Episódio I: Buraco na Narrativa
Chanyeol fervia, da cabeça aos pés. Não sabia se era doença da alma ou do corpo, se estava alucinando ou preso num sonho hiperrealista, mas, até segunda ordem, era aquilo que sentia. Calor. Não por ser um adolescente hormonal, não por ter corrido como um maluco até ali, mas por finalmente ter tomado a coragem de gritar...
— Eu gosto de você!
...e então ver Byun Baekhyun virar-se lentamente, como num filme, e lançar em sua direção o olhar mais abismado que já tinha visto na vida. O rapaz não estava exatamente feliz.
Talvez a pior parte tivesse sido assistir Byun Baekhyun dar as costas e sair correndo pelo estacionamento, fugindo. O calor virou fumaça; a esperança derreteu; os seus ombros caíram, cansados.
E no segundo seguinte, um clarão atravessou o céu numa grande explosão.
ALGUM TEMPO ANTES
Segunda-feira
— Até parece! — Jongdae deu uma risadinha. — Eu não caio nessa, cara, é primeiro de abril. Não confio em você.
— Mas eu tô falando sério! — Chanyeol ergueu as sobrancelhas, indignado por Jongdae, seu melhor amigo, não ter acreditado no que tinha dito. — Eu lá tenho culpa se é primeiro de abril? O coração não tem calendário!
Daquela vez, Jongdae deu uma risada alta que chamou a atenção do refeitório inteiro. Chanyeol, que era meio emo, botou o capuz e abaixou a cabeça, ficando igualzinho ao Pete Wentz em 2008 com aquela franja lambida caindo de lado. Tava precisando dar uma lavada naquela juba urgentemente.
— Você é péssimo — Jongdae constatou, sorrindo e mexendo na comida. Depois, ficou sério. — Espera aí, cê tá falando sério? Você gosta do Baekhyun?
— É lógico que eu tô! Você acha que eu ia brincar com uma coisa dessas?
— É claro que sim. — Jongdae entortou a boca numa expressão de deboche que quase fez Chanyeol desistir da vida. — Tá, eu vou acreditar em você, mas se isso for mentira, eu vou te quebrar na porrada.
No mesmo instante — como se estivesse ouvindo a conversa dos dois —, Byun Baekhyun entrou no refeitório. Parecia um príncipe: rosto esculpido pelos deuses, voz abençoada pelos anjos, simpatia e carisma, todo o aparato necessário pra ser o alvo de adoração de metade do colégio.
Mas Baekhyun era meio esquisitinho: fazia umas piadas fora de hora, tinha umas ideias mirabolantes e falava sozinho pelos corredores da escola, então não era lá o cara mais cotado como paquera, interesse romântico ou jogador reserva de futebol nas aulas de educação física.
E Chanyeol, bem, era meio emocionado — isso não era surpresa pra ninguém.
— Mas eu não sabia que você era, sabe... — Jongdae testou, remexendo a comida enquanto Chanyeol bebia o refrigerante com um canudinho — gay.
— Pois é. — Chanyeol assentiu, largando o refrigerante. — Nem eu.
(...)
Naquele mesmo dia, encorajado por Jongdae, Chanyeol inventou uma desculpa pra ir falar com Baekhyun. Era um cara meio impulsivo, então se ficasse empolgado com uma ideia, executaria a bendita na hora, sem nem pensar! E Jongdae tinha muuuuita ideia ruim sobrando naquela cachola desmiolada.
Assim, tirou o capuz da cabeça, passou a mão no cabelo, tentando arrumá-lo do melhor jeito possível atrás da orelha, e ensaiou a sua mentira na cabeça. Chegou para Byun Baekhyun, no estacionamento do colégio, bem no fim das aulas, e perguntou:
— Ei, cara, desculpa perguntar, mas eu e uns amigos estamos muito mal de química mesmo e a gente tava pensando se você não podia dar uma força. A gente te paga uma aula se você quiser.
A regra era clara: Chanyeol não podia simplesmente chamar Byun Baekhyun pra sair, assim, na lata, porque nem sabia se ele se bandeava por esses lados. Além do mais, se fosse, você sabe... hétero... as coisas ficariam bem piores! Clima tenso, vergonha profunda: arrependimento na certa.
— Relaxa, Chanyeol, eu ajudo vocês, sim.
Baekhyun sabia seu nome, claro, afinal estudavam na mesma turma; não eram tão estranhos assim... Ainda assim, ouvir o seu nome da boca de um cara tão bonito quase desestruturou o psicológico de Chanyeol, que era alto pra caramba, mas mais mole que maria mole.
Deu um sorriso largo. Tinha até esquecido que ainda não tinham marcado nada.
— Então, quando vocês querem que a gente se reúna? — Byun Baekhyun precisou perguntar para que Chanyeol lembrasse onde estava.
— Ah, sim!, é né, então... — Droga, não tinha ensaiado aquela parte. — Na minha casa, no sábado.
— A prova não é sexta?
— Na quinta-feira, eu quis dizer — corrigiu, como se "quinta-feira" e "sábado" até rimassem. — Depois da aula. Ah, e depois de estudar a gente tava planejando dar um rolê no shopping, se tudo der certo. Cê topa?
— É lógico — Baekhyun concordou, abrindo um sorriso simpático.
O rapaz ergueu a mão para cumprimentar Chanyeol daquele jeito meio descolado, meio de tiozão, em que as duas pessoas dão um high five que vira um aperto de mão... Baekhyun fazia soar másculo. Chanyeol fazia parecer... menos másculo.
(...)
Arrumar todo o esquema mais tarde deu trabalho.
Maldita hora em que foi abrir a boca... Chanyeol não tinha amigos suficientes pra suprir a cota de alunos! Ninguém podia ficar depois da aula na quinta-feira e ele estava quase tendo um ataque de pânico. As coisas não iam dar errado assim, logo de primeira, né? Não tinha nem trocado meia dúzia de palavras com o carinha que ele gostava e já estava tudo dando errado.
Por fim, conseguiu Jongdae, da sua sala, e Sehun, do segundo ano B; além da presença ilustre de Junmyeon, do segundo ano A, que tinha notas excelentes em humanas, mas capengava um pouco em matemática. O time estava convincente o bastante — todos pareciam desesperados por terem que saber nomenclatura de compostos orgânicos.
— A gente vai ter que ir pro rolê depois do estudo também? — Junmyeon perguntou, terça-feira de manhã, antes da primeira aula. Chanyeol deu de ombros.
— Se você quiser.
— Vou poder não, cara — Junmyeon confessou, balançando a cabeça para os lados, meio envergonhado. Era um cara legal, mas meio na dele, calado; Chanyeol entendia sua vontade de evitar o convívio social.
— Não tem problema, cara, relaxa.
— Ei, eu posso ir no rolê sem ir estudar na sua casa? — Sehun sugeriu, com um sorriso esperto crescendo à medida que a frase progredia.
Ele estava vestindo uma blusa velha do super-herói norueguês Brann, que foi muito famoso no tempo em que seus pais eram jovens. Vestia a peça horrorosa dia sim e dia não; Chanyeol odiava a coisa vermelho-desbotado, meio manchada, meio esburacada, mas Sehun tinha apego emocional por aquele pedaço de pano.
— Não — Chanyeol não perdeu tempo. Sehun era um malandro. — Se for pro rolê, vai ter que ir pro estudo.
— Cruzes... — Sehun fez careta, ficando igualzinho ao super-herói estampado na sua camiseta. — Tá bom, então. Mas você vai me pagar uma casquinha, né?
— Vou pensar no seu caso.
UNS DIAS DEPOIS
Quinta-feira
Jongdae não aguentava mais. Chanyeol era muito óbvio.
Durante o tempo de estudo, ficou surpreso com o fato de que realmente tinham estudado. Depois que Junmyeon foi embora, balançando a velha mochila preta de um lado pro outro, e Jongdae precisou ficar sozinho com Chanyeol, Baekhyun e Sehun, as coisas começaram a ficar insuportáveis.
— Sorte nossa que o Baekhyun teve paciência de ensinar a gente — Chanyeol começou até que bem simples, ainda que suspeito. Era uma frase normal, meio de puxa-saco, mas Jongdae deixou passar.
Andaram mais um pouco pelo shopping; Ah! Baekhyun, você é inteligente mesmo! (Ele só tinha lembrado o nome da atriz do filme que iam ver.) Compraram os ingressos; foram esperar dar o horário num fliperama qualquer. Caraca, Baekhyun, você é muito bom nesse jogo! Jongdae estava começando a ficar com pena, sinceramente, mas Byun Baekhyun não parecia de todo incomodado, só meio encabulado com os elogios. Já já os dois estariam se beijando pelos cantos, e Jongdae não precisaria mais se preocupar em ajudar seu amigo emo a perder o BV. Como eles crescem rápido!
— Cara, acho melhor a gente dar no pé — Sehun sugeriu, olhando para Baekhyun e Chanyeol de forma discreta. Jongdae entendeu no mesmo instante. — O bagulho tá dando certo.
Jongdae balançou a cabeça positivamente para seu cúmplice, depois comunicou:
— Galera, eu preciso levar o Sehun até a saída. A mãe dele tá vindo buscar ele e ele não sabe muito bem como andar no shopping sozinho, sabe? — Deu de ombros, então, mas não recebeu nenhum questionamento dos dois garotos que ficavam pra trás. — Tchau!
— Aí, cara, você podia ter inventado uma desculpa melhor, né! — Sehun cutucou Jongdae no braço, que ria. — Agora eu vou ficar sem ver o filme?! Babaca!
— Foi mal, mano, mas acho que foi melhor assim — Jongdae não conseguiu segurar a risada, mas já estavam longe dos pombinhos. — Também não vou assistir o filme. Deve ser muito chato. Deixa eles pra lá! A gente toma um sorvete, liga pro Junmyeon, não sei. Encher o saco dele é sempre bom...
Baekhyun virou o rosto na direção de Chanyeol assim que Jongdae e Sehun sumiram de vista. Chanyeol até ficou meio balançado, meio esperançoso de que seria um bom momento pra trocarem uma ideia — de frente para o brinquedo de cesta de basquete, que romântico! —, mas o que ouviu de Byun Baekhyun foi para o lado oposto:
— Tá legal, qual das minhas amigas você quer pegar?
Chanyeol piscou. Largou a bola de basquete sem fazer um ponto, meio confuso e meio acanhado.
— Fala, cara — Byun Baekhyun demandou, parecendo irritado. — Qual delas?
— Nenhuma. Eu não tô querendo pegar uma amiga sua.
— Ah, não tá não... certo. Então por que você não para por um segundo de me elogiar? Por acaso sou eu quem você quer pegar?
Baekhyun foi irônico e Chanyeol não conseguiu segurar a risada. Até abriu a boca, preparadíssimo para soltar um sim, exatamente isso!, mas Baekhyun ainda insistia:
— Fala logo. Não precisa fingir que é meu amigo.
— Eu nem sei quem são as suas amigas — Chanyeol tentou opinar, ainda com uma risada entalada na garganta. Naquela altura, a risada nem era pela ironia da ironia, mas pelo nervosismo. Que presepada, viu? — Desculpa se eu te passei essa impressão. Só te chamei mesmo porque a gente é muito ruim de química.
Baekhyun ergueu uma sobrancelha desconfiada, mas depois deixou pra lá. Ele tinha visto que Chanyeol e seus amigos realmente precisavam de uma ajudinha com química, e também não estava bravo (também não estaria muito chateado se Chanyeol só estivesse ali pra conseguir o número de uma das suas amigas, mas odiava que escondessem as coisas dele).
Sendo sincero, aquilo acontecia vezes demais. Os garotos achavam muito simples se aproximar de Baekhyun para conseguir se aproximar das suas amigas bonitas depois, e Baekhyun não queria admitir, mas era meio decepcionante. Você também se sentiria assim se as pessoas só se aproximassem de você por interesse.
Espera aí...
— Então você só quis mesmo a minha ajuda com a matéria? — Baekhyun perguntou.
— Bem... — Chanyeol já não sabia muito bem o que dizer. Resolveu manter-se fiel à mentira, pra pelo menos não parecer estranho e entregar o jogo logo de cara. Queria ir devagar. — É.
— Ah... — Baekhyun compreendeu.
Só depois é que foi lembrar que Chanyeol tinha até oferecido pagar o valor de uma aula pra ele. Mas como é burro! Por que achou que ele tinha ido com uma intenção diferente? Achou que Chanyeol queria ser seu amigo? (Com certeza não, mas ainda era esquisito pensar naquilo. Se sentia meio usado.)
— Mas eu só te chamei porque você é um cara legal, amigo de todo mundo, e eu sabia que você ia ficar de boa... — Chanyeol tentou consertar, mas só deixou pior. Estava assumindo que Byun Baekhyun era um idiota que se deixava manipular! — E todo mundo gosta de você, né, porque você é legal. Então te chamar pra vir no rolê com a gente foi bem natural.
Baekhyun ficou em silêncio por um tempo, refletindo. Queria saber quem era esse "todo mundo" que gostava tanto dele como o outro dizia.
O jogo terminou, ele pegou as fichas que tinha ganhado e foi embora. Chanyeol, sem muito o que fazer, seguiu Baekhyun para fora do fliperama.
— Tão natural que os seus amigos até foram embora. — Baekhyun cruzou os braços, olhando nos olhos de Chanyeol com um ar desconfiado pela segunda vez. — O Jongdae não vai voltar, vai?
— Vai sim! — Chanyeol fez que sim, mesmo sabendo que não. — Claro que vai! Ele não perde esse filme por nada...
Jongdae não ia voltar. Ele odiava os filmes da Jennifer Lawrence.
Que fiasco de dia.
Continuaram andando. Na verdade, Byun Baekhyun continuou andando; Chanyeol só o estava seguindo. Ele parecia menos contrariado, e os dois já até tinham mudado de assunto.
— Eu não sou muito fã de filme de herói. Quer dizer, você não acha que é uma coisa meio romantizada? Heróis não são tudo isso na vida real.
Chanyeol coçou a nuca, meio sem ter o que dizer.
— É, realmente — precisou concordar. Na mesma hora, passaram em frente a uma lojinha de camisetas de heróis. O vendedor usava uma blusa azul do Superman, herói fictício, e no balcão Chanyeol avistou um funko do Matéria Escura, herói de verdade. — Mas eu gosto dos filmes.
— Você já viu algum herói na vida real?
Chanyeol balançou a cabeça para os lados. Na Coreia do Sul, só tinham um super-herói, que era o Matéria Escura, mas ele tinha se aposentado na década passada. Não era como os Estados Unidos, que tinham uns dez, e honestamente, aquele fato até acalmava o coração de Baekhyun. Ele não gostava de heróis.
— Na verdade, eu fico meio preocupado da gente não ter mais um herói grande como o Matéria Escura — Chanyeol confessou. — Quer dizer, nós não temos ameaças muito grandes, mas nunca se sabe, né?
— Eu acho até bom. Heróis são exibidos, Chanyeol, e eles têm todos os privilégios possíveis. Você já conviveu com alguém que tenha um na família?
— Não...
Realmente, as famílias dos heróis profissionais viviam em lugares afastados — comunidades específicas —, separados dos civis. Chanyeol nunca teve um aprimorado na família, quem dirá um herói profissional, mas seria tão legal se tivesse...
— Eles são um porre — Baekhyun opinou, cortando a linha de raciocínio do menino sonhador, depois revirou os olhos. Quando Chanyeol se deu conta, estavam muito próximos de uma das saídas do shopping e, bem ao fundo, ele podia ver Sehun e Jongdae.
Tomando sorvete, os dois riam e apontavam para alguma coisa na vitrine de uma loja. Paspalhos! Chanyeol quis xingar, mas só engoliu em seco.
— Vamos falar de outra coisa — Baekhyun continuou, parecendo um pouco menos sério, mais descontraído, como o Byun Baekhyun habitual.
Chanyeol tentou não transparecer o nervosismo, mas não sabia o que fazer. O que Baekhyun pensaria se visse Jongdae e Sehun ali? Será que se sentiria mal, pensando que eles tinham ido embora por não gostarem dele? Que agonia, senhor!
— Que tal se a gente fosse tomar um sorvete? — Sugeriu Chanyeol, virando de costas e dando um passo, com a intenção de ser seguido, mas aquilo não aconteceu.
Chanyeol se distraiu por um segundo, achando que estava atuando muito bem, e quando se deu conta, Baekhyun já estava andando em direção a Jongdae e Sehun. Ele era rápido demais.
Exceto que, no lugar de ir até Jongdae e Sehun, Baekhyun andou até a saída e disparou pelo estacionamento. Chanyeol precisou correr atrás dele debaixo do véu da noite escura e fria como se não fosse sedentário e míope.
Baekhyun foi obrigado a esperar um carro passar, o que deu a Chanyeol uma certa vantagem. Dando graças a deus, conseguiu alcançá-lo.
— Não precisa fingir que você ou seus amigos gostam de mim. — Baekhyun se esquivou da mão de Chanyeol que tentou tocar o seu braço. Foi caridoso e ficou parado, dando uma colher de chá ao rapaz que arfava. — Eu vou embora sozinho, não se preocupa.
— Baekhyun, espera, não é isso!
— Não é o quê? Você só mente pra mim, cara. Não sei se eu quero saber a verdade.
E saiu andando dessa vez.
Cruzou a rua, caminhando para o outro lado do estacionamento; a parte mais deserta. Não sabia para onde estava indo, só não queria ficar muito perto de Chanyeol. O que quer que aquele garoto quisesse com ele, não era coisa boa, porque Baekhyun não conseguia ver a verdade nos olhos dele. Parecia sempre estar escondendo alguma coisa.
Mas era um garoto insistente.
— Eu gosto de você! — Chanyeol confessou, desistindo de manter as coisas minimamente sutis.
Byun Baekhyun, então, virou lentamente para olhar o garoto nos olhos, como se para ter certeza de que, daquela vez, ele não estava escondendo nada. Parecia sincero, constatou, e talvez aquilo o assustasse ainda mais. Quase quis rir. Como assim, gostava?
Saiu correndo, sem querer lidar com nada daquilo. Quis ficar invisível, mas não deu tempo de desaparecer, porque um clarão atravessou o céu numa grande explosão. O barulho assustou os dois adolescentes, que rapidamente identificaram de onde vinha aquele estardalhaço.
No topo de um prédio vizinho ao shopping, uma movimentação esquisita parecia violenta demais — eram duas pessoas, foi só o que Chanyeol conseguiu captar. Os garotos deram meia-volta e saíram correndo na direção oposta, invertendo as posições; agora, Baekhyun é que corria atrás de Chanyeol, mas no caso, ele só queria salvar a própria pele, não se declarar de forma dramática.
Alguma coisa caiu no asfalto bem na frente deles e abriu um buraco no chão do estacionamento. O lugar estava deserto; só Baekhyun e Chanyeol tinham visto o que despencara do céu.
Eles pararam imediatamente, e o silêncio dominou a cena por um instante. O coração deles estava acelerado; nenhum estava psicologicamente preparado para um acontecimento daquele porte. Todavia, ali estavam: duas crianças sozinhas diante de um super-herói.
Uma fumaça preta característica se espalhou pelo buraco no asfalto — caraca, Chanyeol não estava acreditando nos próprios olhos! — e do meio da fumaça a silhueta de um homem emergiu. Ele se levantou, cambaleante. Olhou para os dois adolescentes. A cratera não estava mais lá quando falou:
— Desculpem pelo inconveniente. Por favor, não contem pra ninguém que vocês me viram.
E saiu andando como se nada tivesse acontecido.
Chanyeol e Baekhyun ficaram em silêncio profundo por um segundo.
— Aquele... era o Matéria Escura?
Baekhyun se arrepiou com a indagação de Chanyeol.
— Não pode ser... ele se aposentou!
— Mas era ele! Aquela coisa preta no ar, o buraco que desapareceu... ele deve ter consertado com o poder dele. Ele até pediu pra gente não falar que tinha visto ele! Era o Matéria Escura!!
Baekhyun travou. Chanyeol pôs a mão na boca, passadíssimo, e seus olhos já largos dobraram de tamanho. Naquela coordenada do espaço-tempo, dentro daquele instante, nada mais parecia importar — nem química, nem confissões adolescentes, nem mentirinhas bestas.
Baekhyun deu um sorriso incontido.
— Cara, a gente viu o Matéria Escura!
E os dois garotos saíram pulando e girando; perplexos, mas animados.
Até a ficha cair.
— Cara, a gente viu o Matéria Escura... — Chanyeol segurou o braço de Baekhyun, que achou que ele fosse desmaiar. A pressão desceu um pouquinho mesmo. Chanyeol viu umas estrelas a mais no céu. — A gente tá ferrado. Se ele voltou é porque a gente tá muito ferrado... Ele tava lutando com quem?! Você viu?
— Não vi — Baekhyun negou com a cabeça também, contagiado pela preocupação de Chanyeol. Pegou o rapaz pelo pulso e o guiou para um lugar mais cheio, como se a existência de outras pessoas no mesmo ambiente fosse um sinal de segurança. — Isso é um segredo muito importante. A gente não pode contar pra ninguém.
— Pra ninguém — Chanyeol concordou freneticamente. — Ah, e sobre aquilo que eu te disse... você pode esquecer?
Baekhyun franziu a testa, confuso.
— Por quê? Não era verdade?
Chanyeol ficou vermelho. Baekhyun sabia que era verdade.
— Eu esqueço, eu esqueço, fica tranquilo — Baekhyun confirmou. — Não se preocupa.
Se despediram de uma forma esquisita; não sabiam se cumprimentavam um ao outro ou se apenas davam um tchauzinho distante. Andaram em direções opostas.
Baekhyun foi pra casa andando, ainda que a confusão no estacionamento o tivesse deixado um pouquinho perturbado, com um pouquinho de medo. Não morava longe dali e andar era bom para esfriar a cabeça, mas ele só estava esfriando o corpo naquela temperatura de pinguim; sua cabeça pensava tanto que já estava quase pegando fogo.
Passou pela entrada do shopping e estava tudo quase vazio. Só tinham algumas pessoas mais ao longe; e, na escadaria de uma das entradas, uma mochila preta descansava, parecendo meio abatida. Baekhyun deu um sorriso compreensivo; também estava se sentindo abatido. Mas se fosse uma mochila, talvez, sua vida não fosse tão caótica.
E não conseguiu parar de pensar em Chanyeol, que era um cara muito esquisito, mas até que legal. Não podia estar falando sério quando disse que gostava de Baekhyun, mas Baekhyun viu verdade nos olhos dele, e Byun Baekhyun nunca se engana.
Queria ter se enganado. Seria mais fácil.
CONTINUA NO PRÓXIMO EPISÓDIO...
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