20. A Fantástica Fábrica de Unicórnios

          Antes dos magos terem tempo de agir, um estrondoso rangido reverberou por toda a torre. Regina se lembrou do som do toque da campainha de mais cedo, porém, desta vez, era contínuo, como um apito estridente que preenchia o ambiente. A Feiticeira, reconhecendo de imediato o sinal de alerta para invasores indesejados em sua mansão, agiu rapidamente movida pelo desespero. Pegou sua bola de cristal posicionada ao lado de seu pé, eufórica para descobrir a identidade dos novos invasores que adentraram sua propriedade.

          No entanto, antes que pudesse contemplar a visão através da bola de cristal, as invasoras surgiram pela porta, escancarando-a sem cerimônia. Treze bruxas surgiram no salão, voando com destreza em suas vassouras. Seus trajes negros e chapéus pontiagudos destacavam-se no ambiente fúnebre, enquanto brandiam suas varinhas mágicas com rigidez.

— Se afastem deles! — Uma das bruxas gritou, direcionando a fala ao grupo de Regina.

          Regina conseguiu se soltar da mão de pedra que a agarrava ao bater suas asas com demasiada força. Imediatamente cada um dos seus aliados tomaram distância dos sete magos, que olhavam incrédulos a presença das bruxas. Com um gesto sincronizado das representantes do Capeta, acompanhado pelo balançar grácil de suas varinhas, uma poderosa magia foi lançada. Diante dos olhos perplexos dos sete magos, um imenso escudo triangular se materializou no ar, envolvendo-os em uma redoma semitransparente. A magnitude desse encantamento era impressionante, e o escudo reluzia com uma aura mágica intensa.

          Cada bruxa permanecia montada em sua respectiva vassoura, pairando no céu, enquanto mantinham suas varinhas erguidas em direção ao escudo. Era visível a concentração em seus rostos determinados, uma vez que cada uma desempenhava seu papel para garantir que a barreira permanecesse intacta e intransponível, impedindo qualquer tentativa de fuga dos magos aprisionados em seu interior.

— O que diabos está acontecendo aqui?! — Bridge quem questionou para as mesmas de sua espécie. A Feiticeira encarava a todas com desprezo e frustação, banhada na mesma ignorância que a bruxa aliada de Regina.

          Moria sorriu com a chegada das bruxas, dando um suspiro de alívio que tudo havia dado certo. O vampiro desfez suas asas e retornou ao solo, ajudando Larry a se reerguer conforme o menino retornava a forma humana após ter sua perna machucada por Verde Claro.

— Antes de termos saído de Transilvânia, fiz um pedido a Katherine. Deixei-a responsável por concertar o farol ao topo de nosso castelo, e, caso não recebesse noticiais nossas em breve, o acendesse. O farol que no passado usávamos para chamar as nossas antigas aliadas, as bruxas, para lutar ao nosso lado. Pensei que poderíamos reatar a aliança entre vampiros e bruxas ao retornar ao trono, e usar da ajuda delas contra a Feiticeira — Moria respondeu.

— Em um primeiro momento, estranhamos quando vimos no céu o holofote com o símbolo de uma vassoura — Uma das bruxas falou, mantendo sua varinha apontada para o escudo. — Não o víamos há séculos, desde que aquele mentecapto do Drake tomou o trono dos vampiros, quando nossa aliança foi rompida. Nos mandaram para averiguar, e uma nova surpresa recaiu a nós quando percebemos que a muralha feita de chocolate havia sido derrubada. A mesma que foi feita para impedir que nos aproximássemos do seu reino, já não existia mais.

— Foi quando a vampira morena nos contou — Outra bruxa começou a falar. De imediato Moria se deu conta de que ela se referia a sua amada. — Disse que vocês estavam vindo para a mansão da Feiticeira. E o que mais nos surpreendeu foi saber que logo Bridge, a mais odiosa entre nós, estava junto ao seu grupo.

— Por mais que nos doa dizer isso — Uma terceira bruxa falou, direcionando o olhar para Bridge —, estamos em débito com você. E odiamos ficar em dívida com quem quer que seja. Mesmo esse alguém sendo você

— Nos diga Bridge, por que salvou nossa vida no castelo Alvarez?

          Foi então que caiu a ficha para Regina. As treze bruxas que estavam ali presentes, unidas para protegê-los dos magos, eram as mesmas que haviam compartilhado um destino semelhante ao seu na fatídica fogueira da praça do castelo Alvarez. Da mesma forma que as bruxas, a menina virou a cabeça para Bridge a fim de descobrir por que logo a renegada em seu clã poupou suas vidas quando poderia simplesmente ter dado no pé na ocasião.

          Bridge, por um breve momento, pareceu acuada e inquieta diante dos questionamentos. Seus olhos revelavam um misto de nervosismo e hesitação, enquanto sua mente trabalhava freneticamente em busca das palavras adequadas para finalmente revelar a verdade. A Feiticeira, que já tinha conhecimento das verdades que Bridge havia tentado ocultar por tanto tempo, olhava para todos com desprezo.

— Eu... Eu estava me sentindo sozinha — Bridge finalmente criou coragem de revelar sua verdadeira natureza. — Passando tanto tempo solitária nas montanhas Rubrique, afastada de todo o meu clã, tive apenas a companhia de minha gata Christie por séculos. Queria poder voltar a ser aceita por vocês. Esse é o propósito pelo qual aceitei vir com eles até aqui. Uma vez que trouxesse os magos até vocês para poderem se relacionar com eles, achei que seria o suficiente para me aceitarem de volta!

          Bridge vacilou o olhar, sentindo-se profundamente humilhada por ter exposto seus sentimentos diante de todos. O ato de revelar seu maior ponto fraco, o medo avassalador da solidão, parecia tê-la deixado vulnerável e exposta. No entanto, ao olhar para Lemoy, encontrou compaixão em seus olhos, mesmo que nenhuma palavra tenha sido dita pelo pirata.

          As demais bruxas, longe de demonstrarem deboche, deixaram transparecer sorrisos genuínos e singelos. O gesto das bruxas trouxe um certo conforto a Bridge. Regina, por sua vez, sorriu para ela com sinceridade e alegria. Ver que a renegada em seu clã também possuía um coração e se permitia mostrar vulnerabilidade trouxe uma sensação de conexão.

— Vamos segurar eles — A bruxa de cabelo longo azul falou, parecendo ser a líder entre aquele grupo, enquanto se referia aos magos. — Não vamos poder nos mexer enquanto a magia estiver ativa. Se qualquer uma de nós hesitar e o escudo for desfeito, os magos escaparão.

          Os magos finalmente compreenderam o propósito que levou o grupo de Regina até aquele local para resgatá-los. A constatação também de que não possuíam habilidades suficientes para escapar daquele escudo mágico trouxe uma espécie de liberdade paradoxal aos ex-bruxos. Agora, não se tratava apenas de uma questão de recusar ou desobedecer às ordens da Feiticeira. Era uma realidade inegável que eles estavam impotentes naquela situação, incapazes de se libertar por conta própria.

          Com uma fúria descompassada, a Feiticeira ergueu-se lentamente de sua poltrona, compreendendo que teria que agir por conta própria diante das circunstâncias. Regina, observando ao seu redor, testemunhou cada um de seus aliados lutando para se erguer do chão com dificuldade, determinados a continuar a batalha. Todos exibiam marcas de feridas e machucados, exceto ela mesma e a bruxa, que pareciam estar em melhores condições físicas para enfrentar o desafio que se aproximava.

— Bridge, você tem alguma magia capaz de se livrar deles? — A loira voou ao lado da bruxa, sussurrando em seu ouvido para apenas ela escutar.

          Bridge sorriu perversa, entendendo de imediato o que a adolescente queria dizer com aquilo. Se virou bruscamente e então apontou a varinha em direção aos seus próprios aliados. Lemoy, Larry, Moria, Glória, Tolkien e Ossudo olharam espantados para ela quando sua varinha foi direcionada para suas direções.

— Peguem seu banquinho, e saíam de mansinho 🎶 — A bruxa conjurou sua magia em direção ao sexteto.

          Uma poderosa ventania irrompeu, empurrando cada um deles em direção à porta atrás deles. Alguns foram lançados para o corredor externo, incapazes de resistir à força do vento. No entanto, Lemoy se agarrou a um pilar da sala, lutando bravamente contra a ventania causada pela magia da bruxa. Larry agarrou as mãos na cintura de seu capitão para se manter firme e não ser arrastado para fora.

— O que está fazendo?! — Lemoy perguntou, enquanto a ventania cortava seu rosto.

— Vocês já fizeram demais. Esse tempo todo. Agora é minha vez de lidar com ela. Não posso deixar que se machuquem mais — Regina falou, atrás da bruxa a fim de não ser afetada pelo vento.

— Você está cometendo um erro, "Gina"! — Larry gritou.

          Lemoy lutou bravamente contra a força do vento, porém seus dedos acabaram cedendo contra sua vontade, perdendo suas forças e sendo arrastado juntamente com seu aprendiz para fora da sala. No momento em que foram lançados no corredor, a porta se fechou magicamente, trancando-se, e instantaneamente a ventania cessou dentro da sala.

          Regina e Bridge, com uma determinação inabalável, viraram-se rapidamente apenas para se depararem com a Feiticeira já pairando no ar acima delas. Sem perder tempo, Regina desdobrou suas asas e ergueu-se no ar, encontrando o olhar desafiador da Feiticeira em meio ao céu.

          Bridge montou em sua vassoura, pronta para decolar e unir-se a Regina no céu. No entanto, ao tentar impulsionar a vassoura para cima, ela simplesmente não respondia, permanecendo teimosamente no chão.

— O que houve? — Regina perguntou.

— Merda. Eu usei meus poderes ao máximo, e agora eles se esgotaram — Bridge respondeu lá debaixo, em tom de frustação. — Vou precisar de um tempo até eles recarregarem. Você terá que dar conta dela sozinha até lá.

          Regina dirigiu seu olhar lentamente em direção à sua rival, completamente atônita. O sorriso vitorioso estampado no rosto da Feiticeira não poderia ser maior, pois ela percebeu a grande tolice que Regina havia cometido ao se desfazer de seus aliados. Agora, a jovem estava prestes a enfrentá-la sozinha, enquanto as demais bruxas e magos observavam impotentes, conscientes de sua própria incapacidade de intervir naquele confronto.

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          Lemoy pressionava com firmeza as duas maçanetas da porta dupla, lutando para adentrar de volta à sala de estar privativa, mas seus esforços eram constantemente frustrados. Moria observava-o com desaprovação, considerando-o um troglodita. O vampiro balançava a cabeça em negativa, enquanto o pirata persistia em sua tentativa de derrubar a porta, dessa vez empregando toda a força de seu corpo.

— Desista. A porta está selada com magia, você não vai conseguir abrir — Tolkien disse, tentando fazer o pirata suspender o ato.

          Por um breve momento, Lemoy suspendeu suas ações, refletindo sobre como poderiam ajudar. Ele tinha plena convicção de que Regina cometera um equívoco ao impedi-los de lutar ao seu lado. Mesmo feridos, reconhecia que suas chances de vencer a Feiticeira seriam maiores se permanecessem unidos. Sua expressão era de desespero enquanto inspirava profundamente.

— Edward, eu lembro de ter visto uma outra porta naquela sala. Aquela que ficava atrás da escadaria. Só temos que encontrar sua entrada, e poderemos entrar de volta — Glória disse, pousando no ombro de Lemoy.

          Como um lampejo e resquício de esperanças, os olhos azuis do pirata brilharam. Concordaram em se dividir em duplas, a fim de buscarem a localização da porta secundária da sala.

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          A Feiticeira exibiu seu poder de transmutar fazendo surgir uma miríade de facas em um espetáculo aéreo, lançando-as em direção à jovem alada. Regina, em pleno domínio de suas habilidades de voo, batia as asas de plumas com destreza, voando em alta velocidade. Utilizando sua agilidade e perícia adquiridas como corredora, ela executou movimentos precisos, escapando habilidosamente de cada lâmina, uma após a outra.

          Bridge estendia sua varinha ao alto, desesperadamente tentando lançar algum feitiço, mas nada emergia da ponta da varinha mágica. Suas energias estavam exauridas e sua capacidade de conjurar magia ainda não havia sido restaurada.

          Frustrada por não ter conseguido acertar nenhuma das facas em Regina, a alquimista canalizou sua ira e concentração em sua bola de cristal, fazendo-a flutuar da poltrona e lançar-se velozmente em direção à loira. O movimento foi tão rápido que Regina mal teve tempo de reagir, só percebendo a esfera em rota de colisão quando já era tarde demais. O impacto da bola de cristal contra sua cabeça resultou em uma rachadura no objeto e uma dolorosa ferida em sua testa, fazendo o sangue escorrer de sua cabeça.

          Aproveitando-se da distração da Feiticeira, que estava repleta de confiança, Regina retirou uma faca afiada que estava escondida em suas costas. Era uma faca que ela havia secretamente pegado no ar enquanto estava em fuga. Com precisão, arremessou-a em direção à Feiticeira, conseguindo atingir sua bochecha, deixando um rastro de sangue no local.

          Antes que pudesse sequer saborear o êxito de seu primeiro golpe, a Feiticeira, com sua habilidade telecinética, lançou Regina pelo ar, impulsionando-a com o poder da mente. A jovem garota foi arremessada violentamente contra a parede atrás dela, colidindo e dando um gemido doloroso.

— Mesmo não conseguindo ler suas mentes, é perspicaz que estão pensando em como está sendo impossível me derrotar. Lamento dizer que a única arma capaz de me ferir profundamente está aprisionada lá embaixo — Com um sorriso sarcástico a Feiticeira apontou para a redoma na qual os magos estavam confinados.

          Regina olhou para baixo com esforço e avistou o mago Azul segurando a espada Excalibur. Justamente a arma que no livro original o príncipe Charles usou para derrotá-la. Foi nesse momento que Azul, ao ouvir sua chefe mencionar a impossibilidade de ler os pensamentos das inimigas, se deu conta do pétaso mágico na cabeça da garota.

— Essa arma, assim como seu chapéu, foi criada pelo nosso antigo mestre, Merlin — Azul explicou, olhando impotente para a espada em sua posse. — Merlin forjou a Excalibur justamente para poder matar a Feiticeira.

          Regina ficou surpresa. Não sabia dessa parte da história. Mas por que ele faria isso?

— Foi aquele velho miserável quem me incentivou a abandonar a magia das trevas e me tornou sua aprendiz — A Feiticeira, ao levitar diante de Regina, deu seguimento com o relato. — Ele queria desenvolver algum tipo de magia que não requisitasse dos princípios da magia negra, por isso vendo meu alto potencial, me convidou a embarcar com ele no aprendizado da alquimia.

"O velho se decepcionou quando, depois de um tempo juntos, descobriu que eu estava determinada a conquistar a imortalidade, a qualquer preço que custasse. Não tendo se adaptado ao princípio de troca de lei de equivalência da alquimia, e desprezando minhas ambições, ele partiu.

"Passou a estudar os princípios da magia branca, se tornando assim o primeiro mago de Fantasia. E em meio a isso criou quatro relíquias que pudessem me matar, ao se dar conta de que eu era um perigo iminente tanto para ele quanto para a humanidade. Algum guerreiro, portando a Excalibur com seus poderes mágicos, poderia me matar de forma furtiva usando o anel da invisibilidade e se aproximando rapidamente com as botas da velocidade. Além disso, o pétaso mágico impediria que eu lesse o pensamento desse dito cujo, sendo assim incapaz de impedi-lo de ser assassinada".

— Infelizmente os itens mágicos se perderam com o tempo, antes que Merlin encontrasse alguém digno da missão — Roxo disse de forma enfadonha. — Conhecemos ele apenas após isso. E, tempos depois, ele foi assassinado pela Feiticeira.

— Sabendo dos perigos que a Excalibur possuía, a Feiticeira nos fez ir atrás da espada. Uma vez em nossa posse, não podemos a ceder nem usar contra ela própria por estarmos presos a esse maldito contrato — Vermelho explicou.

          Um sorriso triunfante iluminou o rosto da Feiticeira enquanto observava o olhar frustrado de todos na sala. Seus olhos então se voltaram para a redoma que abrigava a pedra filosofal, contando os minutos ansiosamente até que o artefato estivesse pronto para ser utilizado.

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          Em busca da entrada secundária da sala privativa, Ossudo e Larry se depararam com um buraco na parede que se assemelhava à entrada de uma caverna. Era uma abertura estreita, exigindo que se agachassem para atravessá-la. Larry mancava ligeiramente, uma vez que sua perna estava ferida, ainda assim acompanhou seu amigo pela passagem secreta. Ao saírem de lá, seus olhos se iluminaram ao depararem-se com uma sala completamente coberta de chocolate. Árvores feitas de chocolate, um majestoso riacho desse mesmo composto e até mesmo o chão embaixo de seus pés era feito desse delicioso doce.

          Aquela fábrica dentro da mansão se estendia como uma floresta interminável, perdendo-se de vista ao longo de muitos metros à frente. Era impossível discernir o seu fim desde a entrada. Em cada direção que lançavam o olhar, uma visão deslumbrante de chocolate se revelava.

— Eu morri e vim parar no paraíso? — Larry admirou fascinado.

— A Feiticeira odeia as bruxas, mesmo que originalmente fosse uma. Não me admira que tenha uma fábrica própria para usar de arsenal contra as bruxas caso invadissem a mansão — Ossudo observou, dando uma mordida em seguida em um galho de chocolate.

          Enquanto Larry se aventurava pelo caminho, seus olhos se maravilharam com uma visão surreal: arcos de alcaçuz coloridos se erguiam como estruturas mágicas à sua volta.

          Continuando sua jornada, o menino notou figuras diminutas à distância. À medida que se aproximava, percebeu que esses seres tinham pele alaranjada, dando-lhes uma aparência peculiar e distintiva.

— O que é aquilo? — O metamorfo perguntou para Ossudo, apontando em direção aos trabalhadores da fábrica que cantarolavam.

— Oompa-Loompas¹ — Ossudo disse ao reconhecer a raça deles, enquanto tirava seu próprio rosto de dentro do lago. Sua face estava toda coberta de cauda de chocolate.

          Assim que os Oompa-Loompas avistaram as duas criaturas se aproximando, eles ergueram as mãos ao alto em sinal de alarme e começaram a correr desesperadamente, buscando se afastar o mais rápido possível. As pequenas figuras alaranjadas rapidamente desapareceram no horizonte.

          Sem tempo para se deterem na fuga dos Oompa-Loompas, a dupla foi imediatamente atraída por uma visão impressionante mais à frente. Lá, diante deles, estendia-se um carrossel colossal, semelhante aos encontrados em parques de diversões, mas em proporções grandiosas. Dezenas de criaturas de cor branca, semelhantes a cavalos, estavam acorrentadas ao imponente artefato, girando ininterruptamente sem controle dos próprios corpos. O que as diferenciava dos cavalos comuns era a presença de um único chifre pontiagudo e colorido em suas cabeças.

— Unicórnios malditos, unicórnios malditos. Venham com a gente girar. Odeio chocolate, e alcaçuz. Não podemos sair do lugar²🎶— Em coro, todos os unicórnios cantavam a mesma música repetidamente, como se já estivessem delirando de tanto tempo naquele local.

— Minha nossa senhora... Os unicórnios... Eles haviam desaparecido de Fantasia há anos! — Ossudo exclamou, perplexo. — Eles estavam aqui esse tempo todo.

          Larry e Ossudo observavam chocados os unicórnios girarem, seus chifres emitindo um brilho intenso em direção à barra central. Esse movimento dos unicórnios gerava energia, que era redistribuída para a estrutura de cobertura conectada ao teto da sala.

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          Com seu olhar vidrado na pedra filosofal, era como se a Feiticeira rezasse para todas as divindades que os "99.9%" se tornassem "100%" no painel eletrônico ao seu lado o mais rápido possível.

— Não é feitiçaria, é tecnologia³ — A Feiticeira explicou para Regina, por mais que a loira não tivesse perguntado. — Bom, na verdade é um misto dos dois. Por anos estudei sobre a alquimia apenas para conquistar a imortalidade. Consegui até mesmo transformar chumbo em ouro, sendo essa a forma como comprei essa mansão. Mas, a pedra filosofal requisitava de uma troca equivalente muito maior do que eu tinha a oferecer.

"Foi então que descobri que os chifres de unicórnios tinham propriedades mágicas capazes de gerar energia suficiente para lapidar a pedra filosofal, servindo também para o princípio de lei de troca de equivalência. Depois de os sequestrar e os obrigar a gerarem energia para mim, precisei de anos para que ela ficasse pronta".

          Regina, com sangue escorrendo da testa, lançou um olhar de desprezo para a mulher que exibia orgulho em seu plano diabólico.

— E o que vai acontecer depois disso? Depois que você se tornar imortal e puder usar da alquimia indiscriminadamente. Vai querer dominar o mundo?

— Dominar o mundo? Acha que sou uma vilã de algum livro infanto-juvenil? — A Feiticeira riu em deboche. — Tudo o que quero é viver eternamente e de forma pacífica em minha residência, longe de tudo e de todos. O que me difere de vocês é que não vejo mal nenhum em eliminar moscas no meu caminho. Vocês e Merlin não são diferentes, bonzinhos demais para o meu gosto. Lhes falta ódio em seus corações.

          Regina fixou seu olhar nela, determinada a não permitir que ela escapasse impune. Os atos de assassinato, sequestro e manipulação não passariam despercebidos. Embora não fosse uma justiceira, Regina não encontraria paz consigo mesma se deixasse a Feiticeira sair ilesa.

          A alquimista fitou Regina com um olhar fatigado, enquanto uma espada em chamas surgia em sua mão. O ciclo de transmutação brilhava no chão, revelando o custo em sua vitalidade. Consciente dos limites de seu uso da alquimia, a Feiticeira não podia mais transmutar indiscriminadamente sem sofrer graves consequências, não antes de conquistar a imortalidade.

— Raios e trovões! — Um raio atingiu a mão da Feiticeira a eletrocutando e fazendo com que a espada caísse. — Não se esqueça de mim, Lilith.

          Bridge exibiu um sorriso ao ver sua própria ação, aproveitando o último vestígio de sua magia para desarmá-la. A Feiticeira olhou furiosa, incomodada não apenas por ter sido atingida, mas principalmente por ter sido chamada pelo seu nome de batismo. Com o poder da telecinesia, ela lançou Bridge contra a parede, fazendo-a colidir e cair no chão.

          A Feiticeira voou rapidamente em direção a Regina, mas a garota conseguiu lançar um soco em seu rosto enquanto ela se aproximava, fazendo seu nariz sangrar. No entanto, a Feiticeira segurou firmemente o cabelo loiro de Regina, puxando-o para trás e inclinando sua cabeça.

— Vamos ver se é valentona sem suas asas de mosca morta.

          A Feiticeira envolveu o braço em torno do pescoço de Regina, impedindo sua fuga. Com a outra mão livre, começou a puxar violentamente as asas da jovem. Uma dor lancinante tomou conta de Regina enquanto suas asas eram arrancadas de suas costas, como se estivessem cortando um membro do seu corpo.

          As bruxas observaram a cena com incredulidade, incapazes de intervir. Embora não fossem santas, não podiam compactuar com as crueldades da Feiticeira, ao mesmo tempo que não poderiam sair de sua formação. Bridge lutou para se levantar e então ergueu sua varinha no ar, mas sua magia não fluía. Suas energias estavam completamente esgotadas, deixando-a em desespero.

◅♞

          Enquanto Ossudo lutava para libertar os unicórnios das correntes pesadas que os prendiam, Larry virou-se para trás, fixando o olhar no horizonte. Ele sentia que Regina estava em perigo.

— A Regina... Ela está com problemas! Eu só preciso... — O jovem garoto colocou a mão por dentro da túnica a fim de retirar algo de dentro dela, mas a mesma mão foi puxada para fora por dedos esqueléticos. Ossudo puxou o garoto em direção ao carrossel.

— Se quer ajudar a Regina, temos que libertar os unicórnios! — Ossudo disse com rigidez, forçando o menino roedor a ajudá-lo a tirar as trancas dos cavalos chifrudos.

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          A Feiticeira deleitava-se de alegria após arrancar e jogar as asas de Regina para baixo. A jovem tinha o rosto banhado em lágrimas, suas costas sangravam, e só conseguiu permanecer no ar porque a Feiticeira a mantinha levitando à sua frente.

          Da mesma forma, a Feiticeira fez com que Bridge também levitasse, levando as duas para o fundo da sala. A dupla estava completamente impotente, sem controle sobre seus próprios corpos.

          Após descer ao solo, e caminhar pela escadaria com passos firmes, a Feiticeira se aproximou da sua poltrona e habilmente transmutou uma ponte de pedras suspensas no ar ao seu lado direito. Ela parou na borda da ponte, com os corpos de Regina e Bridge flutuando à sua frente. Logo abaixo delas, o imenso caldeirão de ácido borbulhava ameaçadoramente.

— Pobre Dorothy⁴ — A Feiticeira desdenhou de Regina, a apelidando com o nome de tal personagem fictícia. Bridge a olhava com uma fúria nunca antes vista. — Se você fosse mesmo a Dorothy, voltaria para casa e teria um final feliz. Pena que não é ela. Após uma longa jornada em busca da "cidade das Esmeraldas", tudo que a aguardava era um destino trágico.

          Antes que a Feiticeira pudesse soltá-las em direção ao caldeirão, a porta atrás delas foi abruptamente escancarada, emitindo um estrondoso barulho. O som dos cascos de cavalos ecoou pela sala, enquanto dezenas de unicórnios galopavam furiosamente em direção à mulher que os havia mantido aprisionados por tanto tempo. Com seus chifres erguidos, os unicórnios subiram as escadarias em alta velocidade, em uma demonstração de fúria e vingança. Ossudo estava montado em um dos unicórnios, liderando a carga.

          Em um momento de desespero, a Feiticeira percebeu que os unicórnios estavam livres e fora de seu controle. Seus olhos se voltaram rapidamente para a redoma de vidro do lado oposto, temendo que não tivesse tido tempo de a pedra ter sido energizada completamente. Um suspiro de alívio escapou de seus lábios quando ela viu o painel ao lado da redoma exibir "100%". Com isso, a Feiticeira liberou sua mente, fazendo com que Regina e Bridge, que estavam suspensas no ar, caíssem em direção ao caldeirão.

— Moria!! — Lemoy, que vinha junto aos seus aliados logo atrás dos unicórnios, gritou para o vampiro agir.

          Apesar de suas asas feridas, o vampiro se ergueu no ar mais uma vez. Com agilidade, ele segurou a loira enfraquecida em seus braços e a levou em segurança até o solo.

          Com coragem, Lemoy saltou sobre as bordas do caldeirão, ciente de que qualquer descuido poderia custar sua vida. Mesmo sem tocar o ácido, suas botas começaram a derreter com o contato da borda, queimando suas solas e sentindo seus pés se queimarem de igual forma. No entanto, isso não o deteve. Estendendo os braços, ele alcançou a bruxa que caía na nuvem de fumaça do caldeirão. O equilíbrio escapava de suas pernas, que começaram a fraquejar. Justo no momento em que o corpo ferido da bruxa tocou suas mãos, Lemoy perdeu o controle e caiu para trás. Tanto o pirata quanto a bruxa aterrissaram no chão, sãos e salvos.

          Com um sorriso alucinado, a Feiticeira usou de seu poder mental para atrair a pedra filosofal em sua direção. O rubi mágico estilhaçou a redoma voando de encontro a sua dona. No entanto, antes que o artefato alcançasse suas mãos, um unicórnio chegou até ela. O chifre do unicórnio montado por Ossudo perfurou seu abdômen. Um após o outro, os chifres continuaram a atingi-la, impulsionados pela força dos unicórnios. O corpo ensanguentado da Feiticeira tombou para baixo, desprovido de controle sobre sua levitação devido à falta de estabilidade. Ela caiu em direção ao caldeirão de ácido.

          Com precisão, Ossudo e os unicórnios conseguiram parar a tempo na ponte, evitando uma queda perigosa. Enquanto isso, o rubi vermelho, atraído pelo poder telepático da Feiticeira, caía de igual forma, um pouco mais à frente. Mesmo em queda livre, ela esticou seus dedos desesperadamente no ar, tentando alcançar o precioso objeto.

          As bruxas, que mantinham os magos presos, também fixavam seus olhares na cena. Larry, Tolkien e Glória se juntaram ao pirata e ao vampiro ao lado das duas protegidas, posicionando-se próximos ao caldeirão.

          O corpo da Feiticeira mergulhou no caldeirão de ácido, provocando uma violenta reação que fez o líquido borbulhar como um gêiser. A densa fumaça e os respingos de ácido impediram que vissem com clareza se a Feiticeira havia conseguido pegar a pedra antes de cair. Bridge sentia o desespero tomar conta dela, pois se sua rival tivesse tocado na pedra, significaria que agora ela seria imortal e invencível. A incerteza pairava no ar, aumentando a tensão do momento.

          O desespero se tornou ainda maior quando a fumaça passou a se dissipar, e uma sombra em pé atrás dela começou a tomar forma.

— Desgraça!! — Mesmo ferida, Bridge ergueu sua varinha para o caldeirão. Suas mãos tremiam, e mesmo com o ato, tinha plena certeza de que estava sem seus poderes naquele momento.

          Contudo, o alívio veio quando a sombra revelou-se ser Dog, trajando uma roupa amarela canina de proteção nuclear que lhe permitia caminhar pelo ácido sem sofrer danos. Com sua foice nas costas, a Morte caminhou corajosamente através da substância corrosiva. Enquanto o corpo da Feiticeira, ou Lilith como costumava ser chamada quando era uma bruxa, se dissolvia no caldeirão. Os gritos de alegria ecoaram pelo salão ao perceberem que a ameaça havia chegado ao fim. A pedra filosofal permaneceu intocada, pois Lilith encontrou seu destino antes de alcançá-la. O rubi mágico derreteu-se junto com ela, afundando no ácido.

          Em meio a alegria, Lemoy e Bridge se abraçaram. Quando se deram conta do que haviam feito, ambos se separaram rapidamente. Olhando um ao outro com desprezo, e então virando seus rostos.

          Finalmente as treze bruxas baixaram suas varinhas, encerrando o escudo que mantinha os sete magos presos. Eles já não eram mais uma ameaça. As lágrimas fluíam livremente dos ex-bruxos, não apenas em virtude de sua libertação física das bruxas, mas principalmente pela libertação de suas mentes do domínio da Feiticeira.

— Mimosa?! — Ossudo exclamou ao avistar sua antiga amiga próxima a escadaria. O esqueleto correu e abraçou a vaca alada, enquanto chorava de alegria.

          Laranja correu em direção a Regina, preocupado com a gravidade de seus ferimentos. Ele retirou uma pequena runa de cura de seu chapéu e a aplicou cuidadosamente nas costas da jovem. Uma onda reconfortante de alívio percorreu o corpo de Regina, conforme a magia da runa começou a agir. A dor que a assolava gradualmente desapareceu, substituída por uma sensação reconfortante de cura e restauração.

          Os demais magos se aproximaram deles.

— Somos muito gratos pela sua ajuda — Violeta disse, conforme Regina se erguia recuperada. A garota sorriu para os magos.

— Porém, sinto em lhe dizer, não poderemos ir com você — Azul quem proferiu tal fala, desmanchando automaticamente o sorriso da loira. — O fato de termos abandonado a magia das trevas e termos nos tornados magos é porque...

— Porque nós sete somos gays! — Amarelo exclamou, de braços cruzados. — As bruxas estavam a todo momento querendo acasalar. Sem saber como dizer a elas a verdade, decidimos fugir. Por isso, não temos como sermos usados como moedas de troca no seu acordo com as bruxas. Não podemos nos tornar parceiros sexuais delas.

          Regina ficou atônita diante da situação. Ela se viu diante de um dilema angustiante: por um lado, sabia que não poderia forçar os magos a serem algo que não eram, mas, por outro lado, isso significava que toda a sua jornada até ali parecia ter sido em vão. Sem o apoio dos magos, as bruxas não iriam ajudá-la a retornar para casa.

          Bridge, atenta à conversa deles, se afastou de Lemoy e dirigiu-se em passos decididos em direção às treze bruxas que pousavam suas vassouras no chão.

— Está bem, Bridge. Você está desbanida. Pode voltar ao clã das bruxas — Uma delas disse ao ver Bridge se aproximar. A asmática sorriu com sua fala, mas logo em seguida mostrou determinação no seu olhar.

— Sei que não é do nosso feitio ajudar humanos, mas... Quero pedir que ajudem a menina a voltar para casa. Ela é diferente. É mais corajosa que qualquer humano que já vi, mais forte do que qualquer um que já enfrentei... E, talvez, uma amiga leal...

          As bruxas ficaram surpresas diante das palavras de Bridge. Regina também exibiu uma expressão de choque ao presenciar essa cena inesperada. Moria, desfazendo suas asas em um movimento gracioso, avançou em direção ao grupo das bruxas.

— Gostaria de pedir o mesmo. Sou Moria, o atual governante da Transilvânia e líder dos vampiros. A fim de reestabelecer a aliança entre nossas raças, peço que considerem ajudá-la.

          Por um breve momento as bruxas pareceram ponderar. Aquela que tinha cabelo azul quem respondeu após um tempo em silêncio:

— Sabe, nem estávamos interessadas nos magos mesmo. As coisas mudaram desde sua ausência, Bridge. A maioria de nós está aderindo à provações carnais com humanos e outras espécies — Ela então falou em tom baixo, parecendo sussurrar um segredo: — Dizem por aí, inclusive, que a Elara está saindo com um gigante. Eu sei, bizarro né?

— Ajudaremos a garota — Uma outra bruxa respondeu de forma seca, sendo mais direta na decisão delas.

          Regina abriu um sorriso radiante ao ouvir aquelas palavras. Com Dog aconchegado em seus braços, seus olhos lacrimejaram de animação. A visão de seu retorno para casa parecia mais tangível do que nunca. Lemoy e Larry se aproximaram, compartilhando do mesmo sorriso contagiante, expressando seu apoio e alegria pela jovem.

          Foi nesse momento que Regina teve uma súbita lembrança de que ainda faltava algo crucial para concluir sua jornada. Havia uma peça importante que ainda precisava ser encontrada antes que pudesse retornar ao seu mundo. Determinada e com um olhar sério, ela fixou seu olhar nas bruxas.

— Tem só mais uma coisa. Quando a vidente na ilha de Comodo leu meu futuro, ela disse que eu precisava de três entidades para voltar para casa. Vocês, as bruxas, a Morte — Ela direcionou o olhar para o vira-lata em seus braços —, e por fim o príncipe de Fantasia. O que ocorre é que desde que beijei Charles quando cheguei nesse mundo, e ele se transformou em sapo, não faço a menor de ideia de onde foi parar. Ele está desaparecido.

          Uma expressão de desconforto atravessou o rosto de Lemoy quando ele ouviu falar sobre o beijo que Regina deu no príncipe. Um sentimento indefinido o incomodou, mas ele preferiu guardar seus pensamentos para si mesmo.

          Enquanto isso, as bruxas baixaram os olhos, transmitindo silenciosamente que não possuíam magia necessária para localizar alguém desaparecido. Essa revelação deixou Regina apreensiva.

— Quanto a isso, nós podemos ajudar — Roxo falou, dando um passo à frente. Novamente o brilho no olhar de Regina voltou.

— Um amigo nosso, ou melhor, um antigo amigo de Merlin pode ser capaz de resolver seu problema — Azul mencionou, sem que Regina soubesse sobre quem se referia.

— Para isso, temos que ir em um lugar. Não se preocupe, não vai precisar ter mais uma longa jornada para chegarmos lá — Vermelho falou sorridente.

          O mago de vestes vermelhas ergueu seu grimório de encantamentos, cujas páginas estavam adornadas com inscrições místicas. Concentrando-se na leitura das palavras antigas, ele desencadeou um poderoso feitiço. Diante dos olhos de todos, um portal materializou-se no ar, emanando um brilho azul vívido, enquanto seu interior se perdia na escuridão do desconhecido. Regina não pôde deixar de pensar o quanto esses portais teriam sido úteis no passado, imaginando todas as situações em que teriam poupado tempo e esforço, levando-a diretamente aos lugares desejados.

          Silenciosamente, os sete magos avançaram em direção ao portal, sem pronunciar uma palavra. Um por um, eles desapareceram ao atravessar a barreira mágica. As treze bruxas, seguidas por Bridge, seguiram o mesmo caminho, entrando no portal sem hesitar. À medida que cada um cruzava a fronteira, eles desvaneciam da vista, deixando para trás apenas a sensação de sua presença anterior.

          Os unicórnios, em gesto de agradecimento, inclinaram suas cabeças diante de Larry e Ossudo, expressando sua profunda gratidão. Com a sensação de liberdade em seus corações, os unicórnios galoparam em direção a porta buscando a saída da mansão, ansiosos para desfrutar da vastidão da natureza. Após isso Larry acompanhou Lemoy através do portal. Ossudo segurou a coleira de Mimosa com firmeza, levando-a consigo pelo portal mágico, garantindo que ela também desfrutasse de sua recém-encontrada liberdade.

          Regina, Tolkien, Glória e Moria foram os últimos a atravessarem o círculo mágico, desaparecendo da mansão e indo em direção ao desconhecido.

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          Regina emergiu no ar, suspensa em uma enorme lantejoula reluzente. A estrutura que se estendia à sua frente parecia escadas, embora se entrelaçassem em várias direções, criando um labirinto complexo. Todo o ambiente ao redor era banhado por um branco intenso, contrastando com a pele pálida de Larry. Não havia paredes, ainda que todo o ambiente emanasse aquela cor. Abaixo deles, um vazio profundo parecia não ter fim. O espaço estava repleto de relógios flutuantes, variando em tamanho e estilo. Relógios pequenos, relógios de parede imponentes e até mesmo relógios cucos se misturavam na paisagem surreal. Cada tic-tac ecoava no ar, criando uma sensação de tempo suspenso.

          Regina estava repleta de questionamentos, sem saber ao certo se ainda estava em Fantasia ou em outro mundo. Porém era difícil cogitar que os magos possuíam o poder de conjurar um portal para fora do livro, nem mesmo sabia se o Autor tinha essa capacidade. Com mais dúvidas do que respostas, a menina e seu grupo seguiram os passos dos magos, que saltavam habilidosamente entre as lantejoulas suspensas, avançando em direção à única casa visível nas proximidades.

          Em uma imensa lantejoula suspensa no ar, destacava-se uma modesta, porém encantadora, casa. Suas paredes eram de madeira desgastada pelo tempo, mas ainda emanavam um calor acolhedor. Enquanto os magos se aproximavam, a porta da casa se abriu magicamente, como se esperasse ansiosamente sua chegada.

          Diante da porta da casa, os viajantes depararam-se com uma criatura extraordinária e peculiar. Era um relógio com pernas, um ser completamente formado por intricadas engrenagens em movimento. Seu formato redondo e metálico contrastava com o manto azul que vestia elegantemente em suas costas. O que mais chamava atenção era seu bigode exuberante, composto por pequenos ponteiros que se moviam em perfeita sincronia. Ao vê-los se aproximando, o relógio sorriu com uma expressão acolhedora.

— Há quanto tempo, Chronos! — Azul o saudou.

— Seiscentos e dois dias, trezes horas, dezoito minutos, quarenta e três segundos e vinte e seis milissegundos para ser mais precioso — O Senhor do Tempo evidenciou o fato de ser minucioso em relação ao tempo. — Há que devo a honra, meus caros?

— Essa garota — Verde Claro colocou as mãos sob o ombro da loira acuada, a trazendo para o ladrilho em sua frente. — Precisamos que você a faça voltar no tempo. Ela precisa voltar para o passado — O olhar de Regina se arregalou com a fala dele.

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¹ Oompa-Loompas: São personagens do livro Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate, que recebeu duas adaptações de filme de mesmo nome. Na obra são trabalhadores da fábrica de chocolate.

² Unicórnios Malditos: Referência a propaganda viral da Nissan de 2011 "Pôneis Malditos".

³ Não é Feitiçaria, é Tecnologia: Referência a celebre frase das propagandas que a Feiticeira fazia.

Dorothy: Citação da protagonista do livro O Mágico de Oz, no qual Dorothy acaba parando na Terra de Oz. O destino final de Dorothy é justamente a Terra das Esmeraldas para poder voltar para casa. 

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