Era uma vez um defeito de fabricação...

Horas depois, quando o Zé Peto saiu do desmaio, já era de madrugada e o Pinote roncava ao seu lado.

A rainha lhe deixara uma mensagem presa numa tabuleta, dizendo que ele se apressasse e fosse logo para o mundo coisado, mas você deve se lembrar que o velho marceneiro não sabia ler e pensou justamente isso ao olhar para o recado, que magicamente se transformou em uma seta apontando para a esquerda.

Ele agarrou o Pinote pelo cangote e o levou arrastando na direção indicada. É claro que o boneco-gente continuou dormindo e roncando, pois já estava acostumado com aquele tratamento VIP.

Outras setas foram aparecendo e quando ele percebeu estava dentro da cabana da fadona, que se encontrava deitada num tapete grosso, numa posição nada sensual.

"Siga pela floresta e verá o portal, minha filha estará lá e lhe mostrará o caminho..."

"Sei o que você vai perguntar, velho lerdo: como vai saber que é ela? Você vai ver que ela tem algo diferente de mim que será impossível não notar..."

Tomara que seja a beleza - pensou Zé Peto, se arrependendo na hora, mas como continuou vivo, insistiu no pensamento - E pelo menos uns 100 quilos mais leve...

"Não abuse da sorte, Zé Peto! - interrompeu a fadona gerando um calafrio na espinha do marceneiro - Eu leio tudo que se passa pela sua mente..."

"Mas não se preocupe, eu não ligo! Se ligasse você estaria ferrado, ia transformá-lo num grilo falante com as asas quebradas. Ah, e não se esqueça de descobrir pelo caminho a qualidade do seu filho..."

No fundo a rainha ligava sim, e muito, mas o Zé Peto só descobriria isso quando fosse tarde demais.

Eu ia parar por aqui, deixando esse suspense no ar, mas o capítulo ainda está curto e eu nem justifiquei o seu título ainda, então vamos lá.

Zé Peto saiu dali suando frio e iniciou uma série de chacoalhões no Pinote, que finalmente acordou.

"Oi, papai, aonde vamos?" - disse ele pondo-se a andar daquela forma toda desengonçada da véspera.

"Estamos indo para o mundo coisado. Temos que chegar lá rápido."

"Que bom, papai! Será uma aventura!"

"Você já sabe o que vamos fazer lá?" - perguntou Zé Peto sem perceber que o fazia rapidamente e sem pensar.

"A tia fada me contou enquanto o pessoal tirava foto do senhor desmaiado e postava no Facefadas online. Pediu que eu fizesse exatamente o contrário do que o senhor me mandasse, pois o senhor, além de feio, era meio devagar das ideias, cabeçudo, sonso, boboca..."
Depois de mais uma infinidade de elogios o Pinote parou para pensar, antes de continuar.

"Acho que disseram que o senhor era lerdo também, sim, isso é tudo!"

"Você tem certeza?"

"Sim!" - disse o boneco-gente todo orgulhoso.

"Mas elas não lhe pediram para que você não contasse nada?"

"É claro que pediram e eu jurei que não contaria nada..."

"Mas então por que contou, Pinote?"

"Por dois motivos - disse ele rindo numa boca de pau sem dentes - Porque achei divertido mentir e queria ver a sua reação quando soubesse, para ter certeza de reconhecer esta cara que está fazendo agora..."

"E que cara seria esta?"

"Cara de trouxa!"

Depois de dar uns cascudos no cocoruto do boneco-gente, que é claro que doeu somente nos seus próprios dedos, já que Pinote tinha literalmente uma cabeça dura e feita de madeira, eles rumaram para o interior da floresta, onde o futuro de ambos seria decidido.

Pelo menos Zé Peto agora já sabia da qualidade que o boneco-gente possuía e que deveria ser explorada ao contrário no mundo coisado...

(605 palavras)

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