Prólogo

24 de julho de 2013, São Paulo.


O cheiro de bebida e cigarro era extremamente forte naquele bar. Um rapaz brigava com uma mulher, que parecia ser sua esposa ou namorada, fazendo uma verdadeira balburdia no lugar e chamando a atenção de todos ali presentes.

— Você não vê o que está fazendo com a gente, Marcelo? — a garota chorava. — Está estragando tudo! Por que ao invés de ficar todo santo dia nesse maldito bar, você não fica comigo?!

— Porque eu não te suporto com tanta reclamação! — ele dizia alterado. — Não vê que eu quero espaço?

— Querer que você passe um tempo comigo é demais, Marcelo?

— Que se foda, Elaine! — ele berrou. — Não te quero perto de mim, me deixa em paz, vai cuidar do seu filho, que é essa a sua obrigação!

A mulher ficou extremamente amarela ao ouvir tais palavras e deu um tapa em cheio no rosto do homem.

— Eu te odeio! — ela gritou e saiu dali a passos largos.

O homem a observava sair com certa irritação e ao notar que estava sendo observado por mais da metade das pessoas que ali estavam ele grunhiu:

— O que foi, seus desgraçados? — cuspiu. — Perderam alguma coisa? Seu bando de desocupados — tomou um gole de uísque e viu que tinha esvaziado a garrafa. — Merda — pôs a garrafa ao lado da mesa de sinuca e foi até o pub em busca de mais bebida, precisava esquecer Elaine e toda aquela chatice de relacionamento que levavam. Sentou no pub e esfregou o rosto. — Me dá mais uma garrafa de uísque — ele pediu ao garçom e logo foi servido. Assim que tomou um gole, fechou os olhos com força e praguejou um palavrão. — Droga! Maldita Elaine!

— Problemas com a patroa? — Marcelo ouviu uma voz rouca, que vinha do lado oposto do pub. Avistou um homem bem afeiçoado, parecia ser bem mais velho que ele e olhava fixamente o copo de rum em suas mãos.

— Está falando comigo?

O homem desviou o olhar do copo e finalmente olhou para Marcelo.

— Contigo mesmo — ele deu um sorriso de lado e tomou outro gole de sua bebida. — Se aproxime — chamou e Marcelo se aproximou com sua garrafa de uísque a tiracolo.

— O que você quer? — Marcelo indagou.

— Quero conversar — o outro disse. — Eu juro para você que não mordo — riu. Marcelo ergueu a sobrancelha e por fim se sentou ao lado do desconhecido. — Sou Caio — ele se apresentou. — Caio Campos de Lins — estendeu as mãos.

— Marcelo Medeiros — disse apertando sua mão, reconhecendo o sobrenome do outro, era gente importante. — O que você quer? Se quiser fazer alguma piadinha a respeito do que houve é melhor nem começar, eu sou muito bom de briga.

— Você é louco pela sua garota, não é? — Caio perguntou, ignorando o que ele tinha dito.

— Perdão? — o homem mais novo parecia confuso.

— É louco pela sua garota. Você pode xingá-la do jeito que você quiser, mas você a ama e seria capaz de morrer por ela.

— Ora essa — Marcelo disse irritado. — Cale essa boca, seu coroa doidão. A Elaine só serviu pra transformar minha vida em um inferno — ele disse amargurado.

— Seus olhos dizem o contrário — ele sorriu divertido. Marcelo fez menção de se levantar, mas Caio o segurou. — Espera aí, jovenzinho — chamou. — Por que a pressa? Senta aí, vamos beber um pouco e conversar.

— Conversar sobre o quê? — ergueu a sobrancelha. — Eu nem te conheço.

— Conversar sobre sentimentos — disse e Marcelo gargalhou alto.

— Sobre o quê? — aos risos. — Sentimentos? Você por um acaso é veado?

— Longe disso — Caio negou com a cabeça. — Mas quando eu olho pra você, eu vejo a mim quando tinha a sua idade.

— Não estou entendendo.

— Eu me casei muito novo, tinha mais ou menos a sua idade e não foi exatamente um mar de rosas, na verdade foi horrível. Eu tratava Helen de uma forma ridícula e infernizei a sua vida.

— Helen é o nome da sua mulher?

— Exato — ele respondeu avoado. — Clara Helen — sorriu de lado e tomou outro gole de bebida. Marcelo mordeu o lábio com certo interesse. — Você se parece muito comigo... Quantos anos você tem? Vinte e quatro?

— Isso mesmo — ele concordou e assentiu quando Caio ofereceu um pouco do seu rum.

— Já está mais calmo? — Caio perguntou divertido.

— Acho que sim — disse tomando um gole do rum e fazendo careta, seus olhos ficaram vermelhos e Caio sorriu. — Esse é do bom!

— Você tem tempo? — Caio perguntou e Marcelo assentiu, olhando a saída.

— Acho que agora sim... Pelo jeito Elaine não vai me permitir dormir em casa essa noite — deu um sorriso de lado. — Pode me contar o motivo de se achar tão parecido comigo?

— Se você tiver paciência — o outro sorriu. — É uma longa história.

— Não tenho hora pra sair daqui — ele disse, acendendo um cigarro. — Aceita? — recebeu a recusa de Caio e guardou o maço. — Pois então?

— Bem, começou há vinte anos, eu tinha vinte e três de idade e era uma pessoa muito idiota...

— Está dizendo que eu sou idiota?

— Posso continuar? — perguntou e Marcelo revirou os olhos. — Eu era uma pessoa extremamente idiota...



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