Episódio V: Furo de Reportagem

Ela sorriu, e a próxima frase que saiu da boca da garota foi mais uma afirmação do que uma pergunta:

— ...você tem poderes de invisibilidade, não tem?

Imediatamente, todos os olhos se voltaram para Baekhyun, inquisidores e desconfiados, como se esperando por uma explicação. Baekhyun sabia que a informação se alastraria como fogo, então saiu correndo, como sempre fazia quando estava em apuros.

E a única coisa que passou pela cabeça de Chanyeol foi que ele poderia ter evitado isso.

ALGUNS DIAS ANTES

Quinta-feira

Chanyeol bateu palma na frente da casa de Jongdae exatamente às 7h45, segurando a mochila da escola em cima de um ombro enquanto olhava em volta apreensivamente.

Jongdae botou a cara para fora da porta com as sobrancelhas franzidas. A expressão de desgosto do rapaz se transformou numa de desânimo assim que avistou Chanyeol acenando como se tivessem se esbarrado casualmente.

— Eu já tô indo — Jongdae avisou antes de sumir de novo. Voltou uns cinco minutos depois, pronto para a aula.

— E aí, dormiu bem? — Chanyeol perguntou.

Jongdae deu de ombros.

— Dormi normal. Mas acordei perturbado, já que o meu melhor amigo resolveu virar a minha babá...

— Ei! Eu tô fazendo isso pra te ajudar! Se aqueles idiotas aparecerem de novo...

— Aí o quê? A gente apanha em conjunto?

Os dois pararam de andar por um momento e se entreolharam. Chanyeol pôs a palma da mão para cima e respondeu:

— Melhor do que levar porrada sozinho, né?

Jongdae precisou rir, e mesmo que soasse ridículo, era bom saber que tinha um amigo tão bom que até se dispunha a fornecer apoio moral para levar uma surra. Chanyeol era um cara legal, e corajoso. Jongdae admirava isso nele.

— E aí, vai chamar o Baekhyun pra sair? — Jongdae perguntou enquanto caminhavam, para preencher o vazio.

— Vou — Chanyeol falou, esfregando as mãos uma na outra e exibindo os dentes num sorriso meio ansioso. — Ontem eu fiquei um tempão ensaiando e pensando no que dizer.

— Boa sorte — Jongdae desejou, e esse foi o fim do assunto.

Ao chegarem à escola, Chanyeol já estava preso outra vez na mesma divagação de quarta-feira à noite. Depois de afugentar os babacas que estavam enchendo o saco de Jongdae, Chanyeol tinha voltado a pensar numa coisa que, por um segundo, havia esquecido.

Se queria tanto sair comigo, era só ter me pedido, cara, foi o que Baekhyun disse, no mesmo dia em que contou para Chanyeol que tinha poderes, mas não uma credencial.

Depois daquilo, Baekhyun não pôde aceitar o convite de Chanyeol para saírem no sábado, e Chanyeol compreendia perfeitamente — também tinha uma mãe severa. Entretanto, o castigo de Baekhyun estava começando a afrouxar, fazendo com que as ideias de Chanyeol começassem a saltitar...

Foi então que, um dia, precisou ligar para Jongdae para contar ao amigo, às dez e cinquenta da noite, alguns detalhes; mas não todos, é claro. Fez o seu melhor para suprimir todas as partes em que um super-herói aparecia na história, e deu meio certo. Jongdae tinha ficado zangado de primeira, por causa da ligação bem na hora de dormir, mas como era uma fofoca da boa, o rapaz logo ficou pianinho e ouviu tudo com muita atenção.

Desde então, sentia que tinha assinado sua sentença de morte, porque Jongdae era esperto e Chanyeol era muito facilmente levado pelas circunstâncias. Dali para uma confissão total de todos os seus segredos era um pulo! Mas, querendo ou não, ele se sentia melhor por ter compartilhado as suas desventuras com alguém.

— Obrigado, cara. — Chanyeol deu um abraço de lado meio desajeitado no amigo. — Vou precisar.

Naquela quinta-feira, como se por um milagre, Sehun não estava usando nenhuma camiseta de herói. Chanyeol até colocou a mão na testa dele para se certificar de que estava passando bem.

— Você não presta — Sehun falou, dando um tapa na mão debochada de Chanyeol.

— E aí, como vocês tão? — Junmyeon, que estava quietinho num canto, finalmente dirigiu a palavra aos recém-chegados.

— Muito bem — Jongdae respondeu. — Na medida do possível, né, já que o Chanyeol tá na minha cola. Ficou sabendo, Sehun? Eu agora tenho que andar acompanhado.

— Fiquei sabendo, sim — Sehun disse, ajeitando a mochila nas costas com um ar casual. — Aliás, amanhã quem vai te buscar sou eu.

Jongdae arregalou os olhos em descrença, choque, quase um sentimento de traição; os três outros rapazes riram da reação exacerbada. O calendário de escolta já tinha sido muito bem formulado por Junmyeon no dia anterior.

Quando o sinal tocou, cada um foi para a sua sala. Sehun, para o segundo B; Junmyeon, para o segundo A; Jongdae e Chanyeol, para o C.

Chanyeol passou a aula de matemática inteira e as duas aulas de gramática subsequentes desviando olhadelas discretas para a carteira de Byun Baekhyun, que parecia simultaneamente concentrado e distraído em todas as vezes que Chanyeol espiou.

Chanyeol estava criando mais um pouquinho de coragem, mesmo que não precisasse, já que tinha uma euforia impulsiva correndo nas veias naquele momento. Só precisava esperar o momento certo. Ai, tomara que Baekhyun não mude de ideia...

No intervalo, a primeira coisa que Chanyeol fez — antes mesmo de comer o seu lanche —, foi cutucar Baekhyun no ombro e, imediatamente, soltar:

— Quer sair comigo no sábado?

Não esperava que a resposta viesse tão rápida e facilmente, mas veio.

— Pode ser. — Baekhyun deu de ombros, dando uma mordida no seu sanduíche. Chanyeol começou a assimilar o que tinha acontecido. Estava em choque. — O que a gente precisa fazer?

— N-Nada. Quer dizer, a gente não precisa fazer nada, mas a gente podia, sei lá... ver um filme.

— É só sair, tipo, pra dar um rolê? — Baekhyun parecia confuso quando perguntou. Chanyeol sentiu o estômago revirar quando respondeu:

— É, ué. Você não disse que, se eu quisesse... — e hesitou — era só pedir?

Baekhyun não ficou vermelho, mas ficaria roxo se tivesse prendido a respiração por mais um milissegundo. Tinha esquecido disso! Ficou tão focado na história de Junmyeon, do Matéria Escura, depois de Jongdae, que esqueceu completamente que Chanyeol tinha uma quedinha por ele.

E que ele — sim, ele mesmo, Byun Baekhyun —, tinha autorizado Chanyeol a chamá-lo pra sair.

— Pode ser no domingo? — Baekhyun perguntou, tentando disfarçar. — É mais fácil da minha mãe concordar. Ela só quer me ver estudando um dia a mais, sabe? É melhor eu passar o sábado revisando.

— Tudo bem — Chanyeol respondeu com um sorriso enorme. — Eu vou voltar pra sala, esqueci o meu lanche lá em cima. Já volto!

E Baekhyun ficou para trás, pensando nas presepadas em que se metia voluntariamente, apenas pelo fato de ser um adolescente meio estúpido.

TRÊS DIAS DEPOIS

Domingo

Baekhyun não queria ir ao cinema, achava chato, então Chanyeol precisou organizar um encontro completo envolvendo sorveteria, parque e shopping. Para isso, teve a ajuda de Jongdae, que era o único que estava sabendo daquilo — Chanyeol era covarde demais para contar para os outros amigos que estava, efetivamente, saindo com um carinha.

— Eu concordo com o seu posicionamento, só acho que é um posicionamento burro — Jongdae provocou, em forma de pixels dançando na tela do computador de Chanyeol. — Os garotos só iam te apoiar nisso, você sabe. Não tem nada demais em dizer que as coisas tão dando certo. Você não acha que eles merecem saber, depois de terem te ajudado lá no dia do coiso de química?

— Eu só quero deixar essa parte mais privada, ok? — Chanyeol retrucou rapidamente. Não queria arriscar contar para mais pessoas por medo de, sem querer, explanar a coisa toda do Matéria Escura. Ter falado com Jongdae já tinha sido meio arriscado, mas Chanyeol rapidamente associou que Jongdae ficaria mais encabulado por Chanyeol não ter contado para os outros garotos do que pelo fato de que faltavam algumas peças na história que tinha ouvido. Quer dizer, só tinham se aproximado e pronto? Estavam saindo? Muito suspeito.

— Bem, faz o que você quiser. — Jongdae cruzou os braços. — Boa sorte. E não diz nenhuma besteira!

Chanyeol agradeceu e prometeu levar o conselho dentro do coração. Não dizer nenhuma besteira; nem umazinha. Sem besteiras.

Ia ser meio difícil...

ALGUMAS HORAS DEPOIS

Domingo

Eles se encontraram no parque, perdidos entre os cumprimentos sem graça, as mãos inquietas de nervosismo e a vergonha inconcebível de ser um adolescente e ter que sair com alguém. Apenas o usual.

— Então, qual o plano? — Baekhyun, afobado como era, quis ir direto ao ponto.

— A gente anda pelo parque, toma sorvete e depois vai pro shopping comer alguma coisa. Ou só andar mais. — Chanyeol respondeu, encolhendo os ombros e revisando tudo mentalmente depois.

— Nossa, quanto de andança tem nesse seu plano? — Baekhyun fez bico. Chanyeol ficou vermelho. — Eu tô te tirando — o rapaz remendou o estrago que fizera com a mentira e um sorriso assim que notou o desconforto do outro menino. Ainda assim, se fossem andar demais, já ia ser o primeiro e último encontro a que Chanyeol teria direito.

— M-Mas se você quiser fazer outra coisa, por mim, tudo bem — Chanyeol ofereceu, mas Baekhyun balançou a cabeça para os lados.

— Eu não tenho uma ideia melhor, foi mal. — Deu de ombros, ainda com o sorriso brilhando nos lábios, metade de nervoso e metade por aproveitar a própria hipocrisia.

Sem conseguirem sustentar um assunto por mais de dois minutos, perseguidos pela presença insistente de um silêncio maligno que incomodava, Baekhyun e Chanyeol pularam direto para a parte em que iam tomar sorvete. Aproveitaram a deixa e sentaram-se num dos bancos do parque, debaixo do verde das árvores, sentindo o vento fresco do fim de abril lhes acariciar o rosto, pensando em como aquilo era estranho.

— Você vai achar ruim se eu fizer uma pergunta pessoal? — Baekhyun puxou o assunto subitamente. Chanyeol, como não sabia mais o que fazer para iniciar uma conversa que durasse, não teve outra opção senão dizer:

— Provavelmente não. O que é?

— Vai soar meio insensível, quer ouvir mesmo assim?

— Por que você vai me dizer, se é uma coisa insensível? — Chanyeol ergueu uma sobrancelha.

— Porque é uma pergunta importante pra minha... a minha investigação... — Baekhyun parou por um segundo, cérebro congelado, casquinha de baunilha pingando na mão esquerda, movimentos comprometidos pela temperatura do sorvete — investigação mística sobre poderes.

Chanyeol riu como quem ri das bobagens de uma criança. Baekhyun não gostou muito.

— Pergunta — Chanyeol autorizou, por fim.

— Você ainda se sente mal por não ter poderes?

Ah, sim. Era meio insensível mesmo.

Mas a resposta não era óbvia, mesmo que fosse algo expectável. Pra você, seus sentimentos são óbvios, né? Bem, não. Mas Chanyeol não tinha esse conceito bem definido na sua cabeça, e notar que não era tão preciso acerca daquilo que estava sentindo naquele exato instante o deixava meio ansioso. Será que não tinha pensado o suficiente?

— Acho que eu nunca me senti mal por não ter poderes — o rapaz finalmente começou a traçar uma resposta. Baekhyun se sentiu meio aliviado por não ter feito Chanyeol chorar. — Mas eu sempre quis muito ter poderes, quis demais. Eu achava super legal, sabe? Ainda mais vendo os filmes e tal... e achando que eu finalmente ia ser alguém diferente, mas diferente de um jeito bom, sei lá. Acho que eu queria ser único. Ou ainda quero. Acho que querer algo demais e saber que é impossível alcançar isso, de um jeito ou de outro, te deixa meio mal, né?

Baekhyun sabia mais ou menos como era, por isso concordou. Depois, continuou ouvindo.

Chanyeol continuou dizendo:

— Mas, sei lá... acho que eu não sei responder isso. Definitivamente, eu não tô tão triste sobre isso do jeito que eu tava há, sei lá, uns dois anos. Eu já aceitei um pouco. Mas ainda fico pensando que ia ser incrível se eu tivesse uns poderes da hora. — E Chanyeol terminou seu monólogo com um sorriso. Baekhyun encarava o chão. — Você já desejou não ter os seus poderes?

Com a pergunta repentina, Baekhyun levou até um susto. Pelo menos para ele, a resposta era fácil:

— Muitas vezes — nem sequer pensou antes de confessar. — Quase sempre, na verdade. Tipo, é muito útil e tal, mas é um problema. Queria poder fingir que não existe, né, mas não dá. Teve uma época em que eu até deixava de usar só pra sentir que eu era normal, mas não é uma coisa que dá pra desligar. E eu ainda tinha todas aquelas visões e intuições malucas quando eu via alguém escondendo alguma coisa... — Suspirou. — É estranho pensar que tão pouca gente é sorteada pelo Universo pra ter um poder, e mesmo assim eu fui escolhido.

Silêncio. Os dois garotos encararam os próprios sorvetes enquanto assimilavam a realidade. Que bela bo...

— Imagina se existisse uma fonte dos desejos que fizesse a gente trocar de lugar — Baekhyun expeliu as palavras para fora em velocidade recorde, um sorrisinho crescendo em seu semblante enquanto imaginava a cena.

— Não, não, credo! — Chanyeol imediatamente negou a ideia. — Tá maluco? Você nunca viu um filme infantojuvenil na sua vida, não? Esse tipo de coisa sempre dá errado!

— É brincadeira! — Baekhyun respondeu, enfastiado, completando com um revirar de olhos. — Não é como se essa coisa mágica fosse cair do céu, ô, babaca. Além do mais, essas coisas só dão errado nesses filmes porque eles são feitos especialmente pra fazer com que as crianças achem que o ideal é aceitar a sua condição e não promover uma revolução contra o sistema.

Chanyeol parou por um instante. Perguntou:

— Quantos anos você tem mesmo?

— Dezessete.

— Então por que tá falando como um cara desempregado de vinte e cinco?

Baekhyun bufou e pôs a mão na testa como se estivesse decepcionado. Chanyeol riu daquele gesto durante tanto tempo que Baekhyun começou a achar graça também.

— Eu vi um vídeo sobre isso no YouTube uma vez... — Baekhyun tentou justificar, mas a piada tinha sido tão boa para Chanyeol que as risadas não iam parar tão cedo.

E lá estavam eles, no início de um tópico sobre filmes, que tinha acabado de desembocar num papo sobre YouTube e que, mais tarde, acabaria numa conversa intelectual, profunda e reveladora sobre fóruns do Reddit.

Quando finalmente seguiram para a última etapa do plano inicial de Chanyeol — o shopping —, já tinha se passado um tempo significativo, e eles nem tinham andado tanto assim. Para Baekhyun estava tudo ótimo... quer dizer, estava tudo okay, né! Não tinha razão nenhuma para estar tudo ótimo... estava tudo normal se você quer saber. Eu hein.

A verdade é que o tempo tinha voado bonito. Pra bem longe. Chanyeol precisou avisar a mãe de que estava vivo e respirando, por mensagem, para que ela não ficasse preocupada e, consequentemente, irritada.

Andaram por mais alguns lugares, comeram mais algumas porcarias, até contemplaram a ideia de dar uma passadinha no fliperama, mas nenhum dos dois era tão fã assim da coisa. Inevitavelmente, acabaram passando outra vez pela mesma lojinha de camisetas de heróis. Chanyeol não conseguiu não lembrar da primeira vez que tinham feito aquilo, lá no primeiro episódio, lembra?

O funko do Matéria Escura ainda estava no mesmo lugar, contudo, Chanyeol sentiu um arrepio esquisito quando olhou para ele dessa vez.

Mas não chegaram nem a tocar no assunto; passaram reto.

Quando concordaram em ir embora, já estavam presos ao silêncio insistente e meio estranho de novo, parte por precisarem voltar juntos — Baekhyun aceitou levar Chanyeol até a casa dele, uma vez que escurecia e o rapaz não tinha carona.

Não era a primeira vez que usava seu poder de imperceptibilidade na presença de Chanyeol, mas era a primeira vez que fazia isso com ele estando ciente da situação. Aquilo, sim, tinha sido estranho, porque precisaram enrolar os braços como dois pombinhos — mas única e exclusivamente para a segurança de todos! — imediatamente após saírem de um encontro tecnicamente romântico.

Baekhyun estava vermelho até a alma.

Entretanto, como se o Universo tivesse um ótimo senso de humor, dois ou três minutos de caminhada mais tarde, eles ouviram um barulho verdadeiramente aterrorizador. Um som baixo, meio sibilante, preconizador de algo sombrio. Não tinha engano; era exatamente como nos filmes!

Eles travaram, parados feito pedra no mesmo lugar. Viraram a cabeça para todos os lados, examinando a rua. Vazia, um ou dois carros estacionados, mal iluminada. Chanyeol segurou o braço de Baekhyun com mais força.

Calma — Baekhyun sussurrou. — Ninguém pode ver a gente.

Chanyeol assentiu com veemência. Baekhyun aumentou a intensidade do seu poder.

Uma camada translúcida e pouco visível de alguma coisa mágica que Chanyeol não conseguia descrever os embalou, e o rapaz rezou para que aquilo os fizesse o mais invisível possível. Outro barulho estalou, muito mais perto dos seus ouvidos dessa vez, e eles viraram para trás ao mesmo tempo, tentando enxergar o que tinha provocado aquilo. Baekhyun rezava para que fosse um gatinho fofo e que, no fim das contas, a cena terminasse com um alívio cômico muito bem planejado. Mas não.

Não tinha gatinho fofo. Pra ser sincero, não tinha nada compreensível ou palpável, só a sensação recorrente de que algo não estava certo. Chanyeol estranhou a mudança repentina na iluminação quando, de repente, virou noite. Todavia, não tinha sido o céu que tinha mudado.

Os dois adolescentes se encararam outra vez, e logo quando Baekhyun estava prestes a repetir que "ninguém podia vê-los", eles foram derrubados no chão.

Pela primeira vez e de relance, Baekhyun conseguiu diferenciar uma silhueta humana dando um passo à frente. Na mesma hora, levantou, agarrou o braço de Chanyeol e, o mais audivelmente que pôde, pediu:

— Corre.

Os dois garotos dispararam rua adentro, sem prestar atenção no caminho, ainda ouvindo e sentindo a coisa esquisita que os perseguia. Baekhyun tentava, com todas as forças, aumentar o alcance do seu poder, mas o rapaz tinha visto a coisa olhar bem no fundo dos seus olhos, não sabia nem se estava conseguindo fazer aquilo funcionar.

Viraram numa esquina qualquer e só pararam de correr quando Baekhyun os arrastou para dentro de uma lojinha de conveniência, num posto de gasolina até que bem cheio de gente. Estavam arfando, desesperados por ar, mas ninguém tinha olhado na direção deles ainda.

— Você não tava usando o seu poder? — Chanyeol perguntou, num sussurro. Um homem olhou vagamente na direção dos garotos, curioso pelo som da voz de Chanyeol, mas não encontrou os olhos dos adolescentes.

— Eu ainda tô — Baekhyun respondeu. — É por isso que aquele cara não sabe se a gente é real ou não. — Então apontou para o homem confuso. — Eu só não sei por que o que quer que tenha atacado a gente conseguiu nos ver.

— Eu tô mais preocupado com por que aquilo atacou a gente em primeiro lugar! — Chanyeol pôs as duas mãos no cabelo, afastando as madeixas para trás num movimento ansioso de quem arrancaria os cabelos se estivesse num desenho animado.

— Eu não entendi nem como a gente foi derrubado. Aquilo não tocou na gente, tocou? — Baekhyun perguntou, pondo uma mão no queixo, tentando lembrar.

— Não sei. — Chanyeol balançou a cabeça para os lados, sobrancelhas unidas, olhos amedrontados. — Eu só lembro de reparar que eu tava no chão e sentir você me cutucando pra levantar e correr. Eu nem vi o que era.

— Era uma pessoa — Baekhyun explicou. — Não lembro do rosto, nem da aparência no geral, mas eu lembro de notar que era uma pessoa. E que os olhos eram vermelhos. Bem macabros. Olhando na minha direção.

Baekhyun encolheu os ombros. Chanyeol viu que ele estava tremendo.

— Você acha que a gente devia contar pro Junmyeon? — Chanyeol perguntou. Baekhyun simplesmente negou, sem dizer nada. — E aquele cara ali confuso, que você disse que não sabe se a gente é real? O que vai acontecer com ele?

— Ele não vai nem lembrar da gente — Baekhyun respondeu com sinceridade. — Nem lembrar que um dia achou que tivesse imaginando coisas. Só vai ignorar isso. Sempre.

E Chanyeol, que não estava mais tocando em Baekhyun, fitou os olhos do homem sem que ele pudesse retribuir o olhar. Olhou para as próprias mãos, depois disse a Baekhyun:

— Quanto do seu poder você tá usando agora?

— Muito — Baekhyun disse. — E é melhor a gente voltar de Uber. Acho que eu vou passar mal.

ALGUMAS HORAS DEPOIS

Domingo

Baekhyun não passou mal como disse que passaria. Só teve uma dor de cabeça inconveniente depois de tanto estresse, correria e uso intenso de um poder que ele não estava acostumado a esbanjar desse jeito. Baekhyun também disse, mais tarde e por mensagem, que ficou tão assustado que nem reparou que tinha deixado de controlar seu poder conscientemente. Talvez por isso tivesse conseguido expandir a tal "imperceptibilidade" para Chanyeol tão facilmente.

Ainda assim, o ataque que sofreram permanecia injustificado, e o fato de que a habilidade de Baekhyun não foi de nenhuma ajuda deixava os garotos ainda mais aturdidos. Chanyeol procurou por notícias de ataques do gênero, logo antes de dormir e depois de tomar um banho longo, mas não achou nada. Aparentemente, tinha sido algo isolado, limitado aos dois. Ou, na melhor das hipóteses, tinham alucinado.

Por um milissegundo, o rapaz se permitiu pensar no que seu amigo Jongdae diria caso contasse o caso a ele — coisa que não podia fazer, claro. Talvez Jongdae dissesse que aquilo que os atacou era homofóbico. Chanyeol iria rir, e até deu uma risadinha com o pensamento, mas depois ficou sério. O seu estômago murmurou em protesto, mas não de fome. Ainda estava assustado.

Por fim, mandou uma última mensagem para Baekhyun naquela noite. Você tá bem? Obteve uma resposta até que rapidamente. Tô sim. E você? Chanyeol pensou um pouco antes de digitar: Também.

Tinha mentido.

NO DIA SEGUINTE

Segunda-feira

Ei, cara, só avisando que não vou poder ir hoje. Tô meio gripado, foi a primeira coisa que Chanyeol leu assim que acordou. A mensagem era de Baekhyun, e tinha sido enviada pelo menos uma hora mais cedo, o que significava que o garoto não tinha tomado a decisão de ficar em casa em cima da hora e usado "gripe" como desculpa. Chanyeol sabia porque fazia isso com frequência.

Respondeu com um "ok", então tratou de levantar.

As duas primeiras aulas seriam de química, o que deixava Chanyeol um pouco mais nervoso. A próxima prova estava quase batendo na porta e ele nem tinha olhado a nota da anterior ainda, mas como faziam várias todos os bimestres, ele achava que estava tudo bem ignorar uma delas e tentar focar nas outras. Só que o que garantia que ele não fosse querer ignorar todas as outras provas também?

Quando chegou à escola, foi direto para a sala. Ainda não tinha ninguém lá e ele pôde ficar por um ou dois minutos à sós, refletindo sobre a vida, fisicamente sentindo a presença do papel que tinha amassado e jogado de qualquer jeito dentro da mochila alguns dias mais cedo. Será que deveria olhar o resultado?

Seria ótimo tirar aquele peso dos ombros de uma vez por todas. Também poderia colocar outro peso nas suas costas, mas ele pensou que talvez fosse interessante enfrentar as consequências das suas ações uma vez na vida.

Respirou fundo, juntou coragem. Num movimento só, apressado e irrefletido, abriu a mochila e tirou o papel lá do fundo. Desamassou aquela bagunça e procurou pelo número escrito em vermelho. Ali estava: cinco vírgula sete...

Que droga. Pelo menos podia arredondar pra seis... ele achava.

— Ei, cara, desce aqui — Junmyeon apareceu na porta, do nada, chutando Chanyeol para fora do seu mundinho de pensamentos meio tristes e meio encorajadores, desses que se tem depois de tirar uma nota baixa. — Tem uma aluna nova na turma de vocês, e ela tem poderes. Vem ver!

Chanyeol, que da frase só conseguiu captar "aluna" e "poderes", saiu atrás de Junmyeon assim que o rapaz fez um gesto com a mão. Correram escadas abaixo até onde, no pátio, uma aglomeração de adolescentes emergia por entre as paredes da instituição como um monstro.

— Ela adivinhou tudo! — Jongdae, extasiado, informou assim que Chanyeol e Junmyeon chegaram. Ele estava meio longe, mas tinha um ouvido bom pra fofoca.

— Sério? — Junmyeon disse.

— Qual o poder dela? — Chanyeol perguntou.

— Ela sabe quem tem poderes e quem não tem — Sehun, que já estava lá, explicou. — Não precisa fazer nada além de olhar pra cara da pessoa. Às vezes, ela pode até dizer qual poder é.

— E ela acertou tudo sobre os poderes dos populares — Jongdae acrescentou. — Não quero nem chegar muito perto dela, vai que ela lê a minha mente ou algo assim...

— Se você não tem poderes, ela não vai ler nada seu, ô, criatura. — Sehun deu um peteleco na testa de Jongdae. — Mas ela não tá na sala de vocês? — E Sehun olhou para Chanyeol. — Segundo C.

— Não sei — Chanyeol respondeu, dando de ombros. — Qual o nome dela?

— Bae alguma coisa — Jongdae falou. — Não lembro direito.

Os quatro garotos continuaram olhando na direção da aluna nova, que tinha caído rápido nas graças dos segundo-anistas. Além de bonita, era carismática e tinha um poder incrível; estava óbvio que ela seria popular de um jeito ou de outro, então Chanyeol nem pensou em ir falar com ela (mentira).

...Mas e se ela olhasse pra ele e dissesse que ele tem um poder?

Pronto, já estava pensando longe outra vez.

Chanyeol era curioso e impulsivo demais para não falar com a aluna nova.

— Vamos lá — Chanyeol disse a Jongdae, apontando com o queixo para a garota. — Falar com ela. Ela é da nossa turma. Vamos, Sehun, você também.

— Por que eu? — A pergunta de Sehun ficou sem resposta. O coitado do Junmyeon teve que segui-los, mesmo sem o convite formal.

— Pra quê? — Jongdae quis protestar, mas Chanyeol era mais alto, mais forte e mais insistente, então acabou ganhando.

Aproximaram-se de forma nada suspeita.

— Oi! — Chanyeol cumprimentou, sorriso largo e cabelo caindo na cara. Por sorte, a menina era simpática.

— Oi — ela respondeu; concisa, mas agradável.

Era baixinha, tinha cabelo brilhante, liso, comprido; uma franjinha fofa e feições simultaneamente maduras e bucólicas. Como se fosse uma divindade de mil anos de idade, mas que preferia fingir que sabia tanto sobre o mundo quanto uma adolescente inexperiente.

— A gente é da sua turma — Jongdae explicou, antes que ficasse esquisito. Seulgi e Yerim, amigas de Baekhyun que sentavam muito perto de Jongdae nas aulas de história, também estavam lá, então o clima não ficou tão pesado. — Segundo C, né?

— Sim — a menina confirmou. — Meu nome é Bae Joohyun, e o de vocês?

— Park Chanyeol — Chanyeol se apresentou, fazendo uma reverência até que educada.

— Kim Jongdae. — E um movimento cínico de cabeça.

— Sehun. — E silêncio.

— Você também tem poderes, Sehun? — foi a primeira coisa que Bae Joohyun disse, de forma casual, mas imprevisível. Todos olharam torto para Sehun, que parecia tão confuso quanto os amigos.

— Só se for o superpoder de ser insuportável — Jongdae comentou e Chanyeol o beliscou no braço. — Ai!

— Ah, foi mal, então — Joohyun coçou o braço, meio sem graça. — Eu devia parar com essa mania de dizer o poder dos outros. Não sabia que você mantinha segredo.

Mais silêncio. As outras meninas que estavam por ali encararam Sehun com certa desconfiança, e Joohyun pôs os olhos no chão rapidamente. Sehun precisou explicar:

— Eu não tenho poderes. Não que eu saiba. O que você tá vendo aí?

— Bem, eu vejo sim algumas linhas de poder — a novata, mais tranquila por não ter cometido uma gafe no fim das contas, prosseguiu com o diagnóstico. — Quer que eu diga o que é ou prefere ver um médico?

— Diz aí — Sehun a encorajou. Já estavam lá mesmo.

— Parece que você tem alguma capacidade de manipulação, mas não sei bem ao certo... é um traço bem fraco, então não me surpreende você não saber disso.

— Manipulação? De pessoas? — Jongdae, incrédulo, questionou.

— Como eu disse, não sei exatamente — Joohyun reiterou. — Mas pode ser alguma capacidade de convencimento. As linhas não são muito claras. Deve ser um poder fantasma, inconsciente, ou que nem se manifestou ainda.

Sehun, que até então estava surpreso demais pra falar, balançou a cabeça e deu um sorrisinho. Comentou:

— Irado.

— Da hora — Yerim falou mais para chamar a atenção dos outros, e então mudou de tópico: — Joohyun, quer que a gente te leve pra nossa sala? A aula já vai começar.

— Ah, sim, claro!

— É, vamos.

— Ótima ideia.

Chanyeol e Junmyeon ficaram para trás, meio perdidos.

— Eu não tenho poder nenhum mesmo... — Chanyeol constatou o óbvio, depois de bufar em descontentamento.

— Eu não consegui nem me apresentar — Junmyeon falou, e os dois riram. Foram para a aula de qualquer jeito.

UM DIA DEPOIS

Terça-feira

O segundo dia da semana tinha começado com um furacão de estudantes fofoqueiros, e a aluna nova, Bae Joohyun, estava bem no meio dele.

— O que você fez depois que ela falou que você tinha poderes? — Junmyeon perguntou para Sehun, que deu de ombros.

— Nada, ué. Não sei se tem alguma coisa pra fazer — o rapaz respondeu. — Mas até que é legal. Eu achava que não sabia nem mentir direito; ir disso pra "ter um poder de convencimento" é uma evolução e tanto.

— Vou ficar de olho em você de agora em diante — Jongdae falou, erguendo uma sobrancelha. — Você já é suficientemente perigoso desarmado, imagina com poderes!

— Pior que agora eu vou ter que ir no médico — Sehun continuou, desencorajado, sem prestar atenção em Jongdae. Andavam pelos corredores, sem pressa, em direção à sala de aula. — Pro diagnóstico e pra atualizar os documentos. Imagina nem saber que tem poderes e ainda sair de vilão da história? Literalmente!

— Eu tive um tio que foi multado por vilania por não ter comunicado sobre os "poderes" dele — Jongdae fez as aspas e tudo, dando início a uma anedota com um sorriso ladino nos lábios. — Ele era ilusionista. Tão bom que até acharam que ele era aprimorado.

(Que grande mentira.)

— Isso é tipo o atestado de que ele era bom, então — Junmyeon comentou. — Ei, vocês viram o Chanyeol?

— Ele deve estar vindo aí. — Jongdae deu de ombros. — Eu espero, né.

Chanyeol não estava "vindo aí". Na verdade, ele estava muito bem empacado no primeiro piso do colégio, ao lado de Baekhyun, esperando que a multidão desse uma trégua e eles conseguissem subir.

— O que foi que aconteceu aqui, hein? — Baekhyun, indignado, perguntou. — Eu faltei um dia e isso aconteceu?

— É a aluna nova — Chanyeol foi sucinto na explicação.

Chanyeol suspirou quando a multidão começou a se mover; até que enfim! O único problema era que isso significava que o empurra-empurra ia ficar pior.

Baekhyun, então, curioso e sem paciência, avançou sozinho, tentando atingir o núcleo em que a tal aluna nova estava para compreender aquela fama toda.

E foi só quando viu a figura do amigo sumindo por entre o mar de alunos que Chanyeol pensou em como aquilo poderia dar errado.

— Baekhyun! Baekhyun, espera!

Tarde demais: Chanyeol já tinha perdido o rapaz de vista. Subiu as escadas lentamente, como uma sardinha espremida numa lata. Tinha alguma sorte de ser tão alto, porque conseguia, mais ou menos, ver sobre a cabeça dos alunos. "Mais ou menos" porque tinha miopia, então não era exatamente uma águia...

Talvez por isso tenha demorado a encontrar a pista da mochila azul de Baekhyun. Em desespero, tentou alcançá-lo.

Sooyoung chegou nele primeiro, o que foi um alívio, já que ela o atrasou um pouco. Finalmente, Chanyeol conseguiu chegar até Baekhyun.

— Preciso falar com você — Chanyeol avisou, encarando Baekhyun nos olhos.

— Oi pra você também — Sooyoung tentou não ser muito sarcástica.

— Calma, cara — Baekhyun falou, tentando deixar Chanyeol menos afobado. — Que bicho te picou?

— Oi, gente! — Yerim cumprimentou a todos. Lentamente, o círculo demoníaco de pessoas curiosas tinha se formado outra vez, bem no meio do corredor. Yerim tinha trazido Joohyun a tiracolo. — Baekhyun, acho que você ainda não conheceu a Joohyun, né?

— Ainda não — Baekhyun respondeu, simpático. — Oi, Joohyun.

Era agora.

Chanyeol não tinha poderes de adivinhação — quem o dera... —, mas não precisava ser um gênio para saber o que aconteceria em seguida. Tentou puxar o braço de Baekhyun, talvez alertá-lo de forma subliminar, para fazê-lo virar as costas e ir embora antes que todas aquelas pessoas ouvissem o que Joohyun, muito provavelmente, diria em seguida.

Não deu tempo.

— Oi, Baekhyun — ela, então, sorriu inocentemente. Tomara que ela não fale, tomara que ela não fale, tomara que ela não... — Deixa eu adivinhar: você tem poderes de invisibilidade, não tem?

Silêncio total.

Baekhyun tinha os olhos arregalados e todos olhavam pra ele. O sorriso de Joohyun lentamente se dissipou, e ela reparou que tinha dito o que não deveria.

Consumido pela pressão, Baekhyun saiu correndo.

CONTINUA NO PRÓXIMO EPISÓDIO...

[notas da autora] estamos aí outra vez!! eu sei que a demora foi razoável, e a partir de agora não posso mais prometer update semanal, mas vou tentar. notícia boa é que o cap 6 já está na betagem! e eu já planejei o 7 e o 8 hehe agora é que o trem começa a ficar bom!

espero que tenham gostado desse capítulo <3 e me contem as suas teorias, porque o bicho tá pegando.

e muito obrigada a @/hikuno_chan (spirit) pelo ÓTIMO trabalho na betagem, como sempre, e na paciência de sempre de lidar com as minhas vírgulas fora do lugar. você é perfeita!!

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