Capítulo 45

Mesmo passando muito mal no meio da rua, Geni conseguiu ligar para o seu comparsa Beto. A comunicação entre eles foi difícil de se realizar, porque nenhum dos dois falava coisa com coisa. Enquanto ela estava totalmente grogue por conta da injeção que levou de Evelyn, ele dizia que Carlos, o garoto que foi assassinado pelos seus cúmplices, apareceu vivo na favela e causou um verdadeiro terrorismo no barraco da gangue... e perguntou por ela!

_ Como é que é? _ Geni tentou entender o que está acontecendo. Carlos está vivo e atrás dela?

_ Não ouviu não mulher? Tá drogada por acaso?

_ Beto, venha me buscar por favor... eu não sei o que aquela cretina da Evelyn fez comigo... acho que ela me drogou e agora estou aqui na Ilha Porchat passando mal...

_ Quem, a sua filha? Você a viu? O que ela fez? Geni, você tá aí? Alô?

A partir da segunda pergunta, Geni não escutou mais nada e desmaiou na calçada. Sem saber o que fazer e para fugir daquele zumbi assassino, Beto foi atrás dela.

***

_ O que ela tem doutor?

_ Ao que tudo indica, foi uma overdose. Deve ser só mais uma usuária de drogas... Foi muita sorte a dela de vocês terem a encontrado a tempo. Mais uma parada cardíaca e ela morreria.

Deitada em uma maca e ainda dopada sob o efeito da substancia injetada em seu corpo, Geni ouvia toda a conversa e se revoltou com aqueles comentários sobre ela... ela pode até se acabar fumando um maço de cigarros ou enchendo a cara, mas se drogar a ponto de ter uma overdose? Aí já foi demais.

"Ah mas aquela putinha me paga!"

Olhou em volta e reparou no quarto branco. Deduziu estar no pronto-socorro. E pela claridade que tentava atravessar as grossas cortinas da janela, já deve ser de manhã. Achando que foi o seu comparsa que a encontrou desmaiada na rua e a levou para o hospital, o agradeceu por ele ter a encontrado a tempo. Mas ao olhar sem quer em direção a porta viu que não era o Beto...

E não era um, mas sim dois... e um deles era careca.

Ainda que esteja com a visão meio turva por causa do "seja lá o que for que Evelyn injetou nela para parecer que ela é drogada", reconheceu aqueles dois homens... eram os mesmo em frente da penitenciária onde seu irmão está preso e que também estão atrás da Evelyn. 

Talvez seja algo bom. Eles podem ajudá-la a encontrar a sua filha. Pode até mesmo convence-los a ficarem do seu lado. Quando bem quer, sabe como manipular os homens a seu favor... ou quase todos eles.

Eles estavam indo embora. Bem que ela tentou ir atrás deles, mas havia uma agulha fincada no seu braço esquerdo, acompanhado de uma equipo e presa em uma bolsa de soro fisiológico. Fora também o fato de ainda estar muito fraca para andar. Se tentasse dar um passo, poderia até mesmo desmaiar e aí sim seria taxada de drogada.

Enquanto pensa em alguma maneira de sair do hospital sem ser vista, seu celular tocou. Era o seu capacho Beto. 

_ Porra Geni, onde você está?

_ Eu não sei... em algum pronto-socorro... e você, onde está?

_ Tô aqui no começo da Ilha Porchat. Você disse que estava aqui, então eu vim.  

Na verdade Beto só foi para fugir de Carlos, porque no que fosse depender dele, ele não iria...  também só foi porque Geni pediu por favor. Para falar com educação, coisa que não é bem o seu forte, ela deve estar mesmo encrencada:

_ O que houve com você?

_ Já disse que não sei caralho! _ Pronto. Voltou a ser a velha Geni de sempre. Beto tinha até dó dos homens com quem saíam com ela... _ Aquela peste da qual eu pari me drogou com alguma merda e agora estou presa em algum pronto-socorro, eu acho...

_ Você não quer que eu vá te procurar em todos os pronto-socorros da cidade né?

"Não seria uma má ideia." Pensou. De repente lembrou que pode ser localizada pelo aplicativo do Google Maps, mas isso agora é o de menos. Precisa convencer o seu pau mandado a ir até a penitenciária e avisar seu irmão que a Evelyn sabe que ele está preso lá. 

O que não foi uma tarefa muito fácil. Beto não gostava de Joca. Na verdade, ninguém na favela gosta dos irmãos Monteiro... e outra, ela sabia que seu cúmplice morre de medo daquele lugar. Alguns de seus desafetos estavam lá cumprindo pena por culpa dele. Para não ser preso, ajudou a polícia a prender os próprios companheiros, os denunciando.

Não importa, precisa avisar ao irmão. 

_ Eu não sei como, mas você precisa dar um jeito de avisar ao Joca. E também preciso também que encontre aqueles dois homens que estão atrás da Evelyn...

_ Pode esquecer Geni. E se eles forem policiais?

_  Mande outra pessoa se for o caso, mas avise. Juro que se acontecer alguma coisa com o meu irmão, eu mesma acabo com você!

***

Beto voltou a favela para ver se encontra alguém disposto a ir até penitenciaria. Mesmo sabendo que não seria fácil, decidiu pelo menos tentar. Vai que de repente Geni receba alta e resolve ir atrás dele...

"Seja lá o que aquela filha dela fez, devia ter feito direito... assim eu ficava livre daquela vadia. E tomara que a garota detone com aquele porco nojento do tio dela. Depois do que ele fez com a pobre da menina, a morte é muito pouco para ele!"

A maior vontade dele era de não ir, só para ver aqueles dois se ferrarem. Seria um grande favor para a humanidade... 

E aumentou ainda mais ao se aproximar a entrada da favela e ver um aglomerado de pessoas... era o pessoal da policia cientifica. Policiais militares e paramédicos também estavam ali, junto com a população que mora pela região. 

Ele apenas observou de longe os agentes funerários carregando os corpos dos seus comparsas dentro das caixas fúnebres e depositando no rabecão estacionado na esquina. 

"É claro, ouviram a gritaria e os tiros de ontem a noite e chamaram os PMs. A essa hora, todos já devem saber que a confusão foi lá no meu barraco. Não vai demorar muito para virem atrás de mim. Podem até achar que fui eu. Merda!"

Beto não quis nem saber o que Geni vai pensar ou o que pode acontecer com Joca. A sua maior preocupação neste momento é o que será dele daqui para frente e por isso tratou de se mandar dali mesmo antes que alguém o reconheça, somente com a roupa do corpo. 

Enquanto fugia como o covarde que é, ouviu um certo boato que o deixou ainda mais assustado. Dois policiais foram mortos nesta madrugada... por um garoto! Beto tem a mais absoluta certeza de que foi o Carlos. Agora como foi que ele fez isso? E o que aconteceu com ele? 

De acordo com os seus cúmplices, eles deram várias facadas nele até morrer a mando de Geni, porque ele mais o Luan descobriram onde a filha dela estava hospedada e não avisaram nada para ninguém. Queriam dar um golpe neles dois...

E quando menos se espera, ele aparece lá no seu galpão... vivo!

"Ele não pode ter sobrevivido aquele monte de facadas... a não ser que..."

Lembrou que a filha da Geni está trabalhando em um projeto na penitenciaria de São Vicente e de acordo com o que soube pelos seus informantes, parece que o trabalho dela é criar zumbis... 

"O Luan deve ter ido atrás da doutora e pediu para traze-lo de volta a vida! E com certeza contou todo o plano da Geni." 

Se essa história for mesmo verdade, precisa sair do bairro ou da cidade se for preciso, antes que alguém o encontre... infelizmente isso não será possível. Ao virar a esquina, deu de cara com a última pessoa quem queria ver vivo... pior, morto-vivo!

_ Carlos!!! _ Beto gritou no meio da rua ao vê-lo. O susto foi tão grande que seu coração quase saiu pela boca. E do modo como aquele zumbi o encarava com ódio, vai é sair por outro lugar.

_ Carlinhos, calma... eu sempre fui seu amigo! Tudo bem, não éramos amigos, mas nunca quis o seu mal. Tá certo que exagerei algumas vezes em te esculachar, mas sabe como é, né? O serviço precisava ser bem-feito.

Carlos apenas soltou um gemido rouco e muito sinistro... era como se entendesse cada palavra que o Beto dizia... e conforme dizia, ele ficava com mais raiva ainda.

_ Não fui eu quem mandou te esfaquear até morrer, foi a vaca da Geni. Se quiser, te falo aonde ela está internada... só me dê um minuto para localiza-la.

Através da última ligação feita, Beto rastreou o celular da Geni pelo Google Maps e passou para o Carlos, na esperança de que ele o deixe em paz... não foi o que aconteceu. Ele ainda o encarava. Tentou conversar com ele para saber se a tal história da Dra. Evelyn é verdadeira.

_ Carlos... o que aconteceu com você? Foi a filha da Geni? O que ela fez contigo? É verdade que ela traz os mortos de volta a vida? Como que...

_ NÃO SEI!!! _ O zumbi deu um berro tão assustador que o fez cair para trás. E dali mesmo caído do chão, se levantou com tudo e saiu correndo sem se importar de estar todo dolorido por conta da queda. E sem olhar para trás. Não queria correr o risco de cair de novo e virar presa fácil para aquele zumbi, como nos filmes de terror.

"Pelo menos os zumbis dos filmes atacam a noite. Onde que um morto-vivo vai atacar em plena luz do dia?"

Se bem que enquanto fugia, reparou que as ruas estavam meio que desertas. Se algo acontecer com ele, ninguém vai saber. 

Ele pode até ter escapado do zumbi, mas não escapou de quase ser atropelado. Chegou a cair no chão mais uma vez com o susto...




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