O FAMILIAR
COMENTAR FAZ BEM PARA A SAUDE - Diz estudos.
Capítulo 1 — O Familiar
O clima mudou imediatamente. Um raio de sol brilhou por entre as árvores aquecendo a pele do bruxo, que soube no mesmo minuto que ele se aproximava.
Não precisava de magia, cartas ou sementes para saber que em poucos minutos tudo mudaria. Os gatos que costumavam ficar em sua varanda saíram correndo, os corvos que ficavam nas árvores do fundo, voariam para longe e até mesmo os sapos da pequena lagoa, parariam de coaxar, no mesmo minuto em que ele descesse da caminhonete e colocasse seus pezinhos na grama seca de sua casa.
Respirando fundo, Jungkook se levantou, limpando as mãos sujas de terra nas calças jeans velhas de jardinagem e caminhou para dentro da casa, sabendo que suas mudas de gerânios não ficariam nada felizes em ter que esperar mais um dia pelos vasos novos.
Os sinos de vento sopraram, com a brisa leve que Park trazia consigo. As velas que iluminavam a sala quase se apagaram, mas aumentaram ao sentir a energia do familiar. Jungkook riu baixo, ao escutar Jimin enxotando os gatos da entrada, e pacientemente, esperou pelo momento em que ele bateria na porta.
— Xispa. Vão embora. — Jimin brigou baixo do outro lado, batendo o pé. — Criaturas insistentes. — Jeon escutou o momento em que ele respirou fundo, e bateu delicadamente com os nós dos dedos na madeira.
O bruxo sorriu, contando até 7 mentalmente, antes de abrir a porta, e mesmo que soubesse quem era, mesmo que soubesse o que deveria esperar, ainda se surpreendia todas as vezes em que seus olhos tinham o prazer de vê-lo.
Jimin era mais do que bonito ou lindo. Na verdade, Jungkook acreditava não existir um adjetivo certo para descrever tamanha beleza. Ele era mais do que deslumbrante, era... Park Jimin.
E Park Jimin, no outono, era a coisa favorita de Jungkook no mundo. Os tons alaranjados e terrosos sempre lhe caiam bem. O frio, deixava suas bochechas vermelhas de uma forma adorável, que só ele conseguia ser. As roupas pareciam o engolir em um conforto aquecedor. E o olhar maravilhado de quem espera por algo ansiosamente, nunca saia de seu rosto.
— Oi. — Disse timidamente. Lhe estendendo um dos dois copos fumegantes que segurava. — Trouxe pumpkin spice. — Explicou, como se não fosse óbvio, e ao notar o olhar demorado do bruxo se apressou a acrescentar. — Não é o que tá pensando. Eu tava no Ritu's, e o Jin disse que faria um pra mim, então eu pensei "Meu Deus, o Jungkook ama Pumpkin Spices" — Dizia com animação. — E aí, quando eu vi, já tava na sua porta, tagarelando sobre bebidas... — Murmurou, como se notasse sua própria afobação e se envergonha pelas próprias atitudes impensadas.
— Eu gosto de Pumpkin Spices. — Jungkook confirmou, pegando o copo da mão pequena do familiar, que sorriu ao escutar a afirmação.
— Eu sei. — Acrescentou, como se fosse impossível parar de sorrir. — Jin disse que vai voltar pro cardápio em alguns dias, pro Samhain e... tudo mais. — Sua fala morreu, conforme a alegria era substituída pela timidez novamente.
Jungkook não sabia o que falar, nunca sabia o que fazer na presença de Jimin. Tudo era sempre tão complicado com o familiar. Sabia que Jimin tinha expectativas altas e que era cruel de sua parte o incentivar de qualquer forma possível, quando não podia lhe dar o que ele desejava, mas seu peito se apertava sempre que pensava em afastá-lo.
Quando Jungkook nasceu, uma profecia surgiu em seu Coven, anunciando o nascimento do que deveria ser o Bruxo mais forte daquela geração, e com ele, o nascimento de um familiar à altura, que juntos, liderariam o Coven para um momento de prosperidade e segurança.
Um familiar é um espírito da floresta que serve a um bruxo. Um servo com lealdade imensurável, um ajudante e uma companhia para a vida toda.
Geralmente, familiares se manifestavam em formas animais, como gatos ou corvos, mas Jimin era humano. O primeiro e único familiar humano de quem já haviam ouvido falar.
Jimin era seu familiar destinado. Todos sabiam disso, todos sempre souberam disso. E Jungkook havia visto durante anos, todos do Coven lhe preparando, instruindo e ensinando para o momento em que Jungkook lhe reivindicaria como seu. O tornando definitivamente seu familiar por posse.
Mas Jungkook nunca o tornou seu familiar, e Jimin permaneceu esperando.
Ninguém sabia o porquê. Alguns diziam que Jungkook era bom demais para precisar de algo tão dispensável quanto um familiar. Outros afirmavam que um familiar humano era estranho demais, que sua lealdade seria questionável e que Jungkook estava certo em se negar.
Jimin não sabia qual era a verdade, ou quais eram os motivos, mas tentava seu melhor para se manter por perto e esperançoso. O que não era fácil, já que o poder de Jungkook acabava atraindo todos os tipos de familiares para a sua porta, e por mais que Jimin os enxotasse sempre que lhe visitava, eles sempre voltavam a aparecer.
— Fico feliz em saber. — Jeon murmurou, ao notar o jeito inquieto de Jimin, esperando por aprovação como se dependesse disso para viver. — Passo metade do ano esperando por isso. — Jimin sorriu, aliviado, mas logo mordeu os lábios desviando o olhar.
— Você vai vir para as festividades esse ano, não vai? — Questionou, mudando de assunto como quem não quer nada, mas Jungkook sabia o que aquilo queria dizer.
— O Coven te mandou aqui de novo. — Jeon respondeu com um sorriso triste, mas Jimin negou a afirmação do bruxo.
— Não. Não. Eu... só queria saber se você iria. Quer dizer, eu meio que espero pela sua cidra de maçã o ano inteiro também. E já que eu te trouxe um Pumpkin Spice, pensei que você poderia retribuir com a sua presença. E com cidra, é claro.
— Mandarei algumas garrafas. — Jeon respondeu suspirando. Sempre mantia algumas garrafas prontas para o caso do familiar pedir, e sempre poderia fazer mais. Daria trabalho fazer cidra em tão pouco tempo, mas Jungkook não conseguiria negar aquilo a Jimin, mas o familiar não pareceu se animar tanto com sua resposta.
— Mas você não vai. — Disse em voz alta o que estava subentendido.
— Acho que ainda não estou pronto para voltar. — Jimin abaixou a cabeça, olhando para os próprios pés e depois para a rua vazia.
— Já faz alguns anos. Ninguém mais se lembra daquilo. — Mentiu, mas Jeon conseguia ler a verdade em seus olhos, e ela era dolorosa demais para ser dita em voz alta.
— Vou ficar em casa. Aproveitar que as barreiras estarão abaixadas.
— Vai tentar falar com sua avó? — Jimin perguntou se animando e Jeon sorriu, porque sabia o quanto Jimin gostava de sua avó e do quanto havia sentido pela morte da bruxa.
— Pensei em fazer minha própria celebração e falar com ela. Sabe como ela amava essa época do ano. — Contou se escorando no batente da porta, tomando um gole do café de abóbora em suas mãos, deixando o gosto docinho penetrar seu paladar.
— Eu sei, eu...— O sorriso de Jimin morreu ao ver algo dentro da casa, como se seu coração tivesse se partido. Nuvens se fecharam no céu, ao mesmo tempo que seu olhar incrédulo e magoado se focou no rosto do Bruxo, que olhou para dentro à procura do que havia causado tal reação negativa.
E sentiu seu peito se quebrar ao ver o gato preto do lado de dentro.
— Ele não é meu. — Esclareceu para Jimin, que desviava o olhar, encarando os próprios pés, em um esforço inútil de esconder as lágrimas que se formavam em seus olhos. — É do Taehyung.
— Do Taehyung? — Jimin questionou surpreso, como se não acreditasse totalmente. — Do seu primo, Taehyung? — Jeon concordou com a cabeça. — Ele tá aqui? Veio para o Samhain?
— Na verdade, ele viajou. — Contou constrangido. — E me pediu para cuidar do familiar dele.
— Ah, ele viajou. — Repetiu, como se a ideia fosse absurda. — E te pediu para cuidar do familiar. Que conveniente. — Murmurou baixo, magoado.
— Não é nada demais. — Jeon tentou o confortar, havia se esquecido do gato, e feito de tudo para Taehyung deixar o familiar com outra pessoa. Sabia que aquilo magoaria Jimin se ele descobrisse, mas Taehyung não confiaria algo tão precioso para outra pessoa.
E até aquele momento, o gato não havia saído de seu esconderijo no andar de cima, mas deveria ter sentido a presença de Jimin e descido para averiguar.
— É claro. Não é nada demais. — Repetiu novamente, com um falso sorriso, tentando disfarçar a mágoa. — Não é como se passar um tempo com um gato fosse te incentivar a escolher um.
— Jimin... — Tentou lhe acalmar, descendo o primeiro degrau para ficar mais perto do familiar, mas Jimin deu um passo para trás.
— Eu já vou. — Negou, engolindo o choro. — Eu só... vim trazer o café e dizer um oi. — Jeon notou a forma como ele não lhe olhava nos olhos, e como o tempo, antes ensolarado, havia fechado, indicando que logo choveria. — Então, oi. — Resmungou antes de se virar de costas, resmungando baixo para si mesmo. — Não é como se você precisasse de mim de qualquer forma.
Jeon observou com o coração apertado a forma como Jimin caminhava em passos rápidos e tristes até sua caminhonete. E por um segundo pensou que talvez aquilo fosse o melhor, que Jimin se afastaria, e desistiria de vez daquela história, mas quando um raio cortou o céu, indicando uma possível tempestade. Se viu correndo até o familiar.
— Jimin. Espera. — Disse afobado enquanto corria até a caminhonete, no mesmo momento em que o familiar fechava a porta. Jimin olhava para frente, se recusando a olhar para o bruxo, as mãos apertando o volante, enquanto mastigava a parte interna da própria bochecha. — Eu... — Não sabia o que falar. Não queria prometer que iria à celebração do Coven, não quando isso voltaria a levantar perguntas e dores antigas, mas também não queria deixar Jimin ir daquele jeito. — Eu tava pensando se não quer ir comigo até Greentown amanhã.
— O que? — Jimin lhe encarou surpreso, com os olhos úmidos.
— Eu vou comprar algumas coisas para o feriado e pensei que seria bom ter sua ajuda.
— Tá falando sério? — Questionou baixo, em um tom incrédulo, mas carregado de expectativa.
— É claro. Quer dizer, você ganha todo ano o concurso de esculpir abóboras, quem melhor para me ajudar a escolher algumas? — O sorriso de Jimin aumentou, brilhando como o Sol que se abria por entre as nuvens cinzas.
— Eu vou adorar. — Afirmou com adoração. — Estarei aqui amanhã. — Jeon sorriu um sorriso carregado de ternura ao ver a animação do familiar, e sentiu seu peito apertado, com todo o amor que transbordava dele, sem ter para onde ir.
Em momentos como aquele, sabia que passaria sua vida toda amando Jimin da forma errada e que jamais seria capaz de dar a ele o tipo de amor que um bruxo entrega para seu familiar, porque sempre o amaria mais do que o permitido.
— Estarei te esperando.
| FAMILIAR |
EAI, O QUE ACHARAM?
AMARAM? ODIARAM? VÃO LER?
Comentem pra eu saber se estão tão animados quanto eu!!!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top