Capítulo 25
Nos encontramos na estalagem de Ária e seguimos o caminho azul da fada, que novamente estava sendo indicado por mim. Falamos com Dust e entramos no pequeno mundo mágico dentro da Caverna de Cristal, no subsolo de Fantasy. Encontramos os fundadores e começamos a nossa última reunião. Dessa vez iria participar e saberia exatamente o que deveríamos fazer.
— Estão todos aqui? — Ivan olhou ao redor conferindo mentalmente. — Então vamos começar. Leon e Arak, fizeram o que lhes foi pedido?
— Certamente. — Arak falou pelos dois e colocou sobre a mesa uma caixa comprida, não muito larga, que parecia ser realmente antiga. O que era aquilo? O que havia ali dentro?
— Deu tudo certo na fundição e na moldagem? — Ivan analisava a caixa atentamente.
— Sim. — foi a vez de Leon dizer.
— Ótimo. — Ivan sorriu. — Alessia?
— Sim? — falei rápido demais e vários rostos se viraram para mim.
— O plano será o seguinte: irão ao baile apenas você e seu companheiro, Ethan. — tentei não arregalar os olhos quando disse isso, mas meu coração saltou. — Lá dentro, perto da valsa da meia noite, a Rainha subirá até seus aposentos para trocar seu traje e você deverá segui-la. Para isso, Ethan irá causar o máximo de confusões que puder, despistando o maior número de guardas que conseguir, no entanto você ainda terá que lutar contra alguns deles.
— Lutar? Vou ter que lutar?
— Sim.
— Mas não sei lutar!
— Você terá duas espadas, não se preocupe. — como se isso me deixasse mais aliviada. — E também várias facas escondidas no traje.
— O quê?
— Alessia, controle-se! — Ária pediu tocando meu ombro. — Sabemos que não sabe lutar e por isso você deixará que Lewis entre em seu corpo para te orientar.
— Vai usar meu corpo como arma para orientar outras armas?
— Bem... é isso mesmo. — Lewis sorriu, envergonhado e lhe dirigi meu olhar de incredulidade.
— Posso continuar? — Ivan parecia incomodado.
— Pode. — Ária falou antes que mais alguém conseguisse falar.
— Você terá várias facas e adagas escondidas e também duas espadas. Uma das espadas, é uma espada comum feita de prata, mas abençoada com a magia e com esta você enfrentará os guardas. Não hesite em matar se necessário. — senti-me incapaz até de respirar. — A outra espada. — abriu a caixa de Leon e Arak e tirou de dentro dela uma espada medieval com cerca de oitenta centímetros de comprimento, vermelha como sangue. — Com essa espada, você matará a Rainha dos Vampiros. Enfie no coração se conseguir, mas, caso contrário, perfure qualquer parte da pele que terá o mesmo efeito. Será destruída para sempre.
— Não posso fazer isso. — o sangue parecia fugir do meu rosto.
— Não? — Ivan arqueou a sobrancelha confuso.
— Alessia! — Ária olhou para mim com descrença.
— Desculpa, não... — tentei falar, mas Ethan me interrompeu.
— Alessia, pense em tudo que você essa mulher fez e tudo que veio fazendo antes mesmo de você saber da nossa existência. Pense na sua crueldade, na ambição e no sangue frio. Pense no que fez ao Mestre das Sombras e todas as vítimas que ele feriu ou matou. A culpa foi dela! Você mesma disse que a culpa não era dele, mas sim das duas que o controlavam. Provavelmente a Rainha dos Vampiros também controla Leslie e depois que for morta, toda a magia ruim que fez será desfeita. Leslie voltará a ser o que era antes e ...
— Você poderá fugir de Fantasy. Sair daqui e não voltar nunca mais. — Lewis me encarou com a expressão sombria. — A magia que envolve Fantasy contra os humanos será quebrada por um tempo, até que alguém a restaure. Essa será sua chance de fugir.
— Não poderei mais voltar, não é? Por isso não estão felizes com a ideia. — olhei para meus amigos. Julie estava chorando e Camilla estava com os olhos marejados. Os outros estavam com expressões de sofrimento.
— Infelizmente quando a magia for refortalecida, você não poderá mais entrar e nem sair de Fantasy. — foi Ária quem conseguiu falar primeiro. Senti meu coração se apertar e sabia que meus olhos estavam marejados. Por um momento esqueci das facas e das espadas, esqueci de ter que matar outras criaturas, esqueci da crueldade da Rainha. Tudo que tinha em mente era que jamais voltaria a vê-los de novo.
— Não quero ficar longe de vocês e não posso voltar para minha família! Depois de tanto tempo já fui tida como morta. — de repente, sabia qual seria a decisão certa. A decisão que definitivamente mudaria minha vida para sempre.
— Você quer ficar? — Ivan me fitava incrédulo, sem conseguir disfar-
çar.
— Quero. — Deixei algumas das lágrimas escaparem. — Ficarei com
vocês até o fim, porque caso esse plano não funcione ...
— Como assim "não funcione"? — Ivan falou rapidamente.
— Tenho a impressão de que Leslie não está sendo controlada por ninguém. Que é assim porque quer. Desculpa Ária.
— Você está sentindo isso? Como um pressentimento? — Lewis me encarava.
— Sim. Acho que sim.
— Então as chances de estar errada são muito baixas. — Cristian se pronunciou. — Ela tem poderes com a alma.
— Certo. Talvez Leslie seja mesmo má, e se for você irá nos avisar. — Ivan me encarou com um olhar inflexível.
— Tudo bem. Como é o resto do plano e como vou fazer para fugir vestida com um traje de gala?
— Depois que matar a Rainha você irá fugir do castelo com Ethan e Lewis de volta à estalagem, onde Ária estará te esperando. De lá, vocês seguirão para cá e nos contarão sobre o sucesso do plano. Quando sair do castelo, tire a roupa que está usando por cima, o traje de gala, porque por baixo estará usando uma roupa mais fácil para usar em uma fuga. Concorda?
— Sim. Mas quero propor uma coisa.
— Diga.
— Se algo der errado ... prepare todos que estavam do nosso lado, porque teremos que fugir de Fantasy. — encarei a todos um a um, tentando passar confiança.
— O quê? Fugir de Fantasy? — Leon me encarava como se fosse lou-
ca.
— Isso não é plausível! — Arak partiu em defesa dele também.
— Silêncio! — Ivan ergueu a mão e todos se calaram. — A menina está certa em ser precavida. Conheço um lugar para onde poderemos fugir, mas será necessária a magia de todos para nos transportar para lá.
— Para lá onde? — Leon ainda parecia descontente.
— Na hora certa saberão. — e Ivan se voltou novamente para mim. — Traga para cá todas as pessoas que estão do nosso lado.
— Tudo bem.
— Seus amigos ajudarão a falar com essas pessoas. — e assentiram. — Você está mesmo preparada para matar?
— Vou fazer o meu melhor.
— Então a reunião está encerrada. — bateu palmas e todos foram se levantando para voltar ao que estavam fazendo antes.
— Alessia? — Ivan tinha uma expressão firme no rosto, quase inaba-
lável.
— Sim?
— Lewis terá que acompanhá-la desde já.
— Ah. Tudo bem. — tentei sorrir. Então Lewis já começaria a dividir a mente comigo de novo. Se aproximou e me pediu desculpas pelo que teria que fazer. Tentei tranquilizá-lo, mas acho que não adiantou muito. Ivan segurou o medalhão, Lewis contou até três e quando acordei estava com o medalhão dele no pescoço, deitada num divã com outra consciência opinando em minha mente.
Fomos todos embora e ao chegarmos ao castelo, algumas confusões ainda não haviam sido resolvidas, de maneira que pudemos entrar sem guardas nos questionando por onde andávamos e como havíamos saído.
Agora era tudo ou nada. Amanhã teria que me tornar uma assassina
e fugir do covil inimigo (que fora minha casa até agora), para poder salvar um reino da ditadura louca e cruel de sua Rainha Vampira. Isso pode até parecer maluquice para algumas pessoas, mas lá no fundo sempre quis um tipo de aventura assim. Podem me chamar de louca agora, se já não chamaram antes. Isso era para ser engraçado ...
...
Já estava quase pronta para o baile e vestia um daqueles trajes de época (aqueles vestidos pomposos), mas não deixei que ficasse à beira do ridículo. Ficou formal, chique, bonito, mas singelo. Já estava com a roupa da fuga por baixo e com as duas espadas disfarçadas de maneira muito engenhosa nas camadas do vestido. Fora as facas e adagas que estavam escondidas no cinto, o qual estava pendurado na calça legging, abaixo daquele tecido todo, também havia adagas nas botas de couro preto que calçava e nas mangas longas do vestido, presas juntamente ao tecido (e colocado estrategicamente, preso pouco abaixo do decote do vestido, estava um estilete de ponta bem afiada). Estava me sentindo um exército inteiro pronto para a guerra. Estava terminando de colocar os dois brincos pequenos (que na verdade consistiam em duas bolinhas de pérola mágica das sereias, as quais me permitiriam respirar debaixo da água por um tempo caso precisasse), quando bateram à porta. Era Ethan.
— Posso entrar? — já estava dentro do quarto e fechava a porta.
— Já entrou. — riu de leve com seu jeito metido.
— Você está muito bonita.
— Obrigada.
"Também acho. Agora que já terminou de se trocar, já posso voltar a olhar pelos seus olhos", falou uma voz na minha cabeça e só então me lembrei de que Lewis estava habitando meu corpo para me ajudar a lutar.
"Obrigada pela gentileza."
"Apenas gentileza, não. Não precisa agradecer, isso é cavalheirismo", e no mesmo instante pensei em alguém que não seria nada cavalheiro nesse quesito: Ethan.
— Lewis está aí?
— Sim. — falou com a minha boca, mas usando a voz dele.
— Certo. — e assentiu com a cabeça.
"Lewis, não quero ser chata ou ingrata, mas poderia tomar o controle só quando chegasse perto da meia noite? Juro que te aviso no mínimo meia hora antes."
"Certamente. Não quero atrapalhar seu primeiro baile!"
"Obrigada novamente."
"Disponha", e pude imaginar seu sorriso em minha mente.
— E então? Vamos? — Ethan ofereceu o braço para mim.
— Claro! — tentei não ficar mais nervosa do que já estava, mas acho que isso seria impossível. Apoiei meu braço no dele e o segui pelo corredor dando um adeus, que imaginei ser definitivo, para aquele quarto.
Meu coração estava aos pulos enquanto descíamos e seguíamos até o salão de bailes. A decoração estava impecável e as fadas da escola fizeram questão de jogar seu pó brilhante em tudo que podia ser decorado com ele, de maneira que quase tudo no salão estava brilhando de forma surpreendentemente encantadora e, bem mágica.
— Odeio essas cores... — Ethan comentou assim que entramos, mas forçou seu sorriso metido para os conhecidos que cumprimentávamos. Havia sobrado no colégio apenas os alunos em que não confiamos o segredo de nosso plano (infelizmente ainda eram muitos), porque os outros haviam ido se refugiar com Ária e os fundadores.
— Para de ser chato. — sussurrei e apertei de leve seu braço. Seguimos pelo salão até a mesa em que estavam as comidas e bebidas, mas quando ia pegar um refrigerante, Ethan me puxou de leve e sussurrou:
— Não coma e não beba nada.
— Por quê? — e me afastei da mesa junto com ele.
— Pode estar envenenado.
— Acha que a Rainha faria isso? — arregalei os olhos.
— Não, mas Leslie sim. — e nosso olhar foi guiado até onde estava o trono da Rainha, lugar em que estava sentada com Leslie e mais quatro guardas em pé, dois de cada lado.
— Por que faria isso justamente nesse baile? Já não teve outras chances? — falei enquanto começávamos a dançar uma música lenta que estava tocando nesse instante. Estávamos um pouco afastados, mas conseguimos nos disfarçar bem como um casal em meio aos outros.
— Por que acho que ela desconfia de você. Não gosta de você.
— E mataria todo mundo por isso? — senti um calafrio correr pela coluna. Ethan percebeu que estremeci.
— Você está bem? O que houve? — e se aproximou mais.
— Está tudo bem, continue o que estava dizendo. — soltou um suspi-
ro, mas continuou.
— Se jogou alguma magia de envenenamento, essa magia pode ter sido direcionada apenas a você e por isso não funcionará em mais ninguém. — Ah, certo. Entendi.
Dançamos por mais um tempinho e a valsa da meia noite estava se aproximando. Já era quase a hora combinada e pude perceber que Ethan estava tão nervoso quanto eu. Avisei Lewis mentalmente de que estava chegando a hora. Ethan beijou o topo da minha cabeça suavemente e saiu de perto de mim, me indicando apenas a direção que tomar.
"Lewis! Prepare-se!", comecei a abrir caminho entre a multidão, indo
em direção à porta do salão, que levaria ao hall de entrada do castelo-colégio.
— Parada, mocinha! — disse um dos guardas que estavam parados
dos dois lados da porta.
— Aonde pensa que vai? — falou o outro.
— Perdi meu anel no corredor... É um anel muito importante, porque foi minha avó quem me deu. — e fiz uma expressão de tristeza. Sem chance acreditarem nisso...
— Oh! Foi nesse corredor? Acho que podemos ajudá-la...
— Nós não podemos sair de nossos postos!
— Mas se a Senhorita for rápida não haverá problema.
— Está certo. — o outro ainda parecia um pouco descontente. — Mas não demore!
— Obrigada! — sorri da forma mais gentil que consegui e passei para o corredor seguinte, que estava iluminado por velas. Fechei os olhos e pedi para que as sombras, se pudessem me ouvir, apagassem as velas e quando abri os olhos novamente estava tudo escuro. A única iluminação era a luz do luar que provinha das janelas grandes e descobertas.
Segui andando pelo corredor o mais rápido que consegui, com medo de que os guardas resolvessem me seguir, mas no momento que pisei no hall de entrada, ouvi alguns barulhos vindos do salão e raciocinei que Ethan devia ter aprontado a sua distração. Perfeito!
Um pouco mais confiante, porém ainda com uma espécie de bolo na garganta por causa do nervoso, continuei o caminho para onde deveriam estar os aposentos da Rainha. Caminhei até os grandes portais e sabia que naquele corredor encontraria muitos guardas, minha sorte era que Lewis já estava preparado para lutar, mesmo assim quis ajudá-lo. Sussurrei para as sombras deixarem o corredor parcialmente escuro e abafassem qualquer barulho proveniente dali. Meu plano era que conforme Lewis matasse os guardas, os seguintes não ficassem alerta para o próximo ataque.
Esgueirei-me pelas sombras, crente de que Lewis já estaria no comando. Aproximei-me do portal que dava passagem aos aposentos da corte e posicionei minhas mãos como uma japonesa (escondendo-as nas mangas longas, onde estavam as duas adagas). Entrei num pequeno feixe de luz da lua segurando os cabos e assim que o primeiro guarda abriu a boca para falar algo, puxei as adagas e lancei-as uma em cada um dos guardas que protegiam a primeira porta (minha sorte foi Lewis ter me ajudado com a pontaria para acertar-lhes bem na fenda da armadura). Abri a porta com cuidado, sem emitir qualquer ruído e fechei-a logo em seguida. Observei o corredor, onde a iluminação estava bem precária, mas ainda dava para ver onde estavam os guardas, posicionados em pares, um de cada lado das portas presentes ali. Teria que agir depressa.
Tive a sorte de me lembrar de retirar as adagas dos guardas da primeira porta, porque precisei delas depois. A primeira dupla de guardas foi fácil, fiz a mesma coisa que havia feito com os guardas da primeira porta. A segunda, a terceira e a quarta dupla foram silenciadas pelas sombras, que resolveram me ajudar ainda mais do que já haviam ajudado. A quinta e a sexta dupla, Lewis me ajudou a matar facilmente, com as próprias espadas dos guardas que haviam caído anteriormente. Me esgueirava com a cobertura das sombras e num golpe rápido, enfiava a espada pela abertura da armadura. O que me consolava é que morriam instantaneamente e não sofriam muito em sua falência. Fora que, tecnicamente, não era eu quem os estava matando.
Subi as escadas até o quarto da Rainha (que ficava no alto de uma das
torres do fundo do Castelo, a qual nunca havia reparado direito), ajudei os dois guardas da porta a não precisarem mais servir a Rainha e espiei pela fechadura. Já havia terminado de se trocar e estava apenas se perfumando em frente a uma penteadeira de ouro e prata encrustada com joias preciosas.
Segurei a maçaneta com cuidado e virei o trinco devagar, pedi para as sombras me encobrirem uma última vez e entrei fechando a porta logo em seguida, sem emitir qualquer som.
— Quem está aí? — a Rainha falou sem se virar. Senti meu sangue gelar e meu coração estava prestes a pular fora do peito, arrebentando as costelas. — Sei que tem alguém aqui. Quem está aí? — agora havia aumentado o tom da voz e parecia ainda mais poderosa.
Respirei fundo bem devagar e deixei que as sombras me descobrissem. Era agora! Lewis não poderia mais me ajudar, tinha que ser eu! Pelo menos não estava usando armadura. Pense nas coisas erradas que ela fez! Pense em todas as vidas que destruiu! Pense em todas as riquezas que roubou! Junte toda a sua raiva e a destrua!
— Estou aqui! — tentei soar mais corajosa do que realmente era. A Rainha sorria e me olhava pelo espelho.
— Ah... a Humana Híbrida... — disse em tom interesseiro e se virou para mim vagarosamente. — Estava ansiosa para falar com você novamente.
— Não posso dizer o mesmo. — e com calma acompanhei as camadas do vestido até encontrar a brecha de tecido onde estava a espada vermelha. A Espada de Sangue.
— É uma pena mesmo... seria uma ótima vampira caso se permitis-
se... talvez até uma Rainha.
— NÃO DÊ OUVIDOS A ELA! — Leslie entrou pela porta do quarto juntamente ao... Mestre das Sombras...
— Cale a boca! — a Rainha se virou para ela irada. — Você está é com inveja porque sabe que nunca teve potencial para ser uma vampira, muito menos uma rainha!
— Fique quieta sua velha! Você é que não conhece o meu verdadeiro potencial! — Leslie havia cerrado os punhos e encarava a Rainha com um olhar mortal.
"É agora!", Lewis sussurrou em minha mente. "A Rainha está distraí-
da com Leslie."
"Mas... não podemos confiar na..."
"Ataque-a! Agora!", falou alto demais e me senti um pouco tonta.
Respirei fundo novamente e percebi que minhas mãos tremiam, passei a mão direita por debaixo do tecido e segurei o cabo da espada que mataria a Rainha. Ao fazer isso não pude deixar de olhar para o Mestre das Sombras e por isso, quando puxei a espada, pude ver sua expressão ao reconhecer o equipamento. Investi contra a Rainha, mas no momento em que ergui a espada para o golpe final, me viu pelo espelho e foi tudo muito rápido.
A Rainha deu passos para trás e esbarrou na penteadeira, mas ao fazer isso jogou algum feitiço em mim e me arremessou para o outro lado do quarto, fazendo com que a espada caísse em frente aos meus pés. Me sentia completamente desnorteada. Leslie gritou qualquer coisa com a Rainha e o Mestre das Sombras me olhava sem reação, como se não acreditasse no que acabara de se passar diante de seus olhos.
Agora a Rainha havia prendido Leslie com magia e vinha em minha direção. Parou bem na minha frente e não conseguia raciocinar direito. Ergueu as duas mãos, que começaram a brilhar com um misto de vermelho, preto e roxo, no entanto, ao fazer isso, acabou soltando Leslie.
"Chute a espada para mim!" Leslie me pediu em pensamentos. Sem alternativa, mesmo não confiando nela, chutei a espada com o que restava de minhas forças e no momento em que a Rainha se virou para evitar que a espada saísse de seu campo de visão, Leslie a golpeou e ela caiu no chão com um baque surdo, com sangue saindo pelo ferimento e por todos os lugares imagináveis.
Embora não quisesse olhar aquilo, não consegui desviar o olhar. A Rainha dos Vampiros foi ficando cada vez mais pálida e num clarão de luz prateada, duas coisas saíram de seu corpo. A primeira era como sua forma fantasma, mas não pude ver por muito tempo, porque logo aquilo se dissolveu em outro clarão de luz prateada e sumiu.
"Não se preocupe", Lewis falou. "Agora vai passar no mínimo duzen-
tos anos presa na terra dos fantasmas."
No entanto, a segunda coisa que saiu dela foi uma espécie de fumaça vermelha e essa foi serpenteando até Leslie, subiu por suas pernas e entrou em seu corpo pelos olhos, boca e nariz. Foi sinistro e nojento.
— Ah... — Leslie sorriu exibindo duas presas de vampira ao terminar de inalar a fumaça. — Poder... ISSO SIM É QUE É PODER!
— O que foi isso? — estava completamente perdida e comecei a me levantar do chão onde havia caído.
— Isso minha querida, foi a consolidação do meu poder e a minha tomada do cargo de Rainha dos Vampiros e de Rainha de Fantasy. E você me ajudou muito, obrigada. — Leslie sorria e me observava com seus novos olhos vermelhos.
— Oh, não... algo deu errado...
— Como você foi tão gentil em ceder o poder dela a mim, deixarei que tenha uma vantagem para fugir. Aproveite! Assim que terminar o seu tempo, todos os meus guardas irão atrás de você e dos seus amiguinhos conspiradores! — e imaginei ter visto veneno saindo daquelas presas de vampira.
Aquela cobra!
— Devo agradecer agora ou depois? — estreitei os olhos com raiva.
— Não precisa agradecer, mesmo porque... acho que não vai gostar quando seu amiguinho tiver que cortar seu pescoço. Certo, Mestre das Sombras? — e se aproximou dela com um olhar repleto de poder e... Escuridão? Sombras? Trevas!
— É melhor fugir... — ouvir a voz dele daquele jeito foi pior do que se tivessem enfiado uma adaga no meu coração. Estava repleta de um poder sombrio que não combinava com ele.
— Vamos garota! Vou deixá-la no jardim! Tente fugir o mais longe que conseguir! Uma hora vou encontrá-la e você já era! — Leslie deu uma gargalhada típica de vilões de histórias em quadrinhos ou de bruxas de contos de fadas e jogou uma névoa avermelhada em mim. Fechei os olhos e quando os abri novamente, estava no jardim em frente ao castelo e caía uma chuva leve.
— Ethan! Ethan, onde você está?
— Alessia! Estou aqui! — Apareceu à minha direita e me olhou con-
fuso.
— Por que não retirou o vestido ainda? Como conseguiu lutar desse
jeito?
— Dei um jeito! Agora precisamos fugir! Algo deu errado! — puxei-o pelo braço, correndo o mais rápido que conseguia.
— O quê? O que deu errado?
— Leslie pegou a espada, matou a Rainha e de alguma forma agora tem todos os poderes que a antiga Rainha tinha.
— Por que não foi você quem a matou? Tinha que ser alguém de coração puro para brandir a espada e matar a Rainha de uma vez por todas.
— Exatamente. — Lewis tomou minha voz. — Mas como foi Leslie quem a matou, foi condenada ao mundo dos fantasmas.
— Ah, que beleza! Era exatamente isso que estávamos tentando evi-
tar!
— Desculpa! Eu não sabia! Se alguém tivesse me contado alguma coi-
sa sobre isso, teria tentado evitar!
— Tudo bem. Desculpa. Você está certa. Você não sabia. Precisamos avisar os outros! Temos que chegar ao esconderijo!
— E rápido! Me deu tempo para fugir, mas mandará o exército de cavaleiros e o Mestre das Sombras atrás de nós!
— Então é melhor corrermos! — e apertamos o passo.
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