Zé Peto percebeu que a dona rainha fada estava de olho no Pinote e algo dentro dele se remexeu muito... E olha que nem estava tocando um axé ou funk das quebradas...

Mas não era por medo de perder o boneco que ele ficou todo remexido, pois na verdade o Pinote parecia ser o seu preferido porque não conseguia se desfazer dele, ninguém queria aquele trambolho, e como ele vivia querendo vender para alguém o dito cujo, estava sempre com ele, então achavam que o boneco lhe era especial.

O que Zé Peto viu foi a oportunidade de matar dois coelhos com uma só cajadada: ficar livre do boneco que ele via como uma pedra no sapato e conseguir um pedido da mocreia, digo, rainha das fadas.

É claro que dado às circunstâncias, a sua atitude não poderia ser outra, cinco minutos depois, após ela falar que adorou o Pinote.

Como a sua última refeição havia sido no dia anterior e Zé Peto estava o pó da rabiola, somado a essa emoção de passar uma rasteira na rainha, ele ficou tão remexido que desmaiou...

Caiu de fuça para o chão com o Pinote seguro pelas mãos à frente do corpo, numa posição que dava dó de ver: o rosto afundado no chão e a bunda meio que levantada formando um arco do veio, se é que você me entendeu.

Foi impossível não se ouvir uma estrondosa gargalhada por todo o palácio das fadas, umas ainda com belos sorrisos, outras já desdentadas ou desdentando-se...

Eu sei o que você está pensando: a rainha imaginou em que tipo de sapo transformar o Zé Peto; geralmente as fadas são delicadas e bonitas e leves, se não haja asas; geralmente as fadas também são boas e não arrancam o couro do povo em troca de pedidos; sim, havia algo errado ali, algo bem mal feito, algo que os aldeões não sabiam, nem imaginavam, algo que você não sabia, algo que pra falar a verdade nem eu mesmo sabia (e nem sei) até agora, afinal estou inventando, escrevendo de improviso, e se soubesse que o Zé Peto ia dar esse vexame, esse mico leão dourado, eu tinha trazido uma Polaroid para registrar esse espetáculo...

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