Capítulo 8
Quando acordei no dia seguinte, olhei para as camas ao meu lado e vi que os garotos ainda dormiam, portanto levantei devagar e em silêncio, com medo de acordá-
Levantei, fui ao banheiro, tomei um banho e coloquei uma calça jeans, que comprei por acaso quando estava com Cameron, uma blusa branca colada ao corpo, de mangas curtas e uma sapatilha preta. Penteei o cabelo e terminei de me arrumar, mas não consegui sair furtivamente. O garoto havia acordado.
— Bom dia. — forcei um sorriso.
— Bom dia. — falou sonolento, esfregando os olhos.
— Não sabia que vampiros dormiam tanto. — não pude deixar de rir.
— Não dormimos. Apenas quando estamos feridos ou com sede, e es-
tava as duas coisas. — norriu de leve.
— Ah, sim. Então acho melhor ir caçar logo. — levei a roupa que segurava nos braços até o cesto de roupas sujas do quarto.
— Então... até iria, mas não posso sair desse jeito pelo pátio. — senti meu rosto corar ao lembrar que lhe tiramos as roupas esfarrapadas ontem.
— Olha... — virei-me para ele — vou ao mini shopping aqui do colégio para comprar qualquer peça azul clara para mim, se quiser, posso te trazer roupas também.
— Seria muito gentil da sua parte. — disse num tom de galanteio que
me fez rir.
— Então... o que você vai querer?
— Me traga uma calça jeans preta, uma camiseta vermelha e uma ja-
queta preta de couro, por favor.
— Uhm... certo. — peguei as roupas esfarrapadas dele para ver que número usava.
— Obrigado. — e deitou de novo na cama com os braços na nuca.
— Disponha. Encare como um agradecimento por ter me livrado dos machucados.
— Você já me agradeceu cuidando dos meus. — Eeme fitou novamente.
— Mas não te curei.
— E nem teria como. Você é feiticeira novata ainda e não uma vampira. — Achei seu tom arrogante.
— É. Tem razão. Sou uma novata ainda e tenho muito o que aprender, mas ainda bem que não sou uma vampira como você. — e saí batendo a porta. Só deu tempo de ouvir Cameron perguntando que falatório era aquele. Segui rápido pelo corredor, torcendo para não encontrar ninguém. No entanto, como sempre, não deu certo. Acabei esbarrando em Ethan e Camilla.
— Bom dia! — falaram os dois juntos.
— Bom dia. — tentei passar sem mais conversas.
— Espere. — Ethan me deteve pelo antebraço. — Cameron usou algum feitiço em você?
— Não, por quê? — voltei-me para eles novamente.
— Como foi que seus machucados sumiram? — Camilla me olhou cu-
riosa.
— Ahn... A pessoa... O vampiro que os fez me curou. — puxei o braço, me soltando e continuando a andar pelo corredor. Ouvi passos me seguindo e estava pronta para mandar Camilla e Ethan irem fazer outras coisas quando percebi que fora só Ethan quem me seguiu. Meu estômago quase saiu pela boca.
— O Mestre das Sombras te curou?
— Foi. — disse sem olhá-lo.
— Sério mesmo? Ele te procurou e te curou?
— Sim. — desci as escadas até o primeiro andar.
— E como fez isso?
— Fez a névoa que me machucou me curar e em troca disso a mesma névoa o machucou... para beber o sangue dele em sacrifício, acho.
— O QUÊ? — olhei-o irritada.
— Se não acredita, vai perguntar para ele! Está lá no quarto com Cameron e estou indo lhe buscar roupas, porque as dele ficaram esfarrapadas por causa da névoa! Agora, com licença, não tenho tempo para ficar respondendo essas perguntas! — me adiantei pulando de dois em dois degraus. Achei que tivesse me livrado dele, mas me enganei.
— Desculpe. — disse já ao meu lado. — Não queria te irritar. Vou parar de falar sobre isso se você me permitir acompanhá-la. — seu tom era sedutor.
— Tanto faz. — dei de ombros tentando ignorar meu coração em ritmo de bateria de escola de samba. Não que não gostasse do Ethan, que me salvou ontem! E era um cara legal, mas conseguia ser irritante e só o conhecia há (contando com hoje) dois dias! Fora que sua natureza me assustava muito... Ele. Era. Um. Vampiro. Um vampiro! É óbvio que deveria ter medo dele! Mas ao mesmo tempo me perguntava por que não sentia tanto medo do Mestre das Sombras... Ethan nunca me machucou, já ele, sim. Sentia uma estranha confiança por esse garoto das sombras e mesmo tendo me ferido, provou que não foi sua intenção ao me livrar dos ferimentos e de certa forma, tomá-los para si.
Percebi que hoje teria muito o que fazer. Era meu primeiro dia de aula! Foi só pensar nisso que meu estômago começou a dar suas voltas loucas de montanha russa, fazendo com que tivesse vontade de vomitar.
— Está ansiosa? Hoje é seu primeiro dia, não é? — Ethan parecia animado e tentava puxar assunto.
— Sim, estou ansiosa e, sim, é meu primeiro dia. — não me sentia muito empolgada.
Não se preocupe. Acho que devo ter alguma aula com você e prometo te enturmar para que possa se adaptar! — e sorriu tentando demonstrar simpatia, mas tudo que via eram as suas presas dizendo: "posso cortar sua garganta".
— Obrigada. — desviei o olhar.
— Qual será a sua primeira aula? — falou depois de um tempo quando já havíamos chegado ao mini shopping.
— Alguma coisa sobre feitiços. — entrei em uma das lojas para comprar logo a roupa do rapaz.
— Com a professora Havena?
— Acho que sim.
— Ela é muito gata. Nem dá para acreditar que tem duzentos anos. — e me seguiu de cabide em cabide enquanto procurava as roupas.
— Bruxos também são imortais?
— Não. Nenhum de nós é imortal... Os vampiros são os únicos a viver por mil anos se não forem mortos antes e os bruxos vivem por quatrocentos anos, que é a média da classe das Trevas. Os da classe da Luz vivem uns duzentos anos, no máximo, se não passarem para as Trevas também.
— Como assim "passarem para as trevas"?
— Sério mesmo que nunca ouviu falar sobre isso? — estava apoiado em uma das colunas me observando com a sobrancelha arqueada.
— Ahn... Não. Vivia em um lugar bem isolado. — sorri sem graça.
— Bem... — e me analisou antes de responder, depois deu de ombros. — Por exemplo, um vampiro pode transformar uma fada e dessa forma, ganha parte de seus anos de vida. Uma fada viveria duzentos anos, mas ao se tornar meio vampira acaba podendo viver por quinhentos anos.
— Ah! Nossa! E o vampiro "perde" esses anos que doou?
— Depende do caso. — havia terminado de encontrar as roupas do
rapaz e levei-as ao caixa. Ele me seguiu.
— Como assim? — agora lutava com a maquininha de passar o car-
tão.
— Assim. — e tirou o cartão da minha mão e passou na máquina, que contabilizou o quanto gastei. Depois a atendente fez os pacotes para mim.
— Obrigada. — e saímos da loja.
— De nada. Mas... não que seja da minha conta... isso é para quem? —
e apontou a sacola.
— Ah. É para o rapaz. Como disse, as roupas dele estavam esfarrapa-
das.
— Ok. E agora vai atrás de roupas para você, certo?
— Sim. — esforcei-me para retribuir o sorriso, mas seria capaz de pegar qualquer roupa que visse pela frente só para não estar mais sozinha com ele.
— Ah! Esqueci-me de te responder. Depende do caso: se o vampiro quiser, pode doar sem perder seus anos de vida e é o que fazem na maioria das vezes. Mas há uma cota para as transformações desse tipo, de maneira que se o vampiro ultrapassa essa cota, passa a perder anos de vida também.
— E qual a cota?
— Dez criaturas. Pode transformar até dez criaturas.
— Qualquer classe pode transformar a outra? — já havia entrado em outra loja e estava dando uma olhada nas roupas.
— Não. Na verdade, apenas os bruxos, os vampiros e os feiticeiros podem.
— Mas elfos e fadas não podem? — lembrei-me de Carla e Daniel, e senti um aperto no coração.
— Acho que sim, mas se não me engano tem umas coisas lá com sangue e magia.
— Ah, sim.
— Mas por quê? Você conhece alguém transformado em meio fada ou meio elfo?
— Pode-se dizer que sim. — e peguei uma camisa como a que vestia,
só que azul clara.
— Quem? — estava bem próximo a mim.
— Desculpa, mas não é da sua conta.
— Tudo bem. Se não quer contar vou respeitar. — deu de ombros como se não se importasse e me ajudou a escolher umas roupas. Comprei três calças jeans, duas calças de moletom azul claras, dois shorts jeans, três camisas como a que vestia, só que azuis claras, duas regatas (adivinha que cor? Isso! Azul claro!), duas blusas de frio (e não preciso mais dizer a cor, certo?), uma bota preta sem salto, uma sapatilha azul clara com detalhe dourado na ponta, um tênis branco estilo All Star, um tênis preto com azul claro, estilo tênis de corrida e uns seis pares de meias brancas. Ótimo! Agora meu guarda roupa está quase completamente azul claro!
— Ufa! — falei ao terminar de pagar os tênis, que foram as duas últimas coisas que comprei.
— É realmente exaustivo ser novato em época de compras. — Ethan sentou ao meu lado no banquinho do corredor.
— Sim. — ri de leve. — Que horas são?
— Espere... — e tirou do bolso um iPhone vermelho. Será que aqui pega alguma operadora? — São onze e meia.
— Céus! E que hora é o almoço? — levantei rápido do banquinho.
— Do meio dia à uma. Uma hora começam as aulas. — e levantou também.
— Então precisamos nos apressar! Preciso... — então me lembrei do rapaz que estava me esperando para lhe entregar as roupas. Acho que fiquei mais pálida que o Ethan.
— O que foi? Algum problema?
— Esqueci-me de levar as roupas do Mestre das Sombras! Ele...
— Cameron deve ter emprestado roupas para ele. Não se preocupe.
— e sorriu despreocupadamente.
— Ah... bem, sim, mas era para eu levar e me esqueci. — fitei o chão.
— Depois você manda entregar no quarto dele ou sei lá. — e deu de ombros.
— Sim. Acho que vou fazer isso.
— O que acha de comprar um vestido agora?
— Vestido?
— Sim, um vestido. — disse sorrindo.
— Para que vou usar um vestido exatamente? Não acha que comprei roupas demais?
— Para sair comigo no sábado. E não acho que comprou roupas demais, você é uma novata, precisa renovar o guarda roupa.
— Espera aí! Como assim "sair com você no sábado"?
— Te acompanhei aqui. Te ajudei. Respondi suas perguntas. Agora
você precisa retribuir o favor.
— Mas você fez tudo isso por que quis! Não te obriguei a nada!
— Mas vampiros não fazem nada sem uma troca. Você deveria saber. — disse caminhando em direção à loja para que o seguisse.
— Tudo bem. Aonde vamos? — achei melhor aceitar o que dizia para não criar problemas com um vampiro.
— Dar uma volta pela vila. O que acha? Cameron, Camilla, Noah e Julie vão juntos e gostaria de ir com alguém também para não ficar segurando vela. — e sorriu ao se virar para mim de novo.
— Vamos segurar um candelabro e não apenas velas.
— Bem, sim, mas pelo menos poderemos ir juntos. — e piscou para mim.
Entramos na loja e me vez comprar um vestido de mangas longas e rendadas, a gola era em U nas costas e mais coberta na frente, cobrindo o colo. O vestido era azul claro, mas era um azul bonito e o tecido era apertado até os quadris, depois se soltava até os pés. Sim. Era longo. Era rendado apenas nas mangas, porque o comprimento era liso e, apesar de o tecido ser grosso para aquecer do frio, era bonito e leve.
— Gostou do vestido? — falou enquanto estávamos no caixa.
— Sim. — não pude deixar de sorrir.
— Ótimo. Vou pagar para você. — e passou a frente tirando o cartão
do bolso.
— Ei! Não precisa! É ilimitado lembra? — ri ao alcançá-lo no balcão.
— Eu sei. Mas dado de presente é mais especial. — e sorriu enquanto
passava o cartão.
— Ah! Obrigada. — sorri sem graça e tenho certeza de que meu rosto corou.
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