Capítulo 15

Siiiim teve cap em dobro hoje! Se vc só viu a notificação desse, volta uma casa e vai ler o cap 14 primeiro hein!

Aviso de conteúdo sexual, quem for criança fecha os olhos.

2017.

Era a primeira vez que eu estava confiante para transar com alguém.

As cicatrizes da mastectomia aureolar* eram quase inexistentes e eu já estava há um ano tomando testosterona. Meu pai me enchia a porra do saco porque eu era virgem, mas para ele eu deveria perder a virgindade com uma garota e usando minha prótese. Por isso, eu fui escondido para a casa do Guilherme e sem prótese alguma, para que ele não desconfiasse.

Guilherme era o irmão mais velho de um dos meus colegas que me conheceu em uma festa da escola, e ele era assumidamente gay, então secretamente eu me sentia orgulhoso por um cara como ele estar a fim de mim, pois significava que eu realmente era visto como homem. Depois de muita conversa, alguns encontros rápidos e escondidos e eu ter tido confiança para dizer a ele que sou trans, aceitei ir à casa dele.

Guilherme já tinha vinte e quatro anos e morava sozinho, e eu estava perto de completar dezenove. Achei a diferença de idade boa, pois podia indicar experiência. Era a minha primeira vez e eu queria que fosse algo minimamente decente — não me importava com sentimentos, só queria que fosse legal.

Eu estava ansioso pra caralho.

Passei quase a noite toda em claro pensando em como seria e, principalmente... Aonde seria. O pensamento era vergonhoso e fazia meu rosto ferver de vergonha. Não tive coragem de perguntar para ele qual era sua expectativa, apenas perguntei se queria que eu usasse meu packer e Guilherme respondeu que eu só usaria se me sentisse confortável.

Então fui sem.

Toquei a campainha do seu prédio e ele desceu para abrir o portão para mim. Estava frio e eu usava dois casacos para me esquentar, e o guri passou os braços ao redor de mim ao pegarmos o elevador. Nós já havíamos ficado antes e não me importei de beijá-lo ali mesmo, enquanto ninguém nos via, mas assim que o elevador parou interrompemos o beijo e entramos no seu apartamento.

O aquecedor portátil da sala me fez tirar meus casacos com alívio, pois lá dentro estava bem mais agradável. Contudo, um novo calor surgiu em meu corpo quando vi Guilherme tirar a camisa. Seus cabelos pretos batiam acima dos ombros e ele sempre amarrava um punhado para trás, o que eu achava sexy. Seu corpo era bem mais musculoso do que o meu por ir à academia com mais frequência e ele tinha um sorriso meio bobo e maldoso ao mesmo tempo, de alguém que poderia vender arte na praia durante o dia e à noite vender cocaína em uma boate de luxo.

Era esse tipo de cara que eu queria imitar.

— Tá nervoso? — Guilherme se aproximou de mim quando tirei a blusa e notei como ele observava meus mamilos. — Posso?

— Bah, sabe que não vou sentir.

— Por isso mesmo quero saber. — Seus olhos pequenos se fecharam quando ele sorriu travesso e ele tocou minha auréola, não de forma sexual, mas para saber se eu reagiria ao toque.

— Er... Nada. — falei indiferente.

— Isso acontece em toda cirurgia?

— Varia um pouco. — Dei de ombros e coloquei minhas mãos em seus braços. — Mas tem outros lugares que se tu tocar, eu vou sentir.

Guilherme aumentou seu sorriso e se aproximou mais de mim. Passei a ponta da língua ao redor dos meus lábios para umedecê-los e ele me beijou rápido, parecia desesperado para fazer aquilo há muito tempo. Suas mãos passaram por minha cintura e ele me guiou até sua cama, e quando senti o móvel atrás de mim abri os olhos e o vi me fazer deitar.

— Você pensou em algo ou posso te guiar? — Ele disse tranquilo, me observando atentamente. Comecei a respirar pela boca, ansioso pelo o que viria a seguir.

— Ahn, eu... Não tô de prótese, mas tu é gay, então acho que tu... Ahn... — Guilherme continuou me olhando, paciente, enquanto eu procurava uma forma melhor de dizer, mas não havia. — Tu não gosta de... Sabe.

Eu queria falar a palavra boceta, vagina, tanto faz. Mas meu rosto estava queimando.

— Eu gosto de homem, Jason, e tu é um. Tá que nem todo cara gay é assim, mas tu pode confiar em mim. — Seu olhar me passava confiança e balancei a cabeça, ainda nervoso.

— Tá, então... Pode ser. — Dei um sorriso fraco e ele se aproximou para me beijar novamente, com ainda mais vontade. Nós dois estávamos sem camisa e a sensação do seu corpo colado no meu era deliciosa, me fez esquecer toda a ansiedade por estar fazendo aquilo.

Quando Guilherme colocou a mão por dentro da minha cueca e senti seus dedos em mim, foi algo estranho e novo, mas não era ruim, pelo contrário. Uma fisgada me invadiu em algum lugar da barriga e estremeci quando ele começou a colocar devagar um de seus dedos, atento ao meu rosto para saber se estava me incomodando.

— Tu quer mais?

— Quero. — falei com a respiração já fraca e senti ser preenchido um pouco mais, com outro dedo dele.

Segurei na parte de seu cabelo que estava solta e arqueei as costas, deixei escapar um gemido grave — graças à testosterona — e mexi meu quadril querendo mais. Por que eu havia demorado tanto tempo para fazer isso, se era tão bom? Seus dedos tinham movimentos de vai e vem e me faziam contorcer internamente.

— Eu quero mais. — falei com minha boca próxima à dele e senti sua respiração acelerada.

— Tem certeza, guri?

— Tenho, porra. — Eu já estava tão molhado que me sentia pronto pra isso.

Guilherme se afastou e abaixou minha calça e cueca de uma vez, o que me deixou tímido por ficar completamente nu. Ele abaixou a própria bermuda e colocou a mão no bolso, retirando um preservativo.

— Tu é gato, guri. — disse com desejo enquanto rasgava o plástico brilhante e engoli em seco ao vê-lo abaixar ainda mais a bermuda pra revestir o próprio pau.

"Isso vai mesmo acontecer, mano."

Guilherme voltou a ficar em cima de mim e afastou minhas pernas. Ele notou minha tensão e acariciou minha coxa, me deu um selinho rápido na boca e começou a beijar meu pescoço, me provocando um arrepio.

— Tu quer, guri? — Ele sussurrou em meu ouvido. Eu já estava louco querendo aquilo.

"Foda-se, eu quero ser completamente cadela desse cara."

Usei minha voz mais baixa e atraente possível porque eu também queria deixá-lo excitado; eu não era nenhum iludido e inocente tendo a primeira vez achando que seria romântico e fofo — eu queria foder, e sabia como provocar alguém para isso.

— Quero, por favor. — Mordi seu lábio e falei quase como um gemido.

Devagar, Guilherme começou a me preencher e cravei minhas unhas em suas costas na tentativa de extravasar a dor momentânea. Contudo, o ardor durou pouco — eu realmente estava molhado pra cacete — e ele começou a se movimentar devagar dentro de mim. Fiquei ainda mais ofegante com os movimentos e ele gemia perto do meu ouvido, sem nenhuma vergonha. Aproveitei que minha boca estava próxima à sua orelha e mordi a região, fazendo-o suspirar, e então comecei a movimentar meu quadril para tentar acompanhar seu ritmo.

— Caralho, Jason... — A sensação de Guilherme gemendo meu nome fez eu me sentir incrível. Eu estava dando prazer a um homem gay, que também me via como um homem igual a ele.

Quanto mais eu me acostumava com a sensação, mais eu queria Guilherme metendo dentro de mim. Eu não havia esperado por tanto tempo à toa.

— Pode ir mais forte. — falei com um pouco de dificuldade enquanto ele estocava sem provocar muito impacto, e então Guilherme me encarou com os olhos quentes de tesão.

— E se te machucar?

— Eu te falo, mas quero mais forte.

— Tem certeza, guri?

— Eu tô mandando tu ir forte, porra!

Meu grito foi a deixa para que ele saísse de dentro de mim — o que foi estranho e me provocou um susto momentâneo — e então me virou de barriga para baixo. Achei que ficaria por isso mesmo, mas me surpreendi quando ele me segurou pelo quadril e me ergueu até ficar de quatro.

— Então eu vou te foder do jeito que tu quer, cacete.

Guilherme não viu meu sorriso de vitória ao ouvir aquilo, e que logo se transformou em um gemido mais alto e grave quando o senti novamente dentro de mim, indo mais rápido e forte do que antes.

Se ele achava que deveria pegar leve comigo como se eu fosse a porra de um guri inocente e passivo que nunca transou, que deveria ser tratado com carinho, ele tava muito enganado.

E foi assim que eu parei, por um momento, de prestar atenção em tudo o que eu ouvi sobre precisar ser a merda de um cara ativo que é quem precisa meter, ser o "homem" da relação e os caralho a quatro que eu sabia ser puro preconceito.

Eu podia voltar a usar aquela máscara outra hora.

2020.

A primeira reação de Charlie foi chorar de pânico. Ele estava bem mais paranoico com o coronavírus do que eu e eu podia imaginar como seria difícil passar por isso longe de casa — não deixei de sentir culpa porque ele estava ali por minha causa.

O guri não chorou enquanto o Governador estava na TV, pois queria prestar atenção em tudo o que era dito. Foi definido o que eram Serviços Essenciais e Não-Essenciais e o que poderia ser em forma de Home Office. Notei a tela do celular de Charlie com diversas notificações, jogado em cima do sofá, e quando me aproximei vi que Laiene, gerente da Dotcom, estava ligando.

— Charlie, ahn, sua gerente tá te ligando... — Tentei chamar sua atenção, mas ele me ignorou e continuou ouvindo o pronunciamento.

Foi quando acabou que ele começou a chorar.

— Meu Deus, eu devia tá lá, a loja vai fechar, eu devia...

— Não devia nada, tchê! Não tem o que tu fazer agora, tem que esperar!

— Tu não entende, Jason... — Ele cobriu o rosto com as mãos de novo e engatou num choro sem fim. Não tive escolha e me sentei ao seu lado no sofá e o abracei da forma mais amigável possível, sem muita intimidade.

— Tu também não entende que isso não tá no teu alcance, a gente vai ter que ficar aqui e esperar passar.

— E o que eu vou fazer aqui? A minha loja...

Revirei os olhos sem Charlie perceber enquanto ele falava a palavra "loja" a cada dez palavras no seu desabafo. Eu não sabia que a Dotcom era tão importante assim para ele.

— Eu tô com medo, e se alguém... Meu Deus e se alguém morrer... — Seu corpo estremeceu e tentei abraçá-lo mais forte como uma forma de consolo. Parecia que tínhamos voltado no tempo, quando aquele guri era um aluno assustado da Marie Curie. Charlie ficou pequeno e amedrontado e eu também estava, mas eu não queria transparecer isso naquela hora, pois ele precisava de mim.

— Como a gente vai comer, e se precisar de alguma coisa...

— Calma, vai dar tudo certo, a gente vai sair de máscara e usar álcool em gel e limpar tudo quando chegar.

— Mas e se não for suficiente...

— Tem que ser, guri, tem que ser...

— E a tua faculdade...

— Esquece isso, Charlie. — Eu nem havia parado para pensar nisso, mas não estava me importando. Charlie segurou em meus braços e finalmente aceitou meu consolo.

— E se tu pegar... — Ele falou aos soluços e enruguei a testa, surpreso. Ele também estava com medo de que eu pegasse o vírus.

— Relaxa, a gente vai se proteger.

— Os meus amigos...

— Charlie, calma. — Sacudi seu corpo e ele fungou, em seguida olhou para mim com os olhos vermelhos de choro. — Tu confia em mim?

— Na verdade, não. — Ele não deixou de dar um sorrisinho besta e limpou o rosto com as mãos.

— Bah, meu! Que isso! Tu confia sim, veio pra cá por minha causa! — Abandonei a postura amigável e o empurrei com o cotovelo, o que amenizou o clima por um momento. — É sério, cadê o Charlie confiante e seguro que encontrei em Porto Alegre?

— Tá de quarentena também... — Ele murmurou com pesar e se jogou no sofá, desolado. — Meu Deus, Jason, eu nunca fiquei de quarentena, meu Deus.

— A gente vai dar um jeito. — falei com o máximo de tranquilidade possível e fiquei olhando ao redor.

Eu nem sabia do que estava falando.

Me levantei e fui até a cozinha para pegar um copo de água gelada para o guri, e notei quando ele pegou o celular e começou a ouvir diversos áudios de seus colegas da Dotcom. Ele mandou alguns, explicando aonde estava e fazendo perguntas sobre como ficaria o trabalho. Basicamente eles continuariam recebendo, mas teriam que pagar essas horas não trabalhadas depois, e isso foi o suficiente para todos ficarem aliviados.

Quando pensei nisso, me lembrei de que meu trabalho era só em uma empresa Junior e que se eles não funcionassem, eu não receberia. Quem ficaria sem dinheiro seria eu.

"Ainda bem que Paloma deixou muita comida."

Levei o copo de água até Charlie e o vi postar nas redes sociais o texto oficial do pronunciamento a respeito da quarentena, tranquilizando seus amigos e seguidores de que estava tudo bem e que em breve tudo iria se normalizar. Uma sensação ruim subiu pela minha garganta e se transformou em raiva repentina: ele estava chorando desesperado fora da internet, mas lá dentro estava tranquilo e dando esperança?! De jeito nenhum.

Quando me aproximei e ele estendeu uma das mãos para pegar a água, aproveitei para tirar o celular da outra rapidamente.

— Ei! O que tu tá fazendo? — Ele se levantou quando viu eu me afastar com seu celular, guardando-o no bolso da calça que eu ainda tinha usado na rua, pois nem tive tempo de tomar banho.

— Tu não vai ficar postando essas merdas com essa falsidade de internet não! Para de fingir que tá tudo bem pros' outros quando num tá!

— Não tem nada a ver isso! E tu não tem direito de pegar meu celular! — Charlie deixou a água no rack da TV e correu até mim, que já estava indo para o banheiro para fugir dele.

— Então conta pro povo como tu tá desesperado! — gritei, mas ele ignorou e foi com as mãos direto para meu bolso na esperança de pegar o celular de volta, e eu tentava afastá-lo. — Tu é mó falso na internet!

Segurei Charlie pelos pulsos para impedi-lo de pegar o celular, mas por incrível que pareça ele estava quase tão forte quanto eu — talvez fosse por carregar tanta roupa e manequins no trabalho. Achei que já tinha o imobilizado, mas ele me empurrou para a parede ao lado da porta do banheiro e tentou me prender com as pernas.

Aquele teria sido um momento para surtar de pânico pelo garoto literalmente me prensar na parede, mas eu estava com raiva demais para ver com outros olhos.

— Eu não vou desistir de pegar meu celular, cacete!

— Eu sempre vou achar engraçado tu xingando! — Apertei mais seus pulsos quando ele começou a se soltar e o filho da mãe chutou minha canela.

O miserável perde a amizade mas não perde o celular!

Gemi de dor e o soltei para pressionar as mãos na região afetada, e ele conseguiu ir até o bolso da calça e pegar o celular de volta. Contudo, ao invés de se afastar — o que eu queria muito que ele fizesse, pois minha vontade era de dar um soco bem no meio daquela cara — ele pareceu arrependido pelo gesto repentino e se aproximou de mim novamente.

— Ahn, desculpa, eu... Desculpa, eu só queria o celular de volta, eu posso pôr gelo?

— Sai da minha frente. — Me levantei com a perna mancando e o empurrei para entrar no banheiro. Charlie não protestou, e segundos depois o ouvi dar passos para longe da porta.

Não havíamos completado nem 24 horas de quarentena e quase caímos na porrada por causa de um celular. Como a gente iria sobreviver?!

*mastectomia aureolar é quando a retirada das mamas é feita com um corte na auréola. É diferente da técnica do sorriso em que ficam duas marcas abaixo de onde eram as mamas, e ela geralmente é indicada pra quem tem a mama pequena e algumas pessoas preferem porque as cicatrizes ficam bem em cima da linha da auréola, então quase não dá pra ver.

Mas aqui... Queria dizer que Jason bi flex é meu sonho de consumo

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