Capítulo 42
Assim que viraram a esquina, deram de cara com a própria acompanhada por alguns bandidos.
_ Quando o Beto falou que vocês estavam aqui, sabia que não podia confiar principalmente em você. _ apontou para o seu desafeto. _ E de todos os contatos dele, vocês foram os únicos que não enviaram nada até agora. Então é neste motel onde a ingrata da minha filha está?
Eles sequer conseguiram responder de tão apavorados. Mesmo sabendo que não era uma boa ideia, correram o mais rápido possível.
Ao olhar para trás, o dono do celular tropeçou e caiu, ficando todo dolorido com a queda. Assim que tentou se levantar, foi apunhalado várias vezes até morrer, sem ter menor a chance de pedir piedade...
_ E quanto ao outro? _ um dos bandidos perguntou.
_ Deixem para lá. Ele não vai durar por muito tempo, assim como a biscate da mãe dele... mas no caso de voltar, podem acabar com ele.
_ E a sua filha? Vai lá falar com ela?
_ Hoje não, vou bater ponto lá na Ilha Porchat, amanhã eu falo com ela. É claro, antes vou avisar ao Joca que a encontramos. Sei que também posso encontrá-la perto da Ponte Pênsil. Enquanto isso, voltem para a favela.
_ E ele? _ apontaram para o menino caído no chão: _ vamos deixa-lo aqui?
_ Sim! Os urubus saberão o que fazer com ele. Só espero que não tenham azia.
Todos ali se horrorizaram com o desprezo de Geni. Bom, para quem abandonou a própria filha e nunca demonstrou arrependimento, não tem como mesmo esperar coisa boa da parte dela.
E escondido em meio a alguns sacos de lixo ali perto, o outro garoto ao ouvir aquelas palavras, chorou pelo companheiro. E para piorar a situação, ele nem podia voltar para casa... até porque a essa altura, já não deve ter mais casa.
Assim que o bando foi embora, se aproximou do seu amigo. Por incrível que pareça, ele ainda respirava, mas sabe-se lá por quanto tempo e o olhava como se pedisse para não morrer. Se lamentou por não saber como ajuda-lo...
Na verdade até tem, mas será muito arriscado. Já estava com a corda no pescoço, no entanto sentia a necessidade de fazer alguma coisa, não só por si, mas também pelo amigo.
De repente ele ouviu um barulho de buzina naquela rua escura. Olhou para o lado e a poucos metros de distancia viu um par de faróis que por pouco não o cegaram. O dono do veiculo acenou para ele. Vendo que não é nenhuma viatura policial, se aproximou para pedir ajuda...
E quando chegou mais perto, não se foi sabe um golpe de sorte ou uma mera coincidência, mas quem estava naquele carro era justamente a pessoa que queria encontrar...
Evelyn West.
_ Algum problema garoto? _ Afonso já foi logo intimando ao ver o modo como olhava fascinado para a sua garota.
_ Você é a Dra. Evelyn, não é mesmo? _ Perguntou pouco se importando com o acompanhante. _ O meu amigo ali foi atacado pelo pessoal da Geni e do Joca, sua mãe e seu tio e eles estão a sua caça. Se nos ajudar, prometo contar tudo o que eu sei.
Ao ouvir aqueles nomes nojentos dos quais nunca mais queria escutar, Evelyn não pensou duas vezes, abriu a porta do carro mesmo sob os protestos de Afonso e foi analisar o rapaz desmaiado ali perto... tarde demais, ele se foi. Porém não disse nada. Se o que aquele menino falou for tudo verdade, já sabe exatamente o que fazer.
_ Eu prometo ajudar vocês, mas com uma condição... tem que me falar o sabe. E não precisa me poupar dos detalhes sórdidos.
E é claro que ele contou tudo, desde a história mentirosa que Joca espalhou para tudo mundo na favela e contou para a irmã que obvio que acreditou nele, até o seu trabalho no presidio com o exercito. E também contou que a sua mãe já sabe que ela está hospedada no Corpus Motel e que pretende procura-la amanhã.
_ Como descobriram que ela estava aqui e o que ela faz? _ Afonso desconfiou. De repente surgiu em sua mente uma outra dúvida da qual também nunca havia questionado, sobre o passado da sua Evelyn. Ela tem familiares em São Vicente? Quem eram aquela mãe e tio dos quais ele nunca ouviu falar e que estavam atrás dela? E por que a perseguiam? O que houve entre eles? Quem é realmente a garota da qual ele tanto protege?
_ Uns dois meninos que vendem doces lá pros lados da Ponte Pênsil. São informantes do Beto, um traficante de araque e capacho dela. Eles estão sempre perambulando pela região.
_ Só pode ser aqueles dois pivetes de quem você comprou chocolates ontem e balas hoje. Eram espiões! _ Afonso concluiu. Perguntou o que ela fez para essa gente, mas arrependeu-se ao ver a expressão carrancuda em seu belo rosto. Tentará conversar com ela depois, quando estiver mais calma.
O coração de Evelyn se encheu de ódio com o relato do garoto. E ficou com muito mais quando ele também contou o que aquela pessoa da qual nunca conseguiu chamar de mãe fez com a sua família e com o seu amigo.
_ A minha mãe e a Geni não se davam. Para falar a verdade, ninguém lá a suporta. De pirraça, ela seduziu o meu pai e ao mesmo mandou um de seus capachos assediar a minha mãe. Resultado, eles brigaram feio e sem querer, ele a estrangulou. Não aguentando de remorso, se enforcou na cadeia.
Tinha que ajuda-lo a se vingar daquela bruxa... e ela já sabia como.
_ E quanto ao meu amigo ali? Ele ainda tem salvação?
Aquele corpo recém falecido seria de muita utilidade.
_ Só um minuto, eu vou dar um remedinho para ele e logo ficará bom...
_ Como ele vai ficar bom doutora, com um monte de facada que levou? _ Até tentou chegar mais perto para ver o que ela ia fazer, mas foi detido por Afonso. Ele sabe o que ela vai fazer e não era algo muito agradável para o menino ver. Ainda tentou argumentar com ela para não faze-lo.
_ Você não vai fazer isso né Evelyn?!
_ Fazer o que? _ O garoto ficou muito confuso com aquela conversa.
De dentro da sua bolsa de mão, Evelyn tirou uma seringa cheia do seu reagente. Sempre anda com um estojo cheio delas, pois nunca se sabe quando vai precisar. Localizou a artéria carótida no pescoço do garoto e injetou o líquido verde fluorescente na corrente sanguínea. Levantou-se e voltou para juntos dos rapazes. Alguns minutos depois...
_ O que você fez com ele, dona? _ Assustou-se ao ver seu amigo se levantar como se não tivesse sido esfaqueado a alguns minutos atrás. Tentou falar com ele: _ Tá tudo bem irmão?
Ele não respondeu. Estava tão esquisito que nem parecia que era ele.
_ Precisava mesmo fazer isso Evelyn? E agora, ele vai ficar andando por aí assim? _ Afonso não sabia o que ela pretende com aquela nova cobaia. Talvez até sabe e prefere não questionar. Ele já está cheio de dúvidas e não precisa de mais uma.
_ Ele não vai ficar andando por aí... ele só tem que ir ao um certo lugar, ver certas pessoas e fazer um certo trabalhinho. _ Virou para o rapaz recém reanimado e disse: _ Volte para casa. Vingue-se daqueles que te fizeram mal, principalmente daquela pessoa que deixou o seu amigo sozinho no mundo.
Em momento algum viram que ele questionou as ordens dela e simplesmente saiu andando. Enquanto isso, Evelyn sorria triunfante.
_ Para onde é que ele vai moça?
_ Não se preocupe, ele vai ficar bem... e você, vai ficar bem?
O garoto respondeu-lhe dando os ombros. Está tanto tempo sozinho no mundo e se virando nas ruas que pode ser que fique bem ou não.
_ Você não tem algum parente que possa te abrigar? _ Afonso perguntou mais pelo seu ciúme do que por preocupação. Vira o modo como Evelyn o olhava com pena e não estava gostando nada disso. E gostou menos ainda quando ela teve a ideia de levá-lo com eles. Discutiram no meio da rua.
_ A gente não pode deixar o pobrezinho para trás. Ele não tem ninguém.
_ Mas ele também não pode vir conosco! Não seria melhor encaminhá-lo ao Conselho Tutelar?
_ Olha, vamos por enquanto tirá-lo daqui. Depois a gente vê o que faz... alias, ele já demonstrou que é leal e pode ser muito útil. Agora vamos voltar para o motel.
_ Ué por quê?
_ Mudança de planos. Encerraremos a nossa conta e procurar outro lugar.
_ A essa hora? Onde vamos encontrar um local aberto e com vaga? _ Afonso olhou para o garoto com raiva: _ alias, com duas vagas né? E a nossa noite, como fica?
_ Desculpa, mas isso terá de esperar. E depressa porque preciso falar com uma certa pessoa.
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