𝓟𝓻𝓸𝓵𝓸𝓰𝓸
Perdido eu estou
Tentando me encontrar
E em tantos desencontros eu te encontro
E me perco no teu olhar...
Contemplava o verso que havia escrito, mergulhando em lembranças dela, daquele dia e dos toques que deixaram marcas em minha alma. O dia se arrastava, longo e triste, sem graça. A visão das paredes ao meu redor se tornava insuportável, mas o verdadeiro tormento era a ausência de notícias dela. A incerteza me consumia: estaria ela bem? Ferida? Com fome? Pensava em mim da mesma forma intensa que eu pensava nela?
Eu havia sido um idiota. Sabia onde estava me envolvendo, conhecia o perigo que essas pessoas representavam, mas, ainda assim, deixei-me envolver por aquele olhar que me prendeu e roubou a minha liberdade. Deveria ter controlado meus sentimentos. Se o tivesse feito, talvez ela ainda estivesse aqui, ao meu lado, com seu humor peculiar, planejando nossa fuga
Perdido eu estou...
Num impulso, levantei da cama e caminhei até a mesinha ao lado do biombo, onde havia deixado uma garrafa de conhaque que havia furtado do escritório do Arthur. A abri rapidamente, dando um generoso gole, sentindo o líquido amargo descer pela garganta. Desejava embriagar-me, na esperança de conseguir lidar com a realidade ao meu redor.
Ao olhar em frente, avistei o traje que Carlisle estava confeccionando para mim, destinado ao que eu sabia ser o pior momento da minha vida. Ansiava desesperadamente pelo fim desse pesadelo e sonhava em retornar à minha realidade, esquecendo tudo o que estava acontecendo. Contudo, se pudesse voltar à minha realidade, eu ficaria sem ela...
Tentando me encontrar...
Sentei-me na cama, olhando com desânimo para aquelas paredes. Eles estavam de olho em mim; sabiam que eu queria fugir, mas também tinham consciência de que não poderia. Para garantir a segurança dela, eu precisava resistir
Aquela maldita hora em que decidi defender aquela mulher e tentar compreendê-la me deixou só, sem ela.
De repente, avistei a borboleta-azul, essa maldita borboleta que me trouxe até aqui. Dou mais uma golada na bebida, esquecendo que esse maldito inseto estava aqui. Se essa for a minha realidade para sempre, entregar-me às bebidas e morrer parece um futuro promissor, muito melhor do que continuar sendo um subordinado do Arthur e ainda ter que conviver com aquela mulher.
Quanto mais eu virava a bebida, mais a borboleta vinha em minha direção, voando ao meu redor.
— Fique longe de mim! — bati na borboleta, a jogando no chão. Mas me arrependi em seguida e joguei a bebida na cama e peguei o pequeno inseto em minha mão.
Olhar para a borboleta me fez lembrar de cada momento, de cada sorriso, de cada dia que eu pude estar ao lado dela. A noite em que nossos corpos se juntaram e se tornaram um só se fez presente e uma onda de paz me atingiu, como se soubesse que tudo se resolveria. A borboleta voou em direção à porta, e eu, impulsionado pela minha ansiedade, levantei-me e a segui. Ela batia contra a porta, e então decidi abri-la para que pudesse me mostrar o caminho.
Tentando me encontrar...
Era apenas eu e a borboleta, correndo pelos corredores. Seguimos em direção aos fundos, desci as escadas e atravessei a porta de saída. Corri pelo jardim e pela campina verde, apenas corri.
Não conseguia mais enxergar a borboleta; meu único desejo era escapar dos sentimentos opressivos que me consumiam. Meus pulmões queimavam, as pernas doíam, mas eu não conseguia parar, como se a corrida fosse me levar de volta para casa.
E em tantos desencontros eu te encontro...
O vento do mar já acariciava meu rosto, e eu precisava chegar lá, ao nosso lugar, acreditando que, ao chegar, tudo se resolveria. Contudo, no fundo, sabia que nada se resolveria, pois ela estava longe. Sem a minha permissão, ela se tornou a pessoa mais especial em minha vida e agora eu sofro por isso.
À medida que me aproximava do penhasco, avistei uma silhueta na beirada. Seus cabelos dançavam ao vento, enquanto seu vestido azul balançava intensamente. Meu coração descompassou; não podia acreditar, eu a encontrei.
Gritei seu nome, e a garota se virou, em prantos. Aquilo me destruiu. Minhas aflições e inseguranças se esvaneceram; eu não queria vê-la chorar. A mulher caminhou em minha direção, e eu a abracei com tanta força que sua coluna estalou. Ela envolveu seus braços em meu pescoço, e seu cheiro me envolveu, acalmando a tempestade que habitava dentro de mim.
Nossas testas se tocaram, e eu acariciei seu rosto, desejando que ela sentisse meu amor, que soubesse o quanto eu a amava, o quanto a queria ao meu lado, e o quão difícil era estar longe dela.
Quando nossos olhares se encontraram, um sorriso brotou em meu rosto.
Eu sempre me perdia em seu olhar.
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