Capítulo 43
Afonso tentou de todas as formas convencer Evelyn a ficar no motel pelo menos esta noite e amanhã sem falta procurarem outro lugar para se esconderem, mas ela estava decidida a sair dali.
Além do mais, se algum funcionário do local descobrir que Luan, o menino que encontraram perdido na rua, é menor de idade e está com eles, seria o fim. Mesmo assim ele entrou e saiu escondido no banco de trás e recebera ordens solenes para ficar quieto.
Durante a busca por outro esconderijo na calada da noite, Luan perguntava o tempo todo sobre o seu amigo. E Evelyn sempre dizia para ele não se preocupar, que seu parceiro está melhor do que nunca e que tudo ficará bem com um sorriso estampado no rosto.
Luan não entendeu como o seu amigo está bem depois do que aconteceu com ele. Afonso só o olhou pelo retrovisor do carro, pedindo para parar de fazer perguntas para o bem dele. E pelo olhar que recebeu, achou melhor não perguntar mais nada...
***
Enquanto isso, Carlos, o amigo de Luan e que queria se dar bem em cima da Geni e acabou se dando mal, caminhava pelas ruas de São Vicente. Ao contrário de Natália, que andou sem rumo, ele voltou direto para a favela, seguindo as ordens de Dra. West. Mas assim como a morta-viva, também tentava entender o que houve consigo...
A única coisa que lembra é que foi brutalmente espancado e esfaqueado pela gangue da Geni e de ser socorrido por Luan. Foi neste momento em que fechou os olhos e não conseguiu mais abri-los... e de repente os abriu, depois de sentir uma certa queimação se apoderar de todo o seu corpo.
E assim que "acordou", deu de cara com uma bela mulher que olhava fascinada para ele. Por mais confuso que estava, aquele olhar chamou a sua atenção. Eram os mais belos olhos verdes que já vira em toda a sua vida... ou pós vida.
Depois só lembra que a dona daqueles belos olhos verdes lhe pediu para voltar a favela e se vingar de seus agressores e não permitir que ninguém seja lá quem for ficar em seu caminho...
E foi o que ele fez! No caminho de volta para a favela, foi abordado por dois policiais a paisana. É claro que um jovem andando por aí tarde da noite chamou a atenção deles.
Repararam que ele estava com a camisa manchada de sangue... os dois PMs se olharam entre si, questionando o que houve para aquele garoto estar nas ruas tal hora e com as roupas naquele estado. Perguntaram o que fazia na rua aquela hora da noite. Ele somente os olhou de cima a baixo, não respondeu e continuou a andar. Pediram para ver os seus documentos e ele nem deu as horas. Irritados com aquela indiferença, um deles agarrou o seu braço... e levou um soco tão forte que foi parar do outro lado da rua.
O outro policial tentou lhe bater com o cassetete... mas Carlos o deteve, pegando a arma no ar e partindo-a ao meio como se não fosse nada. Percebendo que aquele garoto era muito estranho, correu até a sua viatura para pedir socorro.
Infelizmente ele não conseguiu pedir ajuda a tempo...
***
Agora foi a vez de Evelyn perguntou para Luan sobre a sua mãe... ou melhor, a pessoa que fez a infelicidade de lhe parir.
_ Ela costuma dar ponto lá na ilha Porchat.
_ Dar ponto?
_ Sim, ela trabalha como puta. Eu a ouvi dizer aos comparsas do Beto que hoje daria ponto lá. Naquela Ilha, só mora gente rica.
Ao saber que aquela mulher desprezível ganha a vida da forma mais antiga do mundo, Evelyn já logo imaginou quem poderia ser o seu pai... com toda certeza deve ser algum de seus inúmeros clientes ou amantes. Pela vaga lembrança que tem da mãe, todos na favela falavam que ela não passava de uma vadia.
E ela nem deve lembrar do nome do sujeito que por sua vez, nem deve saber da sua existência... ou talvez até soube e foi embora, achando se tratar de um golpe.
"Quer saber? Se foi isso mesmo que aconteceu, ele fez muito bem em sair fora... e outra, para se envolver com uma mulher vulgar como aquele lixo de pessoa, deveria ser tão asqueroso quanto ela."
_ Me leve até lá. _ Ordenou ao seu comparsa. Afonso, que até aquele momento apenas estava na sua somente escutando a conversa entre eles, a olhou chocado com o seu pedido.
_ Te levar para onde? Na Ilha Porchat?
_ É claro, para onde mais seria?
_ E o que pretende fazer lá? Não vai me dizer que... Evelyn, você não acabou de ouvir o que o garoto aí atrás disse, que essa sua mãe é perigosa? Ela pode te fazer algum mal.
A Dra. West até tentou ficar séria com aquele comentário, mas deu uma risada discreta por fora e gargalhou por dentro. Aquela mulher já havia lhe feito um mal sem tamanho, desde a conceber até o dia em que foi embora, a abandonando com a megera da avó e o tio abusador, então não tinha como fazer ainda mais mal a ela. Mas precisava ficar cara a cara com a sua mãe.
_ Ela é perigosa? Pois eu sou mais!
***
Como sempre, não adiantou Afonso protestar. Ele teve mesmo que leva-la até a Ilha Porchat. A deixou na entrada da ilha e claro, pediu para que ligasse caso precise de ajuda. Evelyn somente concordou na esperança de que a deixasse em paz. Ele e Luan perguntaram se ela queria ajuda, mas ela negou e os mandou embora. Era algo que tinha de fazer sozinha e fez questão de ir com o seu jaleco de cientista.
Caminhou por quase toda a região. Chegou a ver algumas garotas de programa, mas nenhuma que lembrasse a sua mãe... na verdade, ela não a vê a quase vinte anos, então não faz a menor ideia de como a sua aparência está atualmente. Fez questão de apagar da memória qualquer lembrança daquelas pessoas horríveis quando foi adotada pelo Dr. West.
Continuou andando sem rumo quando um carro parou ao seu lado. Rapidamente colocou uma das mãos dentro do bolso do jaleco e pegou uma seringa com veneno. Tinha de estar prevenida. Ela só viu o dono do veiculo abaixar a janela do carro e perguntar quanto custo um momento a sós com ela... ele achou que ela é garota de programa. Na hora em que ia dizer alguma coisa, ouviram alguém gritar do outro lado da rua:
_ Epa! Está fazendo o que no meu ponto?
Evelyn nem viu o motorista arrancar com o carro dali. Encarou assustada para a mulher que veio correndo em sua direção. Quando a talzinha chegou mais perto, teve a sensação de conhecê-la de algum lugar... é a Geni, sua mãe!
_ Estou falando com você, vagaba fantasiada de médica!
A Dra. West a observou de cima a abaixo... não conseguia acreditar que saiu de dentro daquele ser vulgar. E pelo jeito, ela também não a reconheceu.
_ Você não tá me reconhecendo? _ Perguntou com amargura. Alias, questionou a si mesma por ficar triste da mãe não reconhecê-la. Dizem que as mães reconhecem o filho pelo cheiro...
Não é o caso da Geni.
_ Eu não te conheço. Você deve estar me confundindo com outra pessoa... alias, conheço gente da sua laia, com essa pinta de sonsa. Já botei pra correr muitas do seu tipo! Vaza da minha área agora ou eu te arrebento!
_ Então olhe bem no fundo dos meus olhos! Quem sabe você lembra do mal que me fez e tenha algum pingo de remorso... MÃE!
Geni olhou bem no fundo daqueles olhos verdes e notou que não eram de um tom esverdeado qualquer... eram verdes florescentes.
E só há uma pessoa que tem os olhos com aquela tonalidade exótica... a sua filha, Evelyn.
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