Capítulo 6

Seguimos até o mini shopping do castelo e tentei ignorar os olhares
que as criaturas me lançavam conforme caminhávamos e nos encontrávamos com mais delas. Seus olhares variavam entre curiosidade, repulsa, simpatia e hostilidade. Todos cumprimentavam Cameron, mas apenas alguns falavam comigo. Os que falavam, respondia e tentava sorrir para ser simpática.

Comprei minhas roupas nas lojinhas de lá, mas quem "pagou" foi ele.
Não tinha ganhado meu cartão ainda. Fiquei completamente sem graça, mas não tinha o que fazer, então aceitei.

— Não se preocupe. Como já disse, os cartões são ilimitados. — repetiu pela terceira vez, após ter dito novamente que iria pagá-lo.

— Eu sei, mas é complicado...

— Por quê?

— Eu sei lá. Me sinto em dívida com você.

— Besteira. Esqueça isso. Quer almoçar comigo? — e sorriu de um
jeito fofo.

— Se você e seus amigos não se importarem... — retribuí o sorriso.

— Não. Eles não vão se importar, mas são bem curiosos. Tome cuidado. — e piscou para mim.

Depois de levarmos minhas sacolas para o quarto e me trocar, fomos até a ala de restaurantes do colégio. Havia colocado uma blusa de mangas compridas branca, com gola V e colada ao corpo, uma calça de couro preta e botas pretas de salto baixo.

— Olha... não que não curta seu visual, mas acho melhor você colocar uma saia ou vestido. — Cameron comentou um pouco sem graça quando saí.

— Por quê?

— As garotas do colégio geralmente usam saias ou shorts.

— Ah. Sim. Não quero parecer diferente demais. — e voltei para o
quarto.

Coloquei um vestido preto de renda, as mangas eram longas e também
rendadas, a gola dele era redonda e deixava boa parte das costas e do colo aparecendo, era coladinho até a cintura e depois era mais solto. Nos pés calcei uma sapatilha preta.

— Pronto.

— Você comprou só roupas pretas? — arregalou os olhos.

— Você não reparou enquanto pagávamos? Sim. Só roupas pretas.

— Preto é a cor dos vampiros e dos fantasmas.

— O que tem isso?

— Eles não gostam que usemos as mesmas cores que eles. É uma maneira de diferenciação entre as classes.

— Ah, mas só comprei roupas pretas.

— Bem. Hoje você me acompanha assim. Vou te emprestar um manto azul escuro que tenho, que vai cobrir sua roupa. Torça para que ninguém a veja muito de perto, para que não questione suas roupas. — e entrou no quarto saindo com o manto azul escuro e dourado.

— Obrigada. — e o vesti. Nossa! Parecia uma capa enorme de vilão,
mas cobria bem.

Seguimos para a ala dos restaurantes. Lá era como uma enorme pra-
ça de alimentação que ficava no primeiro andar à direita. Em volta, víamos nas fachadas o que o restaurante vendia, por exemplo, comida italiana, japonesa, alemã, inglesa, tailandesa, chinesa, vegetariana, fastfood... minha nossa!

Tem de tudo aqui! Cameron me guiou para o restaurante de comida italiana e depois que pegamos nosso almoço, seguimos para a mesinha onde estavam sentados os seus amigos (era mesmo como uma praça de alimentação, as mesinhas ficavam em frente aos estabelecimentos).

Sentamos e de imediato olharam
para mim. Aliás, como o resto do local, por ser a única pessoa a usar uma capa na praça de alimentação.

— Olá, Cameron. — disse uma das duas meninas do grupo (eram
três). Tinha cabelos longos, pretos e cacheados, seus olhos também eram escuros e bem expressivos, sua pele era morena e muito bonita.

— Bom dia, Camilla. — respondeu com um sorriso.

— Bom dia, cara! — falou um menino que estava sentado mais perto de nós. Tinha cabelos cacheados e castanhos claros, a pele era extremamente
branca e seus olhos eram verdes. Fiquei perdida imaginando com o que exatamente comparar seus olhos. Foi quando me olhou diretamente e sorriu. Meu coração saltou e saí do transe. Os dentes dele! Os caninos! Ele era um vampiro!

— Oh, céus. — fiquei repentinamente sem ar.

— Oi, garota nova! — e levantou para me cumprimentar. Era bem mais alto que eu. Céus! Socorro!

— Ah. — fiquei o observando sem conseguir disfarçar o medo.

— Alessia, este é Ethan. — Cameron percebeu que não ia conseguir
nem dizer meu nome e tentou me ajudar.

— Olá, Alessia! — uma menina loirinha de cabelos curtos sorriu para mim. Seus olhos eram castanhos.

— Oi. — ainda não havia conseguido tirar o olhar assustado de Ethan, que agora me abraçava.

— Ethan, solte a menina. Ela está assustada. — um garoto se aproximou da nossa mesa rindo.

Tinha a pele tão clara, que era quase transparente e parecia flutuar. Tinha cabelos castanhos e olhos extremamente azuis. Uau! Era lindo! A única coisa estranha nele era o medalhão que usava no pescoço. Ethan me soltou e fiquei olhando o medalhão fixamente.

— Meus cumprimentos! Sou Lewis. — o garoto sorriu para mim. —
Gostou do amuleto?

— Ah, sim. — falei rápido depois que Ethan sentou e consegui parar de encará-lo.

— É para que consiga me materializar. É o primeiro que você vê? — olhei de canto para Cameron sem saber o que responder.

— Sim, minha companheira de quarto era da região das fronteiras. Não conhecia muitas espécies. — Cameron sorriu naturalmente.

— Sua o quê? — gritou a loirinha.

— Julie! Calma! — e me puxou para sentar. — Vai ficar no quarto comigo. Leslie mandou.

— Mesmo? — Ethan me encarava.

— Aham. — respondi sem olhá-lo. Cameron havia feito me sentar ao
lado de Ethan. Ele sentou do outro lado e Lewis à nossa frente. Ao lado de
Lewis estava Julie e ao lado de Julie, Camilla.

— Não vou te morder. — Ethan sussurrou no meu ouvido, tirando
meu cabelo dali. Dei um pulinho.

— Ethan! — Cameron repreendeu. Os outros riram.

— Que? — falou dando de ombros e fazendo cara de inocente.

— Chega. Ela está com medo de você. Pare de piorar as coisas. — Cameron o olhava, irritado.

— Escuta... você é um... vampiro? — forcei-me a olhar para ele.

— Sim. Sou um vampiro. Cameron é um bruxo, Lewis é um fantasma, Julie é uma ninfa e Camilla, uma bruxa.

— Ah. — olhei ao redor da mesa e todos sorriam para mim. Sorri de
volta.

— E você? — Julie perguntou gentilmente.

— Feiticeira.

— Interessante. — Camilla disse entre uma garfada e outra no macarrão. Ethan segurou meu queixo e virou meu rosto para ele. Tentei ignorar o
meu estômago dando voltas e encarei seu olhar. Todos na mesa ficaram em silêncio.

— Vem cá. Por que está usando roupas pretas? Você é uma feiticeira.
— Ethan soltou meu rosto ao perguntar isso.

— Ela... — Cameron ia começar a explicar quando ouvimos uma voz
conhecida atrás de nós.

— É verdade! Por que está usando roupas pretas? — era a garota do
corredor. — E por que está usando para encobrir esse manto azul escuro? Isso é cor de bruxo e não de feiticeiro! Por que está no quarto de Cameron se é uma feiticeira?

— Pare de gritar, Rachel. — Cameron falou entredentes e todos do refeitório começaram um burburinho.

— Eu... — tentei falar e me levantei puxando mais o manto para me
cobrir.

— Você nada! — continuava gritando.

Tentei sair de perto dela para poder correr de lá, mas avançou tentando puxar o manto. Desviei dela e corri
o mais rápido que pude em direção à entrada. Queria sair daquele lugar. Percebi Cameron se levantar também e tentar me seguir quando olhei para trás, mas Rachel e as outras duas garotas que estavam com ela bloquearam sua passagem. Então bati em alguém e quase caí sentada.

— Desculpe... — nem olhei a pessoa e tentei passar por ela puxando o
manto para mim.

— Espere. — ouvi uma voz baixa que parecia não ser usada com frequência. Era uma voz grave e sedutora. Meu coração pulou. Não me virei, mas na tentativa de me segurar, a pessoa puxou o manto e acabou o tirando de mim.

— Não! — virei-me rápido, tentando em vão pegar o manto de volta, mas parei ao olhar o garoto.

Ele era muito bonito! Era... perfeito. Era um pouco mais alto que eu, tinha cabelos escuros como a noite, a pele morena, mas parecia estar ficando cada vez mais clara, um tom bem suave e seus olhos eram cor de mel. Era aparentemente forte e apesar de não ser muito musculoso como os outros garotos, não era um palito equilibrado. Era na medida certa, nem muito, nem pouco.

— Eres vampira? — ouvi sua voz suave perguntar. Não consegui responder. O refeitório estava em completo silêncio. — Ninfa então?
Não consegui respondê-lo e fiquei o encarando por um tempo. Percebi que encarou os meus olhos o tempo todo, como se procurasse a verdade através deles.

Quando consegui me livrar do transe de sua beleza incomum, me virei e corri para a saída sem me importar com mais nada, apenas com meu coração, que batia forte, e minha mente, que girava loucamente.
Não sei se peguei a saída errada, mas, quando saí pela porta no fim
do novo corredor, acabei no pátio do castelo. Estava extremamente frio e o vestidinho que usava não ajudava muito. Me encolhi e abracei o próprio corpo, tremendo.

Continuei o caminho à direita, seguindo pela trilha do pequeno
jardim (que imitava um bosque) em frente ao pátio do castelo, até encontrar um banquinho ao lado de uma fonte. Ventava forte fazendo as copas das árvores balançarem e era um vento gélido como os de inverno. Sentei-me e fiquei encolhida, observando a água. Nem percebi quando alguém se aproximou.

— Aqui. — ouvi uma voz que me era familiar e ao levantar os olhos,
vi o manto de Cameron. — Pegue. Desculpe tê-lo tirado de você.

Então reconheci a voz. A voz suave e grave falava baixo. Por um minuto não levantei o olhar, não queria ficar como uma idiota o olhando de novo, mas sabia quem era. Não precisei responder. O garoto colocou o manto sobre minhas costas e se sentou ao meu lado. Tinha quase certeza de que ouvia meu coração batendo disparado.

— Obrigada. — sussurrei trêmula de frio (pelo menos queria acreditar que fosse de frio).

— É melhor você entrar. Está muito frio aqui. — Sua voz já era baixa,
sussurrando ficava quase inaudível.

— Não vou voltar lá. — respondi quando encontrei minha voz novamente.

Puxei mais o manto ao meu redor, tentando cobrir mais meu corpo do vento. Então senti seu braço em volta de meus ombros e virei o rosto sem
pensar, o encarando. Olhou em meus olhos como havia feito antes e não consegui desviar o olhar.

— Rachel fez algo com você? — não consegui inventar desculpas como fazia com outras pessoas.

— Estava reclamando da cor da minha roupa. Disse que não posso
usar nem preto e nem azul escuro, por que não sou vampira, fantasma ou bruxa.

— Ah. Sim. E o que eres então? — e lançou um olhar que me fez o
imaginar sorrindo gentilmente, mesmo que não estivesse.

— Eu sou... — já estava pronta para dizer que era humana quando
ouvi a voz de Ethan gritando.

— SAIA DE PERTO DELA, CARA!

— Ethan? — senti-me confusa. O garoto me soltou rápido e levantou
do banquinho.

— Não ouviu não? Saia de perto dela! — Ethan se aproximou mais e o vento pareceu se agitar ao som de sua voz. O garoto olhou de forma hostil e depois desviou o olhar para mim. Ao me olhar, pareceu triste e vi seus lábios
se moverem de leve.

— Adeus. — então, uma névoa escura o encobriu e ele desapareceu.

— O que foi aquilo? — fitei o local onde estava há alguns segundos
atrás, assustada. Ethan já estava ao meu lado.

— Como você não teve medo dele? — disse parecendo magoado.

— Por que medo?

— Ele também é um vampiro. — suas palavras pareceram quebrar toda a confusão que sentia.

Meu coração disparou e então percebi que quem viera atrás de mim fora o Ethan e não o Cameron. Também percebi que havia ficado a sós com um cara que nem sabia o que era até Ethan me explicar e que agora estava a sós com um vampiro de novo.


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top