A CIDRA

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Capítulo 6 — A cidra

~ Atualmente ~

Jungkook sorria bobo ao ver Jimin dançando solto pela sua sala. Depois de algumas doses de cidra, Jungkook se jogou no sofá, levemente alto pelo álcool, mas Jimin parecia energizado, e com uma música alegre, saltitava imitando as ninfas dos bosques.

— Posso te contar uma coisa que nunca contei para ninguém? — Jimin perguntou se jogando ao seu lado, a voz mole pela bebida, a língua se enrolando, o olhar se derretendo. — Eu morria de medo dos espíritos da floresta quando era mais novo.

— O que? — Jeon perguntou achando graça.

— Eu sei, é irônico, mas tente entender. — Pediu meio mole. — Para de rir. Eu tô me abrindo aqui. — Brigou com um sorriso no rosto, se encostando no sofá para que pudesse ficar de lado para o bruxo e assim manter os olhos nele. — Eu era uma criança e todo mundo sempre falava de como não se devia brincar com espíritos e como eles eram voláteis e tudo mais. Eu ficava em pânico sempre que me levavam para a floresta.

— E o que aconteceu quando você descobriu que é um espírito da floresta? — Questionou achando hilário a história.

— Eu surtei por um tempo. — Admitiu se achando bobo. — Fiquei com medo de fazer alguma coisa errada e me auto irritar. — Jungkook gargalhou, e não notou Jimin se aproximando, com um sorriso bobo. — Mas depois eu entendi que o máximo que aconteceria era a chuva me seguindo pelos lugares. — Deu de ombros.

Jeon o analisou, finalmente notando o quão perto Jimin estava, e a forma como ele havia, de certa forma, o envolvido em uma bolha. Com um braço esticado no sofá, atrás de sua cabeça, e seu pé, encolhido sob o sofá, tocando de leve na coxa do bruxo.

— Claro, existem milhares de coisas que eu não posso fazer, mas não é ruim ao todo. — Disse com um suspiro conformado.

— O que você queria fazer que não pode? — Jeon questionou, olhando-o atentamente, e viu o momento em que Jimin se esticou para pegar a garrafa de cidra em cima da mesinha, agora tomando direto da garrafa.

— Bom... você quer por ordem alfabética ou de importância? — Perguntou rindo. — Para começo de conversa, não tenho acesso a magia como vocês, bruxos. Também não podia brincar com as outras crianças, nem fazer tradições bobas, como descascar maçãs no Samhain. — Pontuou tomando mais um gole. — E isso, é o único álcool que me permitem tomar, e só permitem porque é você quem o faz.

— Você tem 24, pode tomar quanto álcool quiser. — Jeon protestou, mas Jimin negou.

— De acordo com a Senhora Stone, não posso tomar nada que me faça ficar desinibido. E álcool com certeza faz isso comigo. — Tomou outro gole, mantendo seu olhar atento ao bruxo, antes de completar. — Tenho certeza que você concorda com ela. — Jeon engoliu em seco, desviando o olhar.

— Não sei do que está falando. — Negou, constrangido.

— Vamos mesmo continuar fingindo que não me espiou naquela noite? — Jimin questionou com um olhar atrevido. — Você nem mesmo consegue mencionar lembranças de Samhain e cidra na mesma frase sem ficar vermelho e ofegante.

O coração do bruxo se acelerou. Sempre imaginou que Jimin soubesse o que havia acontecido, mas nunca havia tido certeza, nunca haviam falado com todas as letras, como um acordo mútuo e silencioso de que deveriam esquecer o ocorrido, mas Jimin parecia decidido a quebrar aquele acordo.

Jungkook desviou o olhar e viu pela janela a luz azul da lua brilhando forte do outro lado, com pequenos flocos de neve caindo.

— Ji... — Murmurou baixo, sabia o que aquilo significava. O mundo poderia não saber, mas Jungkook sabia.


~ Samhain, sete anos atrás ~

Jimin observava de um canto da sala, com um sorriso no rosto, os jovens bruxos brincando e se divertindo durante o feriado. Samhain era a sua época favorita do ano. Os mais velhos ficavam ocupados demais com rituais e barreiras, e os mais novos poderiam aproveitar o tempo sem supervisão para desafiar o oculto, ler o futuro e fazer tradições bobas, mas divertidas.

Alguns bruxos brincavam de descascar maçãs no canto da sala, na intenção de descobrir o nome do seu futuro amor. Outros tentavam se comunicar com os mortos, já que as barreiras estavam abaixadas. Os mais velhos, como Jimin, que já tinha 17, tentava a todo custo roubar bebida dos mais velhos, para se embebedarem e cometerem os próprios pecados de Halloween.

Era uma festa divertida.

— Vamos lá. Não tá curioso? — Claire disse para Jungkook, que com um olhar desinteressado negava. — É só descascar a maçã, Jeon. Não é o fim do mundo.

Naquele ponto, depois de quase um ano desde o que deveria ter sido o ritual de posse, Jimin e Jungkook tentavam manter uma distância respeitável no Coven, para que mais fofocas não começassem, mas seus nomes ainda estavam vinculados e todos ainda sentiam pena da pobre criança sem dono.

Jimin ainda se esforçava ao máximo para manter a fachada, se negando a admitir que estava magoado, mas depois de alguns meses, a chuva diminuiu para um simples tempo nublado.

— Não quero saber mais sobre o futuro. — Jeon negou, se servindo de outra taça da própria cidra. — Já sei o suficiente.

— É claro. — Yoongi, um amigo de Jimin, resmungou ao seu lado.

Yoongi havia ficado furioso com a recusa de Jeon, e havia passado aquele último ano confortando o amigo. Havia levado o familiar para trabalhar na biblioteca da sua família, onde Jimin passava suas tardes ao seu lado cuidando dos livros.

— E você, Yoon? — Claire perguntou, mudando seu foco para o mais velho. — Não vai descascar?

— Eu já fiz isso no ano passado. Não conheço ninguém que comece com as iniciais JH. — Disse mal humorado, desanimando Claire.

— E você, Minnie? Não quer brincar? — Questionou para o familiar, que se assustou ao ser incluído.

— Não. Eu não posso. — Negou nervoso. — A senhora Shipton disse que para ser um bom familiar, não devo brincar com coisas assim.

— Como se ele fosse um bom familiar. — Um dos meninos no fundo sussurrou para outro, rindo.

— Ah. Ninguém vai contar para ela. — Claire afirmou, tentando tranquilizá-lo, mas Jimin negou, fingindo não ouvir as piadas.

— Mesmo que eu fizesse, não daria em nada. Familiares não tem amores, apenas mestres. — Explicou com calma para a menina, que na maior parte do tempo era gentil com ele.

— E nem isso ele tem. — Outro garoto murmurou rindo, e por mais que Jimin estivesse o ignorando, o raio que ecoou pelo salão deixava claro que não estava feliz.

— Cala boca, idiota. — Repreendeu Yoongi, mesmo que Jimin tivesse lhe pedido varias vezes para não responder comentários como aquele.

Mas o menino parou de rir no mesmo segundo que sentiu o fogo queimar a barra de sua túnica. Gritando assustando enquanto tentava apagar o fogo.

Jimin encarou Jungkook, sabendo que havia sido ele. O bruxo já sorria em sua direção, o mesmo sorriso de "desculpa" de sempre.

— Não ligue para eles. Sabe que são só idiotas imaturos e inseguros. — afirmou, lhe oferecendo uma garrafa de cidra, que timidamente, Jimin aceitou.

Por mais que sempre fosse repreendido por aceitar ou fazer coisas indevidas. Jimin havia sido ensinado que tudo bem quebrar as regras se fosse Jungkook a pedir por isso.

Sendo assim, sempre poderia confiar e aceitar qualquer coisa vinda dele.

Jimin sorriu, bebendo a bebida docinha que tanto gostava. Seu corpo relaxou com a sensação.

— Sei que você gosta dele, e que ninguém nunca te repreende quando se trata dele, mas será que deveria continuar aceitando tudo dele? — Yoongi perguntou ao ver o amigo alegre pela bebida. — Não acho que seja muito saudável pra você ficar nutrindo esperança quanto a ele.

— Eu sei, mas não consigo evitar. — Jimin choramingou, mole. — Me parece ridículo pensar que ele é indiferente a mim.

— Ele não é. Você sabe. — Yoongi murmurou, observando Jungkook do outro lado, que parecia distrair os mais novos, com um feitiço de distorção. — A forma como ele te olha... é obsceno, para dizer o mínimo.

— Mas não o bastante. — Jimin murmurou frustrado. — Ou ele teria me escolhido.

— Não acho que tenha sido falta de atração. Todos conseguem sentir sua magia de longe.

— É claro que não. — Jimin bufou. Um bruxo não queria sentir atração por seu familiar, queria sentir poder e confiança. Uma conexão. — A senhora Lihor disse que ele não queria se prender a um humano. Que seria difícil pra ele se casar, se me mantivesse ao seu lado.

— Difícil acreditar. Ele sempre afirma que não quer se casar. E recusou todos os convites para o baile de inverno. — Yoongi respondeu como se aquilo fosse óbvio.

— O Senhor Dunlop disse que humanos não são confiáveis, e que Jeon fez certo em não confiar em mim. Eu acabaria o deixando na mão uma hora ou outra.

— Você é literalmente a pessoa mais devota que já pisou na terra. O cara te renegou há um ano atrás e você ainda o visita toda semana, com tortas e bebidas que ele gosta.

— A senhora Bessie...

— Jimin. O que você acha que aconteceu? — Yoongi o interrompeu, porque não queria saber o que todo o Coven tinha a dizer sobre a situação. Jimin encarou a garrafa em sua mão, e depois encarou o homem do outro lado da sala.

— Eu não sei. Acho que no final não era para ser. Acho que ele sentiu que cometeria um erro me escolhendo. Acho que meu destino é ele, mas o dele não tem nada haver comigo. — Suspirou. — Acho que só me colocaram na frente dele, para tentar justificar minha existência, mas no final das contas, não existe um motivo. Ao menos não um bom.

Yoongi suspirou. Jimin merecia bem mais do que tudo aquilo.

— Tem falado com os Park's? — Perguntou com receio, mas Jimin negou, tomando outro gole. — Quando os viu pela última vez?

— Eles vieram me ver alguns dias depois do fracasso da cerimônia. A senhora Park chorou e me pediu desculpas, disse que a culpa era dela, que a deusa havia a castigado por não ser tão devota durante a gestação.

— Ela não quis dizer isso. — Yoongi negou, se recusando a acreditar.

— O que? Que eu sou uma punição para ela? Eu acho que ela quis sim. — Afirmou rindo amargurado. — Mas ainda é melhor do que o Senhor Park, que só ficou em silêncio, me encarando daquele jeito reprovador. Como se me culpasse por ter sido rejeitado. — Uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto ao mesmo tempo que um trovão brilhou no céu. — Droga. Fui avisado que não deveria deixar chover hoje. Vai estragar a cerimônia. A Senhora Osborne vai me matar se isso acontecer.

— Respira fundo, tenta pensar em outra coisa. — Aconselhou, Jimin encarou a garrafa vazia e logo se levantou.

— Vou buscar mais.

— Eu vou com você.

— Não. É melhor eu ir sozinho, assim eu respiro um pouco lá fora. — Avisou, e de forma gatuna saiu da sala.

Sabia que as cidras, e outras bebidas ficavam no armazém, do lado de fora do templo, então seguiu pelos fundos direto para onde precisava. Não era difícil passar despercebido, não quando todos estavam ocupados com a festividade. Mas só respirou aliviado ao entrar dentro do armazém.

Procurou pelas bebidas com cuidado, se sentia mais leve agora, longe de todos e riu bobo ao encontrar uma das garrafas de Jeon. Ele sempre etiquetava sua cidra com o nome, poção do amor, misturando canela, maçã, noz-moscada e álcool para formar a bebida perfeita para o Samhain.

O barulho alto da porta se abrindo ecoou pelo armazém, e Jimin, assustado, se escondeu como podia atrás de algumas caixas antigas, com medo de ser pego, mas relaxou ao escutar a voz preocupada o chamando.

— Jimin? Você tá aqui? — O sorriso do familiar aumentou, e decidindo ser seguro, saiu de seu esconderijo. — Tá tudo bem?

— Eu só vim... pegar mais um pouco. — Admitiu, mostrando a garrafa, e Jeon relaxou ao entender o que era.

— Você saiu de repente e tava trovejando, fiquei preocupado. — Explicou, constrangido, se aproximando do familiar para se certificar que ele estava bem.

— Tá tudo bem. — Murmurou abrindo a garrafa. — Quer me acompanhar? Podemos sentar perto da fonte. — Jeon o analisou com cuidado. Jimin estava corado, seu cabelo estava bagunçado e seu olhar transbordava luxúria.

— Acho que já bebeu demais. — Disse com um tom rouco, se sentindo ofegante. Notando que havia sido um erro se aproximar tanto. Jimin estava a um palmo de distância. E era difícil dizer para seu cérebro bêbado que não podia tocá-lo.

— Estamos no Samhain. É o único dia do ano em que nós, espíritos, temos alguma vantagem aqui na terra. — Jeon molhou os lábios, refletindo sobre aquilo.

Jimin sentiu suas pernas bambas ao notar o cheiro de maçã e canela no bruxo, e seu coração se acelerou quando Jeon segurou sua cabeça, as mãos na divisa entre o pescoço e o maxilar, o forçando a olhar em seus olhos.

Por um segundo irracional, Jimin imaginou que ele o convocaria, e sentiu seu coração falhar ao ver Jeon se aproximando. O bruxo beijou sua testa, um beijo demorado e carregado de afeto, então se afastou o suficiente para encarar Jimin nos olhos novamente.

— Nesse caso, deveria aproveitar sua noite. — E sem se dar tempo para cometer um erro maior, Jeon saiu do armazém, deixando Jimin sozinho.

O bruxo voltou para a própria casa, mas antes mesmo de colocar os pés em sua grama, viu a lua se tornar azul, e pequenos flocos de neve cair. Apavorado por nunca ter visto o céu daquela forma, entrou para dentro procurando pelo livro certo. Algo que lhe permitisse ver ou localizar Jimin, saber se ele estava bem e o que estava provocando aquilo.

Arrancou o espelho da parede do seu quarto, o colocando rente ao chão, ajoelhou de frente, respirando fundo antes de começar o feitiço.

Invoco o olho que tudo vê, para garantir a segurança daquele que amo. — Imediatamente, um portal se abriu no espelho, lhe mostrando o que queria ver. — Meu... — Sua boca se abriu ao ver a cena.

O lugar estava abafado, Jimin ofegante, suas pernas estavam abertas, jogadas pelas bordas da banheira e a água parecia querer transbordar a cada novo movimento que ele fazia. A garrafa de cidra ao seu lado, uma vela acesa e suas roupas jogadas pelo chão do banheiro.

Jeon sentiu seu coração acelerar e a excitação correr por suas veias, Jimin estava ali, na sua frente, se tocando com vontade, de uma forma tão carregada de luxúria e desejo que era impossível ir embora. Mesmo que soubesse que era errado o espiar em um momento como aquele, não conseguia evitar.

O familiar ofegou, com uma onda de prazer o levando para a beirada, deixou sua cabeça cair contra a borda da banheira, mas por um segundo, Jimin pareceu procurá-lo com o olhar, como se soubesse que de alguma forma, Jungkook estava ali.    


| FAMILIAR |

Sei nem o que dizer.

Bom fim de semana!

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