Inconsequentes

- Não vai dar, Larry... - choraminga, tombando a cabeça para trás. - Eu vou cobrir a Lívia hoje, como ela fez comigo na semana passada.

Ambos estavam na cafeteria onde Leon trabalhava, estava no final de seu expediente quando o homem apareceu para fazer o convite de ir ao samba na praça em frente a padaria Brio. O ruivo estava tentado a ir, mas com certeza não poderia.

- E também, eu vou ter que ficar com meu avô hoje, não posso deixá-lo sozinho - respondeu enquanto passava um paninho sobre a bancada que separava ele do amigo, que estava sentado na cadeira.

- Ah, Leon, ele não tá tão velho assim, você pode se dar ao luxo de sair hoje. É sexta à noite! Qual é! - Sorri.

- Ha, é porque você não conhece meu avô como eu conheço! - Dá as costas para Larry. - Ele pode não ser tão velho, mas pede tantos favores que me sinto um gênio da lâmpada! - Revira os olhos. Larry ri.

- Entendo.

- Então, não. Eu não vou poder ir - sorri triste.

- O Franz disse que vai.

- Ah, espero que ele se divirta então, pra depois me contar tudo do que rolou.

- Então só você vai ficar em casa? - Arqueou uma sobrancelha.

- Infelizmente - dá de ombros.

- E não tá fazendo questão disso? - Surpreende-se.

- É.

- Vai chover - diz sério, batendo na mesa. Leon gargalha.

- Eu sou um homem que trabalha agora, me tornei mais maduro!

- Uhum - debocha.

- Vai te catar, Larry! - Joga o paninho na cara dele, que ri.

- Tudo bem, então - levanta-se. - Não vou mais desperdiçar seu tempo, termina aí o seu trampo.

Ele caminha até a porta e acena para o ruivo, que retribui. Antes de sair, diz que vai mandar muitas fotos para ele e que prometem se divertir. Leon sorri fraco, observando sua solidão.

Ele queria ir se divertir com seu namorado e amigos, mas a vida o chamava. E ter responsabilidades era um porre!

Encostou o quadril na bancada e tirou o celular do bolso.

[ Vai ao samba hoje?

Vou, por quê? Você não? ]

[ Meu avô
[ Sabe como é, né...

Oh, claro... ]

[ Vai conseguir se divertir sem mim? Haha

Eu vou tentar, meu amor!! ]
Era isso que você queria ler? ]

[ Engraçadinho

Leon coloca seu celular no bolso novamente, rindo sozinho. Já era hora dele bater o ponto para ir para casa. 18:00.


***

Distraído, caminhava pelas ruas da cidade até sua casa. Com um café em mãos, ainda mandava mensagens para seus amigos, cobrando as fotos do rolê.

As respostas deles lhe causava risadas, alternando entre beber o café e rir. Não percebeu que onde caminhava era tão deserto. As ruas eram escuras, os únicos sons eram os dos gatos brigando por qualquer porcaria que pudessem comer e as duas pessoas que passavam por ali já haviam ultrapassado Leon.

Era o caminho mais curto até sua casa, mas também o mais estranho.

Não percebeu uma presença se aproximando, até sentir um beliscão na sua cintura. Em um pulo, Leon virou de costas para descobrir quem havia feito aquilo.

- Fala, Lê! - Sorridente, ela o cumprimenta.

- Ah, é só você - suspira aliviado. - O que faz aqui, Mirella? - Bebe do café.

- Uma garota não pode mais visitar seu priminho querido na casa do seu avô querido?

- O vô? Um querido? Ha! Essa é boa, Mi!

- Ainda mal-humorado?

- Como sempre! - Ri, sendo acompanhado por sua prima. Fazia tempo que eles não se viam, desde a ida dela para outra cidade junto com a sua mãe recém-divorciada. - Mas fala aí, você cresceu, hein! - Encarou a garota de cima a baixo.

Ela não era nada parecida com a magricela que convivia com 10 anos, estava mais encorpada. Seus olhos grandes e brilhantes traziam a alegria de sempre, junto com a heterocromia que Leon nem se lembrava que a acometia. Seu cabelo era curto, pouco maior do que o do rapaz. Era marrom com pontas azuis.

- Você também, eu quase não te reconheci - responde observando os cabelos laranjas do garoto. - Quando você disse que queria ficar ruivo que nem seu pai, eu não imaginava que você tava falando sério. Mas você tá lindo.

Eles então começaram a caminhar enquanto conversavam. Mirella se recordava de Franz, e se chocou ao saber que agora eles eram namorados.

- Você já era bem gay desde aquela época mesmo! Como eu não percebi?

- Seu gaydar precisava falhar pelo menos uma vez na vida.

- Meu gaydar nunca falha.

Estavam próximos de casa quando a garota percebeu os piercings que Leon possuía nas orelhas. Em ambas.

Leon pega as chaves de casa do bolso e pede para que sua prima segure seu copo de café.

- Você tem piercings, Leon? - Pergunta enquanto vê o primo colocando as chaves no trinco da porta.

- Ah, é verdade, tenho - passa os cabelos para trás da orelha. - Às vezes eu esqueço que tenho.

- Como você juntou coragem pra fazer isso?

- Foi em um momento de loucura, não pergunte - ri. - Eu sempre achei bonito, aí quando o Franz disse que tava pensando em furar, eu fui junto com ele. Mas ele fez só um furo mesmo, eu fiz logo seis.

- Porra!

- Pois é! O que mais doeu foi esse transversal. Nunca mais, viu.

A garota ri e Leon abre a porta.

- Mas não comente nada com o vô, ele não sabe - avisa e passa os cabelos para frente das orelhas novamente. - Sabe como ele é...

- Sei, sim - sorri. - Relaxa — Leon assente.

- Vô, chegamos! - Avisa após ele e a prima entrarem em casa, logo fechando a porta.

- Ah, finalmente - resmunga descendo as escadas. - Já tava pensando em ligar a TV e te ver nesses programas que só passam desgraça.

- Muito boa noite pro senhor também - debocha. - Já viu a Mi?

- Ela chegou aqui faz tempo - vai até sua poltrona e senta-se. - Não aguentava mais essa menina tagarelando, Deus é mais, vocês dois só sabem falar.

- Falei pra você que ele continua ranzinza - sussurra para a prima. - Quer chá, vô?

- Oh, minha dor de cabeça tá me matando! - Põe a mão sobre a testa. - É tudo o que eu mais quero. Agora vê se não demora.

Mirella ri baixinho. Leon a cutuca com cotovelo e põe seu copo de café sobre a mesinha ao lado, caminhando até a cozinha seguido por sua prima.

- Aquele lá acha que chá resolve todos os problemas da sua vida.

Mirella se senta à mesa.

- E pelo visto, não mudou nadinha. Continua reclamão. Como você aguentou durante tanto tempo, hein?

- Ah... - sorri, colocando a chaleira embaixo da torneira - você aprende a conviver... - dá de ombros. Mirella observa ele ligar o fogão e posicionar a chaleira.

- Você faz isso sempre? Pra ele?

- Eu aprendi a fazer algumas coisas graças a ele - estica o corpo para pegar uma xícara na prateleira. - Esse velho me explora, Mirella! - Coloca a xícara sobre a pia e se agacha para pegar alguns sachês de chá. - Ele me pede tantas coisas...

- Como. Você. Aguenta.

- Eu me dou bem com ele, por incrível que pareça! - Ri. - Até meu pai se surpreende.

- Vocês são bem diferentes.

- Sabe, quando você convive tanto tempo com alguém ranzinza, você acaba aprendendo a se desdobrar com ele - responde reflexivo. - Vai querer chá também? - Vira-se para ela, que sorri.

- Passo.

***

- Ah, ainda bem! - Exclama ao ver o neto cuidadosamente se aproximar com a xícara em mãos. - Achei que não fosse viver pra beber esse chá.

- Sabe, vô, quando alguém faz um favor pra gente, por educação é costume agradecer, sabia? - Ironiza, colocando a xícara na mesinha de centro. O senhor vira o rosto para o lado, sem resposta. - Achei que o senhor seria mais receptivo depois de ver a Mirella aqui - se joga no sofá. A garota se apoia nas costas do móvel.

- Pra quê? - Arqueia a sobrancelha. - Ela é tão minha neta quanto você, não tem nenhuma novidade.

- Ok, esse é o vovô - ela ri. - Algumas coisas nunca mudam.

- É, é verdade... Você já terminou com aquele seu namorado?

- Vô!! - Ela cora, erguendo o corpo. - Que tipo de pergunta é essa?

- É verdade, você namorava... - Leon relembra. - Ainda tá com ele?

- Eu... eu não sei! É complicado!

- Ai, Mi, isso não tá certo — o ruivo repreende com uma preocupação paternal.

- Tá bom, agora vamos parar de falar do meu relacionamento conturbado? Eu não vim aqui pra levar sermão dos dois, eu vim pra me divertir com vocês.

O avô, que já tomava de seu chá, intromete-se na conversa.

- O outro que tem namorado é esse daí - Aponta para Leon com o queixo.

- É, ela já tá sabendo... - desvia o olhar com um sorriso.

- Não sei o que vocês têm com homem, viu.

- Por quê, vô? - Mirella pergunta. - Porque homens não prestam?

- Não, é porque eu só acho que vocês deveriam focar nos estudos e em ter um futuro decente. São jovens demais para namorar - bebe do chá. - Mas isso aí também.

Leon ri.

- Vai ao samba hoje, prima?

- Ô se vou! - Sorri. - Vai ser às 19:00. Você vai?

- Samba? Mas que samba? - O senhor pergunta.

- Ah, o que vai ter hoje em frente à padaria Brio, vô - justifica. - Aquela que eu sempre vou comprar pão aqui pra casa. Vai ser uma festinha legal até.

- Então quer dizer que você mal chega e já vai por aí vadiar? - Refere-se à neta.

- Ah, vô, eu vou ficar aqui um mês! Eu posso me dar ao luxo de ir nessa festinha, não posso? - Ela vê o velho dar de ombros em descaso.

- Vocês jovens só sabem viver disso, o que posso dizer. E você, Leon, vai também à essa pouca-vergonha?

- Não, vô, pode ficar tranquilo - sorri lateral -, eu não posso ir porque estou preso a você - brinca. - Como o pai vai demorar pra chegar hoje, eu tenho que ficar aqui.

- Hm - resmunga e termina de beber o chá.

***

- Você sabe o que eu acho do Walter, né? - Diz para a prima. Estava deitado na cama, conversando com a garota que acabara de sair do banho, aprontando-se para sair à festa. Ela suspira.

- Sim, eu sei - responde. - Mas é complicado, Leon. Não aja como se fosse simples administrar um relacionamento.

- Você que tem mania de ficar com homem ruim.

- Ei! O Walter não é ruim! Ele é só... complicado...

- Complicado, complicado, complicado - vira-se para deitar de bruços, apoiando o queixo com a mão. - Você só conhece essa palavra?

- Ha! Duvido que o seu relacionamento seja as mil maravilhas também, tá?!

- Pode não ser, mas nem tente comparar o meu namorado com o seu. O Franz jamais faria comigo o que o Walter faz com você.

- Que seja - dá de ombros e baixa a toalha para colocar seu vestido. - Do meu relacionamento cuido eu.

- Sim, senhora.

- Mas me conta, quando vocês começaram a namorar?

- Foi... difícil... mas sobrevivemos.

- Quero detalhes depois.

Leon sorri e permite que o silêncio adentre o quarto. Mirella terminava de colocar seu vestido e se adornar com suas pulseiras.

- Senti saudades, prima - sorri terno para ela, que estava de costas, frente ao espelho. - Foi difícil sobreviver à nossa família sem você.

Ela fica em silêncio, mas logo abre um sorriso travesso.

- Difícil, difícil, difícil... Você só conhece essa palavra? - Brinca. Eles riem.

- Obrigado por voltar, Mi.

- Imagina.

Ela concentra-se em passar o batom. Nesse momento, Leon recebe uma notificação no celular.

Certeza de que não vem? ]

[ Absoluta, mas aproveita, ?

Nem se preocupe com isso ]

[ Ha ha! Você tão engraçado hoje, sabia?
[ Eu não vou, mas enviando uma confidente, então é melhor andar na linha!

Como se eu pensasse em sair da linha ]
Não preciso disso ]


- Segura o sorriso, querido. Consigo sentir sua boboquice daqui. Tá igual um idiota.

- Boboquice? Quantos anos você tem, 7?

- Você tava rindo pro celular, isso é perigoso quando se trata de paixão.

- Você não faz ideia do quão bom é isso, Mi! - Rola na cama.

- Era o Franz?

- Era - dá uma risadinha.

- Fico feliz dele ter sido o seu porto seguro enquanto eu não estava - suspira.

***

Eu preciso trair aquele merda! Mirella passa o olhar pelas pessoas ali presentes. A praça estava cheia. Os pandeiros tocavam em sua melodia clássica. Pessoas riam, conversavam, bebiam.

De repente, uma súbita vontade de conhecer os amigos de Leon lhe sobe o corpo. Principalmente Franz, queria saber o rosto do namoradinho de seu primo, já que os únicos relatos sobre ele eram feitos por telefone durante muitos anos.

Enquanto caminhava, fingia não ver as investidas que alguns caras lhe passavam, com olhares sugestivos e toques cúmplices entre os amigos. Revira os olhos, enojada. Não tem nenhum cara bonito e decente nessa merda de cidade?

Perdida em pensamentos, esbarrou em um homem alto. Ao pedir desculpas, perdeu-se na beleza de seus dreads. Ele era forte, e muito bonito.

- Desculpada - ele sorri para ela. Mirella sente seus pés escorregarem e se esforça para não cair no chão. Estava boba. Era disso que eu tava falando!

***

Leon estava entediado em seu quarto, deitado com as pernas levantadas na parede e cabeça tombada para trás, lendo algumas HQs que estavam jogadas embaixo de sua cama. Em um suspirado impaciente, ele larga seu impresso e ergue o corpo. Ao olhar para o lado, para seu alarme na mesa de cabeceira, percebe que ainda eram 20:24. Meu pai realmente vai demorar hoje..., pensa cabisbaixo.

Não era novidade nenhuma que seu pai iria chegar tarde. De fato, nem se surpreendia mais, nem se permitia ficar chateado. Era o normal, ele se matar de trabalhar para prover as necessidades da casa. Mas agora ele nem precisava tanto, afinal, estava namorando. Quando será que eles vão juntar os trapos? Arqueia uma sobrancelha.

Mentiria se dissesse que não sentia saudade de seu pai. Queria que ele tivesse sido mais presente em sua vida. Sempre sentiu como se nunca tivesse tido nenhum dos pais, para ser sincero. Mas ele já estava costumado. Sua vida era assim, não teria o que fazer para mudar.

Levantou-se da cama respirando fundo. Foi até a porta e chamou pelo seu avô, com interesse em saber se ele precisava de alguma coisa. Estranhou a falta de resposta, então caminhou até as escadas e desceu alguns degraus, já conseguindo ver as costas do senhor. Ele estava dormindo com a TV ligada.

De repente, um fogo subiu em Leon: a vontade de fugir para a festa.

Um sorriso se abriu rapidamente. Se ele não precisa de mim, eu não preciso estar aqui, né?

Correndo, voltou para o quarto e abriu o guarda-roupa, jogando roupas e mais roupas no chão em busca de uma bonita para impressionar.

***

Passando entre as pessoas, procurava com o olhar o moço misterioso que havia arrematado seu coração, com uma esperança ingênua no semblante feliz.

Finalmente o encontrou perto da porta da padaria, junto com dois amigos. Ou pensava que eram amigos. Ela vê o rapaz beijar um garoto mais baixo, loiro. Oh, então você está comprometido. Claro, é sempre assim.

Tomba a cabeça para trás com um bico birrento.

***

- Por que tá olhando tanto para o celular, Franz? - Larry pergunta enquanto passa o braço pelos ombros de Jimmy.

- Tentando falar com o Leon, mas ele não responde mais as minhas mensagens... - responde concentrado na tela.

- Ihhh, será que você está encrencado? - Sugere Jimmy com um sorriso brincalhão.

- Até parece - ri e baixa o celular - Pelo o quê eu estaria encrencado? Por estar em uma festa e mesmo assim falando com ele no telefone ou por ter pedido uma caipifruta sem álcool? - Brinca.

- Verdade, você tá bem careta aqui - o loiro ri.

- E mesmo se eu pensasse me fazer alguma coisa, o que eu não penso, ele disse que enviou uma confidente para me vigiar - ironiza. - Eu que não vou arriscar com aquele lá.

- Se ele conseguiu achar uma das suas meias de quando era bebê no meio da tralha que é a parte de cima do seu guarda-roupa, realmente não se pode esconder nada dele - bebe do suco que Larry trouxe.

- Exato - suspira. - Só não entendo por que ele ainda não me respondeu - ergue o celular novamente para o seu rosto.

***

Mesmo com a TV ligada, Leon se esforçou para fazer o mínimo barulho possível. Desceu as escadas com cautela e olhar fixo em seu avô, sentado em sua poltrona, roncando. Tenha paciência, Franz... pensa ao ouvir seu celular apitar no bolso, esse escondido pelo casaco grande que pegou para se proteger do frio.

Suspirou vitorioso ao passar pelo avô e já estar em frente a porta, mas pulou de susto quando seu celular tocou. Franz!!

Tirou o celular do bolso e, nervoso, quase não conseguiu atender a ligação. Colocou o celular no ouvido observando qualquer mínimo movimento de seu avô.

- Oi, Franz - sussurra enquanto procura as chaves na mesinha ao lado da porta.

- Aconteceu alguma coisa? Você parou de me responder do nada, foi seu avô?

- Não, não. Ele tá dormindo agora - sorri sozinho ao encontrar as chaves.

- Tá sussurrando por quê?

- Você já vai descobrir - responde com uma alegria travessa. - Preciso desligar. Te amo.

Ele desliga antes de Franz cogitar responder. Passando as chaves no trinco e abrindo a porta, Leon foge.

***

— Mas que conversa rápida — comenta Larry, meio surpreso.

— Acho que ele tá vindo pra cá — sugere.

— Mas ele não falou que ia ficar com o avô?

— Falou, mas... né? É o Leon.

— Certo, estamos no aguardo, mas agora eu quero um lugar para sentar — Jimmy sai puxando a mão de Larry. Franz os segue até as mesas redondas do lado de fora do estabelecimento.

***

[ Vagabundo, você vindo pra cá, é??!

Ué, como sabe? ]

[ Digamos que eu tenha ouvido um pouco da conversa do seu namorado com os amigos dele
[ São amigos seus também??

Ah, é o Larry e o Jimmy! São meus amigos, sim ]

[ Que namorado bonito hein bicha?
[ Devo dizer que quase fui pra cima do altão. Ele é o Larry ou o Jimmy?

Larry! Akakakakak ]
Eu queria ter visto você dar em cima dele com o Jimmy do lado! Você morreria!! ]

[ Fiquei bem chateada em saber que ele é gay, sendo bem sincera

Que nada, ele gosta de mulher também ]
Mas não agora kaakak ]

[ Acho que sou um pouco homofóbica

Eu percebi ]

Mas é aí? Gostou do Franz? ]

[ Ah, eu não falei com ele, ouvi conversando
[ As vantagens de ser desconhecida é poder escutar a conversa dos outros tranquilamente
[ Mas como eu disse, ele é bem bonito

Eu sei! ]

[ Acha que tenho chances?

De eu te matar? aumentaram agora ]

[ Ele tem uma cara de solteiro...

Mirella se você der em cima dele eu juro que arrasto sua cara no asfalto ]

[ Ok, o macho é seu

***

Leon virava a esquina quando colocou o celular no bolso e riu de sua conversa com a prima. Eu realmente não sou bom  fazer mistério, pensou ao lembrar de que Franz já estava suspeitando. Será que o vô acordou?

***

Sentindo uma dor em sua cervical, Vicente acorda aos poucos. Resmungando como era costumeiro, tateia o sofá em busca do controle da TV. A sala de estar estava mergulhada na escuridão, sendo iluminada somente pelo visor da televisão.

— Leon — grita —, não tem nem um pouco de consideração com seu avô para deixar ele no escuro? — Reclama. Murmura até achar o controle. Levanta-se de sua poltrona e vai até o interruptor, acendendo a luz. — Leon, seu avô está falando com você! — Desliga a TV. Sem respostas de seu neto. — Leon? Le- Ah, mas tenha santa paciência, viu — põe o controle sobre a mesa de centro. — Mas que menino malcriado. Impressionante, simplesmente fingindo que não está me escutando.

Reclamando também de sua dor na coluna, subiu as escadas para o quarto de Leon. Parou em frente a sua porta e bateu uma vez. Sem resposta. Bateu mais uma vez, agora com uma dose de impaciência. Então ele adentra o quarto em um movimento brusco.

— Olha, Leon, você já estava enchendo a minha paci... — corre os olhos pelo quarto, mas não encontra seu neto. — Leon, cadê você? — Pergunta irritado. — Se for mais uma de suas brincadeiras, é melhor você nem pensar em sair desse quarto tão cedo — ameaça, abrindo o guarda-roupa, assim as roupas emboladas caem sobre os pés do senhor.  Ele sente sua raiva crescer.

Vicente desce para a sala de estar novamente, indo até a porta. Ao tentar abri-la, já a percebe aberta. Sendo que ele a tinha fechado.

A chave que estava sobre a mesinha parecia ter sido jogada às pressas, visto sua posição. Com um ranger de dentes, ele pega sua bengala e sai de casa.

Iria atrás de Leon.

***

— Oi, licença — Mirella pede educadamente ao se aproximar da mesa dos meninos. — Vocês são Larry, Jimmy e Franz? — Pergunta com um sorriso.

— Somos, sim — Larry responde —, por quê? — Então a encara com mais atenção. — Ah, você é a garota que esbarrou comigo!

— Sim, sou — ri constrangida. — É que o Leon me falou de vocês. Sabe, eu sou a prima dele.

Eles então a respondem com um sorriso gentil e com um "prazer conhecê-la".

— Espera, por acaso você é a prima Mi... Micaela...? — Franz sugere, com o cenho franzido em confusão.

— Mirella — dá uma risadinha. — A prima dois anos mais velha, prazer — brinca.

— Ele me falou de você — sorri. — Ele queimou o seu filme.

— Ah, eu queimo o dele também — dá de ombros. — Posso... sentar? — Toca a cadeira que estava sobrando.

— Claro, à vontade — Jimmy responde, arrastando a cadeira para lhe dar mais espaço. Ela agradece.

— Mas imagino que o filme dele já é queimado, né? Aquele lá é um caso sério! — diz.

— Talvez — Larry dá de ombros. — Mas é sempre um prazer saber mais atrocidades do Leon.

Eles riem.

***

Leon se encolhe em um abraço consigo mesmo, causado pelo frio. Mesmo com o casaco, ainda assim ele era mais estiloso do que funcional. Batendo o queixo, ouve o som dos pandeiros e das belas vozes que cantavam pouco alto. Sorriu ao ver que já estava em frente a festa. Correu para o lugar.

***

— Aí ele saiu chorando, gritando "Seu chato, seu chato!" por causa da cutia infelizmente falecida — relata com um falso pesar. — Ele sempre odiou maus-tratos aos animais, por isso.

— Eu que o diga! — Larry ri. — Você sabe da história do zoológico?

— História do zoológico? Não. Ele nunca me contou nada.

— Pois, ele simplesmente decidiu que iria abrir as jaulas de todos os animais. Por quê? Porque eles "tinham pouco espaço" — fez aspas com os dedos.

— Mentira?! — Ficou boquiaberta.

— Exato! — Assente. — Nenhum de nós acredita nisso até hoje. E olhe que estávamos lá!

Mirella gargalha junto com os meninos, mas logo percebe que ficou sozinha na risada. Estranhando, ela os encara confusa e eles mantém os olhos vidrados em algo acima de seu ombro. Então olha para trás e percebe Leon a - os - encarando seriamente, com os braços cruzados.

— Acho que esse assunto com o meu nome tá bom de acabar, não? — Arqueia a sobrancelha. Eles desconversam bebendo de seus drinks, desviando o olhar. — Vejo que já fizeram amizade — puxa uma cadeira de outra mesa e a põe entre Franz e Mirella, sentando-se. — Você nem me deu a chance de te apresentar a eles, prima — finge chateação.

— Desculpa, primo, mas eu não ia depender de você pra vir conversar com seus amigos e conhecer o seu namorado.

— Ah, então ela sabe que a gente namora — diz quase em tom de pergunta.

— É, sabe. Eu meio que contei pra ela muitas coisas nessas últimas duas horas. Ou nos últimos 10 anos...

— Oh, entendi — sorri lateral. Leon apoia a cabeça no ombro do moreno com um sorriso entre o sapeca e o fofo.

— Aliás, quero te agradecer também — ela diz para Franz com um sorriso terno.

— Pelo o quê? — Pergunta confuso.

— Por ter ajudado meu primo durante o tempo que eu não pude fazer isso por ele. Sabe, ele era medroso demais — pisca para Leon, que lhe mostra a língua.

— Pois é, e hoje eu namoro a pessoa mais protetora e atenciosa que eu conheço — ergue um pouco a cabeça para lhe dar um beijo no rosto, logo voltando a deitar em seu ombro, deixando Franz com um sorriso bobo na cara.

— Mas então, o vô deixou você vir?

— Ah, não, eu fugi.

— Você o quê, Leon?! — Mirella se levanta da cadeira, desacreditada. Leon se assusta e agarra o braço de Franz. — Você bateu com a cabeça na parede quando eu saí?! Só pode ter sido isso, né?!

— Mirella, relaxa! Ele tá dormindo!

— Leon, você sabe muito bem como o vô é! É capaz deve vir bater aqui atrás de você!

— E por que você tá tão preocupada com isso?

— Porque a vergonha também é minha! O avô é meu também, com certeza ele vai reclamar comigo quando terminar com você!

— Mirella, se acalma. Ele não vai bater aqui — segura a mão de sua prima para induzi-la a sentar novamente. — Ele deve estar no vigésimo sono uma hora dessas — pega o copo de Franz e bebe um gole de seu drink.

Mas sua felicidade durou pouco após o surto de sua prima. Enquanto bebia do copo do namorado, um grito berrando seu nome ecoou pelo lugar. Um grito familiar que lhe correu a espinha em um arrepio. Leon engasga e olha para Mirella, que estava paralisada. Pela breve troca de olhares, ambos se entenderam. O vô!, pensaram.

Simultaneamente, eles se levantaram, ficando lado a lado em frente à mesa, como quem esperavam por um general. Eles abaixaram suas cabeças pela vergonha à medida que ouviam os resmungos irritados do avô. Por cima de seus ombros, olharam para os amigos, vermelhos, com olhares de "Desculpem por isso".

— O que você tem na cabeça para me deixar sozinho em casa no meio da noite?! — Esbraveja ao se aproximar.

— Err... oi, vô — sorri forçadamente. — O senhor acordou, né...?

— Você não sabe que eu sou um senhor de idade que precisa de cuidados constantes?!

Mirella se intromete.

— Vô, o senhor tá fazendo a gente pagar mico — diz entre dentes, olhando para os lados.

— Mico — repete. — É, mico! Exatamente o que você é, um mico de circo pra se emperiquitar desse jeito, fazendo graça nessa boate!

Ambos completamente vermelhos tentem esconder ainda mais seus rostos. Um grupo de rapazes à mesa perto riem da situação. Vicente bate com sua bengala na perna de um deles.

— E vocês, tão rindo de quê?! Vocês são tão ruins ou piores do que eles!

— Você só apareceu pra fazer a gente passar vergonha — Mirella sussurra aborrecida para Leon, que ainda evitava contato visual.

O avô volta a olhar para eles.

— Vamos JÁ PRA CASA, Leon! — Estende o braço em direção a rua. Leon sai rapidamente, pisando forte pela raiva que lhe sobe pela vergonha. — Não quero uma discussão! — O segue, mas logo olha para trás — Você também, Mirella! Anda!

A garota que antes tinha suspirado aliviada, agora saía marchando com a mesma birra que o primo, chegando ao lado dele.

— A culpa é sua — sussurra para ele.

— Você, com a sua boca de praga aí — devolve. — Ele tava dormindo quando eu saí!

— Chega vocês dois! — Repreende por ouvir seus netos trocando farpas.

***

Os meninos observam Leon e Mirella saírem, sendo repreendidos pelo senhor.

— Agora eu entendi porque o Leon mal sai de casa quando tá só com seu avô... — Diz Larry.

***

Mirella abre a porta com certa violência. De cara fechada, segue para a cozinha. Leon entra em casa logo em seguida e se senta no sofá de braços cruzados.

— Tá bom, vô, adianta logo o sermão pra eu ir tomar um banho e dormir.

O senhor entra em casa, fechando a porta calmamente. Ele joga as chaves em cima da mesinha e encara Leon, sério. O neto o encara de volta, mas seu olhar firme não se sustenta por muito tempo, sentindo-se intimidado, seu olhar ameniza.

— Vá para o quarto, Leon — diz sério. — Vá dormir que amanhã você tem trabalho.

A expressão do rapaz torna-se confusa.

— Você não vai brigar comigo? Me pôr de castigo? — Pergunta inseguro e descrente.

— Não — dá de ombros. — Suba. — Indica a escada com um gesto de cabeça. Leon, ainda sem entender, levanta do sofá sem tirar o olhar de seu avô. Desconfiado, ele sobe as escadas até o seu quarto. Vicente suspira.

Mirella encosta-se na entrada da cozinha com um bolinho em mãos.

— E comigo, vai brigar? — Morde o bolinho.

— Só se continuar comendo os bolinhos que o Leon trouxe pra mim — encara a garota firmemente. Ela embrulha o bolinho e volta para dentro da cozinha para guardá-lo na geladeira.

***

Mais tarde, em seu quarto, Leon pensava sobre o que tinha acontecido. Por que seu avô não brigou com ele? Como não continuou gritando como ele foi irresponsável e inconsequente? 

A porta de seu quarto abre. Leon, que estava deitado, senta-se na cama para ver quem é. Seu avô.

— Vô? O senhor quer alguma coisa?

— Não — caminha até ele e se senta ao seu lado na cama. Leon então entendeu do que se tratava sua visita ao quarto. Envergonhado, ele olha para o travesseiro, mexendo em uma de suas pontas. — Eu não quis brigar com você porque não adiantaria — explica. — E talvez... eu não devesse ter feito o que eu fiz lá. Eu constrangi vocês na frente dos amigos.

— Por que tá me dizendo isso? — Pergunta ainda sem encará-lo nos olhos.

— Porque eu já fiz isso com uma pessoa. E não adiantou, de qualquer jeito — responde. Leon franze o cenho, pensativo.

— Quem? — Finalmente olha seu avô nos olhos e percebe uma memória dolorida. Leon arregala os olhos, surpreso. — Ela já fez isso?! — Fica boquiaberto. Vicente dá uma risadinha.

— Na época sua avó ainda era viva. E ela sempre foi mais calma do que eu. Daphne tinha me pedido para sair de casa e eu neguei. Resultado? O mesmo que o seu — sorri sem emoção. — Ela esperou eu e a mãe dormirmos para sair pela janela da cozinha. Eu fiquei tão bravo — ri — que fui buscá-la do mesmo jeito que fui buscar você e Mirella. Acredita que ela ainda tentou se esconder atrás do namorado? O seu pai.

— Sério? — Sorri triste.

— No fim, eu a trouxe pra casa e briguei muito, mas muito com ela. Aí você imagina como ela ficou revoltada — olha para baixo. Suspira. — Isso só serviu para distanciar a gente. Sua avó tinha me dito, eu devia ter sido mais paciente com ela — Olha para o neto. — Então eu decidi fazer isso.

Leon sentiu vontade de chorar. Ele se jogou no avô e o abraçou apertado.

— Eu te amo, vô! — Ouve o outro rir. 

— Uhum — o abraça também. Passando a mão pelos cabelos ruivos do rapaz, sente algo estranho. Confuso, ele passa as mechas para trás da orelha dele. — Você colocou brinco, Leon? — Franze a testa.

— Ah, não, vô! — Desvecilha-se do abraço e se levanta da cama, ouvindo seu avô lhe reclamar sobre o quanto aquilo era perigoso e feio, "coisa de gente sem-vergonha" e mais atrocidades que Leon se recusou a ouvir enquanto descia as escadas para a sala, acompanhado por seu avô.

***



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