4 - Eu nunca comi carne mal passada (Parte 1)
Então o dia acabou. Summer não aceitou ir comigo na loja de câmeras, pois tinha que fazer um daqueles dias de leitura para crianças. Achava isso muito legal, ainda acho, mas não participava muito. Por quê? Porque eu não era engajado como as crianças. Na verdade, leitura em grupo meio que me tirava do sério. Odeio ler e voz alta e odeio que leiam em voz alta. Prefiro ler e minha mente e imaginar tudo. É divertido, não?
No outro dia acordei mais bem-disposto. Conseguira convencer Summer de que se apaixonar por Ethan não era tão ruim, e que ele apareceria uma hora ou outra para se redimir. Só não tinha certeza de quando, nem de como faria isso. Só esperava que fosse bom. Muito bom! Conserte tudo, Ethan! Conserte ou eu e Sean consertaremos para você. Aliás, eu estava sabendo por Sean que ele e Ethan estavam preparando algo para Summer. Só espero que seja algo muito bom, porque Summer estava realmente muito chateada. E eu estava chateado por ela.
Mas vamos focar no agora.
No agora que era aquele momento.
Eu estava correndo pelas ruas de Vancouver, rumo a loja de câmeras. Em Toronto eu começara a fazer academia e estava gostando consideravelmente de me exercitar. Por isso decidira correr em Vancouver. E estava muito bem, escutando minhas músicas favoritas do The Vamps. Lovestruck era a música da vez e veio muito a calhar. Enquanto corria avistei um café e meu estômago roncou. Talvez eu pudesse parar um pouquinho para comer um cookie ou dois, não é? Adentrei o estabelecimento e me surpreendi com a música. Ela era premonitória ou o quê? Maldita música romântica que se enquadrava entre as minhas favoritas!
Havia uma garota lá. Uma garota muito feliz, por sinal. Felicity, obviamente. E ela estava com seus fones no ouvindo, dava para ouvir uma música de Sean saindo deles. Eu arregalei meus olhos quando ela errou a música, pois em uma parte de Lovestruck o cara diz que ouviu Wonderwall saindo do fone de ouvido da menina, e que deu um sorriso quando ela errou a letra. O que estava acontecendo? O universo estava me dizendo para perguntar à garota se ela tinha planos para o jantar? Ou que eu deveria estar perdidamente apaixonado por ela? Não entendi nada.
Suspirei e a ignorei, indo ao balcão e pedindo dois cookies de chocolate. Paguei e me virei para escolher uma mesa. Não havia nenhuma disponível, pois o café era pequeno e só tinha 5 mesas. Ótimo, vou comer lá fora então! Bufei enquanto a música terminava, caminhando até a saída. Só que eu não tive tempo de sair. Certa garota me notou e movimentou as mãos, sinalizando para que eu sentasse ao seu lado. Engoli em seco, tentando decidir se era uma boa ideia ou não. Decidi agir como agia ao participar de minhas aventuras. Por que não? O que poderia dar errado? Endireitei minha postura e caminhei até sua mesa, sentando em uma cadeira que havia a sua frente.
— Valeu por me salvar. — Dei um sorriso nervoso. O que estava acontecendo comigo? Eu nunca fiquei nervoso perto de garotas. Sempre foi muito fácil conversar. Aquilo era inédito para mim!
— Não podia te deixar comer em pé tendo um lugar disponível. — Deu um sorriso doce e tirou os fones de ouvido. Fiz o mesmo, usando o pouco de educação que George me dera. Coloquei meu celular e o fone no bolso da bermuda. — O que faz nessa área de Vancouver? Não vemos muitos hotéis por aqui.
— Vim em uma loja para uma amiga minha. — Respondi, não querendo dar muitos detalhes. Talvez ela achasse chato que eu falasse minha vida toda de uma vez só.
— Você parece ser um bom amigo. — Sorriu. — Eu não tenho muitos amigos, mas estou começando uma amizade legal com Lottie pela internet. Ela mora do outro lado da cidade, mas ainda assim conversamos bastante.
— Lottie? — O nome me era familiar, só não sabia de onde.
— A outra fã que ganhou o encontro com Sean.
— Ah sim. — A de cor mais clara de cabelo. Que parecia mais nova que Felicity, apesar de mais alta. — Sobre aquela noite...
— Sim? — Ela mordeu um pedaço de seu sanduíche e bebeu um gole de seu chá gelado, o qual estava em um copo transparente da cafeteria. Como soube que era chá? Estava escrito no copo com canetão, assim como seu nome. Felicity me encarava como se já soubesse o que eu ia falar.
— Desculpe por ser um idiota e roubar seu primeiro beijo. — Desculpei-me, temendo que ela me odiasse.
— Tudo bem. Isso aconteceria uma hora ou outra. — Deu de ombros. — Mas obrigada do mesmo jeito.
— Não foi nada. É apenas algo que precisava fazer para ficar com a consciência limpa. — Mordi meu cookie para não revelar mais coisas.
— Seus pais te ensinaram bem, pelo visto. — Sorriu e terminou seu lanche. Mordi meu cookie mais algumas vezes antes de encontrar uma resposta.
— Aprendi sozinho mesmo. — Dei um sorriso completamente sem graça. Odeio quando falam de pais.
— Certo. — Felicity tomou seu chá e eu foquei em terminar meus cookies. Ficamos vários segundos em silêncio e percebi que aquilo não daria certo. Ela não era como as outras garotas. — Acho que você não está muito confortável comigo.
— Não é isso... — Tentei criar uma desculpa, mas ela simplesmente não existia.
— Então vou puxar assunto com você para que se abra, pelo menos até a hora do meu expediente começar. — Falou, era como se eu não tivesse me pronunciado. Ela trabalhava naquele café? — O que faz da vida, Logan?
Logan.
Logan.
Logan!
Maldito nome!
— Eu faço vídeos de aventuras. — Não era de todo uma mentira. Meu canal tinha uma parte só para as minhas aventuras pelo mundo. Começara uma semana depois de eu completar 18 anos, o que havia sido há um pouco mais de dois anos. — E você? — Eu estava realmente curioso.
— Trabalho com minha tia. — Sorriu. Parece que ela também não queria revelar muita coisa. Esperta! — Você anda sempre com sua câmera? — Perguntou. Quando franzi o cenho ela indicou a bolsa da minha filmadora. Sorri.
— Sempre que posso. E é uma filmadora, na realidade.
— Você é mais uma pessoa de filmagens do que de fotografias?
— Sim. Você é mais de fotografias?
— Sim.
— Mesmo com o daltonismo?
— Digamos que as paisagens ficam mais interessantes. — Sorriu sem se importar com a menção à sua alteração genética. Gosto disso nela.
— Você tem Instagram? — Perguntei como quem não quer nada. Então me arrependi. Como daria minha conta de Frankie Thompson quando era Logan sem sobrenome para ela?
— Sim, mas só há fotos minhas. — Deu de ombros. — Além disso, você nunca poderia ver as fotos como vejo.
— O que é uma pena. Queria ver o mundo como você, Felicity. — E lá estava eu, soltando mais uma revelação.
— Um dia quem sabe? — Ela deu um sorriso educado e se levantou. — Desculpe, mas meu expediente está para começar e preciso caminhar até meu trabalho.
Então ela não trabalhava ali.
— Posso te acompanhar? — Levantei também, comendo o último pedaço de meu último cookie.
Nada perseguidor.
— Se desejar... — Sorriu, mas escondeu o sorriso logo em seguida. Ela estava feliz com a sugestão, por algum motivo. Sorri também, de forma discreta. Acho que alguém gosta da minha companhia! Mas não vou ficar todo convencido por causa disso.
— Então vamos. — Sorri e indiquei a saída. Ela passou por mim e caminhou até lá. Segui. — Fica muito longe? — Perguntei, saindo do estabelecimento.
— Umas duas quadras daqui.
— E você gosta de seu trabalho?
— Gosto muito. É bem divertido. — Ela parecia realmente animada quando começou a falar. — Ontem um cara deixou uma câmera lá, Polaroid, quebrada. Parecia ter dado um problema e tanto, mas uma das peças estava fora do lugar. — Sorriu. — Arrumei em uns 3 minutos e fiquei feliz em ter conseguido arrumar tão fácil.
— Ah é? — Aquilo não podia ser coincidência. — E você tem muita experiência com câmeras?
— Minha tia me ensinou a arrumá-las quando era muito jovem. Tenho uma imagem mental de como cada peça fica em cada uma das câmeras. — Ela estava realmente muito animada. É alguém que realmente gosta de seu emprego! — E eu gosto de arrumar as câmeras dos outros. Fico com aquela sensação de que salvei os momentos de alguém, porque eles ficarão para sempre gravados em uma foto.
— É bonito que pense assim. — Comentei com sinceridade. Felicity tenha algo que eu não sabia decifrar, mas que me agradava muito. E eu queria mantê-la comigo de alguma forma, ainda mais porque tudo estava nos colocando juntos novamente. Vi a entrada da loja de câmeras.
— Eu fico aqui...
— Espere! — Posicionei-me na sua frente, impedindo que entrasse. Eu também ficaria ali, mas precisava fazer uma proposta antes que ela soubesse que estávamos conectados por mais de um motivo.
— Sim? — Deu um passo pequeno para trás e eu a segui. Nossas bocas estariam próximas se ela não fosse tão mais baixa. Teria que me abaixar se fosse minha intenção beijá-la. Talvez fosse... Em outro momento.
Havia uma tensão entre nós, causada certamente pela primeira vez que eu a beijara. Eu não queria isso.
— Comecei com o pé errado com você, Felicity. — Admiti, olhando aqueles olhinhos brilhantes. Eu poderia mesmo ter voltado no tempo, para o momento que segurei seu braço na festa. Se estivesse sóbrio, colocaria aquela mexa insistente de seu cabelo no lugar e acariciaria suas bochechas. Só que perdera a oportunidade. — Para me redimir, gostaria de te convidar para um jantar.
— Jantar? — Ela parecia espantada, como se ninguém a tivesse convidado para sair.
— Eu, você, uma mesa, comida boa, estrelas... — Sorri com a perspectiva de uma noite para consertar tudo que fizera de errado.
— Não sei... — Ela olhou para baixo.
— Só uma noite. Se odiar, nunca mais nos vemos. — Dei-lhe mais um motivo para aceitar. Ela pareceu considerar. — E aí, o que acha?
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