A SEGUNDA CERIMÔNIA
FELIZ SAMHAIN!
Capítulo 9 — A segunda cerimônia
Jimin havia ido embora, e não iria voltar.
Ele havia desistido, chegado ao seu limite e Jungkook sentia como se com ele, uma parte sua tivesse ido junto.
Nada mais faria sentido.
Não haveria sorrisos, risadas ou dias de sol. Não haveria mais outono ou primavera. O verão seria deprimente, e o inverno cansativo.
A vida perderia o sentido e nada mais restaria. Sem Jimin, nem mesmo poderia considerar-se vivo.
— Então. O que tá acontecendo aqui? — A voz ecoou pela sua sala, e ficou surpreso, por ver Taehyung parado ali.
— O que tá fazendo aqui? — perguntou com a voz falha pelo choro.
— Eu não sei, mas acho que estou prestes a descobrir. — Brincou indo para perto do primo, para que pudesse entender a situação.
Ouviu com atenção cada palavra. A briga, a despedida e os sentimentos reprimidos. Escutou cada detalhe e quando Jungkook finalmente parou de chorar, Taehyung percebeu que era o momento de falar.
— Entendo seu medo. Jimin foi ensinado a te amar, é assustador. E é louvável que queira dar direito de escolha para ele, quando o mundo tirou todas as dele, mas agora isso mudou, não é? Você esperava que um dia ele se apaixonasse e só percebesse que nunca foi você. Nunca pensou que ele se entregaria a outro bruxo,
— Ele nunca disse nada sobre pensar em ser familiar de outro.
— Bom, ele não poderia ficar sozinho para sempre.
Taehyung estava certo e Jungkook sabia disso, mas não mudava o fato de que isso estragava tudo. No final do dia Jimin continuaria sendo um servo, mas de um bruxo que nem ao menos conhecia, que não o amava e nem o respeitaria.
Era um tiro no escuro e aquilo poderia se voltar contra Jimin. Não era isso que Jungkook queria, não queria arriscá-lo assim.
O outro bruxo poderia não ser tão carinhoso e gentil, poderia tratá-lo de fato como um escravo, tirando suas opções e ignorando suas vontades.
Jungkook não faria isso. Sempre o ouviria e sempre lhe deixaria escolher. E se um dia Jimin descobrisse que o amor que sentia por Jungkook não era verdadeiro, se escolhesse outro homem, Jungkook aceitaria, mesmo que isso o matasse.
— O que quer fazer? — Perguntou acariciando Bessy, seu familiar.
— Eu amo ele. Não posso perdê-lo. Não assim. — afirmou com as mãos trêmulas. — Não sem falar com ele, não sem falar os meus motivos.
— Vou pegar o carro. — Avisou se levantando.
Aquilo iria contra tudo o que havia lutado nos últimos anos. Falaria com Jimin, explicaria a situação e os problemas que teriam e se mesmo assim Jimin o quisesse, o invocaria. O invocaria apesar dos problemas. O trataria como seu familiar e daria todo o amor que podia, mesmo que o amasse como um homem.
Faria dar certo. Por Jimin, por ele, por eles.
Uma verdadeira tempestade caia do lado de fora. A chuva densa dificultava a visão no trânsito, e Jungkook havia contado 3 acidentes e 6 árvores caídas até o caminho do templo.
Mas assim que chegou no templo, não soube o que fazer. Todos estavam chocados com sua presença. Jimin deveria estar escondido em algum lugar, se preparando. Precisava achá-lo.
— Senhor Jeon. — Disse Gustave com um tom falsamente alegre, que mais beirava o nervosismo. — Quanto tempo. Não sabia que viria para o Samhain, e trouxe seu primo.
— Sabe como é, nosso feriado favorito. — Brincou Taehyung, tentando ganhar tempo para o primo.
— Sei sim. — Afirmou sustentando um sorriso sem cor. — Porque não vamos lá para fora, onde está tendo a festa? Eles vão fazer um ritual aqui dentro, não deveríamos atrapalhar.
— Eu... eu preciso ver o Jimin. — Gustave suspirou, com um olhar triste.
— Senhor Jeon... Jimin não está no melhor momento, como pode imaginar. — comentou insinuando a tempestade. — Já está sendo bem difícil para ele sem a sua ajuda. Ele não precisa disso agora. Estamos tentando acalmá-lo.
— Eu sei, não estou aqui para atrapalhar. Apenas me deixe falar com ele. — Gustave suspirou novamente.
— Aquele menino te ama, mais do que todos nós imaginamos.
— Eu também o amo. — O líder o encarou com olhar atento, o analisando cuidadosamente.
— Irei tentar falar com ele, mas não garanto nada. O coven em peso está no quarto dele, tentando garantir que a cerimônia se realize. — resmungou desanimado. — Fique aqui, não entre até ser seguro, ou eles podem tentar te tirar a força. Farei o que for possível.
Jeon sentia o coração na garganta. Tinha que conseguir. Sabia que invadir o templo não era uma boa ideia, não com tantos bruxos lá dentro, mas talvez fosse sua única opção.
— Ah. Desculpe, não sabia que tinha gente aqui. — Um homem alto e jovem disse ao encontrá-los ali. Parecia deslocado com o lugar, mas preparado para as festividades. — Algum problema? Você parece desesperado.
— Ele está meio que lutando pelo amor da vida dele. — Taehyung respondeu ao notar que Jungkook não responderia.
— Uau. Parece complicado. O que tá esperando para ir atrás dele?
— Não posso entrar. Já estraguei tudo muitas vezes. Eu o amo e não posso cometer falhas agora. Ele precisa de mim e eu não vou conseguir viver sem ele.
— Ah. — disse com um tom de compreensão. — Você deve ser o Jungkook, é bom finalmente te conhecer.
— O que?
— Eu sou o Namjoon. E Jimin falou muito sobre você. — Afirmou com um sorriso, mas Jeon lhe encarou com irritação.
— Você é o bruxo que o aceitou.
— E você o que o recusou. — Disse Namjoon com tranquilidade. — Escuta, não sou o vilão aqui. Eu nem mesmo pretendia ter um familiar, mas depois de conhecê-lo não posso virar as costas para ele.
— Você quer levá-lo para outro país. — Acusou e Namjoon concordou. — Você nem ao menos o conhece.
— Sei que ele te ama. Sei que ele precisa, mas não quer um mestre. Sei que ele fez de tudo para me afastar. Sei que ele correu para você depois que conversamos, e sei que vou entrar lá dentro e torná-lo meu familiar. Porque você não teve coragem de fazer.
Jeon o encarou surpreso, sentindo seu sangue ferver. Namjoon nem ao menos o conhecia, nem ao menos sabia tudo o que havia acontecido, tudo que havia se privado, tudo o que temia.
— Você não sabe nada sobre nós. — Afirmou o bruxo tremendo de raiva. — E não vai para lugar nenhum com ele.
— Isso não cabe mais a você.
//~//
Jimin mal escutava o que ocorria ao seu redor. Sabia que seu quarto estava cheio de bruxas, sabia que estavam lhe purificando e pintando sigilos em seu corpo, mas se sentia morto por dentro.
— Precisa parar a tempestade, Jimin. — Reclamou Senhora Stone olhando pela janela. — O senhor Kim vai pensar que você não gosta dele.
— Tenho pena daquele pobre rapaz. — Senhora Missport disse com indignação em um sussurro. — Mal sabe o erro que está cometendo. Ele nunca terá a lealdade de Jimin. Não como Jeon tem.
— Jimin precisa esquecer aquele garoto. — Senhora Park ralhou. — Ele só te fez mal. Não pensou em você em nenhum momento. Nos te criamos, sabemos o que é melhor para você.
— E ir com o senhor Kim será sua melhor decisão. — Afirmou senhora Corbys, antes de murmurar. — Mesmo que não seja a melhor para ele.
Jimin mal conseguia ouvir o que falavam, concentrado demais em Jungkook. Rezava para que ele aparecesse. Para que ele tomasse uma atitude e viesse lhe salvar.
Não que precisasse ser salvo em absoluto. Kim Namjoon era um bom homem. Gentil, espirituoso e amigável, mas mesmo tendo inúmeras qualidades, ainda não era o que seu coração desejava.
Não seria um futuro terrível, poderiam criar uma amizade respeitosa, nunca o amaria, não como amava Jungkook, não como um familiar, mas poderiam se respeitar.
Batidas ecoaram pelo quarto, chamando a atenção de Jimin, que fazia o possível para esconder o medo que sentia.
— Já estamos indo Gustave. Não precisa se preocupar. — Disse a senhora Park, forçando Jimin a se levantar.
— Na verdade, gostaria de falar com Jimin antes da cerimônia. — As bruxas o encararam com repreensão.
— A menos que Kim Namjoon tenha desistido ou que alguém tenha morrido, não interromperemos a cerimônia. — Stone foi firme. — Não daremos tempo para que ele pense duas vezes. Já perdemos tempo demais com todos os caprichos de Jimin.
— Stone está certa. — Concordou Corbys. — A cerimônia deveria ter acontecido no mesmo segundo em que Namjoon aceitou. Esperar tantos dias foi loucura.
— Eu preciso de apenas alguns segundos. — Gustave insistiu, mas a senhora Park negou.
— Terá todo o tempo do mundo no final da cerimônia.
— Isso se Jimin não matar a todos nós antes. — Stone afirmou vendo a tempestade pela janela.
— Sem tempo a perder, vamos. Quando Namjoon lhe invocar, vai poder controlá-lo e parar essa palhaçada. — Resmungou arrastando o filho para fora do quarto.
Jimin se deixou ser arrastado, sem forças ou motivos para ir contra, e só notou que era o fim, que Jungkook não viria e que o tempo havia acabado, quando sentiu a energia opressiva do círculo mágico.
Seu coração se quebrou, suas pernas fraquejaram e uma dor forte o colocou de joelhos, chorando pela dor emocional que sentia, e junto com ele raios desceram do céu e um tornado começou a se formar.
— O que tá acontecendo? — Taehyung questionou assustado.
— Devem ter colocado Jimin no círculo. — Jeon explicou, imaginando que o medo e a dor estavam consumindo o familiar. — Eu preciso ir lá.
— Pra que? — Namjoon questionou o impedindo. — Para continuar se mantendo distante? Para continuar negando-o? Para deixá-lo em uma prateleira?
— Pra dizer que o amo, e se ainda for da vontade dele, o tornar meu. — Afirmou irritado, pronto para lutar caso fosse necessário, mas ao contrário do que esperava, Namjoon apenas sorriu, um sorriso satisfeito.
— Imagino que saiba o caminho. — Namjoon afirmou indicando a porta. E sem olhar para trás, Jeon correu, sendo seguido pelos outros dois.
O templo estava decorado exatamente como da primeira vez, o tom nostálgico apertou seu peito, mas a angústia o dominou, ao ver Jimin caído no chão, lutando contra a própria dor e o próprio poder.
Uma bruxa gritava para que ele parasse e se controlasse, mas Jimin parecia não entendê-la.
— Jimin. — Jungkook gritou, se aproximando com dificuldade pela força do vento. — Jimin. — tentou mais uma vez, o alcançando, mas Jimin não parecia capaz de ouvir.
Notando que havia chegado tarde demais e que Jimin não era mais capaz de conversar, de que se não fizesse nada, tudo iria pelos ares. Jeon tomou uma atitude, rezando para que Jimin o perdoasse no futuro. Jungkook o abraçou forte, levando uma das mãos à cabeça do familiar.
— Jimin. Eu te recebo ao meu lado por toda a eternidade e até o fim. Imploro por seu poder e rogo por sua ajuda. Me acompanhe na escuridão e eu serei a luz. — Cada palavra dita parecia soar como um mantra para Jimin, que aos poucos relaxava em seus braços. — Diga sim e seremos um só.
Como se finalmente entendesse, Jimin relaxou, o vento parou abruptamente ao mesmo tempo em que a resposta saiu.
— Meu poder é seu. Agora e para sempre. — E desmanchando em seus braços, Jimin desmaiou de exaustão.
| FAMILIAR |
Preparados para descobrir os motivos pelos quais Jungkook relutou tanto em aceita-lo como familiar?
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