vinte e nove.
EuTeAmo.com | vinte e nove.
01 de janeiro – Terça-feira.
Assunto: Estava frio, mas foi muito legal!
Querido Matthew,
Em primeiro lugar, quero te desejar um feliz ano novo. Que esse ano seja de muita prosperidade, saúde e paz para você e toda a sua família! Espero que tenha aproveitado a virada de ano com seus pais e seus amigos. Esse é o primeiro réveillon em que não saímos juntos para as confraternizações no centro da cidade. Sinto falta de comer hamburger com milk-shake com você, meu amigo. Prometo que compensaremos no próximo verão.
Na parte da tarde, Phillip me acompanhou até o hospital onde eu teria a última terapia em grupo do ano. Os médicos e enfermeiros da psicologia organizaram uma festinha para os pacientes, então fiz questão de que meu amigo participasse. O grande problema foi quando me escolheram para dar um depoimento... Justamente no dia em que o Phillip foi meu acompanhante na terapia. Juro que quase saí correndo da sala de tanta vergonha.
— Meu nome é Alec Stevens — falei, e depois pigarreei, já que minha voz não queria sair.
— Há algo que você queira compartilhar conosco, Sr. Stevens? — perguntou uma das médicas que comandava o grupo.
— Han... Na verdade... — gaguejei, querendo desistir.
— Coragem, Alec! Você consegue — disse Phillip, colocando a mão em minha coxa amigavelmente.
Havia coisas que eu queria dizer, mas nenhuma delas ia sair tão facilmente. Apesar de eu ter me aberto com o Thomas, e algumas vezes com o idiota do Arthur, eu não estava acostumado a falar sobre meus pensamentos ou sentimentos, ainda mais para uma plateia.
— Só quero dizer o quanto vocês foram importantes para a minha melhora nessas últimas semanas. Me sinto confortável aqui com vocês — comentei, sem gaguejar.
— Por que fomos tão importantes para você? O que este grupo trouxe de melhora para a sua vida? — perguntou a médica.
— Han... Estar aqui e ouvir os depoimentos de vocês me ajuda a superar meus próprios problemas. Além disso, tenho amigos especiais que também estão me ajudado.
— E que problemas são esses? Quer compartilhar conosco? — insistiu a médica, com um sorriso amigável e esperançoso.
Phillip não conhecia toda a minha história. Acredito que a única coisa que ele sabia era que tenho estresse pós-traumático e síndrome do pânico graças ao acidente de ônibus que sofri no verão passado. Mas nessa reunião, Phillip descobriu muito mais coisas sobre mim...
— Antes eu tinha ataques de pânico com mais frequência, pesadelos e medo da morte. Eu me lembrava de alguns detalhes do acidente que sofri, e aquele sentimento me causava muito medo, dor e a impressão de que eu ia morrer subitamente. — Falei tudo isso praticamente sem gaguejar.
— E como você se sente agora? — perguntou outra das psicólogas.
— Ainda sinto medo e tenho pequenas crises, mas não é igual a antes. Agora consigo controlar com mais facilidade e não me sinto tão perdido quanto me sentia.
— Há algo mais que você queira compartilhar conosco? Um acontecimento ou pensamento? — perguntou.
A primeira coisa que veio à minha cabeça foi a decepção que sofri ao descobrir a armação do Arthur e do Asher. Apesar de aquilo ser extremamente vergonhoso, vi naquele momento a oportunidade perfeita para contar ao Phillip o que tinha acontecido no colégio na última semana.
— Me envolvi com uma pessoa que não gosta de mim tanto quanto achei que gostava. Essa pessoa mentiu e me usou para conseguir o que queria. Descobri toda a verdade na sexta-feira passada, e foi muito difícil para mim — comentei.
— Alec... — murmurou Phillip ao meu lado, agitando-se na cadeira.
— Por um lado, me culpo por ser tão ingênuo em achar que ele teria algum sentimento por mim — continuei.
— Não se culpe, Alec — disse a médica. — Não é nossa culpa esperar demais das pessoas que nos decepcionam.
Todos foram muito atenciosos e carinhosos comigo naquela tarde. Dar aquele depoimento não foi tão assustador quanto achei que seria, e acredito que tenha valido a pena. Ao final dos depoimentos, todos se cumprimentaram e desejaram felicidades para o ano que ia começar em apenas algumas horas. No entanto, Phillip estava no canto da sala, sério e com os braços cruzados. Ele me encarava com uma expressão nada amigável.
— Você está bem, Phillip? — perguntei, preocupado.
— Por que você não me contou sobre aquele japonês? — questionou Phillip, irritado.
— Ele é tailandês, e não tive oportunidade de te contar.
— Você deveria ter me ligado para eu quebrar a cara daquele idiota — disse Phillip, tentando controlar seu tom de voz.
— Não teria resolvido nada.
— Alec, o que ele fez pra você?
Assim como fiz com Thomas, contei a ele toda a história entre Arthur e eu, do início ao fim e em detalhes, enquanto me levava para casa. Eu esperava que ele me julgasse e me desse uma severa bronca, pois tinha me avisado desde o começo de que o Arthur estava querendo brincar com meus sentimentos. Mas Phillip estava só começando a me surpreender naquela noite...
— Quer saber, Alec? Talvez não valha a pena eu ir atrás daquele garoto e dar a surra que ele merece. Thomas já deu uns socos nele e é mais do que o suficiente! — exclamou Phillip, estacionando o carro em frente à minha casa.
— Obrigado pela carona e muito obrigado pelo seu apoio — agradeci, tirando o cinto de segurança.
— Vai passar a virada do ano com sua família? Faltam apenas algumas horas.
— Sim, vamos ficar em casa! Se você não tiver nada para fazer, poderia ficar com a gente e...
— Será que seus pais se incomodariam se eu te sequestrasse por uma ou duas horas hoje à noite? — perguntou Phillip, me interrompendo.
— Acho que não, mas para onde você...
— Então vamos entrar e pedir permissão a eles?!
Joanne estranhou o pedido do Phillip, mas aceitou desde que ele me trouxesse de volta para casa em segurança. Ele concordou, se despediu e disse que voltaria uma hora antes da meia-noite, pois precisava tomar banho e se arrumar antes de me buscar.
Algumas horas depois, Phillip voltou. Imaginei que ele mudaria de ideia, mas me enganei...
— Faltam poucos minutos para a meia-noite, Phillip — comentei, olhando meu celular para ver as horas.
— Vem comigo, Alec?! Prometo que não vai demorar nem quarenta minutos para voltarmos — insistiu, pegando em minha mão e me puxando para acompanhá-lo.
— Para onde você vai me levar? — questionei, curioso.
Claro que ele não respondeu, pois não queria estragar a maravilhosa surpresa que tinha preparado para aquela noite... E eu nunca tinha visto algo tão lindo.
Phillip me levou para a cobertura do prédio onde trabalha como auxiliar administrativo, pois seus colegas estavam fazendo uma grande festa de réveillon. Assim que chegamos, os fogos já tinham começado. Quando olhei o celular, o relógio já marcava meia-noite. Era possível ver todos os fogos de artifício da cidade do alto daquele prédio. Estávamos bem próximos ao centro, e a altura possibilitava uma visão nítida e emocionante da queima de fogos.
— Quero que você faça uma promessa, Alec! — exclamou Phillip, pegando em minha mão e me guiando até a beirada do terraço.
— Que tipo de promessa? — perguntei, sentindo meus braços e pernas estremecerem por conta do frio que fazia.
— Sei que é difícil esquecermos o passado, mas hoje é a porta de entrada perfeita para fazer o futuro que queremos. Promete que você vai ser mais feliz este ano?
— Phillip, como posso prometer algo assim? — questionei, não entendendo onde ele queria chegar.
— Apenas prometa! Você promete que será mais feliz este ano?
— Vou tentar...
— Não! Essa não é a resposta que quero ouvir.
— Mas...
— Alec, você promete que será mais feliz este ano?
— Prometo! — exclamei, sorrindo e imaginando o quão cômico estava meu rosto naquele momento.
No alto daquele prédio, admirando a queima de fogos e sentindo aquele vento frio de inverno soprar em meu rosto, tomei uma decisão... Estou disposto a melhorar, a superar meus medos, enfrentar os problemas que apareceram, e os que vão aparecer em meu caminho, de cabeça erguida. Eu não quero mais parecer um garoto frágil e bobo. Eu quero voltar a me divertir e a ser o mesmo Alec Stevens que eu era antes daquele acidente. Essa promessa não faço só para mim, mas para você também, Matthew! Sei que há momentos em nossa vida em que nos sentimos perdidos, com medo e sem vontade de seguir em frente. Mas também sei que há momentos que nos motivam, nos encorajam e nos fazem acordar para as possibilidades que a vida nos oferece. Prometo que tudo será diferente a partir de agora.
Na volta, assim que o carro do Phillip estacionou em frente de casa, recebi a ligação de um número desconhecido. Eu ainda estava tão feliz e emocionado com o passeio, que simplesmente ignorei aquela ligação.
— Espero que tenha se divertido — disse Phillip, descendo do carro para me acompanhar até a porta de casa.
— Foi uma das noites mais legais que já tive. Seus colegas de trabalho são muito divertidos — agradeci, com um grande sorriso.
— Fique bem, ok? Se precisar, me chame — disse Phillip, se aproximando e beijando meu rosto. — Vamos chutar o traseiro daquele japonês da Tailândia.
— Me avise quando chegar em casa, Phillip — pedi, segurando a vontade de rir.
Ele assentiu com um sorriso antes de ir embora.
Hoje levantei só para almoçar e ir ao banheiro, pois passei o resto do dia na cama, comendo besteiras e colocando as séries que não vejo há algum tempo em dia. Recebi mensagens de feliz ano-novo de todos os meus amigos. Thomas e Nina passaram o réveillon juntos e estão planejando fazer uma viajem para aproveitar o descanso do colégio. A mensagem que mais entranhei receber foi do Zach, que provavelmente deve saber e estar envolvido nas armações do Arthur e do Asher. Apesar de ter consciência disso, respondi a mensagem desejando um feliz ano novo e muita maturidade para ele e seus amigos.
Penso no Arthur a cada minuto do meu dia. Por mais que tente odiá-lo e esquecê-lo, não consigo. Sinceramente, me culpo por tudo o que aconteceu, pois agora vejo o quanto fui ingênuo e não dei importância aos sinais e ao que as pessoas me falavam. Claro que o Arthur e o Asher são dois idiotas imaturos que brincaram com meus sentimentos, mas tenho tanta culpa quanto eles por me deixar levar e me envolver.
Matthew, espero que as coisas mudem este ano e que eu consiga seguir em frente depois de tudo isso. Por enquanto estou tranquilo, pois tenho alguns dias para pensar e colocar a cabeça no lugar. O descanso vai acabar, e eu terei que me encontrar com o Arthur e o Asher novamente pelos corredores daquele colégio. Não sei se estarei pronto para isso.
Obrigado por sempre estar aqui comigo.
Alec Stevens.
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