11. Parangaricutirimirruaro
Após deixarem a ilha de Comodo de forma furtiva, o trio de Regina se esgueirou de volta para as minas escuras da caverna subaquática. Vivenciando novamente seu pesadelo nos trilhos, dessa vez a tríade passou pela passagem que os levaria de volta para o Reino de Fantasia. Lemoy e Larry foram orientados a permanecerem escondidos próximos ao caís, uma vez que eram criminosos extremamente procurados na cidade.
Regina se surpreendeu com a felicidade dos moradores de Fantasia. Todos falavam sobre o fato do navio dos piratas Lemoy ter naufragado, acreditando que haviam se livrado de uma vez por todas do pirata que tanto os atazanava. Apenas a garota loira sabia da verdade. Se sentiu uma péssima pessoa ao esconder da bondosa Bárbara Zaira a verdade quando retornou para passar a noite em casa. E se sentiu pior ainda ao roubar comida enquanto ela dormia, para levar até ao caís e alimentar o ex-capitão pirata e o menino rato.
Foi pouco antes do nascer do sol, quando todos de Fantasia estavam dormindo, o momento em que eles deixaram o Reino. Levaram um pouco mais da metade de um dia para chegar ao destino deles. Passando pela floresta Esmeralda e então subindo a cansativa montanha Rubrique. Ao pico da montanha estava o casebre que buscavam. Chegaram em frente à porta no exato momento em que as estrelas começaram a iluminar o céu noturno.
A habitação rústica era a única construção em meio ao esverdeado cenário campestre. A choupana feita de madeira não aparentava do lado externo ser tão grande. O que foi uma surpresa para o trio ao abrirem sorrateiramente a fresta da porta; que não possuía tranca alguma, ao se depararem com uma sala imensa. A magia lançada pela bruxa dona daquela residência dava a impressão de que seu lar era bem menor e bem mais precário por fora, do que ele era realmente por dentro.
— Quem está aí? — A bruxa Bridge, dona do casebre, questionou ao ouvir um barulho vindo da direção da porta.
Bridge ergueu a cabeça, que até então estava direcionada a um caldeirão que borbulhava conforme ela mexia com uma longa colher de pau. Seu cabelo escuro cobria parte da maçã de seu rosto. Regina, Lemoy e Larry ficaram imóveis, temendo pela ferocidade daquela mulher de vestido lilás.
Miaaaau
— Ah, é você Christie? — Bridge se tranquilizou, pegando sua familiar preta que ronronava e se esfregava em sua perna. Com "a gata Christie" em suas mãos Bridge tornou a mexer a colher no caldeirão em movimentos circulares.
Do lado externo Regina suspirou de alivio, dando um passo para trás. Porém, não havia se dado conta que Larry; em sua forma humana, estava bem atrás dela. Ao esbarrar no garoto acabou perdendo o equilíbrio, caindo no chão e derrubando consigo o metamorfo e um balde de metal que estava próximo a ambos.
— Quem está aí?! — A bruxa tornou a repetir, dessa vez mais irritada, olhando em direção a porta.
Lemoy aproximou-se da fresta da porta, colocando ambas as mãos em forma de cone sobre os seus próprios lábios, falando com uma voz grossa:
— Outro gato! ¹
Regina bateu com a mão na própria testa. Bridge pegou rapidamente sua varinha de cima da mesa, erguendo-a em direção a porta. Conjurando uma magia na qual escancarou a porta, estando visível aquelas três pessoas paradas diante de sua humilde residência.
Christie se soltou dos braços de Bridge, correndo para cima de Larry. O menino se escondeu atrás de Lemoy. A felina sentia o cheiro de rato vindo das vestimentas brancas do garoto roedor. Regina suspirou, se levantando do chão e caminhando para dentro da casa mesmo sem ser convidada. Lemoy a seguiu, acompanhado de Larry que segurava a parte traseira de sua jaqueta de couro enquanto a gata tentava arranhá-lo.
Ao adentrarem Regina notou o quão pouco iluminado aquele ambiente era. Fazendo se recordar da sua breve, e recente, estadia na loja da vidente. Uma vez que a casa de Bridge era iluminada por velas, alocadas em castiçais estrategicamente posicionados ao redor da sala. No centro do ambiente estava o caldeirão de metal, na parede alguns quadros – Em especial um que tinha o símbolo de um pentagrama. Uma estante com vários livros também se fazia presente ao canto da sala, bem ao lado de uma cama de gato.
Uma neblina fraca se fazia presente no ambiente, pois a bruxa havia colocado alguns incensos pela casa. O que fez com que Regina se questionasse qual o sentido de alguém que tem asma usar incensos em sua residência. Claramente um furo de roteiro ocasionado pelo Autor.
— Ora, olha só quem temos aqui — Bridge empinou seu nariz, que já era bem avantajado, em direção a loira. De braços cruzados apenas direcionou os seus olhos negros ao homem de barba próximo a menina — Esse olhar de prepotência, essa barba mal feita, esse hálito de bebida barata. Você só pode ser um pirata! ² — Bridge concluiu, lançando um olhar de desprezo para Lemoy, que estava há poucos centímetros de distância da bruxa.
O pirata encarou Bridge de volta, com suas testas quase se encostando. O que aquela bruxa tinha de bela tinha de ordinária.
— Ah é? E você só pode ser uma... Só pode ser uma... — Lemoy gaguejava enquanto pensava em como retrucar a mulher que possuía um sorriso de desdém estampado em seu rosto.
— Capitão! — Larry gritou.
— Isso! Você só pode ser uma capitão. Não, pera. O quê? — Lemoy se virou em direção ao seu aprendiz, se dando conta só então que a gata havia o derrubado, começando a arranhar seu rosto com suas garras. Bridge soltou uma gargalhada. Quando a tosse se fez presente em meio a sua gargalhada, a mesma pegou de sua mesa uma bombinha para asma, aspirando enquanto pressionava um botão do equipamento.
Antes que Lemoy pudesse chegar até o garoto para o socorrer, um pequeno ser adentrou a choupana voando através da única janela do recinto. Com ambas as mãos erguidas a fada Glória arremessou uma rajada de vento que fez com que a gata Christie voasse em direção ao rosto de sua dona. Bridge, enraivecida, retirou seu animal de estimação de sua face com sua mão direita, colocando-a no chão.
Bridge ergueu sua varinha em direção a pequena fada de trinta centímetros de altura. Glória, por sua vez, ergueu as palmas das suas mãos de encontro a mais alta.
— Parangaricutirimirruaro! ³ — Bridge recitou sua magia. No mesmo instante uma luz vermelha, em forma de raio horizontal provinda de sua varinha, colidiu com uma luz amarela que vinha das mãos da fada.
— É hoje que os direitos autorais vão comer solto para cima do Autor... — Regina falou pra si mesma, batendo com sua mão em sua própria testa ao reconhecer de onde o Autor se inspirou para criar o nome dessa magia.
As magias de ambas se chocavam em meio ao ar do casebre da bruxa. A luminosidade era tanta que qualquer um que chegasse nas proximidades repentinamente acharia que estaria ocorrendo ali a abertura do Super Bowl.
— JÁ CHEGA!! — Regina esbravejou. Bridge tinha um sorriso de canto formado em seu rosto, permanecendo com sua varinha erguida sem mover um músculo. Glória, por outro lado, levou um pequeno susto com a gritaria de Regina.
Com a distração sua magia, provinda da natureza, se enfraqueceu dando margem para o feitiço de Bridge a atingir. Invés de ser arremessada foi agarrada por uma longa mão de partículas vermelhas que surgiu da magia de Bridge, sendo então levada até a dona daquele poder. Com aquele ser enfraquecido em sua mão física, a bruxa pegou um pote vazio de cima da mesa prendendo a fada por debaixo dele, com o vidro virado ao avesso, sobre a mesa.
Lemoy tentou avançar em direção a mesa para resgatar sua amiga, mas Regina interpôs-se, impedindo-o de prosseguir. Por hora, se essa era a única forma de acalmar a bruxa, era melhor que deixasse as coisas como estavam. Bridge pegou o pote com a fada em suas mãos, virando-o e fechando com uma tampa. Ficou contemplando a fada capturada batendo de leve no vidro com sua unha longa. Tinha conhecimento que os poderes de Glória não eram suficientes para que ela escapasse daquele pequeno receptáculo. A fada batia com ambas as mãos, de dentro do vidro, tentando em vão escapar. Os xingamentos que direcionava à bruxa eram inaudíveis para quem estava do lado de fora do pote.
— Agora me dê um bom motivo para não matá-los — Bridge direcionou o olhar para Regina, que engoliu em seco antes de responder.
— Preciso de sua ajuda. Por isso viemos até aqui — Regina respondeu sem hesitar, dando um passo para frente.
A menina tratou de explicar para a bruxa sobre o fato de uma vidente ter feito uma premonição no qual um dos requisitos para voltar ao seu mundo seria com o auxílio das bruxas. Certamente ocultou alguns detalhes, como a existência do Autor e o fato deles todos estarem presos dentro de um livro.
— Enfim, decidi vir atrás de você primeiro. Eventualmente terei que encontrar o príncipe Charles. Quanto a Morte, como ele é o cachorro da senhora Bárbara não terei nenhum trabalho quanto a localizá-lo — Regina concluiu.
— Ou podemos simplesmente atrair a Morte ao matar alguém. Quem sabe algum rato imundo — Bridge lançou um olhar acusatório para Larry, que se escondeu atrás de Lemoy com medo. A bruxa então deu uma gargalhada, tornando a olhar para a loira — Está maluca se pensa que irei te ajudar a retornar ao seu mundo. E mesmo se eu aceitasse, o que não é o caso, nem mesmo os meus poderes como bruxa são o suficiente para conjurar um portal para outro mundo. Algo dessa magnitude seria possível apenas se todas as bruxas de Fantasia se juntassem e unidas usassem de suas magias para abrir uma porta para outra dimensão.
— Nesse caso você pode convencer elas de me ajudarem, né? — Regina sugeriu, com certo entusiasmo em seu tom de voz. Mais uma vez Bridge deu uma gargalhada, com sua bombinha de asma por perto caso precisasse.
— Acho que não me ouviu direito quando falei que não a ajudaria de maneira alguma.
— Mas você me ajudou no castelo Alvarez! Resgatou a mim e as outras bruxas quando estávamos para ser queimadas vivas.
— Nunca mais mencione isso novamente, fedelha! — Com certa fúria Bridge apontou o dedo em direção a menina. A bruxa começou a andar de um lado para o outro da sala, ainda segurando o pote com a fada prisioneira — Mesmo se eu aceitasse te ajudar, o que não é o caso, não posso convencer as demais bruxas. Elas me odeiam. Assim como odeiam todos os humanos. A única forma de fazerem o que você deseja seria dando a elas a única coisa que almejam.
Regina acompanhava a bruxa com o olhar, conforme ela se movimentava. Curiosamente a gata da bruxa fazia o mesmo, sentada no chão próxima a sua dona.
— Nós bruxas temos o tempo de vida bem diferente dos humanos comuns. Vivemos por vários séculos. Eu mesma ainda sou bem jovem, tenho apenas duzentos anos...
— Está só o pó da rabiola — Lemoy falou, de braços cruzados, dando um assobio em seguida. Apesar de usar do dito popular para debochar de sua aparência, não era o que ele achava de fato. Bridge tinha uma beleza que, caso fosse humana, qualquer um diria que ela não teria mais do que trinta anos.
— Apesar de vivermos muito as demais bruxas temem que nossa espécie chegue ao fim. Isso pois não há outros bruxos para se relacionarem e procriarem. As chances de se nascer uma garota ao invés de um menino, provindo da relação de uma bruxa e um bruxo, é de noventa e nove por cento. Dessa forma, restou apenas sete bruxos no nosso mundo.
"Esses bruxos, entretanto, há alguns anos abdicaram da magia das trevas. Influenciados por um velho maldito chamado Merlin, os únicos bruxos existentes abandonaram a magia oculta e se tornaram magos. Uma vez que as bruxas não querem de jeito algum se relacionarem com humanos, já que nasceria dessa relação uma criança impura, os sete magos são a única opção de nossa espécie não ser extinta. Apesar de serem magos atualmente, se forem convencidos eles podem refazer o pacto e voltarem a ser bruxos.
"Apesar do que possa parecer, nós bruxas honramos com nossa palavra. Não é à toa que salvei sua vida naquela ocasião. Se trouxerem os bruxos de volta para elas, certamente farão o que você deseja. Mas, o mesmo não serve para mim. Não ligo a mínima se nossa raça for extinta!".
Lemoy se aproximou do caldeirão, analisando o conteúdo que borbulhava ali. Em seguida olhou para a gata no chão. Com um sorriso em seu rosto o pirata olhou para Bridge, falando:
— Será mesmo? Tem passado os últimos dois séculos sozinha. Vivendo com gatos, e cozinhando sopa nesse caldeirão velho. Aposto que está louca para desencalhar. Quem melhor para isso do que algum dos sete bruxos? — Lemoy sorriu, fazendo o rosto da bruxa ficar vermelho.
— Calado, lobo do mar! Mesmo se quiserem procurar os magos, não será tarefa fácil. Eles atualmente estão trabalhando diretamente para a Feiticeira — Após falar isso Bridge se sentou em uma cadeira de madeira próxima ao caldeirão.
Regina ficou embasbacada. No livro original a Feiticeira era a vilã final da história. Na história após o príncipe Charles ser despertado do sono profundo por Jasmine, e pouco depois do Dragão Vilgax ser preso no povoado de Fantasia, o príncipe e sua noiva embarcaram em uma aventura atrás da maquiavélica Feiticeira que estava causando problemas para o Reino. Charles conseguiu derrotá-la usando a espada Excalibur, trazendo assim um final feliz para o seu povo.
Entretanto Regina estava confiante de que poderia haver um resquício de bondade na maior vilã do mundo de Fantasia. Se Vilgax, Lemoy e Bridge compadeceram dos bonzinhos em dado momento dessa nova versão do livro, o mesmo poderia ocorrer com a Feiticeira.
— Ela era uma bruxa — Bridge prosseguiu, com seu braço apoiado no encosto da cadeira na qual estava sentada — Éramos da mesma turma na escola de magia e bruxaria. Porém, em certo momento, ela deixou a magia das trevas de lado se tornando alguém ainda mais poderosa. Utilizando dos princípios da alquimia, hoje ela é a entidade mais poderosa de nosso mundo que tenho conhecimento. A única e detestável Feiticeira.
Enquanto se levantava Lemoy correu para perto dela retirando o pote de sua mão repentinamente, abrindo sua tampa. Enfurecida Glória se libertou do seu confinamento, abrindo suas asas policromos, voando próxima ao pirata.
— Edward!! Vim assim que as Ninfas da floresta Esmeralda, que escutaram a conversa de vocês, me contaram o que você estava tramando. Como pôde cogitar a possibilidade de se unir a essa bruxa?! Tolkien ficaria decepcionado se soubesse — Ao citar esse nome Glória ficou automaticamente cabisbaixa. Era como se ele trouxesse memórias de algo do qual ela não queria mexer. Regina arqueou a sobrancelha, sem saber de quem se tratava o homem mencionado por ela.
Regina teve a plena certa de que precisavam embarcar nessa viagem. Se preciso enfrentariam a Feiticeira para que os magos pudessem ir embora com eles. Regina estava determinada a isso. Seu olhar valente era inconfundível. Bridge deu um leve sorriso, se recordando que o mais fez ela admirar a menina foi justamente sua coragem.
— Bom, talvez eu vá com vocês. Assim finalmente terei oportunidade de me vingar da maldita Feiticeira. Quando estudávamos juntas ela tentou me matar colocando chocolate na marmita que fez para mim. Por puro sadismo. Onde já se viu? — Disse Bridge, pegando seu chapéu pontudo no cabide próximo a porta. Uma frase quase irônica uma vez que ser sádico era uma característica bem comum das bruxas, incluindo da própria bruxa de cabelos negros.
— Aham, sei — Falou Lemoy que claramente acreditava que o real motivo de Bridge os acompanhar era para tentar arrumar uma alma gêmea. Sem que qualquer um dos presentes suspeitassem da verdade que Bridge escondia...
— Não confio nessa meretriz aí não, Edward. Irei junto para ficar de olho nela. Um movimento suspeito e acabo com a vida dela — Glória disse, ainda brava, voando em zigue-zague ao redor dele e de Regina.
As fadas não costumavam se meterem em assuntos mundanos. Entretanto, se tinha algo do qual as fadas possuíam em comum com as pessoas normais era o fato de abominarem as bruxas com toda a força do seu ódio.
A garota de cabelos cacheados sorriu. Estava acontecendo. A jornada para retornar para casa estava tendo início. Bridge, por outro lado, olhou para ela seriamente. Como se estivesse prestes a jogar um balde de água fria em seus planos.
— Não achem que será tão simples. A Feiticeira é extremamente poderosa, não sei nem se teremos chances contra ela. Além do mais a mansão onde ela vive fica localizada ao extremo Oeste de Fantasia. Uma jornada que levará vários dias. E mais importante do que isso, teremos que passar por um local impenetrável. Com muros cobertos por chocolate impedindo que os poderes das bruxas surtam efeito. No Reino da Romênia: Transilvânia, a cidade dos vampiros. Apenas seres de sangue frio são permitidos entrarem na fortaleza. Eles possuem um acordo com a Feiticeira e com os magos, no qual são os únicos que tem a permissão de passarem pelo seu Reino. A única outra maneira de chegar até a mansão sem passar pela cidade dos vampiros seria dando a volta em meio ao oceano, mas isso levaria quase metade de um ano.
Lemoy pareceu entusiasmado com a possibilidade, uma vez que viagens longas em alto mar faziam parte de sua rotina. Enquanto Regina relutou completamente a ideia de ficar tanto tempo naquele mundo.
— Podemos levar alho para eles, fazê-los se exporem ao sol, usarmos estacas de madeira, jogar água benta... Alguma dessas opções deve dar certo — Larry sugeriu. Christie olhou para o menino. Temendo um novo ataque do animal, Larry mais uma vez se escondeu por de trás de Lemoy.
— Vampiros são bem prevenidos. Não dá para achar que será tão descomplicado... Mas, acho que tive uma ideia — Regina falou com um sorriso no rosto. Todos olharam para ela.
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Bridge deu carona em sua vassoura mágica para Regina, enquanto Lemoy e Larry; frustrados, tiveram que descer a pé toda a montanha, acompanhados de Glória. Não tendo que passar a pé pela montanha Rubrique em pouquíssimo tempo Regina conseguiu retornar para a cidade de Fantasia.
A menina adentrou sozinha um bar da cidade. Sentado em um banco em frente ao balcão de madeira do bar estava o homem que ela procurava, com uma túnica tampando quase que completamente o seu rosto.
— Moria! Está de noite. Não precisa se esconder do sol com essa roupa — Regina chegou até o vampiro como se tivessem toda a intimidade do mundo.
Retirou a túnica escura da face dele, onde pela primeira vez viu seu rosto claramente. Uma pele muito mais pálida que a de Larry, tão branco que poderia jurar que ele tivesse jogado farinha na cara. Outras partes de si que chamavam a atenção eram suas orelhas pontudas, caninos bem grandes e chamativos em sua boca e um cabelo lilás penteado para trás. O vampiro tímido a fitou por alguns instantes se recordando que ela era a garota que caiu do céu há alguns dias atrás.
— Aqui está sua bebida — Do outro lado do balcão o barman levou um copo com sangue para o vampiro.
— Ossudo! Não sabia que trabalhava aqui — Exclamou Regina.
— Veja se não é a pequenina — O esqueleto tocou na ponta do nariz dela. Ele tratou de correr para um outro lado do balcão, trazendo para ela um copo com suco de manga — Como é menor de idade é tudo o que posso oferecer.
— O-Obrigada — Regina bebeu o conteúdo do copo em sinal de educação, se segurando para não fazer cara de nojo. Ora, quem é que gostava de suco de manga?! Ela então voltou sua atenção ao vampiro: — Moria, irei direto ao ponto. Ouvi falar que você se tornou um vampiro vegano...
— Não é o que está pensando! Esse sangue é de um animal que já havia morrido. Eu jamais mataria uma criatura para me alimentar — Moria tratou de se justificar, temendo que ela estivesse ali para lhe julgar.
— Não é isso. Não trabalho para o Ibama. O foco é: você era para ser o herdeiro do castelo dos vampiros na Transilvânia. Uma vez que é descendente direto do Drácula. Mas, foi expulso de lá quando se manifestou contra atacarem seres humanos para se alimentarem. O que me diz? Estaria disposto a ir até o seu país de origem reaver o trono que é seu por direito?
Moria começou a tremer, bebendo o liquido de seu copo e derrubando aos poucos parte dele no balcão conforme cogitava a possibilidade, como se sofresse de Mal de Parkinson. Além de tímido Moria certamente era bem medroso.
— E-Estou bem aqui onde estou. Todos me tratam bem em Fantasia...
— Conta outra. Nenhum vampiro gosta de ter que andar com vestes tampando o seu rosto para qualquer lugar que vá. Sei que sente falta do seu Reino. Estou disposta a ir contigo — Regina evitou mencionar que tinha segundas intenções na sua suposta "empatia" pelo vampiro.
— Ela tem razão, meu bom amigo — Ossudo se aproximou, retirando o seu avental da sua cintura esquelética — Estou bem entediado por aqui. Eu topo ir junto, se isso o deixará mais confiante.
Regina deu o sorriso mais forçado de sua vida. Desde quando ela havia recrutado o ex-Morte para ir com eles? Entretanto, aparentemente a motivação que o esqueleto deu para Moria surtiu efeito. O vampiro se levantou da cadeira, olhando para a garota e assentindo com a cabeça. Moria queria a todo custo reaver o que era seu por direito.
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Naquela madrugada os membros do seu grupo estavam a postos em frente à saída da cidade de Fantasia. Regina se despediu de Bárbara, apenas lhe informando que as peças para seu retorno para casa estavam próximas de serem conquistadas. Carregando uma grande e pesada mochila de escoteiro nas costas, trajando uma blusa de frio e uma calça jeans Regina se aproximou dos seres que a aguardavam.
O Dragão Vilgax estava no topo da enorme torre do relógio da cidade os observando, com suas asas inclinadas sobre o seu próprio corpo. Na entrada da cidade estavam as sete criaturas excêntricas que tinham como destino a mansão da Feiticeira: a fada mal-humorada Glória, o capitão pirata Edward Lemoy, o metamorfo Larry, o ex-ceifador da morte Ossudo, o herdeiro do trono dos vampiros Moria, a bruxa Bridge e a menina que veio do outro mundo Regina Monroe.
— E lá vamos nós!⁴ — Disse Bridge, assim que Regina chegou. Posicionando sua vassoura, prestes a montar nela.
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¹ Outro Gato: Referência a uma cena de Chaves em um episódio onde as crianças vão até a casa da bruxa do 71.
² Frase dita por Bridge: Referência a uma cena de Harry Potter e a Pedra Filosofal, quando Draco Malfoy conhece Roney Weasley.
³ Parangaricutirimirruaro: Feitiço utilizado pela Bruxa Baratuxa em Chapolin Colorado.
⁴ E lá vamos nós: Frase dita em um episódio de Pica-Pau por uma Bruxa.
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