Quatro.

Camila

Conheci Shawn Mendes no primeiro dia de aula de arte do ensino médio. Mesmo aos treze anos, ele sabia exatamente quem era. O garoto já tinha estilo naquela época. E não se importava em parecer diferente. Ele queria parecer diferente, desejava ser quem ele de fato era. Eu o admirei logo de cara.

Aos dezesseis anos, quando meu primeiro namorado terminou comigo para sair com Candy Lattington porque não o deixei avançar para a terceira base, foi nos ombros de Shawn que chorei. Ele me abraçou e disse que Candy era uma vadia. Quando eu tinha dezenove anos, bebi tanto que mal consegui andar, e Shawn foi me buscar no bar. Ele segurou meu cabelo enquanto eu vomitava e depois me levou para a casa dele e me colocou para dormir na sua cama. Aos vinte e quatro, quando meu pai morreu com apenas cinquenta e oito anos de um infarto fulminante, ele segurou a minha mão enquanto acertávamos os detalhes do funeral e dormiu comigo de conchinha por dois dias seguidos, abraçando-me até que a última lágrima caísse. Shawm Mendes é o melhor amigo.

— Adoro esse vestido azul. Combina com você. — Ele faz tão bem para a minha autoestima.

— Obrigada. — Fico na ponta dos pés e beijo sua bochecha. — Connor o comprou para mim. — Dou um sorriso forçado, sabendo qual será sua reação.

Shawn franze o nariz.

— Pensando bem, acho que o vestido nem é tão bonito assim — ele provoca. Ultimamente, tenho me perguntado se eu não deveria ter ouvido a opinião dele sobre Connor, um ano atrás.

Shawn examina a academia, que está cheia com uma variedade de homens musculosos de todos os tamanhos e formas, como sempre.

— Me diz de novo por que eu não venho te buscar no trabalho todos os dias? — Ele suspira, olhando em volta como um lenhador faminto diante de um banquete.

— Porque você detesta lutas. — Sorri e evidencio o maior obstáculo. — E o Connor.

— Falando no diabo... — Shawn murmura. Viro-me e vejo Connor se aproximando.

— Shawn. — Ele dá um aceno curto de cabeça para Shawn. Os dois têm uma profunda antipatia um pelo outro. Mas Connor sempre soube que Shawn é fundamental para mim, por isso ele mantém distância e se controla. Bem, mais ou menos.

— Connor. — Shawn imita o aceno de cabeça, mas Connor nem percebe que está sendo zoado.

— Me liga quando chegar em casa — Connor ordena secamente.

— Provavelmente chegarei tarde.

— Não importa. — Connor acena para Shawn novamente e tenta me beijar na boca antes de ir embora. Viro-me a tempo e o beijo atinge o canto da boca. Por sorte, Connor não vê o cumprimento que Shawn lhe dá às suas costas.

— Você não deu o fora nele? Por que ele ainda te beija? — Shawn pergunta com sinceridade.

Pensativamente, mordo meu lábio inferior.

— Ele não está aceitando o nosso término.

— O que isso quer dizer? Ele não tem a opção de aceitar ou não. Você deu o fora nele. Ele foi descartado. Na verdade, é muito simples.

— É uma longa história.

— Temos a noite inteira. Mal posso esperar para ouvir.

Antes que ele comece a lição de moral que sei que está prestes a dar, pego minha bolsa.

— Vou ao banheiro retocar a maquiagem. Pode ficar aí apreciando as atrações — digo e vou para os fundos da academia.

Alguns minutos depois, volto do banheiro e encontro Shawn debruçado casualmente no balcão de entrada, com os tornozelos cruzados e os cotovelos sustentando seu peso. Com um sorrisinho malicioso e os olhos brilhando, eu reconheceria aquela expressão em qualquer lugar. Ele está flertando com alguém. Só espero que não seja com um dos ratos de academia musculosos que se tornam violentos quando percebem que outro homem está flertando com eles.

Depois de mais alguns passos, o objeto de atenção de Shawn entra no meu campo de visão. Não consigo deixar de sorrir. Às vezes, nós realmente temos gostos parecidos.

— Oi, Lauren. Pensei ter visto você sair mais cedo — digo, sem reparar de imediato que ela não está trajando mais roupas de academia. Ela está vestindo jeans escuro, camisa azul-marinho que acentua a cor clara de seus olhos e um casaco leve azul-marinho ainda mais escuro. Simples. Discreto. Urbano e absolutamente perfeito. Não é de se admirar que tenha atraído a atenção de Shawn.

— Esqueci uma coisa. Passei só para ver se ainda estava aqui.

— Ah. O que você esqueceu? Nós temos um "achados e perdidos". — Vou para trás do balcão da recepção, pronta para pegar a caixa onde colocamos todos os fones de ouvido e luvas de treino.

Lauren olha para Shawn. Eles se entendem através de alguma linguagem silenciosa e Lauren levanta as mãos.

— Eu gosto de mulheres, cara.

— Eu não me importo, sei o que você tem entre as pernas e eu gosto — Shawn dá de ombros e Lauren ri.

— Eu queria saber se podia fazer você aceitar aquela proposta.

Franzo o cenho.

— Proposta?

— A de me desenhar.

Shawn ri. Não, na verdade, ele ri tão alto que faz barulho com o nariz.

— Não a deixe se aproveitar de você. Ela usa essa bobagem artística para fazer as pessoas tirarem a roupa o tempo todo.

Dou um tapa em Shawn. Sei que ele está me zoando, e espero que Lauren também saiba que ele está brincando, mas, mesmo assim, não consigo evitar o rubor de vergonha que surge em meu rosto.

— Não liga para o Shawn. Ele ainda está chateado porque não permiti que convidasse para sair um modelo na noite em que estávamos desenhando nus artísticos.

Lauren sorri. Ela parece se divertir com a brincadeira entre mim e Shawn. Tão diferente da reação de Connor... Ele sempre teve ciúmes da minha relação com Shawn, mesmo sabendo que nunca ia rolar nada entre a gente.

— Nós estamos indo para a minha exibição na galeria no SoHo. Por que não vem conosco? Acho que você vai gostar de ver algumas das pinturas de mulheres nuas. — Shawn dá uma piscadinha para ela.

Arregalo os olhos quando me dou conta do que ele está fazendo. Em pânico, falo rápido e sem parar:

— Na verdade, vai estar muito cheio. Shawn convidou muito mais gente do que a lista de convidados, pra variar.

É notável o desapontamento no rosto de Lauren, mas ainda assim ela é polida.

— Tudo bem. Quem sabe uma outra noite.

Merda. Agora ela acha que estou tentando dispensá-la ao fazê-la desistir do convite de Shawn porque não quero que ela vá.

— Me desculpe. Isso não soou legal. Eu adoraria que você viesse conosco. É só que... — Paro, mordendo meu lábio em ansiedade enquanto busco as palavras certas.

— Ela vai estar completamente nua — Shawn termina minha frase. Não era exatamente como eu diria isso, mas sou salva de ter que dizer essas palavras.

Embora tenha ficado confusa com a declaração de Shawn, Lauren entende que há mais na história e parece intrigada.

— Você vai ficar nua numa galeria? — Um esboço de safadeza em seu rosto ridiculamente lindo não torna as coisas mais fáceis de explicar.

— Eu deixo Shawn me pintar — explico calmamente. — Nós pintamos um ao outro. — Repensando minhas palavras, esclareço: — Não exatamente o corpo um do outro. É pintura em tela — tropeço nervosamente nas palavras. — Foi o nosso projeto de aula. Ele incluiu o dele como parte de sua exibição.

Lauren levanta uma sobrancelha perfeita.

— Então a galeria vai expor uma pintura de você nua?

— Vai, e a pintura dela ganhou uma linda nota dez — Shawn responde antes mesmo que eu consiga abrir a boca. — Acho que ela planeja me colocar de pé na frente dela a noite toda.

— E eu acho que você só quer expor na galeria para ter uma desculpa de convidar o Nick — reajo.

— Nick? — Lauren pergunta, tentando seguir a conversa.

— O modelo do nu artístico que não deixei que ele convidasse para sair enquanto estávamos pintando.

Lauren balança a cabeça, rindo.

— Parece que você terá dificuldades em mantê-lo na frente da sua pintura se o Nick estiver passeando pela galeria. Mas divirtam-se. Uma outra hora, talvez?

Concordo com a cabeça e assisto Lauren apertar a mão de Shawn. Um instante antes de ela alcançar a porta, solto as palavras antes que meu cérebro consiga frear a decisão:

— Por que não vem com a gente?

Ela se vira de volta, hesitante em aceitar minha oferta. Franze o cenho, avalia minha sinceridade e pergunta:

— Tem certeza?

Concordo com a cabeça e respondo provocativamente:

— Você é maior do que o Shawn. Pode cobrir mais da pintura.

Ela sorri e concorda.

— Pode deixar!

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