5 - Eu nunca madruguei (Parte 2)
— Olá, minha Felicity. — Brinquei, meio bêbado, meio sóbrio. Ela ficou corada, mas não se moveu. Parecia paralisada pelo choque. Tão meiguinha! — O que faz aqui nessa noite profundamente estrelada?
— Logan. — Ela parecia nervosa ao pronunciar o nome. Coitada. — Estou acompanhando minha amiga, Lottie.
— Lottie? — Lembrei da loira baixinha e dei um sorriso. Uma fã de Sean. — Lembro-me vagamente. — Toquei seu nariz. — Mas o que faz exatamente aqui? — Dei meu melhor olhar sedutor, referindo-me ao fato de ela estar sobre meu corpo. Devia ser o álcool agindo.
— O que... O que quer dizer? — Gaguejou e olhou para meu tórax marcado pela regata. Corou ainda mais e voltou a olhar em meus olhos. — Per... dão. Perdão! — Levantou-se subitamente, visivelmente mortificada.
Queria que ela ficasse do jeito que estava. É um pensamento bizarro, eu sei, mas era um calor humano que eu nunca tivera antes. Um calor até simpático demais! Calor simpático? Pelos astros, Frankie! O que está dizendo? Pensando? Diabos! Estaria enlouquecendo?
— Perdoe a mim, por ter cometido o erro de lhe lembrar desse detalhe. — Pisquei e me senti um idiota por ter feito isso. Os olhos esverdeados dela demonstravam confusão. — Gostaria de ter sentido seu corpo mais um pouquinho. — Oh inferno! Era o álcool! Só podia ser.
— Logan! — Ela me repreendeu, dando um soquinho no meu braço. Quase não senti. Deu uma risadinha depois, olhando profundamente em meus olhos. — As pessoas vão achar que enlouqueceu por falar assim!
— Deixe que achem! — Dei um passo à frente. — Eu não dou a mínima para o que vão pensar de mim!
— Você está bêbado! — Ela revirou os olhos e olhou ao redor, claramente tentando encontrar uma escapatória.
— Sou o bêbado sincero. — Comentei, como quem não quer nada. — Digo tudo o que sempre quis dizer.
Ela me encarou por alguns instantes e, ao perceber o que isso significava, corou.
— Você só pode estar louco!
— Só se for por você. — Dei uma risada que considerei sedutora, mas... Nunca se sabe né? Bêbado, poderia estar parecendo apenas um pateta.
— Você deve achar que eu sou estúpida para acreditar nessas coisas. — Balançou a cabeça.
— Eu não te chamaria para sair se fosse assim.
— Como se você tivesse me ligado depois! — Ela bateu o pé de forma patética. É errado achar isso fofo?
— O quê?
— Você nem me ligou depois do encontro!
— E por que eu ligaria? — Cruzei os braços e dei um passo para trás. Cambaleei um pouco, fato que me fez decidir não beber mais naquela noite.
— Porque é assim que as coisas são... Eu acho. — Ela olhou para os pés. — Nunca tinha saído em um encontro antes.
— E eu nunca precisei procurar uma garota antes! — Confessei, irritado com a veracidade de minhas palavras. Gostaria de não sentir necessidade de procurá-la. — Há uma primeira vez para tudo, não é mesmo? — Comentei, já um pouco mais calmo.
— Você está mentindo! Por que pensaria em uma garota sem graça como eu? — Não ousou me olhar. Ótimo!
— Talvez porque você foi a primeira a fugir!
— Eu não fugi!
— Não? Então do que chama "sair correndo de um restaurante no meio de um encontro"? — Perguntei, fazendo aspas com minhas mãos desengonçadas, mesmo que ela não estivesse olhando.
— Chamo de estratégia. — Bufou e me olhou. — Se fosse diferente, meus pais nunca mais me deixariam te ver.
— O que quer dizer com isso?
— Eu tive que voltar para casa. Tive que garantir que poderia te ver novamente algum dia... Só que você nem me ligou! — Disse em tom de acusação.
— E por que você não me ligou?
— Porque me ensinaram que eu não devo correr atrás. — Olhou ao redor. — Eu preciso encontrar Lottie...
— Quem te disse isso? — Interrompi, querendo descobrir quem era o babaca conservador. Por que diabos uma garota não deveria corras atrás do cara? Se esse é o desejo dela, qual é o problema? Eu nunca quisera correr atrás de alguém antes de Ruby, mas não deu certo, então decidi não fazer de novo. E lá estava eu...
— Meu pai. — Deu de ombros. — Ele é um pouco conservador às vezes...
— Às vezes? — Perguntei, duvidando. Pelo que vira, os pais de Felicity não eram muito favoráveis à modernidade. Uma pena!
— Bem, pelo menos ele me deixou sair com você!
— Você tem 18 anos! Tem um emprego! Deveria tomar suas próprias decisões!
— Não é assim tão simples!
— Então me explique!
— Você não está pronto para isso. — Deu um passo para trás. — Por que estamos falando disso?
— Não sei como chegamos nisso, apenas chegamos. — Dei de ombros.
— E podemos sair?
— Daqui ou desse assunto? — Perguntei ao perceber que estava desconfortável.
— Dos dois. — Confessou baixinho. — Mas eu não posso.
— Por que não?
— Tenho que ver se Lottie está bem. — Olhou ao redor. — Ela estava correndo atrás de um famoso e...
— E? — Dei um passo à frente, só então me dando conta de que a tal de Lottie devia saber minha real identidade.
— Logan...
— Sim?
— Você está muito próximo... — Ela sussurrou, as bochechas corando.
— E? — Eu estava gostando da proximidade. Por quê? Não faço a menor ideia!
— Eu não estou acostumada...
— Com homens se aproximando de você? — Completei.
— Com pessoas no geral. — Deu um passo para trás. — Não gosto muito da proximidade.
— Aconteceu algo que te deixou assim? — Milhares de pensamentos me bombardearam, todos negativos.
— Não... Eu só não acho que as pessoas gostariam de me conhecer. — Olhou para trás. Isso e irritou. Queria que olhasse para mim enquanto conversávamos!
— É? — Segurei em seu ombro, chamando sua atenção. Seus olhos brilharam de forma estranha, mas não parecia com medo. Olhou-me por vários segundos. — Sabe o que eu faria se descobrisse que gosto de você?
— O-O quê? — Gaguejou. Parece que ela não está realmente acostumada com isso.
— Não sairia do seu lado, um segundo que fosse.
— O quê?
— E sabe o que eu faria se descobrisse que estou apaixonado por você?
— Ah... — Ela ficou boquiaberta e vi sua respiração falhar. Ahá! Acho que a peguei de surpresa!
— Daria todo o meu dinheiro e meu nome, só para ficar com você! — Apesar da brincadeira, eu estava sendo bem sincero. Por amor eu largaria tudo!
— Isso é... — Ela travou. Acho que a confundi.
— Romântico! — Disse uma outra voz ao nosso lado, com animação. Era a Lottie.
— Olá, você deve ser a Charlottie. — Sorri e desviei minha atenção de Felicity... Só um pouquinho não me mataria, não é?
— Sou sim. Você é o Fran...
— Logan! — Apressei-me em dizer. Droga! Ela me conhecia mesmo! Felicity não pareceu perceber o que quase acontecera.
— Ah... — Ela olhou de mim para Felicity, o cenho franzido. — Prazer, Logan.
— O prazer é todo meu. — Fui educado. Olhei para Felicity, animado; acabara de começar a tocar Make You Mine do Joe Jonas. Aquele foi um forte lembrete de como queria fazê-la minha naquela noite... E talvez nas posteriores se ela permitisse. Não um compromisso sério, mas algo suficiente para nos conhecermos melhor.
— Vocês parecem estar se divertindo, então... — Charlottie olhou para a amiga. Acho que ela entendeu minhas intenções. E pelo sorriso, parecia aprovar. Pontinhos para o senhor Frankie!
— Não... — Olhei feio para Felicity quando ela disse isso. — Quero dizer, sim! — Apressou-se em dizer. Ela não queria me magoar. Que meiga! — Mas eu preciso ir embora com você, Lottie.
— Não precisa não. — Sorriu e piscou para a amiga. — Eu posso voltar com a Nicole. Você fica aqui e aproveita uma nova amizade, ok? Eu vou conhecer algumas pessoas novas e me divertir. — Colocou a mão sobre o ombro de Felicity. — Sei que não gosta muito de festas, então pode ir embora com Logan, se quiser.
— Mas...
— Sem "mas". — Charlottie deu uma risadinha. — Tente não se preocupar pelo menos uma vez na vida, Felicity. — Instruiu a amiga com gentileza. — Logan. — Ela me olhou, séria. Depois saiu, deixando-me a sós com Felicity.
Nota mental: Aquele último olhar de Charlottie indicava "não machuque a minha amiga, ou eu acabo com a sua vida". Recado recebido com sucesso!
— Ela sempre faz isso? — Perguntei.
— Não sei... Nos conhecemos há pouco tempo. — Comentou, olhando para baixo.
— Nós também. — Lembrei. — Mas isso não me impede de querer te conhecer cada vez mais.
— É... — Ela olhou para mim com timidez. — Se eu sugerisse que saíssemos daqui...
— Seu desejo é uma ordem, pequena Mulher Maravilha.
***
Felicity não pode descobrir nunca o que faz comigo!
Para começar: nunca deixei uma festa só porque alguém pediu. Então por que eu estava fazendo isso por ela? Não faço a menor ideia! Ela não queria conversar muito, então a levei para a praia; observamos as estrelas brilharem. Silêncio; um silêncio confortável, se quer saber. Novidade para mim, mas eu não estava reclamando. O brilho das estrelas de fez ter coragem de dizer algo que, segundo minha consciência, eu precisava dizer.
— Felicity? — Chamei, fazendo-a olhar para mim. Estávamos sentados na areia, um ao lado do outro. Seus olhos, mesmo que parcialmente obstruídos pela escuridão, brilharam, permitindo que eu falasse. — Eu juro que não é do meu feitio me apaixonar por uma estranha, à primeira vista.
— O quê? — Piscou algumas vezes e desviou o olhar, embaraçada.
— Só queria que soubesse que não sou o tipo de cara que pareço ser. Quero te conhecer. — Confessei. Eu queria beijar sua boca? Sim. Queria colocar minha mão em sua nuca? Talvez. Queria olhar em seus olhos por horas? Claro que sim! Mas eu também queria conhecê-la antes. Era o mínimo que ela merecia. Deveria ser respeitoso.
— Ok. — Foi apenas o que ela respondeu.
Silêncio.
Decidi quebrá-lo, como sempre faço.
— Desculpe ter te beijado naquela primeira noite. — Eu não sei porque estava dizendo aquelas coisas, mas simplesmente não consegui segurar. — Meu corpo não pôde se conter. Você me derrubou apenas com um olhar.
— Certo... — Brincou com a areia.
Eu estava piorando as coisas!
— Desculpe, eu sou um babaca!
— Não, tudo bem. — Ela disse, mas continuou a mexer na areia. — Nós mal nos conhecemos.
— Exatamente! — Eu não sei porque me empolguei com isso. — Eu não sei sobre a sua história. Não sei se você tem vários problemas, ou se já perdeu alguém... — O que diabos eu estava dizendo? — Mas eu não me importo! Quero você de qualquer jeito!
Ih, animado demais.
— O quê?
— Como amiga. — Completei, sem jeito. Era parcialmente mentira, mas ela não precisava saber.
— Certo. — Olhou para o céu. Cadê a Felicity falante quando se precisa dela?
— Nossa, eu sou um imbecil! — Murmurei, querendo me matar. — Por que eu sempre sou assim?
— Assim como? — Ela quis saber.
— Eu sempre estrago tudo quando quero conhecer alguém.
— Somos dois então. — Deu uma risadinha encantadora. O que estava acontecendo comigo? Porque eu estava vendo-a como um coelhinho fofo?
— Não creio.
— É.
— Como?
— Eu falo demais quando me interesso por alguém.
Nota mental: Felicity se interessou por mim.
— Eu também.
— Acho que erramos igualmente. — Riu fraco, então colocou o dedo indicador para cima. — Nós poderíamos ser qualquer coisa esta noite!
— O que quer dizer? — De onde viera essa animação toda?
— Porque não esquecemos as partes ruins de sermos quem somos e... Sei lá. — Olhou profundamente em meus olhos. — Apenas falamos sobre o que sentirmos vontade.
— Eu topo!
— Topa? — Seus olhos brilharam. A noite estava ficando mais clara. Estava amanhecendo.
— Topo! — Dei meu sorriso habitual, realmente feliz com a situação.
— Sobre o que quer falar então? — Perguntou, a luz começando a iluminar seu rosto.
— Apenas me diga... tudo o que você gosta! — Falei. Eu vou confessar algo idiota. Eu quase disse "Apenas me diga como fazer você ser minha". Idiota? Pra caramba!
— Tudo? Mas vai demorar!
— Temos tempo. — Aleguei, olhando para o céu. As estrelas estavam se despedindo. Sorri, certo de que realmente teríamos o tempo que precisássemos.
Felicity nunca tinha madrugado antes, como me confessara em nosso jogo de "eu nunca"; eu ficava feliz em estar presente em sua primeira vez. Talvez pudesse estar presente em muitas outras primeiras experiências dela. Só precisava de tempo e isso era o que eu mais tinha com ela.
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