Capítulo 11
As minhas aulas durante a semana foram melhorando. Já não era tão desastrada com feitiços e nem tão ruim na camuflagem. No dia Lovis (a nossa quinta-feira),
— Você tem apreço por quais instrumentos? — disse já na metade da
aula.
— Bem... gosto muito do som do piano.
— Piano... é muito bonito, mas não sei tocar. — admitiu envergonhada.
— Mas temos ótimos alunos que sabem tocar piano e poderiam ensiná-la. — a professora Stella se aproximou de nós com um sorriso. Stella era alta e seu corpo era como o de uma modelo, mas não todo seco e magrelo, tinha corpo. Seus cabelos eram lisos e levemente ondulados no comprimento e assumiam um tom de vinho arroxeado. Seus olhos eram lilases e o cabelo contrastava com a pele clara dela. Usava um visual estilo anos 60 com vestido de bolinhas e sandálias com meias.
— Não sei, professora... acho que não tenho talento para música...
— Besteira! Todos têm algum talento na música, basta encontrá-lo.
— Mas... — tentei argumentar, Julie me cortou.
— Ela tentou quase todos os nossos instrumentos e não conseguiu tocá-los. Conversei com ela, que me falou gostar do som do piano.
— Não que saiba tocar! — acrescentei rápido.
— Tenho três alunos que tocam muito bem e poderiam ajudá-la, mas estão em outro horário de aulas.
— Quem? — Julie a encarou pensativa.
— Ramona, a ninfa do terceiro ano, Lewis, o fantasma do quarto ano
e Zein, do sexto ano.
— Não! Nada disso! Aquele garoto não! Não vai se aproximar dele de novo! Tenho certeza que foi quem a machucou no jardim da escola! — Julie encarou a professora.
— Que horror, Julie! — Stella retribuiu seu olhar. — Como pode acusá-lo dessa maneira?
— Eu vi! E tenho certeza que queria matá-la como já fez com outras
garotas por aí!
— Você não pode ter certeza. — Rrbateu a professora. — Foi realmente esse rapaz quem a atacou?
— Não... não lembro. — menti. Lembrava-me, sim. Sabia que havia perdido o controle e feito aquela névoa escura me atacar, mas que também se arrependeu e se feriu para me curar. "E ele me beijou...", minha mente acrescentou, mas afastei rápido o pensamento.
— Ah! Que seja! — Julie saiu batendo os pés irritada, e foi tocar sua
guitarra no canto da sala.
— Não ligue para ela. — Stella sorriu de leve. — É um pouco estoura-
da.
— É... percebi. — tentei sorrir também.
— Vou conversar com meus alunos e ver qual deles pode ensiná-la a
tocar piano.
— Por mim, tudo bem... — e o sinal tocou avisando o fim da aula.
Na aula de camuflagem, só fui atingida por duas bolas de tinta e o professor elogiou meu progresso. Nas aulas de teatro da semana, fomos tro-
cando de dupla e de cenas, de maneira que não precisei contracenar com Zein novamente, mas os outros alunos se recusavam a fazer dupla ou trio com ele, que era obrigado a encenar sozinho. Sentia um aperto no coração, mas não queria me oferecer para encenar com ele e acabar correndo o risco de uma encenação como a do dia Lunae (segunda-feira).
Tudo estava correndo aparentemente bem e já até havia me esquecido de meus problemas com Ethan e com Zein, o garoto das sombras, quando o intervalo de Veneris (sexta-feira) gerou comentários sobre a minha encenação de Lunae (segunda-feira). Estava com a minha bandeja de comida bem calórica de fast food e me aproximava da mesa dos amigos de Cameron, que agora se tornavam meus amigos também, quando ouvi os comentários e todos olharam para mim.
— Fiquei sabendo da sua encenação. — Cameron sorriu.
— Você é maluca? — Camilla apontou um canudo em minha direção. — Não te falei para ficar longe dele? — Julie parecia irritada.
— Ei! Deixem a menina sentar primeiro! — Ethan gritou, interrompendo-os.
— Sim. Vocês não conseguirão extrair nenhuma informação exclusiva se ela não se sentar e tiver tempo de responder. — Noah sorriu e Lewis confirmou com a cabeça. Sentei-me ao lado de Lewis, que era um dos lugares vagos na mesa de oito. — Bem... agora responda.
— Certo... Ahn... Não, Camilla, não sou maluca. — ela revirou os olhos. — E você se refere à encenação do dia Lunae, Cameron?
— Certamente. É o que a escola toda está comentando.
— A escola toda? — arregalei os olhos.
— Primeiro responda as nossas perguntas, depois faça as suas. — Julie me encarou, séria.
— Ok. Ahn... Você se refere ao garoto das sombras, Julie? — fitei-a enquanto já pensava em uma resposta.
— Sim.
— Não fiquei longe dele porque o professor Thommas nos colocou como dupla para a cena de Lunae.
— Vamos direto ao ponto: vocês se beijaram. — Camilla falou de modo prático fazendo meu rosto corar. Engoli em seco e tive que limpar a garganta antes de responder.
— Ahn... Sim. Era tudo encenação. — mas meu coração insistia que
não fora encenação coisa nenhuma.
— Aham. Encenação. — Julie revirou os olhos.
— Foi tão real que agora estão falando que você será a próxima vítima dele. — Ethan me encarou.
— Não vou ser vítima de ninguém! — de repente, irritei-me com
tantas perguntas.
— Estão dizendo que agora vocês terão que desenvolver essa cena em uma peça para apresentá-la para a escola toda. — Camilla comentou após tomar um gole de seu refrigerante.
— Sim. Fiquei sabendo, mas não vou fazer isso. — dei de ombros.
— Você não tem escolha. — Ethan sorriu ironicamente. — Como assim?
— Leslie quer que vocês façam a peça. Vocês a apresentarão para a Rainha dos Vampiros, que se aprovar, terão que desenvolver a cena em uma peça. — Cameron explicou parecendo incomodado.
— E se não quiser?
— Você não tem "querer". — Ethan deu de ombros.
— Ah, é? E por que não? — e levantei da mesa, irritada. — Por que não tenho escolha?
— Nossa... está estressada por quê? — a voz nojenta de Rachel surgi atrás de mim.
— Estou um pouco sobrecarregada, apenas isso. Não que seja da sua conta, porque nem minha amiga você é. — saí da ala de restaurantes, deixando uma Rachel assustada e meus amigos boquiabertos.
Fui me dirigindo para a sala de música, onde seria a minha próxima aula. Ignorei os roncos do meu estômago, que estava vazio porque deixei a comida intacta e saí correndo do "refeitório". Entrei na sala e não esperava já encontrar a professora Stella lá.
— Ah. Oi. Desculpa. Achei que estivesse vazia.
— Tudo bem, querida. Sem problemas. Entre. — deu tapinhas na cadeira ao lado da que estava sentada. A sala de música tinha isolamento em acústico e mais parecia um camarim de artista do que uma sala de aula. Tinha diversos pufes espalhados, tapetes cobrindo o chão, instrumentos e amplificadores por toda a parte. Sentei-me ao lado dela.
— Obrigada.
— Você não deveria estar jantando?
— É, não estava com fome. — menti com um sorriso, que esperei não
ter saído falso.
— Tem alguma coisa te incomodando... — apesar de ser uma afirmação, confirmei com a cabeça.
— Estão todos surtados porque vou ter que contracenar junto com Zein para a Rainha dos Vampiros.
— E o que tem demais você contracenar com ele?
— Vamos ter que nos beijar. — desviei o olhar e baixei a cabeça, com o rosto corado.
— E todos estão temendo que te machuque ou te mate?
— Sim. — soltei um suspiro triste.
— Não é um garoto fácil de lidar e quando perde o controle pode machucá-la e até matá-la, mas tenho minhas dúvidas quanto a fazer isso porque quer. — Stella segurou minhas mãos entre as dela.
— Também acho isso. Ele me ajudou, professora. Foi quem me feriu no jardim, mas depois me procurou e se feriu para me curar. — tentei conter a frustação e a emoção em minha voz.
— Acredito em você e sei que precisa de amigos. Ficar sozinho só pi-
ora tudo. Precisa aprender a se controlar e se isolar não ajuda em nada.
— Nossa... até parece que você o conhece há muito tempo... — sorri
de leve.
— E conheço. É um de meus melhores alunos e ficamos muito próximos, ele era quase como um filho para mim, mas então... — parou e vi em seus olhos uma sombra de tristeza.
— Então...? — encorajei-a a falar.
— Então descobriram seus poderes especiais e resolveram usar isso. Não sei se estão o testando, mas Leslie e a Rainha o querem afastado de todos os outros alunos. O querem sozinho e ele as obedece, por isso se afastou de mim também.
— Vou tentar ajudar, professora... prometo. — e a abracei. Retribuiu o abraço, então o sinal tocou avisando que a aula iria começar. Os alunos começaram a chegar e nos afastamos.
Lewis, o fantasma amigo de Cameron, entrou na sala e veio até mim, sorrindo. A professora terminou de passar as partituras aos alunos que já haviam encontrado seus instrumentos e depois veio até nós.
— Alessia, este é Lewis. Vai ensiná-la a tocar piano.
— Já nos conhecemos, professora.
— Ótimo! Então aproveitem seu tempo! — e dirigiu-se a um garoto que se atrapalhou com o contrabaixo.
— Desculpa pelas perguntas do pessoal. São muito inconvenientes. — Disse enquanto nos dirigíamos ao piano no canto da sala.
— Tudo bem. Entendo sua curiosidade. — ajeitei-me no banquinho do piano com ele. Começou me explicando os nomes das notas e suas posições e enquanto tocava uma música de maneira completamente precisa, fomos conversando.
— É que você estava realmente irritada quando saiu de lá e bem...
Rachel não deixará barato a maneira como você falou com ela.
— Imagino..., mas não consegui engolir aquela nojenta de novo.
— É realmente difícil aturá-la. — e sorriu docemente.
— Sim... — fiz uma pausa e resolvi falar de uma vez. — Realmente não terei como escapar de fazer essa encenação para a Rainha?
— Infelizmente, não... gostaria de tê-la visto encenando.
— Mesmo? Por quê?
— Acho que você seria uma boa atriz, apesar de apenas vampiros ocuparem esses cargos definitivamente.
— Obrigada. E você é um excelente músico. Nunca vi alguém tocar piano como você.
— Fico grato pelo elogio.
Fiquei observando-o tocar por um bom tempo. A doce música era capaz de fazer você esquecer-se de tudo e querer apenas fechar os olhos e senti-la na alma. Lewis tocava excepcionalmente bem! Senti que poderia ouvi-lo tocar para sempre, mas o sinal tocou novamente, anunciando o final da aula.
— Tenho que ir. Aula de camuflagem. — levantei-me devagar.
— Faço essa aula com você, esqueceu? — e riu enquanto se levantava para ir comigo à próxima aula.
— Ah! É verdade!
Fui muito bem na aula de camuflagem e não saí completamente pintada como antes. O meu problema mesmo foi na aula de teatro, quando o professor anunciou a convocação para que Zein e eu encenássemos para a Rainha.
— Alessia, Zein, vocês terão uma tarefa de honra hoje. — e se aproximou de nós.
— E o que seria? — Zein fitou-o, confuso.
— Vocês irão encenar a mesma cena do dia Lunae para a Rainha dos Vampiros e por isso serão dispensados da última aula. Vistam-se com as roupas que temos aqui no teatro e se arrumem direito, revisem as suas falas improvisadas e preparem-se. Vocês têm quarenta minutos. — deixou-nos a sós.
— Não. Não temos como fugir disso. — Falei de uma vez quando Ze-
in se voltou para falar comigo.
— Não ia dizer nada disso. Só ia discutir com você as roupas que po-
deríamos vestir.
— Ah, sim. Claro. — sorri sem graça.
— Você não queria fazer isso, não é? Não queria encenar comigo. — não consegui decifrar o tom de sua voz.
— Não é isso. Só não queria encenar para a Rainha.
— Deveria ter medo de mim. Deveria me odiar como o resto da escola odeia. — sussurrou de maneira sombria e senti meu sangue gelar.
— Não tenho porque te odiar. — disse quando encontrei minha voz novamente.
— Eu controlo o mal! Como pode não ter motivos para me temer ou me odiar? — havia avançado para cima de mim e estava bem próximo agora. Olhei bem fundo em seus olhos e então toquei seu rosto. Observou o gesto com uma expressão confusa e surpresa.
— Não vejo você como mau só porque você controla essas névoas escuras. — acalmou a respiração e se afastou de mim.
— Pois deveria.
— Tudo bem. Se não quer que me aproxime, eu não vou, mas precisamos encenar direito para não queimar o filme do professor, então vamos logo escolher as roupas que vamos usar e repassar esses malditos textos! — olhou-me surpreso.
— Certo. Vou vestir um daqueles smokings antigos e uma capa estilo Conde Drácula para dar um efeito sombrio.
— Pode ser.
— Acho que você deveria usar um daqueles vestidos de época também, nem muito nem pouco requintado. Menos espalhafatoso e mais ilustre.
O que acha?
— Por mim tudo bem. Onde podemos encontrar essas roupas?
— Vou pegar ali no armário atrás das cortinas. Já volto. — rapida-
mente dirigiu-se para detrás das cortinas.
Sentei em uma das cadeiras do auditório para esperá-lo voltar e então uma menina de cabelos ruivos lisos e olhos esverdeados veio até mim (acho que seu nome era Kelly).
— Você é muito corajosa em contracenar com ele.
— Ahn? — foi a minha resposta brilhante de quem não estava prestando atenção em nada.
— É muito gato e perfeito, mas não ficaria com ele de jeito nenhum. É perigoso e pode te matar a qualquer momento.
— Aham. — falei sem me importar com o que dizia. Já estava cansada
dessa história.
— Matou todas as garotas que se aproximaram dele e feriu todos os garotos que tentaram o mesmo. Se finge de bonzinho, mas não é. Se finge de coitado só para você sentir pena dele e...
— Você pode fazer o favor de calar a boca? — falei um pouco alto demais. A menina me olhou assustada, mas não me importei. Não aguentava mais todos falando mal dele! — Não importa o que ele fez ou deixou de fazer! Não importa o que todos vocês pensam! Acho que todos merecem outra chance e o isolando vocês estão o privando disso. Chega! Só quero ser amiga dele e provar que nem todo mundo é como vocês são. — continuei falando alto sem perceber. Quando terminei, a menina saiu de perto e o professor se aproximou para ver o que estava acontecendo.
— Desculpa. — encolhi-me um pouco, sem graça.
— Tudo bem. Só não grite desse jeito novamente. — o professor se voltou à Jake e Cody, que faziam novamente uma cena de luta.
— Você não precisa ficar me defendendo. — Zein havia voltado com algumas roupas penduradas nos braços.
— Eu só falei o que pensava. — tentei não transparecer a vergonha que sentia por ter ouvido tudo.
— Sim. Gosto disso. — e quando o olhei, completou. — Gosto que diga o que pensa, porque todos aqui são apenas seres manipulados.
— Ah, sim. — e desviei o olhar.
— Aqui. Essa é sua roupa. Veja se serve. — e me entregou um vestido azul escuro um pouco velho, em estilo idade média com as costas e a frente trançadas por cordões brancos e alguns detalhes brilhantes na gola V e nas mangas longas.
— Obrigada. Encontrou a sua?
— Sim. — e estendeu o smoking e a capa. Assenti com a cabeça e me mostrou onde poderia me trocar. Após colocarmos as nossas roupas (que serviram perfeitamente), o professor mandou que ensaiássemos a nossa cena.
— Acho que poderíamos ajeitar as falas. — sugeri pegando um dos cadernos que trouxera junto com as roupas.
— Sim. Podemos mudar um pouco e deixar mais medieval ou parecendo mais arcaico.
Ficamos arrumando o texto pelos minutos restantes e pouco antes de o professor nos levar para a Rainha, repassamos o que deveríamos fazer. O professor nos chamou, após a sala toda sair do auditório e quase nos implorou para que fizéssemos tudo direito como fizemos no dia Lunae. Depois que conseguimos convencê-lo de que faríamos tudo corretamente, nos seguiu junto com Leslie para onde estava a Rainha.
Ao sairmos da sala do auditório, começamos a caminhar pelo que pareceu um longo tempo até chegarmos ao "auditório particular" da Rainha. Passamos pelo hall de entrada e depois seguimos para os fundos do enorme salão, onde havia um portal imenso e completamente decorado com pedras preciosas e ouro. Seguimos por alguns corredores que imitavam esse padrão de luxo repletos de tapeçarias caríssimas e trabalhadas, quadros grandes e emoldurados em ouro e prata e cortinas que pareciam ser costuradas com fios de ouro para cobrir os enormes vitrais dos corredores. Por todas essas coisas imaginei a Rainha como uma mulher velha, extremamente magra e pálida, cabelos grisalhos, olhos cansados, tipicamente esnobe e completamente megera, mas me enganei completamente. Pelo menos na descrição física.
— Olá, meus caros. — uma voz doce, porém cheia de poder, chegou aos meus ouvidos. Vi sentada em uma das cadeiras de ouro do pequeno auditório, uma mulher alta, com longos cabelos pretos presos em uma trança, olhos negros espertos e cheios de poder, uma pele tão clara e lisa, que era quase transparente. Usava um daqueles vestidos de baile da idade média, em preto e vermelho, e seus braços, orelhas, pescoço, e dedos, estavam adornados com joias douradas.
— Vossa Majestade. — Zein falou baixo e ajoelhou-se quando a mu-
lher se levantou e veio até nós.
— Cumprimente-a. — sussurrou Leslie entre dentes.
— Olá, Vossa Majestade. — e a cumprimentei também da maneira como faziam as damas antigamente.
— Pode levantar-se, jovem. — dirigiu-se à Zein, que se levantou no mesmo instante. — E olá, novata. Como você está? Está gostando do castelo?
— Estou bem. Sim, gosto daqui...
— Ótimo! Agora vocês poderiam começar, por favor?
— Sim, majestade. — dissemos simultaneamente.
Leslie e o professor Tom sentaram-se nas cadeiras de ouro na frente do palco (contei doze cadeiras no total) e a Rainha sentou-se entre os dois. Zein foi para detrás das cortinas azuis do pequeno palco que utilizaríamos e então o cômodo ficou todo escuro, apenas havia um feche de luz sobre mim. Comecei a caminhar, fingindo procurar alguém em um lugar sombrio e aterrorizante, mas as batidas do meu coração diziam que não precisava fingir. Logo senti a névoa gélida em torno dos meus tornozelos e pude ver o chão completamente coberto por ela. Cometi o erro de olhar de canto para a plateia e vi Leslie com o olhar estreito, nos analisando, vi o professor Tom assistindo sem conseguir conter a excitação e vi a Rainha olhando curiosa a névoa sob meus pés. Então ouvi a voz suave e sedutora do Mestre das Sombras falar por detrás das cortinas.
"Em noites de frio e de lua fraca, as trevas reinam. Não deverias sair de sua casa e seguir por um bosque escuro e sombrio sozinha. Não tens medo da morte?".
"Eu saí, pois vim atrás de você. O ser que se esconde nas sombras e a todos assusta. O que queres ficando sozinho? Por que tens medo de ser encontrado?", mudei apenas a palavra 'noite' por 'sombras'.
"Não tenho medo de ser encontrado. Ouça a figura do vento uivante. Sinta a penumbra de sombras inquietantes. Siga na noite a imagem de gritos e horror e irás me encontrar", foi a vez dele de responder e senti um arrepio correr a coluna. Sabia o que aconteceria agora. Virei-me como se estivesse atrás de mim, mas me deparei com o nada. Ao mesmo tempo em que ouvi sua voz, senti seus braços envolverem minha cintura e seu hálito fresco roçou meu pescoço quando a luz piscou. "Estou aqui".
Dei um grito agudo como fizera antes, fingindo estar com medo e,
como fizera antes, me virou para ele. Tentei lutar para sair de seus braços, mas me segurou mais forte e me forçou a olhar em seus olhos.
"Você diz ter vindo atrás de mim. Mas se querias me encontrar não poderias ter medo do escuro. Sou um filho da noite", acrescentou a fala como me disse que faria.
"Não tenho medo do escuro. Tenho medo do que as trevas podem fazer a você", respondi como havíamos combinado. Então a névoa formou a mesma mão gigante de antes (com exceção de que antes fora um acidente e agora não era). Arregalei os olhos e gritei ao olhá-la. Ele se virou, me colocando atrás de si para ver o que estava acontecendo. Como antes me mandou fugir e o abracei por trás, contrariando sua ordem.
"Não vou deixá-lo. Vim até aqui para que não estivesse mais sozinho. Não vou largá-lo na solidão novamente", era a fala que vinha agora e, como antes, a névoa rugiu como uma fera e só teve tempo de virar de frente para mim antes da névoa nos jogar longe e dele cair sobre mim de novo. E sabia o que iria acontecer. Meu coração martelava forte contra o peito e estava morrendo de medo de acabar fazendo algo errado e estragar toda a cena.
"Obrigado por se opor aos demais e acreditar em mim, mas agora creio que perdi o controle e não posso protegê-la completamente. A névoa irá te matar e ela sou eu! Eu vou te matar! Eu sou um monstro!", essa era a deixa para minha próxima fala. A névoa vinha se aproximando e senti meu corpo todo tremer de medo. Ele me olhava nos olhos e tive que olhá-lo dessa forma também. Novamente a onda de pena e compaixão me preencheu e recordei minha fala.
"Não tenho medo de você. Você não é um monstro. Você pode controlá-la!", meu coração batia extremamente acelerado.
"Não posso... Era para você ter ido embora e me deixado sozinho. Agora é tarde... Adeus...", sussurrou entre lágrimas e como fizera antes, colou o corpo no meu, me pressionando contra o palco e me beijando intensamente. A névoa investiu sobre nós e quando se dissiparam, as luzes se acenderam e afastou o beijo. Levantamo-nos respirando extremamente rápido e ao nos darmos conta do que estava acontecendo, vimos a Rainha aplaudindo em pé, Leslie a olhando boquiaberta e o professor Tom chorando de emoção.
— Bravo! Magnífico! Vocês dois têm uma química incrível! — falou a Rainha, enquanto agradecíamos. — Quero que os dois façam algumas cenas para mim quando estiver entediada, e quero que desenvolvam essa ideia com os escritores da escola. Vamos fazer uma peça de verdade para vocês encenarem no fim do ano letivo.
— Certo Majestade. — Zein respondeu por nós dois. Apenas confirmei com a cabeça.
— Certamente! Será magnífico! — Tom ainda batia palmas.
— Com toda certeza, Majestade, será algo memorável. — Leslie nos
encarava com um olhar felino.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top