Capítulo 7

Mensagem da autora: Talvez a diagramação da história daqui para a frente esteja um pouco bagunçada, pois está seguindo a diagramação do livro físico. Estarei tentando corrigir com o tempo, mas isso não altera em nada a história. Portanto, se isso não te incomodar, continue a leitura. Obrigada pela atenção e paciência.


— Não sabia que era um vampiro. — tentei me defender, mas foi inú-

til.

— Mas é. — pareceu-me ofendido.

— Desculpa. Eu... não sou muito corajosa. Tenho mesmo muito medo de vampiros. — abaixei a cabeça sem coragem de encará-lo.

— Mas por que não teve medo do Mestre das Sombras?

— Mestre das Sombras? — não pude deixar de encará-lo dessa vez.

— É como chamam aquele garoto. É completamente estranho e maluco. Se fosse você tomava cuidado. Todos aqui o temem. — e abraçou meu ombro como o garoto havia feito.

— Por que vocês o chamam assim? E por que vocês têm medo dele?

— O chamamos assim porque tem o dom de fazer as sombras, as trevas e a escuridão em geral o obedecerem. Ele é esquisito, porque na maioria das vezes fica saindo à noite e ninguém sabe para onde vai. E temos medo porque já ficamos sabendo que matou muitas garotas e feriu muitos garotos. — seu tom era sombrio e a cada palavra sentia um nó no estômago.

— E por que não o prendem?

— Você diz cadeia? — e riu.

— Sim...

— Ele é um vampiro. Vampiros não são presos. É a lei. Nós coman-

damos.

— Ah. Isso é completamente injusto.

— Sim. É injusto, mas é assim e quem contraria é punido com a mor-

te.

Depois desse último comentário seguimos em silêncio e me acompanhou até o hall principal do castelo onde Camilla, Julie, Lewis e Cameron nos aguardavam. Todos pareciam aflitos e conversavam sem parar, até que nos viram.

— Oh! Ainda bem! — Julie correu até nós e foi seguida pelos outros.

— Ele não te machucou? — Camilla me analisava, aflita.

— Obrigado mesmo, Ethan! — Cameron deu tapinhas nos ombros

dele.

— Você a encontrou! — Lewis estava nos encarando surpreso.

— Não. Não me machucou, Camilla. — tentei fugir de sua análise,

mas era inevitável.

— Tem certeza? — Julie se aproximou ainda mais e passou a me analisar também.

— Sim. Mas como sabiam que o garoto foi atrás de mim?

— Ethan nos disse. O vento o informou. — Lewis explicou como se fosse a coisa mais normal do mundo o vento falar com alguém.

— O... vento? — tentei disfarçar a incredulidade, mas não consegui.

— Ethan comanda o vento. — Cameron me explicou e olhei Ethan admirada, não só por sua beleza, dessa vez, que sorriu para mim mostrando seus caninos pontiagudos.

— Obrigada por me salvar, Ethan. — forcei-me a sorrir.

— Não foi nada. Disponha. — e fez uma mesura. Todos riram e fiquei sem graça.

— Bem... agora vou levar Alessia para pegar sua grade escolar. Obrigado novamente, Ethan. — Cameron me puxou pelo braço para segui-lo.

— Sim. E foi um prazer conhecê-los! — aceitei que me puxasse para

que pudesse sair logo dali.

— Posso ir com vocês? — Julie falou.

— Claro! — tentei não parecer insegura ao responder.

Seguimos até secretaria do castelo, que ficava na primeira porta do corredor do primeiro andar, à esquerda. A sala era de uma secretaria normal, não fossem pelas pesadas cortinas cobrindo as janelas e um ambiente com


clima de filme de terror. Tinha duas mesas de escritório e duas mulheres atrás de uma tela de computador digitando loucamente. Cameron limpou a garganta e uma delas olhou para nós. A mulher sorriu e levantou a cabeça. Foi então que vi suas orelhas e percebi que era uma elfa.

— Em que posso ajudar? — ainda sorria. Usava óculos redondos, ti-

nha a pele clara, roupas típicas de secretária, cabelos pretos presos em um rabo de cavalo atrás da cabeça e franjinha, seus olhos eram azuis.

— Queremos a grade de aulas da aluna Alessia... — Cameron olhou para mim para que dissesse meu sobrenome e não sabia o que responder. Diria meu sobrenome humano? Bem... se já disse meu nome... — Alessia Moraes.

— Certo. Só um minuto. — a mulher digitou algo rapidamente e depois a máquina ao lado dela começou a imprimir uma folhinha de papel. — Aqui está.

— Obrigada! — peguei a grade escolar e junto o cartão ilimitado. Dei uma olhadinha no papel depois que saímos da secretaria.

— Olha! Você está na mesma sala de música que eu! — Julie sorria animadamente.

— Mesmo? Que legal! —forcei-me a sorrir.

— E na mesma sala de alquimia que eu. — Cameron apontou o papel.

— Que ótimo! Não vou ficar perdida, mas o que é esse "reforço a feitiçaria"? Algum de vocês faz isso também? E por que tem uma marcação?

— Não. Essas são aulas especiais de novatos. — Julie deu de ombros com um sorriso leve.

— Sim. Julie está certa. Você fará essa junto com outros feiticeiros novatos.

— As aulas vão até às DEZ DA NOITE?! — arregalei os olhos ao

constatar isso.

— Sim. Mas logo você se acostuma. — Julie riu da minha alteração.

— É. São até tarde por causa dos vampiros e das ninfas. — Cameron deu de ombros, mas não riu.

— Ah. — fingi entender o motivo.

— Vamos voltar para o quarto agora, Julie. Até mais! — ele disse enquanto terminávamos de subir as escadas e saíamos no corredor dos quartos.

— Tudo bem! Até mais!

Entramos no quarto e fiquei realmente feliz por não ter que falar

com mais ninguém que não fosse ele. Deitei na minha cama após tirar as botas e deixei a grade escolar ao lado da cabeceira. Encolhi-me e fechei os olhos pensando no garoto que todos ficaram com medo que fosse me machucar. Ele não me machucou... Por que disseram isso? Pareceu até gentil..., mas era um vampiro! Nunca mais vou chegar perto dele de novo! Minha mente foi se calando aos poucos e acabei dormindo. Quando acordei novamente, senti meu estômago roncando de fome e minha cabeça latejava de dor. Olhei ao redor e Cameron não estava no quarto e nem no banheiro. Onde ele foi? Fitei o relógio que ficava em cima da cômoda e vi que já eram seis e meia. Céus! Dormi a tarde toda! Levantei depressa e tomei um banho rápido. Vesti a calça preta de antes e a blusa branca de mangas compridas. Calcei as mesmas botas pretas e saí do quarto, após dar um jeito no meu cabelo.

Caminhei pelo corredor e agradeci mentalmente por não ter ninguém transitando ali. Continuei andando e desci os três andares até o hall, onde ficava o corredor para a ala dos restaurantes, mas ao invés de seguir para lá (onde percebi que havia muita gente comendo e deduzi que seria hora do jantar), acabei desviando minha atenção para o pátio lá fora. Tinha alguém lá, apurei a visão, mas não consegui enxergar. Ventava forte de novo e as árvores balançavam. Resolvi sair para ver quem estava lá e o que fazia na hora do jantar. Nem parei para pensar que isso era uma má ideia e que deveria continuar até a ala de restaurantes e ver se Cameron ou qualquer um dos que estavam se tornando meus amigos estavam lá. Apenas saí e fui atrás da pessoa, ainda sem enxergar quem era. A pessoa andava para dentro do jardim-bosque em frente ao castelo, mas não seguia pelas trilhas iluminadas, seguia pelas sombras. Hesitei ao chegar perto das sombras, mas por alguma razão não me afastei e nem voltei para dentro como uma pessoa normal faria. Simplesmente entrei no breu e segui a pessoa desconhecida como mandava minha intuição de doida.

As árvores pararam um pouco de se agitar, o vento parou de soprar tão intenso e a lua no céu iluminou de forma precária o caminho que seguia. Iluminou apenas o suficiente para não sair tropeçando em tudo pelo chão. Perdi a pessoa de vista e percebi que havia me perdido também. Droga! O que vou fazer agora? Será que consigo voltar... Quando tentei levantar o pé para dar meia volta e voltar para o castelo, senti algo segurando meu tornozelo e tive vontade de gritar, mas não gritei, o grito ficou entalado na garganta. Olhei para baixo relutante e vi uma espécie de névoa escura em torno do meu tornozelo, segurando como um galho de árvore enroscado em alguma coisa.

— Ai, meu Deus! — sussurrei com o coração tentando saltar fora do peito e senti meu corpo tremer de medo.

— Não vai te machucar. Não se preocupe. — ouvi uma voz dizer baixinho.

— O que é isso? — olhei em volta para tentar ver quem falara comigo. Tudo o que via ao meu redor eram sombras densas e árvores altas.

— São as trevas materializadas. São como as sombras, mas podem fe-

rir.

— Ferir?

— Sim. Mas não vão fazer isso com você. Não vou deixar. — a voz falou e à minha direita alguém apareceu surgindo das sombras. Virei a cabeça rapidamente e tentei ignorar meu estômago revirando ao ver o garoto com quem trombei no refeitório.

— Ah... você as controla?

— Sim. É um pouco difícil, principalmente nos dias que preciso alimentá-las para que não me escapem. — falou calmamente, se aproximando.

— Peça para me soltarem, por favor. — minha voz saía trêmula.

— Soltem-na. — disse como um sussurro, mas seu tom de voz estava rígido e autoritário. Senti a névoa gelada me soltando devagar e logo consegui mover o pé outra vez. Novamente sem entender porque fiz isso, não corri. Fiquei parada olhando o garoto e a névoa que voltava para ele e se enrolava em suas pernas até os quadris.

— Obrigada. — tive medo de que minha voz pudesse atrair aquelas

coisas de volta, por isso praticamente sussurrei.

— Tudo bem. Pode correr agora. — seu rosto estava desprovido de emoção, mas pensei enxergar um brilho de tristeza em seu olhar.

— Correr? Por que quer que corra? — minha voz falhou e me repreendi mentalmente.

— É isso que quer fazer, não é? — me fitou com o olhar penetrante. — Fugir de mim. Como seus amigos devem tê-la aconselhado.

— Não quero fugir de você. — falei sem pensar. Me olhou nos olhos

e juro que vi seu olhar se iluminar de expectativa.

— Não quer? Não me acha um monstro?

— Não. Não acho. Queria saber como se chama.

— Todos me chamam de Mestre das Sombras como já deve saber. — seus olhos se estreitaram, fazendo meu coração pular.

— É eu sei. Mas queria saber seu nome de verdade. — tentei soar

gentil.

— Não importa meu nome. — e desviou o olhar do meu, fitando o

chão.

— É claro que importa. como posso cumprimentá-lo sem saber seu nome?

— Você não deve me cumprimentar.

— Por que não? Não gosta? — dei um passo em sua direção, que imitou meu gesto, só que ao contrário, dando um passo para trás.

— Você não deve ficar perto de mim. faça como os outros e me deixe sozinho.

— Não. Desculpa se te incomodei. Eu só... por que quer ficar sozinho? — dei mais um passo à frente.

— Preciso alimentar as trevas. Você não pode ficar.

— Tudo bem, mas me diga seu nome. Quem sabe nos encontramos outra hora? —forcei-me a sorrir.

— Quero ficar sozinho. Não entende? — seu olhar se voltou para mim outra vez.

— Não é legal ficar sozinho. Nunca vi alguém que quisesse ficar sozinho. — estreitei os olhos ignorando o alerta de perigo que gritava em minha mente.

— NÃO É ESCOLHA MINHA! AGORA VÁ EMBORA! —olhei-o assustada, sentindo as pernas bambas.

— Desculpa... — tentei dar uns passos para trás, mas quando comecei a me mexer a névoa "pulou" em minha direção.

— NÃO! — o garoto tentou conter a névoa, mas já era tarde demais.

Só sei que gritei e então senti meu corpo ser derrubado no chão, com força. Bati a cabeça e acabei desmaiando, tendo tempo de ver apenas a névoa escura sobre mim. Não sei quanto tempo fiquei inconsciente, mas quando acordei estava deitada em uma cama como as de hospital. O quarto onde estava era feito de pedras como as do castelo, entretanto estavam pintadas de branco. O teto era acinzentado e as luzes eram como as de um consultório médico. Havia alguns aparelhos médicos e aquelas cadeiras de sala de espera. Do meu lado direito, um pouco afastada da cama, tinha uma janela grande que dava vista para o jardim-bosque do castelo. Olhei para meu corpo e reparei que tudo que me cobria era um lençol branco e fino. Arregalei os olhos e soltei um gritinho. Vi a porta se abrir num solavanco e Cameron, Julie e uma mulher alta de cabelos pretos e óculos entraram apressados. As roupas da mulher eram brancas e tinha um estetoscópio pendurado no pescoço. Uma médica? Levaram-me para um hospital? Não, pois quando a mulher sorriu vi seus caninos pontudos e percebi que era vampira.

— Você acordou! Como está se sentindo? — Cameron já estava ao lado da cama.

— Ah! Você não parece mal! — falou a doutora.

— O que aconteceu com você? — Julie se aproximou também.

— Eu não me lembro. — no mesmo instante me lembrei do porquê de ter desmaiado e ao sentir meu corpo ardendo em vários pontos, observei-o por debaixo do lençol e vi que estava todo arranhado. Arranhado mesmo, como os arranhões de gato, só que mais profundos.

— Estão ardendo? — Cameron perguntou devagar, como se com suas

palavras fizesse arder mais.

— Sim, mas estou bem. Obrigada. — sorri sentando na cama.

— Deixe-me ver se está bem mesmo. Se estiver vou permitir que volte para o quarto. — a médica falou com um sorriso. — Vocês poderiam sair por um minuto?

— Ah! Claro! — Julie seguiu para a porta rapidamente.

— Podemos sim. — Cameron saiu do quarto com Julie.

A doutora se voltou para mim e apesar de ser vampira, não senti medo. Passava segurança e sorria o tempo todo, docemente. Quando terminou seus exames e de olhar os machucados, me deu uma pomadinha para passar nos cortes e disse que já poderia voltar para o quarto.

— Obrigada. — peguei a pomadinha. — Ahn... minhas roupas?

— Ah! Claro. — a mulher riu e então me entregou algumas roupas que estavam na beirada da cama.

— Essas roupas não são minhas.

— Suas roupas estavam esfarrapadas. A ninfa, Julie, lhe emprestou

essas.

— Ah, sim. Obrigada. — vesti o vestidinho roxo de mangas longas e gola V. Nos pés calcei minhas botas que estavam inteiras e depois segui para fora do quarto-hospital. Fiquei aliviada por suas roupas servirem em mim.

— E aí? Vai poder voltar? — Cameron levantou do banquinho assim

que saí.

— Você está bem? — Julie me observou, novamente me analisando.

— Sim e sim. E obrigada pelas roupas. — sorri para os dois tentando

passar confiança.

— Disponha. — e retribuiu o sorriso.

Cameron e Julie me acompanharam até os quartos e ao chegar lá, Julie foi para o quarto dela e nós entramos. Lá dentro, me deu um pacote de lanche "para viagem", dizendo que precisava comer alguma coisa. Depois que comi, quando terminava de beber o refrigerante, olhou para mim preocupado e perguntou novamente o que houve comigo.

— Eu não...

— Não diga que não sabe. Sei que você lembrou lá na enfermaria, mas achei natural que não quisesse dizer na frente da vampira. Mas se confia em mim, por favor, me fale.

— Tudo bem... — suspirei e resolvi falar de uma vez. — Foi o garoto. O garoto que vocês chamam de Mestre das Sombras. O segui sem saber que era ele e nós conversamos, mas aí ficou bravo e então a névoa me atacou.

— A névoa te atacou? — ficou muito pálido e seus olhos se arregalaram.

— Sim... por quê?

— Como você está viva? E por que te machucaram tão de leve?

— De leve? Me arranharam toda!

— Não. Sim. Digo... não foi exatamente de leve, eu sei, mas poderiam ter feito bem pior. E poderiam tê-la matado.

— Ah... bem... acho que foi porque o garoto não deixou.

— Como assim não deixou?

— Disse que não deixaria a névoa me machucar e me mandou ir embora, mas como não fui, se zangou e a névoa me atacou. Só que quando a névoa "pulou" para cima de mim, gritou "não" e tentou impedir.

— Ele tentou impedir? Acho que você bagunçou suas ideias quando desmaiou. Bem... vou tomar um banho e é melhor você descansar um pouco.

— Tudo bem, mas não estou ficando louca. — peguei o livrinho debaixo do travesseiro, deitei com as pernas esticadas e apoiei o tronco no travesseiro. Realmente tentei me concentrar no que estava lendo, porém não conseguia. Abri as cortinas e o vidro da janela, ajoelhei na cama, apoiei os braços e o corpo no beiral e fiquei fitando a noite.

— Você... está bem? — ouvi uma voz perguntar e olhei em volta, as-

sustada, procurando pelo quarto para ver se Cameron havia saído do banho.

Aquela voz não era do Cameron.

— Quem é você? — voltei a olhar para fora e dessa vez vi a névoa escura pairando em frente à minha janela. Instintivamente me afastei da janela, com medo, e me preparei para gritar e sair correndo dali para o banheiro atrás de Cameron, mesmo que isso fosse constrangedor.

— Calma. Não vou te machucar. Só quero saber se está bem. Deixe-

me entrar, por favor.

— Por que quer entrar?

— Quero ver se está bem. Seus machucados.

— Tudo bem. Entre. Mas como sabia dos meus machucados? — a névoa adentrava o quarto e tomava a forma de um garoto um pouco mais alto que eu e de cabelos escuros.

— Obrigado.

— Mestre das Sombras... — movi os lábios com as palavras, mas não emiti qualquer som.

— É. Sim. Sou eu. — deu um sorrisinho fraco. Depois seu olhar seguiu por todo o meu corpo, provavelmente observando os machucados que estavam visíveis. — Te feriram mesmo... — seu tom soou triste e melancólico.

— Sim. — também observei os arranhões.

— Desculpa... — e se aproximou de mim devagar.

— Desculpa pelo que?

— Não consegui controlá-las e não consegui me controlar também.

Elas te atacaram. As trevas e a escuridão.

— Tudo bem. Estou viva. — sorri de leve.

— Mas poderia não estar. — desviou o olhar. — Estão ardendo mui-

to?

— Sim, mas acho que daqui um tempinho passa.

— Não. Não passa. Quer que... quer que te ajude a curar? — Como vai fazer isso?

— A névoa pode curá-la.

— Pode?

— Sim. É só dar a ela um pouco do meu sangue.

— O quê? — arregalei os olhos. — Não. Nada disso. Não vai dar seu sangue só para curar esses arranhões bobos.

— Não são simples arranhões. Estão ligados ao seu coração e se não

forem tratados podem machucá-la seriamente. — agora estava bem perto de mim. Engoli em seco, observando-o. — Deixe-me ajudá-la, por favor.

— Tudo bem. Se isso te fizer sentir melhor... — dei de ombros e des-

viei o olhar.

— Fará. Sombras! Curem as feridas que suas irmãs trevas fizeram. Machucaram quem não deveriam machucar e lhes ofereço meu sangue para que reparem esse terrível erro. — o garoto pronunciou cada palavra como um encantamento.

Fiquei parada, prendendo a respiração e observando enquanto sombras sinistras se moviam ao meu redor. Começaram a me envolver do tornozelo até a cintura e as senti se enroscando por debaixo do vestido, trazendo-me uma sensação fria e relaxante. Como se fosse uma suave brisa fresca de verão. Olhei para o garoto e o sorriso que despontava em meu rosto desapareceu. Estava abraçando a barriga como se sentisse dor, seus olhos estavam fechados e se esforçava para não gritar. Seu corpo estava curvado para frente de dor.

— Não! — as sombras continuaram avançando sobre mim e sobre ele. Em mim, curando e relaxando e nele ferindo e sorvendo seu sangue. Ouvi a porta do banheiro se abrir e vi a expressão assustada de Cameron.

— O que ele está fazendo aqui? Alessia? O que está acontecendo?

— As sombras estão ferindo ele! Faça parar Cameron!

— Ferindo ele? — me fitou incrédulo.

— Ele... Ah... Ofereceu seu sangue para que curassem os machucados que me fizeram!

— Então não há como parar. Só quando você estiver curada. — senti lágrimas em meus olhos enquanto via o garoto se contorcer de dor. Então, como num passe de mágica, tudo acabou e as sombras sumiram. Meu corpo estava curado e o do garoto estava arranhado e ferido. Estava ajoelhado no chão e respirava com dificuldade. Corri e me ajoelhei na sua frente.

— Ei! Fale comigo! Você está bem?

— Não chore... — sussurrou fraco, olhando para mim. Só então reparei que estava chorando.

— Mas você... — colocou o indicador na minha boca para me calar.

— Vou ficar bem. Não me machucam como a você. — Sua voz era a-

inda mais baixa.

— Cameron! — olhei para ele, que encarava o garoto embasbacado.

— CAMERON!

— Ahn? Oi? — finalmente se aproximou de nós.

— Me ajude a colocá-lo na cama!

— Certo. — se ajoelhou para me ajudar a fazer o garoto se levantar.

Levantamos e o deitamos na minha cama, que era a mais perto.

— Precisamos levá-lo à enfermaria. — disse observando-o preocupa-

da.

— Não! Não lá! — protestou ainda fraco.

— Por que não? — Cameron o encarou desconfiado.

— Não me levem lá... Por favor... — olhou em meus olhos. Não con-

segui desviar o olhar e senti que não poderia levá-lo à enfermaria.

— Tudo bem. Vamos cuidar dos ferimentos nós mesmos. — olhei para Cameron, que confirmou com a cabeça e levantou para buscar o quite de primeiros socorros. Levantei-me também e fui até o banheiro, molhei as toalhas de rosto e peguei duas secas no armário. Depois voltei para a cama e o ajudei a tirar a camisa que estava em farrapos. Em seguida tirei seus tênis e suas meias.

— As calças também. — disse Cameron enquanto voltava com o quite de primeiros socorros e sentava-se na beirada da cama.

— Não. — o garoto reclamou e olhou de Cameron para mim e de mim para ele de novo.

— Não se preocupe comigo. Não vou ficar olhando nada. — senti-me irritada, sabendo que meu rosto tinha corado quando os dois garotos me encararam.

— Tudo bem para você? — Cameron olhou para ele novamente.

— Tudo. — e suspirou. — Só não queria desrespeitá-la.

— Não está. — desabotoei a calça e tirei-a com cuidado.

— Você já pensou em ser enfermeira? — Cameron riu de leve.

— Não. Por quê? — dobrei o tecido esfarrapado e deixei-o ao lado da cama.

— Você está nesse exato momento tirando as roupas de um garoto que você mal conhece para tratar seus ferimentos. — riu ainda mais. Senti meu rosto indo do tom de rosa cor de rosa para vermelho pimentão. O menino riu também ao ver meu rosto corado.

— Eu, ah... — tentei falar alguma coisa, mas só piorei a situação. Empenhei-me então em cuidar dos ferimentos e Cameron me ajudou em silêncio. O garoto também ficou quieto, só se mexeu algumas vezes e resmungou de dor.

— Pronto. Agora acho melhor você voltar para o seu quarto.

— Cameron, deixe-o ficar aqui. Não vai machucar você. — Cameron me olhou como se tivesse sugerido plantar uma bomba no quarto.

— Não. Tudo bem. Eu volto para o meu quarto. — o rapaz começou

a se levantar, mas não deixei.

— Não. — e o empurrei de volta na cama. — Cameron, por favor. Es-

tá tarde e ele está ferido.

— Tudo bem. — e suspirou. — Pegue um saco de dormir na terceira gaveta da minha cômoda.

Levantei, peguei o saco de dormir e o estendi entre as camas. Peguei uma roupa das que comprei nas sacolas que não havia guardado ainda e fui para o banheiro. Tomei um banho e me vesti para dormir. Quando saí do banheiro, o garoto estava sentado na cama e conversava com Cameron. Sorri ao ver que não estavam se estranhando nem nada do tipo.

— Vamos dormir então? — ambos me olharam.

— Claro. Boa noite, gente! — Cameron ajoelhou-se no saco de dor-

mir.

— Nada disso! — corri até ele o empurrando. — Eu durmo aqui. Você

fica na sua cama.

— Não. Não é justo. Vou ficar no saco de dormir. O quarto nem é meu. — o rapaz falou com sua voz suave e sedutora, me fazendo arrepiar.

— Você está machucado! Fica aí na cama, quieto. Eu vou ficar no saco de dormir! Estou acostumada a dormir nisso.

— Estou machucado, mas não corro risco de vida. — o rapaz me lançou um sorrisinho.

— Isso é verdade. — Cameron sentou na cama dele.

— Mas seus machucados vão arder bastante.

— Então, por que não dormem juntos? — Cameron riu como se fosse a melhor piada do mundo. Parei o que ia falar e virei o encarando com o rosto vermelho de vergonha. O rapaz também se calara.

— Não. — o encarando, irritada. — Isso seria errado.

— Certamente. — o rapaz também devia estar encarando Cameron no momento, mas não pude ver sua expressão. — Não que não gostaria... — dessa vez foi a vez dele de ser encarado por mim.

— Não se atreva! — mas, ao vê-lo rindo, percebi que estava brincan-

do.

— Vamos dormir logo. — Cameron já havia deitado e estava pronto

para apagar o abajur.

— Tudo bem. Boa noite. —ajeitei-me no saco de dormir.

— Boa noite. Espero que não se arrependa de dormir num saco de dormir. — O rapaz se ajeitou também.

— Não vou.

— Boa noite! — e apagou o abajur.

Ainda antes de dormir, fiquei pensando no que acontecera e fiquei um pouco paranoica porque estava no quarto com dois garotos. Um deles era um vampiro e estávamos na escuridão total, escuridão que controlava. Acho que não vou conseguir dormir, engano meu. Após um tempo com esses pensamentos horríveis, acabei adormecendo. E dormi pesadamente. Um sono sem sonhos. 

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