5 - Eu nunca madruguei (Parte 1)
Eu me tornei aquilo que mais temia: cantor de festas!
Uma semana passara desde que Felicity me deixara. Sean e Rebeca voltaram para Toronto com uma Polaroid funcionando. Ethan e Summer estavam com problemas incontáveis. Eu estava caçando festas. Naquele momento estava em uma festa de um conhecido famoso, quase que de penetra, apenas bebendo minhas emoções. Quero dizer, bebendo para esquecer minhas emoções. Eu continuava lembrando da última cena com Felicity, fato não muito bom para minha sanidade. Acho que sentimentos e memórias frustradas nos enlouquecem, pouco a pouco. Talvez muitas pessoas em sanatórios tenham exatamente o que eu estava tendo: insanidade pós abandono. E olha que não era a primeira vez que me abandonavam não! Sempre sou abandonado, de uma maneira ou de outra. Desde o início. Chega a ser clichê.
Enfim...
Eu estava cantando a plenos pulmões "Tonight (I'm F**kin' You)", do Enrique Iglesias. Realmente animado, tornando-me o oficial cantor da festa. Nunca fizera isso antes, mas precisava de algo para extravasar o que sentia. Minhas expectativas estavam baixas, como nunca antes, e eu estava tentando gerenciá-las. Estava complicado, admito, pois nunca fizera isso antes. Na realidade, nunca fiz muitas coisas antes. Sempre foi "eu quero isso e eu vou ter", depois eu tinha isso e muito mais. Ter tudo não é tão legal quanto parece, sabia? De nada adianta o material se não tiver o emotivo... E eu não tinha uma família de verdade.
Sempre fui um perdido na vida, para não dizer coisa pior. Preciso de algum tipo de controle emocional para não me desesperar com isso, mas parece que as festas acabam com isso. Eu percebo que sempre fui um garoto com o mundo aos meus pés, sem grandes desafios. E talvez seja por isso que não consigo ter nada sério com uma garota. Sempre fui um cara das certezas, sabe? Precisava ter a certeza de manter o coração de alguém em minhas mãos, como se fizesse parte de um plano de vida. Precisava de algo concreto! Algo quase palpável.
Mas não me culpe por isso.
Durante toda a minha vida as pessoas, conhecidas ou não, disseram quem eu era e quem eu deveria ser. Não me davam chance de escolher. Eu era Frankie, filho de dois magnatas e rico por natureza. Deveria honrar o dinheiro deles e — essa parte é muito nojenta — a masculinidade de meu pai. "Trace todas as garotas da cidade" era o que George dizia. Como se mulheres fossem pedaços de carne em um açougue! Não é assim que funciona, sabe? Somos todos iguais no quesito sentimentos. Todos sentimos muitas coisas e devemos ser respeitados por isso. Mas não! Algumas pessoas não querem nem saber disso!
Continuei gritando a letra da música.
Cantando.
Refletindo.
Cantando.
Acho que as pessoas não entendem a complexidade dos sentimentos. Não com exatidão, pelo menos. Há uma tentativa quase universal de simplificar as coisas, como se elas fossem difíceis demais em sua natureza. Mas qual o problema nisso? Qual o problema de aceitar a complexidade? Eu a acho tão instigante, como se desse um motivo à mais para a vida. E a complexidade dentro de nós é tão brilhante! E por que as pessoas não se fazem uma pergunta simples? Qual pergunta? Esta: É crime ser quem eu quero ser? Na alta sociedade de Nova York parece que sim, mas será que era assim em Vancouver? Bom, estava determinado a descobrir isso nos próximos dias. Não voltaria para Nova York tão cedo. Preciso de espaço!
A música acabou e as coisas que se seguiram foram rápidas demais.
Um furacão loiro passou correndo por mim; um riso descontrolado.
Um grito:
— Lottie! Volta aqui!
Um reconhecimento, da minha parte. Já ouvi esse nome. E essa voz!
Depois um grito agudo.
Um tropeço.
Eu no chão.
Uma garota em cima de mim.
No chão.
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