003


Ajudar as pessoas para que elas possam tentar superar seus traumas, medos ou qualquer outra coisa que tenham feito de errado na vida. Estabelecer novas moradias, um novo emprego e ajudar elas a se estabilizarem. Sempre foi tudo o que Blair Becker queria. Ela gostava de ajudar, gostava de se sentir útil e ver um sorriso estampado nos rostos das pessoas que ela sempre conseguia fazer se sentirem melhor consigo mesmas. Era gratificante, e até mesmo um estímulo para fazer ela se levantar da cama todos os dias. 

Ela queria dizer que estava feliz nesse momento. Havia conseguido a oportunidade de seus sonhos, ser contratada pela organização S.H.I.E.L.D, era uma enorme oportunidade. Quem não queria entrar para a maior corporação de espiões e agentes do mundo? Se destacar nem que seja em um pequeno projeto? Ela adoraria sair saltitando pela rua e gritar bem alto "Eu sou da Shield agora". 

Mas ela não podia fazer isso por dois claros motivos. 

Primeiro, é extremamente proibido que você saia espalhando por ai que está trabalhando para a Shield. Eles tem muito inimigos e poderiam acabar te sequestrando e te torturando para saber onde ficava uma das bases. Não que ela tivesse medo, Blair não tinha. Mas se contentava em apenas ligar para sua mãe e lhe contar a grande oportunidade que recebeu. E Susan Becker havia ficado extremamente feliz pela filha. 

Em segundo lugar, no momento, Blair não queria sair saltitando e cantarolando como uma jovem adolescente feliz por ter arrumado o primeiro namorado. Ela estava irritada, tão irritada que sua maior vontade no momento, era estrangular aquele loiro que estava em seu plano de trabalho, ou no mínimo lhe dar uma pancada na cabeça para ver se suas ideias voltavam ao normal. 

Fitz era claramente, sem sombra de dúvidas, o maior desafio que ela havia encontrado em sua vida. E não era apenas pelo fato dele não aceitar a ajuda dela para nada, era também porque não parava de se martirizar por si mesmo. E isso era uma das coisas que Blair mais odiava ver em uma pessoa, quando a mesma se sentia inútil e ainda se deixava levar por isso. 

Tentava repetir para si mesma que tudo aquilo passaria, que era só ela fazer seu trabalho direito e logo Fitz a estaria agradecendo com um enorme sorriso no rosto e eles até poderiam ser amigos depois disso, óbvio que se não se matassem antes. Mas a esperança era a última que morria e ela esperava mesmo que fosse a última das últimas. 

Ela subia as escadarias do prédio aonde o engenheiro morava, tendo em mãos, uma sacola com bolinhos recheados, que ela havia descoberto serem os favoritos de Fitz e dois copos de café. Sua bolsa também estava pendurada em seu ombro, e ela brigava consigo mesma por ter escolhido bota de salto alto justo naquele dia. Elas estavam machucando seus pés, enquanto ela quase morria diante daqueles degraus. Ser apaixonada por lugares antigos não era bem seu forte. 

Já estava no vão de escadas do terceiro andar, ela só precisava subir mais um para enfim chegar ao apartamento do loiro. Mas parou no caminho quando seu celular começou a tocar. Se escorou no corrimão, e desajeitadamente enfiou a mão em sua bolsa para pegar o aparelho. Viu o nome "Boss" na tela e atendeu rapidamente. 

— Bom dia, chefe. — Sua voz saiu em um sussurro, já que ela ainda tentava repor o fôlego que perdera durante a subida. 

— Estava correndo? — Foi a primeira questão que ouviu de seu superior do outro lado. 

— Subindo escadas. — Confessou, aproveitando para se sentar em um dos degraus da escada. — Vim buscar o Fitz para leva-lo a fisioterapia. 

— Como ele tem passado esses dias? 

— Me tirando do sério. 

— Eu a contratei porque sua ficha é excepcional. E Jemma Simmons me garantiu que você é uma excelente profissional. 

— Eu sou. Mas Fitz parece ter um dom para acabar com a minha paciência. Ele critica tudo o que eu faço, nada está bom. Ontem eu fui arrumar o apartamento dele, não que estivesse bagunçado, mas algumas coisas estavam fora de ordem. E ele quase me matou por ter colocado no lugar. 

— Esse é o jeito dele, acredito que logo estarão se dando bem. — Blair podia jurar que Coulson se segurava para não rir do outro lado. 

— Ele também não para de perguntar sobre a Jemma. Não sei mais o que dizer. — Resolveu mudar de assunto, não estava com bom humor para ser motivo de chacota de seu próprio chefe. 

— Se ele perguntar de novo, diga que ela está ocupada em outro setor da Shield. Não sei quando ela volta, mas foi ideia dela deixar ele por um tempo. Acha que ele pode se recuperar mais rápido assim. 

— Eu duvido muito. Mas ela deve conhecê-lo melhor que eu. — A loira deixou um longo suspiro escapar e se levantou para tentar encarar o resto das escadas. — Senhor, eu preciso ir. Já estou atrasada e não sei se vai ser fácil tirar o Fitz do apartamento hoje. 

— Claro, boa sorte com isso. Alias, diga ao Fitz para ele voltar ao Bunker na semana que vem. Até mais. — E a ligação foi finalizada. 

Blair jogou seu celular dentro da bolsa e encarou os últimos degraus da escada que ela tinha de subir. E enquanto os encarava na prática, torcia para que aquele dia fosse melhor que os outros. Ela não queria que Fitz brigasse com ela, ou que a mesma acabasse perdendo a cabeça com ele. O que seria algo muito pior do que apenas ouvir as reclamações dele. 

Assim que parou de frente para o apartamento, tomou um longo fôlego para tentar se manter mais calma possível. Ergueu a mão para bater na porta, mas parou ao ouvir vozes vindas de dentro do local. Não se conteve a curiosidade de encostar seu rosto contra a porta e escutar, era a voz de Fitz e ele parecia conversar com alguém, a quem Blair tentava inutilmente saber quem era. 

— Não, Jemma! — Ouviu o tom mais alto dele. Jemma? Não estava ocupada em outro setor? — Eu estou cansado de encarar ela todos os dias, e... Ela é tão... Tão... Isso, isso mesmo. — Ele havia travado em suas palavras, e com certeza a bioquímica havia o ajudado com qualquer que fosse a palavra que havia usado para descrevê-la. Porque Blair sabia que estavam falando dela. Mas como não ouviu a voz de Jemma, tinha certeza de que deveriam estar conversando por telefone. — Eu sou gentil com ela. — Fitz voltou a comentar. — Tudo bem. Talvez... Han... Talvez eu seja um pouco... Pouco rude. 

— Pouco? Você é um ogro. — Blair não se conteve a sussurrar para si mesma. Arqueando uma sobrancelha com certa ironia. 

— Você acha mesmo? — Fitz ficou em silêncio logo depois, provavelmente ouvindo qualquer instrução que sua parceira poderia estar lhe passando. — Eu vou tentar... Não da para... Para trabalhar com alguém... Isso... Alguém assim. 

— Assim como? — A loira balbuciou. O que diabos estavam falando dela? 

Céus, ela desejou ser uma pequena mosca naquele instante e escutar direito aquele papo por telefone. O que tanto Jemma falava para ele? Será que mal? Para que o loiro estivesse concordando com tudo o que ela falava, coisa boa que não era. Porque o engenheiro deixou claro já de início o quanto não a suportava. E por diversas vezes já chegou a manda-la embora. Para que na maior cara de pau, Blair retornasse na manhã seguinte bem cedo para levá-lo a fisioterapia. 

Claro, porque ela se achava uma completa idiota. E tinha esperança de conseguir fazer com que ele se recuperasse. É ela iria fazer isso por bem ou por mal. 

Se Leopold Fitz não se recuperasse, ela até mudaria de profissão. 

Ela esperou escutar mais alguma coisa, mas não houve nenhum barulho. Será que ele já havia desligado o telefone? Mas nem se quer o escutou se despedir. 

Aguardou mais dois minutos e como não ouviu nada, não tardou a  bater na porta. Por mais que ela estivesse se sentindo chateada, ainda precisava trabalhar. E não queria nem se quer pensar no que Jemma poderia estar falando dela, mesmo que talvez, não fosse algo tão ruim. Ela não tinha do que falar de Blair. Eram amigas, não? Talvez a bioquímica estivesse apenas tentando acalmar o loiro, para que ele estivesse estável quando ela chegasse. 

Assim que a porta se abriu, Blair precisou se conter para não dar um passo para trás ao ver a expressão séria e sem emoções do loiro. Seus olhos azuis percorreram cada centímetro dela, como se buscasse algum defeito ao qual ele pudesse lhe apontar e faze-la ir embora. Mas ele não disse nada. Foi como se estivesse sendo manipulado por alguma força superior. Ele apenas tombou seus ombros como se relaxasse e soltou um leve suspiro. 

— Bom dia, Blair. — Sua voz era calma, muito mais calma e tranquila do que a Assistente Social estava acostumada. 

— Bom dia, Fitz. — Ela forçou seu melhor sorriso, tentando se esquecer do que havia ouvido por de trás da porta. — Como você se sente hoje? 

Ele olhou para o lado, como se ali houvesse algo muito mais importante do que ela. Houve um breve arquear de sobrancelhas, antes que o rapaz voltasse a encarar Becker novamente. 

— Eu estou bem. E... Você? 

Blair mal pode esconder sua feição de surpresa com aquela pergunta. Ele realmente estava se importando como ela estava? Será que era culpa por estar falando mal dela pelas costas? Ou lhe xingando com palavras as quais ele nem se quer se lembrava como pronunciar? 

— Estou bem. — Torceu o lábio em uma breve careta, encarando o café da manhã que ainda tinha em mãos. — Eu comprei café e bolinhos recheados, você pode comer no caminho para a clínica. Desculpe por me atrasa...

— Como sabe que gosto de bolo recheado? — Ele a cortou com um tom de surpresa destacado em sua voz. 

— Jemma, ela me deixou uma mensagem. 

— Ah... — Ele abriu a boca como se fosse pronunciar uma frase, mas desistiu antes de inicia-la. Por um segundo, Becker achou que ele estivesse com algum tique nervoso. — Quando foi a última vez que... Que... Falou com ela? 

 — Faz alguns meses. Eu apenas recebi uma mensagem dela uns dias antes de ir te ver no hospital. — Fitz fechou a cara novamente, parecendo voltar ao seu estado de irritação com aquela nova descoberta, o que deixou a loira um pouco tensa. — Eu falei com o Coulson hoje e ele me disse que você pode voltar ao trabalho na semana que vem. Não é uma ótima notícia? — Ela fingiu entusiasmo para que o mesmo focasse nas palavras dela, já que parecia bastante distraído aquela manhã. 

Fitz esboçou um meio sorriso, mas não disse nada. Apenas saiu e fechou a porta de seu apartamento, passando pela mulher sem ao menos lhe dirigir mais nenhuma palavra. O que deixou Becker muito mais confusa. 

Ele não havia acabado de falar com Jemma no telefone? Por que estava agindo como se não estivesse tendo nenhum tipo de contato ou notícia dela? Para quem estava com sérios problemas na cabeça, o engenheiro parecia ser um ótimo ator para interpretar aquela cena tão falsa. 

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top