos, mas era a única maneira de garantir um futuro para o homem que já tinha se arriscado tanto por ele.
E foi naquele momento que Jimin pediu para que o chefe da guarda transferisse seu amado para um lugar bem longe, onde fosse mais seguro para ele. Onde ele pudesse construir uma família e não vivesse temendo uma guerra que jamais aconteceria.
A compreensão nunca veio. O soldado partiu com raiva e sem querer olhar para Jimin. Nunca escreveu uma única carta. No fundo, os dois sabiam que era melhor assim, ele tinha feito a coisa certa e nunca se arrependeria da decisão que tinha tomado, mas olhar para o bracelete todos os dias em seu quarto era demais para ele. Quando o entregou para Roseanne e contou toda a história por trás do presente, a irmã deu um novo significado e Jimin ficou bem melhor com a ideia do acessório pertencendo a outra pessoa.
— No que você tanto pensa? — o rei perguntou a Jimin, tentando trazê-lo de volta para a realidade.
— Em nada.
— Se anime. Amanhã cedo quero que esteja de pé e preparado para receber os novos servos.
— Novos servos? Nós não precisamos de novos servos, eu sequer concordei em ter novos guardas.
O rei e a rainha se entreolharam.
— Querido, seu pai e eu pensamos melhor e decidimos contratar a guarda do Oeste. Você sabe, eles tem habilidades excepcionais que são desperdiçadas em um lugar onde não tem nada para eles fazerem além de espantarem lobos de aldeias humildes. Quanto potencial desperdiçado, não acha?
Tinha que confessar, a mãe estava ficando boa com mentiras
— E também, as nossas servas foram transferidas, teremos mulheres mais experientes agora.
Com um estalo, Jimin entendeu tudo.
Mulheres mais experientes significava mulheres mais velhas. Mulheres que não despertariam o interesse de Jimin. Trocar os empregados para mulheres mais velhas e homens era uma jogada interessante, ele não podia negar. Ele sentia que algo estava estranho, alguma parte dessa história não estava se encaixando.
Bem, pelo menos eles lhe dariam uma trégua temporária na busca por uma esposa. Jimin tinha ouvido o profeta dizer que Afrodite tinha um casamento grandioso para ele, mas que ele não seria rei, sendo assim, o pai tinha contratado mais pessoas para vigiá-lo e impedir que ele encontrasse uma esposa?
Se ele pudesse, gritaria na cara de cada um deles. Jimin sabia que em algum momento teria que se casar com alguma mulher alguns poucos anos mais jovem, ter filhos e assim dar continuidade à linhagem. Ele cumpriria seu papel sem reclamar e a futura rainha seria muito bem tratada. Ele faria com que a pessoa que se casasse com ele vivesse um sonho, já que ele não poderia viver o dele.
— Como vamos fazer a busca pela esposa perfeita hoje se todo o reino está um caos? — Jimin jogou a isca para ter certeza.
Foi o pai quem se apressou para arranjar uma desculpa.
— Nós vamos dar uma pausa. Você precisa descansar e treinar mais.
— Tudo bem. Façam o que achar melhor e eu estarei pronto amanhã de manhã. O Taehyung já voltou? — Jimin perguntou.
Kim Taehyung tinha sido seu melhor amigo pelos últimos dez anos. Ele era filho do braço direito do rei e fazia parte da guarda pessoal de Jimin.
— Chegou hoje. Ele vai ajudar os novos guardas a se familiarizarem com a floresta.
— Tae Tae era só um menininho até ontem — disse a rainha — Olhem para ele agora, um soldado forte e bonito. Nunca esquecerei de quando ele salvou a vida da minha Chaeyoung.
— O pai é tão orgulhoso dele, nunca nos deu trabalho e vai se casar logo. Jimin não poderia estar em uma companhia melhor.
Jimin conteve um riso quando o pai falou sobre casamento. Se eles soubessem como Taehyung era quem facilitava para que os dois pudessem fugir para o lago, cada um com um soldado diferente.
Sim, Jimin estava em ótima companhia. Ele mesmo não poderia desejar uma companhia melhor.
— Temos que ser duros com você agora, Jimin. Taehyung é um soldado leal. Ele está cansado da viagem e já terá que trabalhar, então, não o distraia, servir ao rei é a prioridade dele.
Jimin fez que sim com a cabeça. O rei não fazia ideia a quem a lealdade de Taehyung realmente pertencia.
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