𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟏 • Calliope
NAQUELA ÉPOCA, VIPERINE ainda podia ser pequena, mas ela já entendia bem o que era ser rejeitada por aqueles que deveriam ser sua família. Era um sentimento pesado e que apertava seu peito. De certa forma, era inexplicável.
Ela tinha seis meses quando foi levada para a Obsidian, a dimensão do mal absoluto em outras palavras. O que um bebê teria feito para estar ali?
A resposta é simples: ela nasceu.
Viperine não deveria ter nascido, nunca deveria existido — pelo menos não naquela família. Talvez em outra vida, ela pudesse ter sido uma princesa, mas ali ela era uma vilã. Uma das piores já criadas.
Quando a trouxeram, sua mãe biológica não estava presente. Viperine fora levada pela guarda Solariana e entregue nas mãos de Mandragora, a Bruxa dos Insetos. Fosse lá o que sua mãe tivesse negociado, devia ter funcionado, já que a bruxa a tomara como sua própria filha.
Obsidian era uma dimensão praticamente abandonada, toda congelada e petrificada — exatamente o que Viperine mais era capaz de fazer. Ela não sabia como, mas no meio de todas aquelas pedras frias e escuridão, havia uma espécie de castelo digno de filmes de terror. Viperine não duvidava que aquelas salas e corredores fossem assombrados, mas ela sabia que era mais perigosa do que qualquer coisa já morta.
As únicas pessoas ali era ela, Mandragora e algumas empregadas do castelo. Era bem solitário, mas Viperine aprendera a achar conforto no lado escuro da solidão. Até quando ela fez seis anos, suas mãe ainda a visitava — uma vez por ano por no máximo duas horas.
Mas isso parou naquele aniversário. Viperine apenas recebeu uma pequena caixa com um bilhete lhe desejando parabéns, um pequeno colar com o pingente de sol e um buquê de rosas.
Ah, pobres flores. Não duraram mais de cinco minutos desde que Viperine as viu. O cartão ela jogou na lareira e o viu queimar. Já o colar... Aquele sol dourado era mais do que uma afronta a ela. Se ela tivesse sido esquecida naquela data, teria sido melhor.
Agora, Viperine tinha dez anos. E finalmente chegara o ano de rever sua mãe. As tropas solarianas cercaram o castelo, escorando Sua Graça enquanto ela entrada. As empregadas baixaram a cabeça, mas Mandragora e Viperine não se mexeram, nenhum sinal de que se curvariam diante daquela mulher.
Mandragora não dissera para Viperine o motivo da visita de sua mãe. Bom, talvez tenha sido porque ela também não perguntou. Ela não queria saber de verdade, não importava mais. Teve uma época em que queria ter crescido com o carinho daquela mulher, mas hoje... Viperine não era levada a sério pela idade que tinha, mas ela já sabia de mais coisas do que uma criança normal saberia — e sentia.
— Você cresceu desde minha última visita, Calliope — disse sua mãe.
Viperine revirou os olhos, cruzando os braços.
— Talvez porque já faz quatro anos desde que você nos deu a infame graça da sua presença — defendeu-a Mandragora, protetoramente.
Ela fez uma careta, nem um pouco feliz da ousadia da bruxa.
— Eu não me chamo Calliope — sibilou a garotinha. — Meu nome é Viperine.
— Não vamos falar sobre o nome horrendo dado pelo seu pai — afirmou a rainha. — Lhe dei um nome real, digno de Solaria, e é assim que você será chamada, Calliope.
— Mas Viperine não pertence a Solaria — defendeu-a Mandragora. — Você mesma, majestade, a jogou para fora do seu brilhante reino. Então, sim, aqui ela é e sempre será Viperine Górgona.
A Rainha Luna engoliu uma bola que se formou em sua garganta. Ela era a rainha, obviamente não sabia o que era ter uma ordem sua negada. Entretanto, por mais que fosse rainha, ali era Obsidian, ela não tinha poder ali dentro e nem nunca teria, nem mesmo sobre sua filha.
Ela respirou fundo, se contendo antes que fizesse uma cena. Estava desperdiçando tempo precioso ali e tinham pessoas em Solaria que notariam seu sumiço. Se quisesse continuar escondendo aquela outra parte de sua infeliz vida, ela precisaria ser rápida.
— Pois bem — resmungou, cerrando os dentes. — Como estão os poderes de Viperine?
— Crescendo cada vez mais — respondeu Mandragora. — Talvez ela se torne mais poderosa que você em alguns anos. Fará um bem a todos se transformá-la em pedra.
— Não vim para brigar com você, Mandragora, mas sim para me certificar que eu não seja obrigada a tomar uma decisão mais drástica em relação à ela.
— Não fale como se eu não estivesse aqui — mandou Viperine, irritada com a mãe. — Se quer saber algo sobre mim, então me pergunte.
Mandragora sorriu maligna com a criança, feliz com a resposta que dela a rainha horrenda.
— Tudo bem — suspirou Luna, a contra gosto. — Como seu poder se manifesta? Qual emoção te atiça?
— Raiva — respondeu. — Basta eu querer que a pessoa desapareça e ela vira pedra.
— Elas olham em seus olhos? — perguntou a rainha, ligeiramente nervosa.
Viperine balançou a cabeça, negando.
E se Mandragora estivesse certa? Calliope— Viperine, era uma Medusa, e Medusas precisavam ser vistas nos olhos para petrificar alguém. Viperine só precisava querer e sua vítima virava pedra.
Ainda por cima, nunca perdera a controle. Como? Luna sempre lera todos os relatórios dela que chegavam em sua mesa. Viperine costumava ser nervosa e ter ataques de raiva... Por que seu poder nunca se descontrolou e causou uma tragédia?
Não tinha como ser alguma barreira de Obsidian. Não existiam essas coisas ali. Se nem mesmo os maiores criminosos com seus poderes não conseguiram sair dali, como Viperine poderia estar sob controle?
— Se era só isso, você já pode ir embora — disse Viperine, querendo que a mãe sumisse dali.
Luna respirou fundo, tentando se lembrar que era apenas uma criança, mas estava ficando difícil — até demais.
— Não é tudo — avisou. — Na verdade, vim falar sobre a decisão que tomei sobre seus modos e ensino.
— Ensino? Pensa em mandá-la para Alfea? — interferiu Mardragora, como se estivesse com nojo. — Faça-me o favor...
— Quero que Calliope seja treinada também por um especialista — respondeu. — Será bom para ela, e ele tem um garoto que é como seu próprio filho, da idade de Calliope.
— Não preciso de amigos — resmungou Viperine.
— Mas precisa de modos — decretou. — E essas são as pessoas que vão ajudá-la.
— Vão me ajudar porque você não sabe como ser uma mãe e compra pessoas para fazer o seu trabalho.
Ah, o coração de Luna parecia ter sido esfaqueado. Ela sabia que nunca fora uma boa mãe para Viperine, mas nunca esperava que uma criança pudesse ter toda aquela raiva guardada dentro de si.
Luna assentiu para seus guardas, dando o sinal para que se retirassem.
— Tudo o que faço, Calliope, é para o seu bem — disse ela, tentando soar verdadeira.
— Mentirosa — exclamou. — Você não quer o meu bem. Você mal me quis quando nasci.
Viperine não esperou que sua mãe ou Mandragora falassem algo. Em passos apresados, ela correu em direção às escadas, subindo-as o mais rápido que conseguia. Segundos depois, só que ouviu o alto barulho da porta batendo.
Mandragora sorriu vitoriosa, venenosa, enquanto Luna parecia quebrada.
— Sabe que ela nunca vai gostar de você, não é? — sibilou, acertando a Rainha de Solaria. — Viperine te odeia. E sempre te odiará.
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11.06.22
𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒:
Depois de tanto tempo de espero, eu e a Donatumblr finalmente voltamos com a Viperine e Verena!
Vamos chamar estás obras de livros do "ANTES" por contar certas partes do passado das nossas protagonista.
Como vocês podem ver, o nosso #Skytalarico finalmente está ganhando um livro escrito por mim (um momento muito aguardado por todas nós).
Lembrando que ainda não temos uma data certa para as atualizações, mas estamos voltando ao pique! Ainda, aconselhamos vocês a lerem Medusa e Mind Soldier antes de ler Fairytale e Nightmare (mas podem continuar a ler estas obras antes se assim escolherem).
Seus votos e comentários nos ajudam demais a continuar a escrever, então, por favor, sempre nos contém o que estão achando da escrita, do enredo, de tudo. Até o próximo capítulo!
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