O embrião do espírito de fuga


JULHO DE 1940- União Soviética

ELENA

A perspectiva de dias melhores, muitas vezes está associada a esperança. Nunca me considerei alguém otimista ou esperançosa, acredito que meu ceticismo nunca permitiu isso. No entanto, tudo é questão de perspectiva, e a que estou tendo no momento, é de que dias melhores não estão por vir.

No meu primeiro dia aqui nesse inferno, não entendi a gravidade da situação. Naquele dia, não consegui processar com clareza o que estava acontecendo. E então, passaram-se semanas, é uma voz lá no fundo, ainda me mantinha com a esperança de que meu avô ia voltar ao seu normal, e me tiraria desse lugar. No entanto, passou-se meses, e nunca mais vi o vovô John, fato que finalmente me despertou para minha nova realidade.

Assim, fiz algumas amizades por aqui, Lauretta é uma delas, tem sido minha confidente e protetora, após me dar boas vindas ao inferno. Ela assim como eu, tinha pais simpatizantes da Revolução de 1917, os pais até chegaram a lutar pela causa, mas ao se demonstrarem contra ao golpe que Stálin aplicou após a morte de Lênin, Lauretta ainda criança e sua família, foram acusados de traição, e aqui está ela desde então, sozinha, e sem notícias dos seus familiares.

O local, é literalmente uma prisão, para inimigos do governo, ou suspeitos de agir de modo contrário ao que a sociedade soviética espera. Tem vários segmentos da população russa aqui, e todo mundo trabalha de forma compulsória. O trabalho começa cedo, umas duas horas antes do sol amanhecer, geralmente as atividades forçadas são as mesmas, construções de estradas para alguns, extração de árvores para outros, os quais são fiscalizados por grupos de soldados, ou trabalhos aqui na área mesmo. Mas uma coisa eu afirmo, aqui todos são tratados com menos respeito que porcos de cativeiros, o trabalho é escravo, as condições higiênicas precárias, assim como as alimentícios, e o espírito de fuga, todos os dias aniquilados, por alguma execução de prisioneiros, para servir de exemplo.

Além de Lauretta, o que me distraí aqui, é minha imaginação, tornou-se comum já, desligar minha mente, e voltar para momentos felizes. Fico durante o trabalho, lembrando de alguns momentos meus com o Harry, isso torna o meu dia mais suportável. Me pergunto se ele está bem, ou pelo menos vivo. Agora que penso nisso, me lembro de uma conversa nossa no porão da minha antiga casa, era madrugada, e estávamos discutindo sobre conceitos de vida e morte enquanto dividíamos um doce de chocolate feito por Charlote.

Lembranças I

"Então a senhorita não acredita em céu e inferno?" Pergunta Harry curioso.

"Não, na verdade não acredito nenhum pouco." Respondo convicta, soltando uma risada.

"Ok. Mas você deve acreditar que há alguma coisa então, após a morte não é mesmo? Até porque não faria sentido, morrer e pronto, está tudo acabado, não seria justo." Diz ele em tom de dúvida, enquanto pega mais uma colher de doce.

"Claro que acredito. Gosto de pensar que há vida após a morte. Não como os egípcios falavam. E sim, como se você literalmente renascesse em outro lugar, com outra vida mesmo, sem recordações dessa. E que forças superiores, nem ruins, e nem boazinhas, mas sim justas, designaria para qual lugar sua alma iria, de acordo com as suas atitudes passadas." Respondo a ele, com minha teoria, inspirada em alguns livros e pensamentos.

"Então você acredita em meritocracia, que determinaria sua vida após a morte? É isso mesmo?" Questiona Harry, um pouco confuso, e eu só afirmo com a cabeça, respondendo:

"Bom, basicamente sim. Não estou afirmando que eu estou certa, só é o que eu acredito. Acho que céu e inferno é muito amplo. Pega por exemplo, um ladrão de mercado, que não mata ninguém, só rouba. Ele é um criminoso, não há dúvidas disso, mas também não é um Hitler da vida, o qual com certeza iria para o inferno. Seria justo, esse ladrãozinho dividir para sempre um lugar com almas ruins, tipo a de Hitler?" Termino meu raciocínio, questionando a Harry o que ele acha, e o mesmo fica me encarando com um sorrisinho nos lábios por um tempo antes de responder:

"Belo argumento Murray. Realmente não seria justo. Mas acho que o objetivo maior da vida não seja, questionar o após ela, e sim viver da melhor maneira" Diz ele me encarando, e em seguida, aproximando sua mão do meu rosto, limpando um pouco do chocolate que sujou.

"Bom, então eu com certeza estou vivendo da maneira errada". Respondo, sentindo seu rosto próximo ao meu.

"Concordo plenamente Murray." Diz Harry, colocando em seguida os nossos lábios.

''Você precisa parar de me beijar, assim do nada.'' Respondo rindo, enquanto ele espalha beijos pelo meu rosto.

''De jeito nenhum. Os médicos dizem que beijar na boca é bom para saúde, então não vou parar.'' Responde ele, agora com o corpo colado ao meu.

''Você está mentindo seu bobo, você não procuraria um médico para perguntar isso.'' Respondo rindo.

''Tá, não foi exatamente um médico que me disse isso. Mas, sei que estou certo, e posso provar minha teoria.'' Diz ele, me encarando com um olhar meio persuasivo.

''Então prove soldado.'' Respondo a ele do mesmo modo provocativo.

''Quando eu te beijo, como agora...'' E ele começa com um beijo sútil, fazendo carinho no meu rosto com suas mãos, fazendo com que eu abra um sorriso, por achar adorável o jeito que ele encosta em mim. Nunca me senti tão adorada por alguém antes.

''Viu?'' Diz ele ainda com as mãos no meu rosto, e me encarando com seus olhos brilhantes.

''O que?'' Pergunto sorrindo.

''Seu humor melhorou 100% Murray.

'' Diz ele, me dando uma piscadinha com os olhos.

''Você é um convencido soldado.'' Digo em tom falso de repreensão.

''Um convencido, que você gosta.'' Diz ele, e em seguida cola nossos lábios novamente. Lembro que ficamos horas ali, naquele pequeno porão, apenas curtindo o nosso momento, e praticando o que Harry diz ser bom para saúde.

Depois do meu primeiro beijo, Harry me beijava sempre que podia, não que eu reclamava. Gostava dos seus beijos, e do seu cheiro, ainda mais que tudo isso, gostava das nossas conversas, até mesmo do nosso silêncio confortável. A verdade é que eu gosto do Harry, e sinto falta dele todos os minutos do meu dia. Sei que é errado manter a esperança de que ele cumprirá o que disse sobre me buscar, mas gosto de pensar que sim, isso me motiva a continuar viva.

"Está quieta hoje Elena. O que aconteceu ?" Diz Lauretta, me tirando dos meus pensamentos.

"Ah, não é nada. É só que com a chegada do verão, e essa neve toda derretendo, o trabalho ficou mais puxado." Respondo a ela.

"Pelo menos, poucas pessoas morrerão de frio agora. Estava cansada de retirar aqueles corpos mortos e gelados do dormitório." Diz a minha amiga, fazendo cara de nojo.

"Verdade. Mas acho que ainda sim, continuaremos a remover corpos de lá, não reparou que os soldados estão mais agressivos?" Questiono a ela.
Relembrando alguns acontecimentos recentes de punições severas dos soldados, que levaram alguns dos prisioneiros a morte.

"Sim. Faz algum tempo que eu não vejo os soldados bonzinhos. Em especial aquele Luca, que eu já te falei que tem algum interesse com a senhorita." Diz Lauretta mais uma vez insinuando que Luca tem algum interesse amoroso em mim, mal ela sabe da história.

"Já te falei que não. Luca, é apenas um amigo, e que para evitar conflitos com outros soldados, conversamos escondidos, e somente as vezes."
Respondo na defensiva, arrancando risos baixos da minha amiga.

"Sei. Mas um amigo, na minha perspectiva, não traria chocolate, e nem livros, colocando a vida dele em perigo, para agradar apenas uma amiga." Diz ela rindo alto, o que me faz de brincadeira jogar uma bola de neve nela, fazendo com que ela comece a rir ainda mais.

"EI, VOCÊS DUAS. O QUE PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO???" Grita, um dos guardas que está vigiando nossa área de trabalho, e andando na nossa direção.

"Nada senhor, peço perdão." Diz Lauretta com a voz baixa, logo pegando a pá novamente, e removendo a neve do caminho.

Eu apenas observo por um instante, mas logo volto ao trabalho, quando o mesmo soldado que gritou se aproxima ainda mais de nós.

Inferno de lugar. Não vejo a hora de encontrar Luca novamente. Ele tem me ajudado muito por aqui, tanto é que não perdi tanto peso quanto os outros prisioneiros, graças a ele, e os pãezinhos que ele sempre trás pra mim.

Mas diferente do que Lauretta diz, não há relação amorosa entre mim e ele. Luca disse que está planejando a minha fuga, então todas as vezes que ele aparece, ficamos discutindo planos de fuga, os quais sempre são falhos. No entanto, no mês passado, última vez que ele apareceu, ele me disse que o nosso próximo encontro seria minha fuga, que ele contaria com a ajuda de pessoas de confiança. O que estou esperando até hoje.

Luca disse que é camarada de alguém que foi amigo dos meus pais, não citou nomes, o que não faria diferença, considerando o fato de que eu não conheço ninguém. Enfim, ele me levaria até esses amigos, e então pagaria sua dívida. Tentei questionar mais sobre essa dívida, e esses amigos, mas não obtive sucesso. De qualquer forma irei, não porque confio em Luca, mas sim porque qualquer lugar, não deve ser pior do que esse em que estou. Ao não ser é claro, a casa dos meus avós.
Penso que a primeira coisa que irei fazer, assim que sair daqui, será procurar Harry. Confesso que tenho medo, passou meses já, nem sei se ele ainda quer saber de mim, mas mesmo com esse sentimento de insegurança, irei atrás dele. Nem que seja para me certificar que ele esteja bem, e recuperar meus pertences que ficaram naquela mochila dele, que ele jogou na bancada no dia em que fomos capturados.
Após isso, irei investigar mais sobre meus pais, agora que eu vi quem meu avô realmente é. Sei que minha vida inteira foi uma mentira, a começar pela morte dos meus pais. E eu quero, e vou descobrir o que aconteceu com eles.

''Vocês duas aí, larguem o trabalho aqui fora, e vão ajudar lá na cozinha.'' Diz um dos soldados para mim e para Lauretta.

''Aqui não tem cozinha senhor.'' Respondo rápido. Nossa alimentação, é quase nada. Não sabemos a procedência dela, os soldados simplesmente trazem de algum lugar, e distribui em canecas na sala maior.

''Na casa de fora da cerca, 1225.'' Diz o soldado, em tom de superioridade me chamando pelo número preso no meu casaco. Olho para Lauretta com certa preocupação, afinal, nunca saímos daqui, e ela só encolhe os ombros confusa e caminha na direção do soldado.

Ao passarmos pelo imenso portão, finalmente avisto a casa. Um calafrio percorre pelo meu corpo, ao me lembrar do corpo do capitão Serguei ensanguentado pelo chão, e o assassino, ainda com a arma na mão a minha espera. Nunca tinha sentido tanto pavor e nojo do meu avô, quanto naquele dia. E as lembranças, infelizmente ainda são muito recentes, o que faz meus pés pararem na entrada da casa, fazendo com que o soldado que está nos acompanhando, me empurre para dentro a forças.

''Vamos logo, não temos o dia todo.'' Diz o soldado bravo.

Ao adentrarmos na cozinha, notamos que há várias prisioneiras também, todas desempenhando alguma função culinária. Uma mulher, obviamente, não prisioneira, se aproxima de nós.

''Muito bem , como vocês virão, o banquete de hoje será especial e para muita gente. Por isso, coloquem esses aventais aqui, e lavem as mãos ali no banheiro. Que vou precisar que as duas ajudem nas massas.'' Diz a cozinheira para nós. Somente seguimos o que ela disse, e começamos o trabalho.

''Quem você acha que virá hoje aqui? Stálin?'' Pergunta Lauretta para mim.

''Não sei, acho pouco provável ele sair de Moscou para fiscalizar seus campos de aprisionamento. Mais provável, que venha algum dos seus capachos.'' de Acabo por fim respondendo o que penso, já imaginando uma provável visita de John.

''Pensando seriamente em roubar um pouco dessa comida.'' Diz minha amiga mudando de assunto, arrancando risadas minha.

''Ta louca? Você seria punida.''

''Verdade. Eles me mandariam para alguma prisão.'' Responde ela sarcasticamente.

Ficamos por algumas horas ali, ajudamos até a arrumar a mesa, e sim, seria alguém muito importante a ir lá hoje, considerando o quanto gastaram com aquele jantar. Logo, terminando o nosso trabalho, fomos mandadas de volta para o Gulag.
Já era tarde, quando dois soldados adentaram dentro dos dormitórios, e chamaram pelo meu nome. Pensei seriamente em simplesmente em ignorar, mas eles continuariam procurando, e acordaria a todos, que já estavam exaustos de tanto trabalhar durante o dia. Então, me levanto e vou em direção deles, recebendo antes um sussurro de Lauretta, pedindo para eu tomar cuidado.
Durante o caminho, nem tento questionar aos soldados o que está acontecendo, tendo em vista que eles são fantoches nas mãos dos que realmente mandam por aqui. Mas qualquer dúvida que eu carregava, logo é desfeita, quando eu adentro na casa, e vejo meu avô ali sentado, na ponta da mesa, como um verdadeiro rei.

''Elena, querida. Finalmente apareceu, por favor, sente-se aqui.'' Diz John, com uma voz calma, a qual exala falsidade. Eu por conta do estado de choque em que me encontro, não questiono, apenas me aproximo da mesa, que possui apenas um lugar vazio.

''Por favor, sirva-se minha neta, está mais magra do que da última vez em que te vi.''

''O que é isso?'' Acabo por fim perguntando.

''Um jantar, entre amigos.'' Responde John, saboreando a comida.

''Você é louco. Você é um psicopata louco. Prefiro ficar naquele merda de prisão, do que me sentar nessa mesa com o senhor.'' Grito na cara de meu avô, me levantando e indo em direção a saída.

''Já vi que alguns meses de punição não serviram de nada. Estava pensando, que talvez você durante esses meses, tivesse pensado nas suas atitudes, e me pedisse perdão por tudo que você fez. Mas não, está ainda pior.
'' Diz John, balançando negativamente a cabeça.

''Pedir perdão para o senhor? Eu não fiz nada para você. O senhor, que arquitetou tudo, o senhor faz parte de algo tão sujo, mata pessoas a sangue frio. Eu não te conheço vovô.'' Digo com olhos cheio de lágrimas.

''Bom, você tem duas opções aqui Elena. Me peça perdão por tudo que você fez, que eu te levo de volta para casa. Ou, continue me atacando, que eu me certificarei, que você continue aqui.'' Diz ele cinicamente, ignorando tudo que eu tinha dito anteriormente.

''O que? Voltar para aquela casa, a qual fui enganada a vida inteira? Não. Prefiro ficar aqui, um lugar ruim, que eu sei que posso morrer a qualquer hora, mas que ainda consegue ser mais real do que aquele lugar que vivi a maior parte da minha vida.'' Digo brava para ele, que só concorda com a cabeça e diz:

''Isso é uma pena, sua avó está com saudades.''

''Vovó sabe de tudo isso?'' Pergunto a ele incrédula.

''Claro que sabe. E assim como eu, ficou surpresa de você ter fugido com um desconhecido.'' Responde ele, voltando a comer sua refeição, como se estivéssemos tendo uma conversa agradável.

''Bom eu fiz minha escolha já. Não irei voltar.'' Respondo firme, levantando minha cabeça, e prendendo meu olhar ao dele.

''Muito bem, a sentença de morte é sua escolha. Sua avó ficará desapontada, mas vai superar isso. Guardas, levem ela de volta.'' Diz meu avô, e dois soldados se preparam para seguir suas ordens. Mas assim que estamos saindo da cozinha, eu paro, e viro novamente para meu avô, dizendo tais palavras cinicamente:

''Ah vovô, já ia me esquecendo. Agradeça a vovó para mim.''
John me encara confuso, e logo eu completo.

''Se não fosse por ela, eu não teria conhecido, e muito menos me apaixonado pelo Harry, que nesse horário já deve estar bem longe de você.'' Completo a frase, ficando feliz em ver o olhar desacreditado do meu avô, em saber que vovó de certo modo, possibilitou meu contato com Harry.

''Você tem a língua afiada senhorita Elena.'' Diz um dos soldados, assim que saímos da casa.

''Não mais que a faca do meu avô'' Respondo ironicamente.

''Olha, não sei o que aconteceu entre vocês. Sei que o senhor John é autoritário, mas veja bem, você deveria ter voltado com ele Elena, a situação aqui vai piorar. Essa semana chegará um novo comandante, popularmente chamado de punho de ferro.'' Diz ele um pouco receoso.

''O que isso quer dizer?'' Pergunto curiosa ao soldado.

''Que as coisas irão piorar senhorita. Aqui pegue isso.'' Diz o soldado me entregando uma sacola embrulhada com pães. Olho confusa para, o qual logo esclarece.

''Entregue para Lauretta por favor, sei que são amigas.'' Diz ele me dando uma piscadinha, e um sorriso tímido.  Logo, eu entendo tudo.

''Entrego sim.'' Respondo sorrindo para ele, e adentro na área dos dormitórios.

Assim que entro, vejo Lauretta espionando na abertura de uma das janelas. Olho em volta, e vejo que estamos praticamente sozinhas, só a algumas pessoas dormindo a nossa volta.

''Então, você tem um caso com um soldado?'' Pergunto assim que me sento ao lado dela.

''Da onde você tirou isso?'' Questiona ela, saindo da janela e focando seu olhar em mim.

''De um certo soldado, bem bonito por sinal, que te mandou isso.'' Tiro a sacola de baixo do casaco, e entrego a ela.

''Cala a boca.'' Responde ela rindo, e abrindo a sacola.

''Só te conto, se você por favor, me contar de uma vez, o porquê de realmente estar aqui, e também o porquê de não ter dado ainda uns perdidos com o Luca.'' Diz ela, em tom provocativo, enquanto come seus pães.

''Ok, eu conto.'' Digo suspirando. Agora que me livrei do meu avô, não vejo motivos para não contar para Lauretta a minha história.

''Estou aqui, porquê de certo modo, fugi de casa com um inimigo do meu avô. Que descobri a pouco, que é um dos chefes daqui.'' Resumo por fim, recebendo um olhar cauteloso de minha amiga, que me conforta a continuar.

''E bem, quanto ao Luca...'' Paro por um minuto e penso, sei que ela é minha amiga, e não irá me prejudicar. Mas Luca me fez prometer que não contaria a ninguém, sobre ele me ajudar com a fuga. Então por hora, omito essa informação de Lauretta. Mas assim que eu ver Luca, pedirei a ele, que minha amiga, fuja com a gente.

''Quanto ao Luca? Continua Lena, não me mate de curiosidade.'' Diz ela empolgada, esperando uma grande história de amor. Eu só reviro os olhos e respondo:

''Quanto ao Luca, nada. Somos só amigos, eu meio que já tenho alguém.
'' Sorrio só de lembrar de Harry.

''O inimigo do seu avô?'' Questiona ela, e eu só confirmo com a cabeça.
''Se ele for mais gostoso que o Luca, eu entenderei. Mas se ele for algum baixinho sem graça, você vai se ver comigo.'' Diz ela rindo.

''Ele é bem bonito ok'' Respondo rindo também.

''Bom, acho que agora é a minha vez de me abrir...Estou envolvida com um dos soldados, já faz uns dois anos isso. Ele sempre foi muito gentil comigo, me livrou de várias coisas por aqui já. E eu sei o quanto isso é perigoso, mas o fato de eu ter ele aqui comigo, faz com que eu queira estar viva, e mantem a minha esperança de um dia sair daqui sabe.''

''Acredite, eu entendo.'' Respondo, suspirando alto.

''Ele se chama Alexander, tem 27 anos, um bebê ainda'' Diz minha amiga sorrindo.

''Mas eu nunca vi vocês se encontrando, desde que eu cheguei aqui'' Digo a ela com o cenho franzido.

''Deve ser porque você vive perdida nos seus pensamentos. Eu sempre me encontro com ele de madrugada.''

''Eu não sou tão desligada assim'' Respondo rindo, recebendo um revirar de olhos dela.

''Mas estou te contando tudo isso, porquê...'' Diz Lauretta um pouco hesitante, parecendo sem coragem para completar a frase. Seguro a mão dela, e digo:

''Pode contar o que quiser, sem julgamentos aqui. Mas se não se sentir confortável, está tudo bem.'' Tranquilizo ela, a qual suspira fechando os olhos, e diz:

''Eu estou gravida.''

Silêncio fica entre nós por alguns segundos. Fico um tempo sem reação, tenho que pensar com cuidado no que dizer, pois falar dos riscos, ela certamente já sabe, e por isso está tão apavorada. Então tento outra abordagem, aquela que celebramos a vida feita com amor.

''Meus parabéns!'' Digo sorrindo para ela, e a puxo para um abraço. A mesma começa a chorar e rir ao mesmo tempo, e quando se afasta do  meu abraço diz:

''Sei que é uma situação horrível para ter um bebê, mas eu estou tão feliz, e é tão bom falar isso para alguém.'' Diz ela sorrindo, com o rosto cheio de lágrimas.

''Alexander não sabe ainda?'' Pergunto.

''Não, não tive coragem de contar ainda, ele irá surtar.'' Diz ela, chorando ainda mais.

''A quanto tempo você sabe da gravidez?''

''Bom, minha menstruação não vem já faz três meses, e tenho me sentido enjoada nos últimos tempos.''
Responde ela calmamente.

''Vai dar tudo certo. Eu vou te ajudar.'' Agora mais do que nunca, ela irá fugir comigo. Vou conversar com Luca, talvez Alexander como soldado também, pode nos ajudar.

''Como vai ficar tudo bem Lena? Eu já vi o que acontece com as outras grávidas daqui. O trabalho é o mesmo, logo, as mães ficam mais fracas, os filhos desidratam e morrem.'' Diz ele chorando novamente.

''Por favor, não me pergunte como. Só confie no que eu vou te dizer está bem?'' Pergunto a ela, que me olha com os olhos assustados, mas assente positivamente com o olhar.

''Você não irá criar seu filho nesse lugar ok? Vamos dar um jeito de sair daqui, e você irá criar seu filho em algum lugar seguro, isso é uma promessa.'' Digo a ela.

''Está bem. Eu confio em você.'' Diz ela me abraçando, e logo em seguida adormece ainda abraçada a mim.

Fico por mais um tempo acordada, pensando que a situação dela consegue ser mais urgente que a minha. Então agora mais do que nunca, preciso elaborar um plano de fuga eficiente com o Luca, pois a vida de um inocente acaba de entrar em jogo também.

Oii, como vocês estão?
Como vocês virão eu adiantei uns meses na história, para bater com as datas de futuros eventos históricos, da segunda guerra mundial. 
Então, assim como esse capítulo, e alguns seguintes, terá esses momentos de "lembranças" de Elena e Harry, no tempo que eles passaram no porão da casa dos avós dela, mostrando o quanto eles ficaram encantados um com o outro. Momentos esses que foram breves, mas que aquece o coração.
Se ficar muito confuso, chato, ou qualquer outra coisa, a opinião de vocês será recebida, então comentem se puderem.

Até semana que vem, bjs 😘.

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