Capítulo 50

_ Frederico Bastos! Paco Garcia! Sabemos que vocês estão aí escondidos. Saiam com as mãos para cima! Por favor não ofereçam resistência. Vocês estão cercados. _ Era a polícia do lado de fora do barraco do Beto.

_ Desgraçado! Eu sabia que aquele filho da puta ia ferrar com a gente de novo! Aquela história de que precisava sair para comprar comida era só uma desculpa.

Fred e Paco acreditam que Beto os denunciou para a polícia. Primeiro porque é bem típico dele. Segundo porque ele saiu desde a hora em que eles chegaram e não voltou mais. Para eles, o que o cretino foi fazer mesmo é ir contar na delegacia e depois fugiu.

Tentaram a todo custo a pensar em algum modo de escapar dali, mas a raiva que sentiam por Beto e por eles mesmos em ter confiado nele os impediam de ter qualquer ideia... e agora que realmente não podiam ter mesmo, pois uma bomba de efeito moral foi arremessada por uma das frestas do galpão, liberando uma fumaça sonífera que os fez desmaiar rapidamente.

***

Depois daquela maldita confusão no IML, Mitchel e o Detetive Sanchez voltaram para a pensão onde se hospedaram. No quarto que alugaram, tentavam se recuperar do susto que levaram.

_ Aquela cientista louca sabia que a gente ia lá no pronto-socorro e armou aquela tocaia para nos tirar de circulação! _ Esbravejou o detetive em estado de choque.

_ Sim e ela matou e reanimou a própria mãe para nos pegar. Realmente foi tudo muito bem planejado. _ Mitchel concluiu ainda chocado com o que houve. O cadáver se levantou justo quando eles estavam lá. A Doutora Re-Animator deve ter criado uma nova versão do seu soro para agir no tempo desejado. Por mais que ele queira admitir, ela é brilhante.

_ E quanto ao nosso amigo Beto?

_ Ah deixe-o para lá... temos coisas mais importantes para se preocupar...

***

Beto acordou com uma dor de cabeça infernal e com corpo todo dolorido. Não era bem uma dor de cabeça, mas sim uma dor na cabeça... devido a um golpe.

Alguém lhe deu uma senhora porrada enquanto ele estava distraído, só observando de longe os policiais entrando na favela, torcendo para que não tenham ido para o seu barraco, senão Fred e Paco vão achar que foi ele. Não é para menos, ele já os traiu uma vez.

Enquanto massageava o local atingido pela pancada, reparou que estava deitado e algemado em alguma sala mal iluminada. Olhou em volta e notou que entre o espaço onde ele estava e o corredor escuro, havia grades.

Deduziu estar em uma cela. Quem o acertou deve ter o sequestrado e o jogou naquele lugar. 

_ Onde é que eu estou? E que lugar é este?

_ No complexo penitenciário de São Vicente. _ Uma voz aveludada foi ouvida no corredor. Logo depois, barulhos de salto alto ecoaram na escuridão. Mesmo já sabendo quem é, Beto custou a acreditar...

E lá estava ela, saindo das sombras e parando bem em frente da cela de onde ele estava preso. A menina da qual foi desprezada por todos por ser filha de puta, inclusive por ele, agora está ali na sua frente, toda empoderada e com o seu inseparável jaleco.

_ Olá Beto. Quanto tempo.

_ Evelyn minha amiguinha de infância, tudo bem?

_ Estava tudo bem até você me reconhecer e ir correndo fazer fofoca para aquela puta que me pariu. Aliás, não é a primeira vez que você tenta me ferrar, não é mesmo?

Evelyn lembrou de todas as vezes em que Beto inventou um monte de boatos maldosos sobre ela só para vê-la apanhar da avó. Fora as outras vezes que ele a assediava ou lhe apedrejava.

_ Mas era tudo brincadeira.

_ Em algum momento você me viu dando risada?

_ Foi o seu tio que mandou a gente fazer e dizer aquelas coisas horríveis com você. Por favor releva, éramos crianças. Não sabíamos o que estávamos fazendo...

_ Eu também era criança e ninguém se ligou nesse detalhe.

_ Mas olha para você agora, foi adotada por uma boa família, estudou, ganhou dinheiro... para que ficar remoendo o passado? Vamos esquece-lo e seguir em frente. Que tal a gente começar tudo de novo e ser amigos? 

_ Não, obrigada. Amigo de cu é rola e eu não tenho o menor interesse em ter amizade com um cuzão feito você.

Foi a mesma frase que Fred e Paco falaram para ele. Beto agarrou com tudo as grades da cela e implorou por sua vida. Chegou até mesmo chorar. Do lado de fora, ela só observou aquela cena ridícula sem um pingo de piedade. Para ela, não passava de lágrimas de crocodilo.

_ Por favor Evelyn, me perdoa. Eu reconheço que fui um babaca... mas eu não quero morrer.

_ Você e aquela cambada de delinquentes não tiveram a menor compaixão por mim. Então por que eu teria por você?

De repente ele teve uma ideia: _ Olha, eu posso ser um ótimo aliado.

_ Ah é? Com o que, por exemplo?

Evelyn só perguntou para ver até aonde aquele malandro ia. E é claro que ele contou tudo, desde o plano da Geni, algo que ela já sabia até o fato daqueles dois bandidos que ele abrigou serem na verdade comparsas do seu tio Joca que foram espionar o seu trabalho a mando dele. Também contou que o jornalista Mitchel Junqueira e o detetive Sanchez planejam vir aqui no presidio para avisar ao Joca que a irmã dele morreu e de quebra, tentarem se infiltrar no local.

Estas duas sim foram informações muito das valiosas... e ela já sabe muito bem o que fazer com cada uma delas. 

E quanto a aquele saco cheio de bosta que estava ali na sua frente... ela tem outros planos para ele.

***

Depois de sabe lá quanto tempo desmaiados, Fred e Paco finalmente acordaram. Ainda estavam meio que dopados quando notaram as grades na sala mal iluminada. Deduziram que voltaram para a prisão, mas não para a cela deles.

Por um lado é bom, pois não teriam de ficar na mesma cela que o Joca. Tinham a certeza de que foi ele quem os denunciou para a direção do local quando eles não voltaram, como combinado.

_ Onde nós estamos?

_ Se não for a parte de trás do presidio, então não sei...

_ Merda, tanto trabalho para sair daqui para acabar aqui de novo... malditos Beto e Joca! Assim que eu sair daqui, vou acabar com a raça daqueles dois.

_ Se a gente sair daqui né Fred... depois da nossa fuga, devem ter reforçado a segurança. Sair daqui agora, só com algum milagre.

_ Pois eu posso conceder esse milagre aos cavalheiros.

Os dois olharam assustados para o escuro. De repente uma bela figura surgiu na frente da cela. Era ela, a moça bonita que está trabalhando com o exército... e a tal da sobrinha do Joca.

A Dra. Evelyn West.

_ Então foram vocês que fugiram pelo duto de ventilação?

Eles ficaram calados, apavorados demais com a presença intimidadora da cientista. Sabiam muito bem do que ela é capaz de fazer. Tinham que falar alguma coisa em sua defesa, mas o que? Tiveram medo de dizer que apenas estavam cumprindo ordens do Joca e acabarem se dando mal. Mas quem sabe se confessarem, talvez seriam poupados. Então decidiram arriscar:

_ A gente só queria sair daqui doutora... por isso que aproveitamos a ocasião para fugir. _ Fred mentiu. Não era exatamente uma mentira, mas depois que descobriram sobre o tal projeto do exercito, aproveitaram o fato de estarem fora da cela para escaparem da prisão.

_ Não precisam mentir. O amiguinho de vocês, o Beto, fez questão de me contar que os dois me espionaram em uma outra sala de teste a mando de Joaquim Monteiro, o cretino do meu tio. Viram o que viram, tentaram fugir e foram parar lá no depósito, causando a maior bagunça. E ele também denunciou o esconderijo de vocês à polícia.

Essa última parte Evelyn mentiu de propósito. E vibrou ao ver aqueles dois fazendo juramentos de vingança contra o malandro do Beto. A sua maior vontade é juntar os três no mesmo espaço, só para vê-los se estapearem. Seria muito divertido.

_ Beto nos contou o que o Joca fez com a senhorita quando era criança... sentimos muito. E se a gente puder ajudar com qualquer coisa, é só pedir.

Paco soltou essa bomba sem pensar. Ele achou que se demonstrasse empatia com o trauma do passado dela, poderia aliviar o lado deles. Ledo engano. Ao comentar sobre algo do qual ela não queria mais lembrar, mas infelizmente lembra e relembra todos os dias e para piorar, souberam pelo linguarudo do Beto, o coração da Dra. West se encheu de ódio.

Mas até que ele lhe deu uma boa ideia. Realmente ela precisa de ajuda para uma certa coisa...

_ Bom já que insistem, tenho um servicinho para vocês... tem dois sujeitos que pretendem vir aqui para conversar com o Joca e de quebra, tentar se infiltrar aqui dentro. Quero que deem um jeito no dois.

_ "Um jeito"? Como assim doutora? A senhora quer dizer...

_ Sim, o mesmo jeito que vocês bandidos, fazem quando querem eliminar alguém... a não ser que preferem arrumar a bagunça que fizeram lá no deposito.

É claro que eles escolheram a primeira opção, pois sabiam muito bem o que estava guardado lá no deposito. Deve ter acontecido alguma coisa depois que eles fugiram pela saída de ar para ela manda-los irem justamente para lá.

De repente Evelyn recebeu uma ligação dos seguranças do exercito, solicitando a sua presença na ala oeste... bem onde fica o deposito.

_ Era só o que me faltava, aquele imbecil do Beto me aprontar mais uma!

_ Ele também está aqui? _ Perguntou um deles.

_ Venham comigo se ainda quiserem limpar a barra de vocês.

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