I keep on fallin

Grande prémio de Monte Carlo, 23 de maio de 2018.

Marcela Senna

Faltavam dois dias para o dia combinado com a mulher. Ela pediu minha resposta mas felizmente ou infelizmente a carta não dizia nenhum jeito de como eu enviar um retorno a mesma então decidi apenas aparecer e esperar a moça.

Fazia calor em Monte Carlo e todos os monegascos estavam com os olhos atentos em mim e em Charles Leclerc um piloto novato também monegasco.

Estava eu meu companheiro de equipa Fernando Alonso fazendo a tão esperada Track Walk.

-Foi tudo isso que aconteceu e. Acho que vou encontrá-la.- disse a Fernando que estava perplexo com tudo que eu havia acabado de contá-lo.

-Marcela. Entendo essa sua preocupação em querer encontrá-la, mas é muito arriscado chica.- ele disse me chamando do apelido que ele me chama desde que nos conhecemos e isso acaba tirando um sorriso meu que logo se desmancha.

-Mas por que seria arriscado?. Bem acho que ela não me machucaria.- ele me olhou como se estivesse com dúvidas.

-Creio eu que ela não te machucaria, mas e se te virem?. E se ela estiver a te enganar.- ele falou como se estivesse nervoso

-Só indo pra descobrir né?. Sabe desde que tudo aconteceu eu venho questionando muito tudo, por que meu pai quis assim?. Eu sofri tantos anos com isso e só sei o lado do meu pai. Mas agora dessa mulher eu vou descobrir agora.

-Tome cuidado e conte comigo pra qualquer coisa, somos amigos afinal.- ele me abraçou de lado e eu soltei um sorriso sincero.- amigos e rivais, vou acabar com você na pista sexta-feira.

-A não vai mesmo.- Alonso falou e nós riamos e quando vimos chegamos a pit lane de novo.

Depois de cumprir com todos os compromissos fui pra casa esperar Kaká que me mandou mensagem falando que estava chegando.

Kaká e eu apesar de casados temos casas separadas já que ele joga em Milão na Itália. Também moro lá mas quando são finais de semana consecutivos de corrida fico em minha casa em Mónaco. Esse ano ainda pensamos em nossa aposentadoria juntos. Ainda não falei com meu empresário e com a equipe mas já estou decidida a ganhar o meu quinto título mundial e ir construir minha família ao lado do homem que eu amo.

Fui andando para minha casa já que era bem perto do circuito. No caminho mandei mensagens a Kaká que não recebia nenhuma então era um sinal que estava a caminho de Monte Carlo. Cheguei em um café bem especial para mim onde eu vinha com meu pai e hoje venho sozinha comprar doces pro meu marido. Loucura né?.

Esperava na fila mechendo no meu celular enquanto escutava Fallin da Alicia Keys em meus fones quando minha senha foi chamada.

-Marcela mon amour. Quanto tempo.- Pierre o dono da padaria falava enquanto sorria largo para mim.- Pierre, já faz mesmo imenso tempo, como você está?.- disse sorrindo para o mesmo.- estou bem, fiquei sabendo do casamento. Meus parabéns, seu pai está orgulhoso tenho certeza.- ele falou enquanto apontava para cima. Papai e Pierre se conheceram em meados dos anos 80 e viraram amigos até então. Só que Pierre casou com uma Francesa e se mudou para Paris alguns meses antes de papai falecer.

-Bem, em que posso te ajudar hoje?.- ele falou mudando de assunto.- bem, meu marido está chegando de viagem. Quero os seus melhores doces.- disse enquanto sorria e levantava a cabeça.- pode deixar. Vou buscar-te os melhores, espere sentada tome um café e já venho trazê-los.- Pierre disse enquanto me estendia uma xícara de café expresso.

-está bem.- falei enquanto tentava me equilibrar com a xícara e indo para a mesa mais próxima. Sentei-me em frente à janela onde conseguia ver nitidamente o Porto de Monte Carlo cheio de Iates luxuosos e decorações sobre a fórmula 1. Enquanto tomava meu café me senti observada mas como sabia que estava no meu país natal que é minúsculo cheio de turistas ignorei até a curiosidade falar mais alto e olhar para trás. Uma mulher de cabelos castanhos, branca e de olhos azulados me olhava fixamente.

A mulher não tirou seu olhar de mim mesmo eu demonstrando que estava desconfortável perante tal situação até que ela se levanta e não hesita em vir falar comigo.- olá. Me desculpa te incomodar.- ela disse um pouco tímida.- oh não tudo bem, eu percebi você a olhar para mim. Então quer uma foto ou um autógrafo talvez?.- disse balançando minhas mãos num gesto para que a mesma diga o que quer.- sou eu.- ela disse determinada e num tom forte.- é você o que?.- falei confusa.- sua mãe.

-o que?.- eu disse confusa tentando assimilar o que estava acontecendo.- Marcela mon chérie teus doces estão prontos.- aaaaaa. O que fazes aqui ton monstre.- Pierre disse olhando-a com uma cara feia.- me encontre no palácio no dia em que combinamos quero esclarecer tudo.-ela disse e saiu andando fazendo um sinal de redenção com as mãos.

-Fille, o que ela queria contigo?.- Pierre perguntou meio sério.- ela é minha mãe?.- eu perguntei a Pierre já chorando.- Mon bien, ne sois pas comme ça. Teu papá não gostaria de ver-te assim.- responda minha pergunta Pierre. Ela é minha mãe?.- eu perguntei já sem paciência.- oui.- ele disse cabisbaixo e logo um flash inesperado foi disparado em minha direção.

-Fils de pute. Saiam todos.- Pierre xingou me fazendo arregalar os olhos até focar o mesmo fechando as cortinas.- Pierre. Não é preciso, estou indo embora.- eu disse limpando as lágrimas.

-Non. Sente se miúda, deixe-me contar-te algo.- ele fez um gesto a cadeira e me trouxe um copo com água.

-Seu papá adorava aventuras. Principalmente quanto se tratava de mulheres. Tenho certeza que já te contaram da noite onde ele conheceu Carol então vou pular pra parte quando ela descobriu que estava grávida.


Nova York, 22 de outubro de 1982.

Ayrton Senna

Depois de Carol sair transtornada de meu quarto, sentei em minha cama e tentei processar o que estava acontecendo.

Eu vou ser pai

A mãe me odeia

Vou ser pai sozinho

Eu tenho 22 anos

-Caralho. Foi tudo o que saiu da minha boca ao reparar no quão fudido eu estava.

Liguei imediatamente para Pierre, meu melhor amigo e desabafar um pouco já que minha cabeça estava a milhão.

Digitei seu número ao telefone e no segundo toque ele atendeu.

-Je suis. Ele disse

-Pierre. Estou fudido. Disse desesperado

-Ayrton?. O que que se passa?. Ele falou calmo

-Carol está grávida. Soltei de uma vez e escutei o francês resmungar um "C'était déjà"

-És burro? Não usaste proteção?. Ele disse bravo

-Não me lembro cara. Foi tão no calor do momento que acho que nem me toquei nisso. Eu disse passando a mão na testa.

-E sua carreira na fórmula 1 Ayrton?. Uma criança depende muito de um adulto.- ele disse calmamente de novo tentando me ajudar.

-Eu não sei o que vou fazer Pierre. Carol saiu muito brava pensando em abortar a criança.

-Calme calme calme. E você não deixou né?

-Claro que não, eu nunca seria capaz de deixar. Mas

-Mas o que Ayrton?

-Ela vai dar a luz mas não quer saber da criança. E eu não deixei também.

-Ayrton. É o melhor a se fazer agora, deixa ela esfriar a cabeça, cuide dela e vá com a criança para o Brasil. E pense no que fazer a respeito de sua carreira.

-Valeu amigo, precisava conversar.- eu disse calmo já não tão mais nervoso

-Se cuide Ami. Qualquer coisa ligue.

E ele desligou




Mónaco, Monte Carlo. 6 de dezembro de 1983.

Ayrton Senna

-ELA TAMBÉM É MINHA FILHA AYRTON, DEIXE-ME VÊ-LA.- Carol falava ou melhor gritava em minha porta.

-Carol. Ela não está comigo. Está com minha mãe no Brasil, eu não tenho condições de cuidar de uma criança sozinho.- eu falei calmamente.

-Ótimo pai você deixando nossa filha para sua mãe cuidar.- ela disse batendo palmas e falando em um tom irónico.

-Minha filha.- corrigi
-você a rejeitou mesmo antes dela sair de seu ventre. É minha filha.- eu disse um pouco alterado

-Eu quero vê-la. Eu tenho esse direito como mãe. Ela falou apontando os dedos em direção ao meu rosto.

-De mãe você não tem nada. Só tirou a minha filha de seu ventre.- falei enquanto a mesma apenas chorava.

-eu me arrependo.
-tarde demais.

-não volte a nos procurar e nem procurar por ela. Será melhor.

Ela balançou a cabeça e se virou dando as costas.

Fechei a porta e vi Pierre boquiaberto atrás de mim com o que acabara de ver.

-Por que tudo dá errado pra mim?.- eu falei chorando. Era a minha filha que estava no meio de toda essa briga.

-ami .- Pierre falou enquanto me abraçava.- tudo vai ficar bem, seja forte pela miúda.

Balancei a cabeça concordando.
Se eu não posso ser forte por mim. Serei pela minha filha.


-E foi assim que tudo aconteceu. Seu pai só fez isso para te proteger.- Pierre disse enquanto passava as mãos pelos meus cabelos.

-Me proteger ou acabar comigo quando eu ficasse adulta e descobrisse que todo esse tempo todos mentiram para mim?.- eu disse brava

-Entenda o lado do seu pai Marcela. Ele era muito novo e irresponsável.- Ele falou calmamente.

-Eu preciso pensar ou melhor respirar. Pode me dar os doces?.- eu disse impaciente e mudando de assunto.

Pierre percebeu meu interesse em tentar mudar de assunto e assentiu se levantando e indo pegar a sacola de doces.

-Quanto deu?.- eu disse tirando meu cartão da carteira.

-Presente meu a ti, leve.- Pierre
disse gentilmente.

-Muito Obrigada mesmo Pierre.- eu disse chorando novamente.

-Não te chores miúda. E pense muito bem antes de encontrar aquela mulher, não quero vê-la magoada.-ele falou colocando as mãos em minha cabeça e beijando minha testa.

-pode deixar.-falei me virando e abrindo a porta. Quando sou surpreendida por muitos flashs e câmeras em minha direção.

-Ahh meus olhos.- disse e Pierre me puxou de volta pra dentro do estabelecimento.

-Les bâtards.- Ele gritou e trancou de volta a porta.- acho melhor você esperar seu marido chegar.- ele disse vendo que a situação não estava nada bem.

-Kaká só chega mais tarde. Tenho que dormir cedo amanhã é dia de treino livre.- disse olhando as horas e vi que já se passavam das seis da tarde.

Então acho que vou ter que tirar a Margarida da garagem.

-Margarida?

-Siga-me miúda.- ele disse sorrindo.

Quando chegamos a garagem fiquei boquiaberta a ver a Ferrari 488 GTB do senhor que sorria a minha frente.

-Faz um tempo que não a dirijo. Então não ligue se tiver empoeirado dentro.- ele disse sorrindo orgulhoso.

Ao entrarmos no carro que estava mais limpo que quando comprado novo saímos da garagem que ficava aos fundos da padaria.

-Finalmente.- suspirei aliviada.
-Você tá na casa dele?.- Pierre perguntou
-Sim

-Ui como lembro do caminho.- ele falou sorrindo e logo deu partida no carro vermelho ou melhor na margarida.

Passamos pelo porto de Monte Carlo que estava no seu mais belo pôr do sol. Eu olhava a paisagem com as janelas fechadas e pensava em tudo é uma lágrima involuntária caiu sobre minhas bochechas e logo senti o carro parando.

-O que aconteceu?.- eu disse
-Acho que você conhece aquele moço.- ele falou apontando pra fora da janela e foi quando meu olhar caiu sobre o meu marido que estava parado na frente do Porto olhando para o celular e foi quando vi que ele me ligava e atendi na hora.

-oi meu bem.- ele disse.- cheguei em Monte Carlo. Estou na entrada do Porto. Venha ca. Está um lindo pôr do sol.- ele disse animado

-Oi meu amor, por um acaso estou mais perto do que você imagina.- repeti suas palavras de quando estávamos em Lisboa.

-A sério?.- ele disse ironizando.- então estou te esperando.- e desligou

-Muito obrigada Pierre mas vou descer aqui. Acho que já estamos demasiado longe da padaria.- eu disse o olhando com um meio sorriso no rosto.

-Não deixe o rapaz à espera. Vá.- ele disse apontando para Kaká que parecia estar a minha procura.

-Obrigada por tudo.- eu o abracei e logo sai do carro.

Quando Kaká percebeu minha presença abriu um belo sorriso e venho a meu encontro e me deu um abraço apertado.

-que saudades.- ele disse enquanto ainda me abraçava.- eu também, não iria aguentar mais um dia sem você.- falei com as mãos em suas bochechas e ele logo fechou a cara vendo que eu não estava bem.

-o que aconteceu?.- ele perguntou.- quem te deixou aqui?

-Fui a padaria de um amigo do meu pai e encontrei a mulher que supostamente e minha mãe.- eu disse e ele arregalou os olhos.- tá brincando?.

-queria mas infelizmente não. Ela disse que quer contar a versão dela da história é Pierre apareceu na hora falando pra eu não acreditar nela e contou as mesmas coisas que a Kika contou em Lisboa.

-e você vai se encontrar com ela?.- ele perguntou enquanto caminhávamos vendo o belo pôr do sol que fazia.

-Não sei, acho que não estou preparada pra ter ela em minha vida e fingir que nada aconteceu.

-Eu acho que você devia se encontrar com ela e ver o que a mesma tem a dizer, ela errou mas também era muito nova quando tudo aconteceu. Deve mesmo estar arrependida.

-É talvez.- eu disse abaixando a cabeça.

-Mudando de assunto tenho boas notícias. Consegui credencias pra você é pras gêmeas irem ao nosso jogo contra o United dia 26

-Demais!. Eu vou elas eu já não sei.- falei enquanto o abraçava.- sabe que eu tenho fama de dar boa sorte né?.- eu disse colocando as mãos em sua nuca enquanto ele me abraçava forte pela cintura.

-A é?. Minha boa sorte não pode ser hoje?.- ele disse apertando ainda mais minha cintura e descendo um pouco as mãos.- antes do grande prémio não pode.- eu disse num tom provocativo.- Se eu ganhar domingo talvez você tenha direito a um pedido.

-Meu pedido vai ser tão bom. E benéfico para os dois.- ele disse beijando minha cabeça.

-Seu tarado.- falei rindo e bati em seu braço e fui correndo ao mirante do Porto vendo o sol indo embora.

-tá bom.
-hoje a noite tem?.- ele disse animado
-Não seu tarado.- falei rindo.- vou encontrar com a mulher.- falei determinada.

-não pode reconsiderar a parte do.- ele falou gesticulando as mãos.

-esse não vai rolar.- falei rindo indo pra mais perto da margem.

-deixe-me tirar fotos suas. Você tá linda.- ele disse sorrindo pra mim.

-tá bom, acho que você já tirou umas cem fotos.- eu disse já cansada de tanto posar para fotos

-a não só mais algumas.

-aaa tá bem.- eu disse cedendo a seu pedido

Ele sorriu vitorioso e tirava fotos minhas como se eu fosse a obra de arte mais linda do mundo.

Foi ali que eu percebi que tinha muito mais do que precisava. Mas ainda falta algo.

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O que acharam amores?

Votem, comentem e sigam para ficaram por dentro de capítulos e anúncios que eu posto no mural.

Eu amo vocês. Até sexta💗

Glossário

Mon amour- Meu amor
Mon chérie- Minha querida
Ton monstre- Seu Monstro
Fille- Menina
Mon bien, ne sois pas comme ça- Meu bem, não fiques assim
Oui- Sim
Fils de pute- Filhos da puta
Non- não
Je suis- Tou (usado para atender o telefone)
C'était déjà- Já era
Calme- Calma
Les bâtards- Seus desgraçados

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