Capítulo 11 - Morte em família

HENRIQUE HARONE TINHA ACHADO aquele buraco por acaso. Numa noite, ele estacionou a moto que usava para fazer entrega de pizza, deixou a chave cair no chão da garagem e percebeu que tinha uma porta de alçapão embaixo do tapete.

"Oh, meu Deus", ele disse, com a cara branquela de adolescente espinhento. De repente, um mundo inteiro de possibilidades estava se abrindo bem diante dos seus olhos e o idiota nem fazia ideia de por onde devia começar.

Eu não tinha acreditado a primeira vez que ele havia me dito "eu tenho uma máquina que faz roupas debaixo da minha garagem" e continuei cética até o momento em que a vi pela primeira vez na minha frente, ao alcance das minhas mãos.

— Quem diria! Você tem mesmo uma máquina mágica que costura roupas aqui embaixo!

Eu estava há alguns dias escondida no lugar que Henrique chamava em nossas conversas de "bunker", mas ainda estava maravilhada com os equipamentos que ele guardava naquele lugar. Além do tecelão mecânico que se assemelhava a um sarcófago de múmia todo preto e com um visor de cristal na altura dos olhos, a coleção de coisas esquisitas contava ainda com uma caixa grande de metal que confeccionava todo tipo de armamento dentro dela e um computador de tela cristalina de onde se podia comandar as demais máquinas.

Eu nunca tinha visto nada sequer parecido com aquilo tudo, mas ele mexia com aquelas geringonças como se tivesse crescido cercado por elas.

— Bem, eu tentei te dizer — respondeu ele, um pouco sem graça. —, talvez eu não tenha te descrito muito bem na época como o Sarcófago funcionava, e entendo a razão da sua desconfiança.

Henrique era um garoto bastante gentil que me tratava com toda a educação possível. Mesmo quando eu usava da minha habitual arrogância para falar com ele, o garoto nunca subia o tom comigo. Ele nem sequer me olhava feio. Ouvia tudo com paciência e depois tentava argumentar com o seu jeito tranquilo e coerente.

Eu tinha acabado de perder tudo que mais presava. Meus amigos tinham sido escorraçados do único lar que possuíam. Meu pai estava apodrecendo em uma prisão. Eu não tinha qualquer notícia da minha mãe postiça há quase uma semana. Estava em um estado de nervos muito grande e Henrique me entendia.

— Olha, se quiser conversar, eu estou aqui para te ouvir... — dizia ele com a sua gentileza eterna.

Naquela noite, ele tinha descido as escadas que ligavam o bunker à garagem para me trazer comida como sempre fazia, e se animou em me contar um pouco sobre a sua vida. Ele cursava o ensino médio numa escola técnica pelas manhãs, treinava Kung Fu no começo da noite e, nos finais de semana, entregava pizza pelo bairro a serviço de um antigo amigo do seu pai. Tinha uma rotina muito simples e eu não entendia porque ainda não tinha arranjado um jeito de fazer dinheiro com os instrumentos mecânicos que tinha ao seu dispor.

Um dia ele me explicou o porquê.

— Eu não criei o Pássaro Noturno para me tornar rico e poderoso. Eu poderia, sabe? Mas acho que nada disso combinaria comigo ou com os meus princípios. Desde criança, eu percebia que, mesmo com tão pouco em casa, a minha família era mais privilegiada do que muitas outras em São Francisco d'Oeste. Nós tínhamos um teto enquanto famílias inteiras moravam embaixo da ponte. Nós tínhamos um chuveiro elétrico e um cobertor quente enquanto pessoas morriam de frio nas ruas durante os invernos rigorosos... eu tinha essa consciência. Quando me vi com o poder de fazer a diferença nas mãos, não quis ser rico e poderoso. Eu preferi ajudar aqueles que necessitavam mais do que eu...

Eu o achava nobre e o admirava por isso, mas em vez de expressar o que verdadeiramente sentia, usei aquilo que tinha para me defender: a arrogância.

— Você é um trouxa!

Durante o dia, eu me sentia muito solitária presa naquele buraco frio embaixo da casa dos Harone e, quando o Henrique, a mãe e a irmã saíam de casa, eu costumava subir as escadas para entrar na residência e me entreter.

Suzy, a cadelinha idosa de pelo marrom que eles tinham no quintal já me reconhecia pelo cheiro e me fazia companhia na maioria das vezes. Henrique tinha me dado autorização para usar o banheiro e o chuveiro da casa, mas sempre depois do banho, eu aproveitava para assistir TV, ouvir música ou simplesmente cochilar no sofá, que era muito mais confortável que o colchão que eu tinha dentro do bunker.

Num certo dia, em visita à casa, me atrevi a conhecer melhor o quarto onde Henrique dormia e, após devorar um pacote de biscoito recheado que tinha encontrado no armário da cozinha, me pus a fuçar em suas coisas. Eu já havia estado ali dentro no primeiro dia em que me tornei a sua hóspede e que a sua irmã mais nova, Carina, acabou me flagrando saindo do banho, mas nunca tinha prestado muito a atenção no entorno.

Tudo dentro do quarto era limpo e organizado. Os móveis não tinham uma partícula de poeira sobre a sua superfície. As roupas nas gavetas eram bem dobradas e alinhadas. Até as coleções de livros que ele tinha eram separadas por autor, gênero e quantidade de páginas. Os volumes maiores ficavam embaixo nas prateleiras e os que tinham menos páginas em cima.

Além de possuir vários exemplares velhos de quadrinho do "Defensor da Galáxia" na estante, Henrique parecia aficionado por romances policiais. Guardava títulos diversos de Marcos Rey, Rubem Fonseca, Agatha Christie e Arthur Conan Doyle. Tinha também uma boa quantidade de livros de aventura, o que me aguçou mais a curiosidade. Folheei a sua edição especial de Ilíada contendo os principais poemas escritos por Homero na Grécia antiga e dei um sorriso quando reconheci a capa amarelada do livro Tristão e Isolda guardado bem ao lado.

Aquele era o mesmo livro que eu tinha lido aos doze anos, presente de Cleiton, e que eu costumava reler pelo menos uma vez por ano. Na minha cabeça, em todas as suas nuances, eu era aquela princesa irlandesa descendente de fadas que vivia um amor proibido com o guerreiro da Cornualha, e achava que um dia também viveria um romance tão intenso quanto no conto arturiano. Folheei as páginas um tanto quanto emocionada.

"(...) somos como madressilva quando se enrola à volta do ramo da aveleira: uma vez a ela ligada e presa, ambas podem durar juntas eternamente, mas, se as querem separar, a madressilva morre em pouco tempo e o mesmo sucede à aveleira. Tal é o nosso caso: nem vós sem mim, nem eu sem vós!".

Eu tinha aquela passagem memorizada e ri feito uma boba em pé, mexendo nas coisas daquele que havia estendido as suas mãos para me ajudar, e que tinha sido um amigo quando ninguém mais se importava. Em meus devaneios mais profundos, Henrique era nobre como Tristão, o guerreiro da Cornualha, e me assustava o fato de que eu começava a enxergá-lo cada dia mais como o amante que tão bem fazia à rebelde Isolda.

Duas semanas tinham se passado desde o tumulto em frente ao conjunto habitacional na avenida Princesa Isabel e, na época, Henrique já havia me apresentado aos amigos de infância que o ajudavam na luta contra a Corporação; Ricardo e Antônio.

Nós quatro tínhamos discutido durante horas as ações que eles queriam colocar em prática para frear os planos megalomaníacos que Edmundo Bispo, Manoela Santinni, Toni Maranelli e Paulo Menezes tinham para a cidade. Eu possuía muitas informações que havia obtido nas reuniões da máfia que participava desde criança e aquilo serviu de combustível para que os meninos colocassem as engrenagens da sua máquina de justiça para funcionar.

Minha mente ainda fervilhava costurando os espaços vazios existentes na estratégia dos meninos durante o dia, mas quando chegava à noite e ele aparecia para me visitar, eu abria um sorriso me esquecendo de todo o meu lado calculista. A minha felicidade em saber que Henrique estava ali para me fazer companhia, no entanto, não permitia que eu deixasse de tratá-lo com certo desprezo. Embora, no fundo, eu fosse ainda uma menina romântica que sonhava com guerreiros de armadura para o qual, um dia, eu daria todo o meu amor, a couraça que havia criado ao meu redor por conta da maneira dura que a vida tinha me tratado me tornava incapaz de me expor daquela maneira.

— O que trouxe para eu comer hoje, magrelo?

Ele arrastou a silhueta esguia até a mesa que havia montado no centro da caverna para as reuniões com Ricardo e Antônio. Botou a bandeja em cima e disse:

— Minha mãe fez um bolo de limão recheado. Trouxe um pedaço pra você experimentar. Deve ficar com fome aqui o dia todo, não é?

Eu sempre beliscava alguma coisa na cozinha da sua mãe Cecília quando subia para tomar banho. A Suzy era a minha única cúmplice naqueles pequenos furtos.

— Adoro bolo de qualquer tipo!

Comi o pedaço do doce como uma criança esfomeada e vi que havia mais coisas sobre a bandeja ao lado da garrafa de água, da maçã e da banana que ele havia me levado.

— Você me contou que gosta muito de ler... Eu vi o tanto de livro que tinha na sua casa...

Ele coçou a cabeça, embaraçado. Pegou os três livros que tinha arranjado e os mostrou.

— Não sei se gosta desse gênero, mas eles estavam dando bobeira lá em cima e resolvi deixar com você.

Iracema e O Guarani do escritor José de Alencar eram clássicos da literatura brasileira que eu nunca tinha lido, mas que me seriam ótima companhia nas noites solitárias daquela caverna. O terceiro livro me era muito familiar e, por um momento, pensei se ele tinha descoberto que eu havia xeretado o seu quarto e mexido em suas coisas.

Tristão e Isolda, hein?

Eu segurei o livro em mãos e esperei para saber se ele tinha algo mais a dizer. Passou um minuto, dois. Ele ficou lá com sua cara aparvalhada e não disse nada.

— Como sabe que eu também gosto de lendas arturianas?

Estava na cara que ele não sabia responder a minha pergunta. Aquela tinha sido apenas uma coincidência incrível.

— Eu li o livro há alguns anos, gostei muito da história e achei que fosse um bom passatempo pra você aqui embaixo. Não quero que se sinta solitária enquanto eu vou à escola ou quando treino Fei Hok Phai com o mestre Sebá...

Ele não tinha sacado o quanto aquele livro era importante para mim ou mesmo que eu o tinha visto em seu quarto há alguns dias. Sem entender muito bem porque, me senti decepcionada.

— Valeu, magrelo. Vou ler os seus livros idiotas.

O tempo foi passando depressa enquanto eu me mantinha oculta sob a casa dos Harone e não demorou para que eu estivesse cada dia mais envolvida com a missão de Henrique e os seus amigos de colapsar de vez as intenções maquiavélicas da Corporação. Os três se reuniam no bunker com cada vez mais frequência. Discutiam os seus planos comigo mais de uma vez por semana, e a minha integração ao grupo estava praticamente oficializada.

Depois que aceitei fazer parte do seu "Clube dos Otários" e que Henrique começou a projetar o traje que eu usaria em nossas missões, ele quis me pôr a par do funcionamento dos seus equipamentos malucos me dando aulas diárias de como manejar o Sarcófago, a Matriz de Impressão e até mesmo o seu CAD, o Computador de Acesso Direto.

— E você tem acesso a tudo que acontece no mundo através dele?

Estávamos os dois sentados lado a lado diante da tela de cristal transparente de setenta e duas polegadas aquela noite. Ele me mostrava arquivos que tinha baixado em seu disco rígido sobre o passado público de Edmundo Bispo, Manoela Santinni e os Mateo. Manuseava sem nem olhar o teclado esquisito sob os seus dedos, apertando teclas e comandos com símbolos engraçados grafados na superfície.

Eu o olhava e via um nerd em todo o sentido da palavra. Tinha cara de menino tonto, evitava contato visual a todo custo, ficava nervoso perto de mim, mas era muito inteligente... E tinha lá o seu charme!

— Nunca tentei acessar o mundo todo — ele riu de um jeito meio estúpido. —, mas a cadeia de satélites russos a que o CAD está conectado permite que eu acesse a internet numa velocidade muito superior a qualquer banda larga que temos disponível na região. Posso alcançar qualquer tipo de sistema informatizado com os comandos certos. Quer tentar?

Eu estava curiosa e muito disposta a entender como aquele computador bizarro funcionava. Henrique tinha aprendido a comandar razoavelmente bem o CAD com muitos meses de estudos e tentativas malsucedidas. Me ensinou boa parte do que sabia na teoria e na prática. Me deixou folhear as anotações que tinha feito em centenas de páginas de um caderno que ficava sempre à mão sobre o console do computador. Me deu dicas de acesso rápido e me passou uma porção de truques que ele mesmo tinha aprendido na raça.

— Você é bem esperta — disse ele ao final de uma de nossas lições diárias. —, é uma ótima aluna!

Normalmente, eu tinha facilidade em aprender qualquer coisa, mas estava surpresa de o quão rápido estava evoluindo em informática. Assim como qualquer outro tipo de aprendizado, eu tinha passado boa parte da vida sem qualquer acesso a computadores, mas sentia que possuía uma mente privilegiada e, que graças a ela, nada podia ficar fora do meu alcance por muito tempo.

— Obrigada — respondi. —, você também não é um mau professor.

Nós dois conversávamos muito quando ele me visitava para as nossas aulas e aquela pergunta já tinha passeado pela minha mente um zilhão de vezes sem que eu a conseguisse verbalizar. Daquela vez, no entanto, achei oportuno e o indaguei:

— Nunca quis saber a origem desse computador?

Henrique era tímido e ficava visivelmente nervoso na minha presença. Em especial, quando eu ficava muito perto dele. Coçava a cabeça, estralava os dedos das mãos e desviava os olhos quando o encarava. Parecia ter pouquíssima intimidade com mulheres, e menos ainda com as inteligentes.

Eu, entretanto, adorava conversas olho-no-olho, de expansividade e de sinceridade. Tinha aprendido a ser mais comunicativa com a Maria Antônia, a Larissa, a Cida e a própria Jacira no cortiço. Apenas os meus anos como prisioneira no Bairro Burlesco é que haviam apagado um pouco daquele meu jeito expansivo, mas ainda me considerava faladeira.

Só de observar, sabia que aquele garoto tinha um monte de coisas para dizer sobre si mesmo, que sentia necessidade de se abrir, mas que por alguma razão, vivia retraído. Cada vez que eu me aproximava, tentava fazê-lo se expor porque gostava de saber um pouco mais sobre como ele pensava. Principalmente, o que havia além das coisas que envolviam o seu alter-ego heroico. Depois de um tempo, ele, enfim, respondeu:

— Eu pesquisei em uma porção de livros, depois em sites... nunca cheguei nem perto de descobrir a origem do alfabeto com que esse computador trabalha ou mesmo um motivo plausível de eu ser, aparentemente, o único cara a ter um desses embaixo da garagem. Depois de um tempo sem respostas, eu simplesmente aceitei não saber a sua origem. Eu só aprendi a mexer com ele e isso passou a bastar.

O bunker tinha pouco mais do que vinte metros quadrados, paredes mal chapiscadas com argamassa sobre cimento grosso, energia solar própria captada por painéis fixados no teto e um sistema de segurança sensitivo que parecia responder quase que exclusivamente ao padrão de voz e às digitais de Henrique. Talvez, ele soubesse daquilo, embora não quisesse acreditar, mas era como se aquele lugar inteiro tivesse sido projetado especialmente para ele. A pergunta que ficava no ar era: por quem?

— Um nerd bobão com um computador superinteligente capaz de fazer tudo... nada mal, hein, magrelo!

O empurrei com o ombro e ele ficou com as bochechas rosadas. Eu adorava o deixar sem graça.

A primeira vez que vesti o traje da Ferina foi apavorante, porém, eu senti que estava tendo a minha grande chance de fazer algo de bom para alguém na vida. Eu tinha entrado de vez para o grupinho de heróis do Pássaro Noturno e, por consequência disso, havia passado a acreditar em sua missão de livrar São Francisco d'Oeste da Corporação e de todo o mal que ela causava aos mais necessitados. Depois de anos fazendo parte da máfia de Toni Maranelli e dos seus ideais nefastos, sentia que devia isso à cidade.

A invasão à sede da Xeque-Mate tinha sido planejada durante semanas, mas quando chegou a hora, eu não paralisei de medo por muito pouco. Os servidores da empresa de construção civil armazenavam dados importantes sobre o desmatamento da área florestal da Alameda dos Cajarás, provas da cumplicidade em crimes ambientais de pessoas como o meu ex-patrão e esquemas detalhados do grande plano que Edmundo Bispo tinha de colapsar as matrizes energéticas do Brasil a fim de enriquecer com as termelétricas que ele mesmo pretendia botar para funcionar em pouco tempo.

— Essa roupa precisava ser tão apertada?

Aquele questionamento foi levantado a primeira vez que entrei no modelo de couro sintético com detalhes em cobre que escondiam os circuitos elétricos da vestimenta. Nós estávamos sozinhos no bunker e o Henrique queria que eu fizesse uma espécie de test-drive com a roupa antes que fossemos, de fato, para a minha primeira missão uniformizada.

— Desenhei de acordo com as suas medidas. Você deve ter engordado!

Sai de trás do biombo improvisado que ele havia montado com uma cortina da sua mãe no bunker e andei até onde estava. Ficou arregalado ao me ver vestida pela primeira vez e as palavras morreram em sua boca quando dei uma volta em sua frente, me exibindo.

— Acha mesmo que gorda?

Havia sarcasmo em meu rosto e ele não conseguiu dizer mais nada. Sacudiu a cabeça negativamente, empurrou a cadeira para trás, me olhou de cima a baixo, depois mudou de assunto visivelmente envergonhado.

— Pronta para os testes de performance?

A noite da missão foi bem diferente daquela primeira vez experimentando o protótipo do traje. Eu estava nervosa por saber que qualquer erro meu, mínimo que fosse, mandaria toda a missão dos meninos para o inferno, e não estava conseguindo relaxar. Minha mente ainda estava em polvorosa quando cheguei à portaria da Xeque-Mate na garupa da moto de Henrique com nós dois vestidos de entregadores de pizza, e foi ainda pior quando ele me deixou sozinha para cumprir a minha tarefa.

Em meu traje invisível, eu tinha que passar por guardas armados num dos andares mais altos da torre de vidro e invadir uma sala de servidores para clonar pessoalmente o único deles que se mantinha off-line da rede.

— Você vai abrir o painel do servidor com as ferramentas em seu cinto, como a instruí — disse via rádio Antônio, o Espião Negro. —, pegue o HD vazio que você está carregando e plugue com o cabo sata no computador. Você memorizou a sequência de comandos para clonar o disco rígido do servidor?

— Sim, Junior. Mas eu quero que você sussurre os comandos em meu ouvidinho assim mesmo para não se sentir diminuído por eu ser tão inteligente!

Nós tínhamos estudado a missão passo a passo, mas na hora, eu estava uma pilha de nervos. Tinham brutamontes armados do outro lado da porta fazendo a guarda no corredor em frente e eu não tinha qualquer treinamento de combate se precisasse usá-los. O Henrique estava em um outro andar ainda se fingindo de entregador de pizza. Mesmo se quisesse ajudar, ele jamais me alcançaria a tempo de impedir que uma bala explodisse a minha cabeça. Eu estava tremendo.

Anda, Silmara. Clona essa porcaria logo. Anda, vai!

Através do CAD, sentado diante do computador de Henrique sob a garagem da sua casa no Bairro do Encanto, o Espião Negro tinha acesso a praticamente todo o prédio de propriedade de Edmundo Bispo e o garoto comandava toda a ação de lá, nos mantendo atentos via rádio sobre os movimentos dos guardas, dos porteiros e quem mais ameaçasse o sucesso da nossa missão.

Depois que eu clonei o disco rígido e o Espião causou uma pane elétrica no prédio para mascarar a minha fuga até o heliponto do prédio, o Thunderwing me deu uma carona com a ASA do Pássaro Noturno, enquanto o próprio Henrique desceu calmamente pelas escadas e saiu de boas pela frente, tendo entregue as suas pizzas. Tinha sido genial e nós quatro passamos aquela madrugada inteira comemorando muito.

Graças às informações armazenadas naquele disco, a nossa equipe tinha tudo que precisava para reduzir a pó a organização criminosa que há quase duas décadas vinha corroendo por dentro a cidade, e que vinha fazendo crescer a sede de poder do magnata Edmundo Bispo. Em sua prepotência, ele se sentia acima do bem e do mal dentro da sua torre envidraçada, olhando os seus plebeus do alto feito um rei em sua coroa dourada, mas nós estávamos dispostos a derrubá-lo do seu trono.

Pouco tempo após o assalto à Xeque-Mate, nós vazamos as informações sobre as termelétricas e os planos sujos de sua utilização para a imprensa por intermédio de um jornalista chamado Alex Batista. O cara trabalhava para o tabloide A Gazeta, um dos únicos meios de comunicação da região que não pertencia aos Santinni e, entre muitos colegas de profissão que agiam na cidade, era um dos poucos em quem podíamos confiar.

A matéria escrita pelo próprio repórter repercutiu em todo o país e acionou um holofote de dúvidas sobre a carreira, até então, ilibada do empresário Edmundo Bispo. Em pouco tempo, ele passou de visionário projetista da construção civil para ameaça pública e, pela primeira vez em sua vida, a justiça começou a investigar o seu passado com mais cautela com base nos dados que tínhamos jogado no ventilador público.

Bispo estava correndo o risco de perder o seu império e, acuado como nunca estivera antes, se viu na obrigação de reagir contra as pessoas que o haviam botado contra as cordas. Feito um pugilista no auge da carreira, o canalha cerrou os punhos, subiu a guarda e saiu do corner direto para cima dos adversários, que no caso, éramos nós. E para ao nosso azar, a sua reação sobre o ringue foi bastante violenta, à la Mike Tyson.

Era uma noite fria de inverno e alguns dias tinham se passado do vazamento para a imprensa sobre os planos malignos da Corporação. O Henrique e eu tínhamos saído em ronda sozinhos a caminho da Zona Oeste, local que eu conhecia bem dos tempos de aviãozinho do tráfico. Ricardo e Antônio estavam no bunker e nos auxiliavam de lá com o suporte remoto via rádio.

Eu tinha aprendido a manusear muito bem o CAD durante as madrugadas que passava acordada enquanto os Harone dormiam o sono dos justos sobre a minha cabeça. Já havia acumulado horas de navegação na internet à procura de informações específicas, mas sabia que aquilo que buscava não podia ser encontrado na superfície da rede de computadores. Eu passei a mergulhar no esgoto da web assim que me tornei mais hábil e, logo estava desvendando os segredos da chamada "Deep Web".

Em meus tempos de escrava sexual do Bairro Burlesco, eu tinha ouvido muitas histórias sobre tráfico humano e turismo sexual praticado com menores de idade por JJ Hernandes, e tinha visto com os meus próprios olhos inúmeras situações nos corredores do Le Plaisir que corroboravam com aqueles boatos.

Não era raro que meninas cada vez mais jovens, muitas delas estrangeiras, fossem colocadas em quartos vazios do último andar do prostíbulo e ficassem lá presas por temporadas curtas. Hernandes e os seus homens as mantinham ali para apresentá-las a possíveis interessados via chat de internet e, depois, as levava para outro local a fim de que as pudesse vender a compradores que dessem o maior lance.

As meninas eram negociadas feito mercadoria e, com a facilidade que a rede mundial proporcionava, até mesmo pervertidos de fora do Brasil ofereciam dinheiro para tê-las em suas camas. Eu tinha sido vítima de caras como aqueles por dois longos anos da minha vida e não podia permitir que mais garotas inocentes passassem pela mesma coisa. Era hora de acabar com aquele ciclo de imundície e escravidão.

Na noite em que saí de ronda com Henrique, eu menti que estava seguindo o rastro de Gerônimo Falcão, o cara que havia desaparecido da cidade após o racha que aconteceu entre ele e Maranelli por conta da matéria expositiva de Alex Batista para A Gazeta.

Eu tinha descoberto que Hernandes usava um antigo imóvel abandonado nos arredores da Boca do Crime para manter aprisionadas as meninas que vendia nos leilões, e que, quando alguém as arrematava em lances virtuais que chegavam a um milhão de dólares, ele as transportava dali até os seus clientes usando parte do dinheiro da sua venda.

Eu precisava da confiança de Henrique e, enquanto observávamos o cativeiro do alto, eu revelei a ele o que ninguém mais — além da Jacira — sabia que havia acontecido comigo no Bairro Burlesco. De alguma maneira, ele me passava segurança e eu sabia que podia lhe compartilhar aquele meu trauma de adolescente.

Henrique estava usando a sua máscara de couro preta sobre o rosto, mas mesmo daquela maneira, dava para ver as compressões da sua face e a expressão tornando-se mais dura por baixo do capuz. Ele tinha ficado chocado com a história da minha violação e estava muito motivado a me ajudar com a libertação daquelas inocentes.

Eu não precisava que um homem quisesse defender a minha honra ou coisa do tipo, mas necessitava das suas habilidades de luta para invadir o local, melar o esquema de Hernandes e me ajudar a libertar as garotas raptadas.

Eu sabia que podia acontecer, mas quando vi o meu pai naquele cativeiro aliado aos homens de Hernandes, servindo de segurança particular para o cafetão que havia desgraçado a minha vida, eu desabei.

Henrique e eu tínhamos invadido o local com tudo e descarregamos todo o nosso ímpeto de violência contra Jack e os cretinos que o serviam. O cafetão na roupa de flanela ordinária não tinha tido a menor chance e eu arrebentei a sua cara contra a mesa onde minutos antes ele tentava cheirar uma carreira de cocaína.

O meu pai veio de dentro de um quarto onde vigiava as meninas aprisionadas e, enquanto eu cuidava de Hernandes, ele começou a trocar socos com o Henrique. O garoto treinava Kung Fu há alguns anos com o tio de um dos seus amigos, mas o meu pai era maior, mais forte e ainda se lembrava dos golpes que tinha aprendido em sua carreira de boxeador. O Pássaro Noturno estava levando a pior e, antes que ele acabasse ferido ou nocauteado, decidi interromper a contenda revelando o meu rosto.

— Silmara? O que você está fazendo vestida assim? O que está fazendo aqui?

Demétrio tinha ficado congelado e os seus olhos se arregalaram quando descobriu que era eu aquele tempo todo quebrando a cara do seu chefe Hernandes. O meu pai tinha sido libertado da prisão por intermédio do juiz que servia aos interesses da Corporação de dentro do Fórum de Justiça de São Francisco d'Oeste, mas desde a noite anterior à desapropriação policial do conjunto habitacional, nós dois nunca mais tínhamos ficado frente a frente.

— Eu estou aqui por causa dele — Eu apontei para a cabeça de Hernandes que se movia debilmente com a cara sobre a mesa e os braços estirados. —, mas de alguma forma, eu sabia que também encontraria o senhor aqui com essa corja de traficantes de humanos, pai.

Depois de meses, o nosso reencontro não tinha sido como o de um pai e uma filha que se amavam deveria ser. O destino tinha nos botado em lados opostos e a revelação de que eu fazia parte do grupo de heróis que vinha desmantelando peça por peça a organização da qual ele sempre fizera parte o atingiu de um jeito muito particular.

Demétrio tinha ficado arrasado, tanto que não fez nada para impedir que Henrique e eu libertássemos as pobres coitadas das garotas que jaziam acorrentadas e enjauladas feito animais naquela casa. Pouco antes das viaturas da polícia chegarem fazendo estardalhaço, o meu pai fugiu do local e ele foi incapaz de olhar a própria filha nos olhos, envergonhado demais consigo mesmo.

Henrique não entendia porque, depois de tudo que ele havia me feito, eu o deixaria livre, mas a resposta era muito óbvia. Eu queria que o meu pai vivesse para amargar em sua consciência a culpa pelo abandono da única filha nas mãos dos assassinos e molestadores que infestavam o Bairro Burlesco.

Demétrio sabia os danos psicológicos e físicos que os anos sendo feita de objeto dentro do Le Plaisir tinham me causado, bem como tinham destruído a nossa relação familiar. Eu não o queria preso novamente. Eu o queria livre o suficiente para que pudesse pensar em seus atos e tivesse, de alguma maneira, assim como eu, a sua redenção.

Depois do reencontro com meu pai, uma enxurrada de acontecimentos nos engolfou e, nem bem saímos da Boca do Crime, recebemos via rádio a terrível notícia de que a pizzaria onde Henrique trabalhava nos fins de semana tinha sido alvo de um incêndio criminoso.

De maneira descuidada, na noite em que invadimos a Xeque-Mate, tínhamos largado para trás pistas que podiam conduzir os nossos adversários a nós ou às pessoas próximas e o Edmundo Bispo conseguiu rastrear Henrique até a Magno's Pizza. O patrão do garoto e todos os seus funcionários haviam sido mortos a sangue frio pelos capangas da Corporação e aquela notícia arrasou o meu amigo.

— A culpa é minha... A culpa é toda minha! Se não tivesse usado o disfarce de entregador... Se não tivesse deixado as caixas de pizza com o logotipo da pizzaria na Xeque-Mate, o Magno e os seus empregados estariam vivos agora. Eu os matei!

Eu nunca tinha visto aquela expressão de pavor nos olhos de Henrique e, naquela noite, eu o tentei consolar, em vão. Ele estava se sentindo extremamente responsável pelo ato criminoso que havia colocado um ponto final nas vidas daquelas pessoas inocentes, e nada que eu dissesse conseguiria fazê-lo mudar de ideia.

Nós tínhamos cutucado um vespeiro muito maior do que pensávamos e agora tínhamos nos tornado alvos de um enxame que estava prestes a nos devorar vivos. Henrique sentiu que ele e seus amigos corriam riscos também em suas identidades civis, por isso, começou a tomar uma série de providências para proteger os seus familiares de uma possível retaliação direcionada a eles.

Eu sabia que tinha feito um tremendo desserviço à nossa empreitada tirando a minha máscara de maneira intempestiva no meio de uma operação, mas só percebi o tamanho do meu erro quando vi os meus amigos desesperados com medo de que pudessem ter pintado alvos gigantescos nas costas das suas mães, pais e irmãos.

As máscaras não serviam apenas para compor o visual maneiro de super-herói. Ela era uma peça essencial para proteger os entes queridos de retaliações às suas ações heroicas, e aquela lição só aprendi da maneira mais cruel possível.

Depois do incêndio da pizzaria, percebi uma mudança radical no comportamento de Henrique e, de repente, o menino gentil e amoroso passou a se tornar cada dia mais soturno. Falava cada vez menos, respondia tudo com aspereza e, praticamente ignorava a minha existência. Mesmo quando me visitava à noite no bunker, ele preferia passar as madrugadas diante do computador estudando maneiras de deter de uma vez por todas a organização que há meses vínhamos combatendo do que falar comigo. Com a morte dos amigos de trabalho, ele tinha ficado obsessivo, e sua nova persona mais séria era assustadora.

Algum tempo depois, ele e os meninos encontraram uma gravação da noite do incêndio em uma câmera de vigilância no Bairro do Encanto. O equipamento ficava posicionado numa esquina perto da pizzaria e, através das imagens, eles descobriram quem tinha sido o responsável pela morte de Magno.

Vitor "Quebrada" Assis, o capanga de cabeça raspada preferido de Gerônimo Falcão era também primo de Romero Assis, o delegado de polícia de São Francisco d'Oeste, e o número um no comando das milícias que se espalhavam pela Comunidade da Boa Vista. O cara tinha sido incumbido de matar as pessoas da pizzaria depois de tentar descobrir quem eram os invasores que haviam entrado na Xeque-Mate como entregadores de pizza, e era agora a nossa principal pista para chegar ao verdadeiro mandante do crime.

— O canalha precisa pagar pelo que fez — disse Henrique enquanto assistia a imagem da câmera de segurança. —, ele não pode ficar impune. Ele precisa pagar!

Não demorou para que Henrique localizasse o Quebrada num bairro muito mal frequentado da Zona Norte e, naquele entardecer de outubro, eu, ele e Ricardo saímos em missão de campo com Antônio nos dando suporte do bunker.

Era véspera de feriado nacional e soprava um vento agradável quando saltamos da ASA bem em cima do endereço onde tínhamos rastreado Vitor e o seu bando. As ruas estavam desertas por conta do avançado da hora e o local era muito mal iluminado, com uma sequência de postes de iluminação pública detonados de maneira proposital. Assim que descemos para caçar o Quebrada, todos nós ouvimos uma rajada seca de fuzil ecoar na redondeza e aquilo nos botou em alerta. Um carro preto de placa encoberta saiu cantando pneu tão logo colocamos os pés no asfalto e Henrique mandou que Antônio controlasse o avião pairando sobre as nossas cabeças no intuito de seguir o veículo em fuga.

— Os tiros vieram dali...

Thunderwing em sua armadura prateada apontou para um canto ao leste, onde um sobrado vagabundo emergia em meio ao breu da rua. Dava para sentir o cheiro de pólvora queimada mesmo através do meu capuz fechado e ouvimos um sussurro vindo do local.

O carro de Quebrada tinha ganhado velocidade e a ASA já tinha partido para persegui-lo do alto, comandada remotamente pelo Espião Negro. Henrique havia projetado o traje da Ferina para missões furtivas e eu possuía lentes de visão noturna embutidas na máscara. A visibilidade era péssima, mas quando ativei o infravermelho, o meu coração disparou dentro do peito. Ele estava estirado no chão todo ensanguentado.

— Não... Não pode ser! NÃO!

Ao revelar a minha real identidade naquela noite de vingança contra Jack Hernandes, eu tinha exposto a única pessoa no mundo que ainda possuía ligação sanguínea comigo. Todos os bandidos da cidade sabiam quem era Demétrio Santoro e, por intermédio dele, também sabiam quem eu era. No momento em que mostrei que a Ferina e a Silmara Santoro eram a mesma pessoa, a vida do meu pai passou a não valer mais nada e eles trataram de eliminá-lo.

— Aguenta firme, paizinho! Aguenta firme!

Eu tinha passado anos da minha vida renegando os bons sentimentos por meu pai depois que ele havia me usado como moeda de troca para saldar as suas dívidas com Belo Falcão. Tinha tentado odiá-lo por saber que ele podia impedir que Jack Hernandes fizesse comigo todas aquelas coisas bárbaras em um prostíbulo, mas vê-lo ali naquele chão sujo se esvaindo em sangue, agonizando, tinha desarmado qualquer defensa auto-imposta que eu pudesse ter ativado.

— Chame uma ambulância para o endereço onde estamos, Espião — soou a voz de Henrique em pé, me vendo ali desesperada segurando o ferimento na altura do abdômen do meu pai. —, o Quebrada e os seus comparsas atiraram em Demétrio Santoro.

— Mas o que ele estava fazendo nesse lugar? — Ouvi a voz de Antônio perguntando pelo rádio.

— Provavelmente, estava escondido no sobrado e, por isso, o Quebrada vinha rondando o lugar. Desde que a Ferina revelou a sua identidade secreta, o cara estava com a corda no pescoço. Não ia demorar para que o pegassem.

Ricardo tinha toda a razão ao constatar o que agora era óbvio e, de repente, as minhas mãos com as luvas estavam encharcadas de sangue e eu não conseguia conter a hemorragia. Meu pai parecia em choque com os olhos arregalados, mas eu soube na hora que ele tinha me reconhecido mesmo com aquela roupa. Removi a minha máscara e a larguei num canto para que ele me olhasse nos olhos.

— Fica comigo, pai... vai ficar tudo bem.

Ele parecia querer dizer algo com o seu torso começando a enrijecer sob a minha mão ensanguentada, mas parecia não ter forças. O rádio soou mais uma vez em meu ouvido e Antônio informou que a ASA havia localizado Vitor e seus homens.

— Eu sinto muito, Sil. O Espião chamou uma ambulância, mas não sei se...

Henrique se ajoelhou perto de mim tentando me acalmar, mas eu fui rude com ele.

— Sai logo daqui! Vai pegar aquele desgraçado! Acaba com ele!

Um sentimento de vingança muito grande começou a me tomar e, naquele momento, ouvi ao longe o soar de uma sirene que se aproximava cada vez mais do bairro, quebrando o silêncio quase sepulcral daquela região. Henrique e Ricardo partiram imediatamente atrás de Vitor e subiram no prédio em frente para iniciar a caçada. Assim como eu, o Pássaro Noturno tinha motivos de sobra para querer esbofetear o principal capanga de Falcão e eu lamentava que não pudesse assistir de camarote.

Como que num último ato de demonstração de força, o meu pai buscou a minha mão de maneira débil e eu a apertei junto ao peito. O sangue que se esvaía dele agora pintava de vermelho o chão imundo sob seu corpo pesado. As mãos sempre tão firmes tremulavam ante o inevitável avançar da morte, mas uma delas sentiu o meu toque no momento em que aquelas palavras foram sussurradas da sua boca:

— Me perdoa... filhinha...

Os meus olhos se encheram ainda mais de lágrimas e eu puxei a sua mão até o meu rosto, depositando um beijo em seu dorso.

— Eu te perdoo, papai. Eu te perdoo. Não morra, por favor. Não...

Uma ambulância frenou de maneira brusca a poucos metros de nós. Dois socorristas desceram pelas portas traseiras e se aproximaram com o intuito de atender o meu pai. Eu fui afastada por um deles para que pudessem trabalhar sem interferência, mas quando os profissionais pisaram naquele beco imundo da Zona Norte, naquela fria noite de primavera, ninguém podia fazer mais nada por Demétrio Santoro.


Nota do autor: Toda a saga "Pássaro Noturno" de Rod Rodman é um trabalho de uma vida toda e houve muita dedicação na construção desse universo. Se você chegou até aqui, não esqueça de votar no capítulo e comentar o que está achando da história. A sua opinião é muito importante para o autor. NAMASTE!    

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