trinta e seis.
EuTeAmo.com | trinta e seis.
25 de janeiro – Sexta-feira.
Assunto: Quando achamos que tudo será resolvido...
Caro Matthew,
Eu tinha a esperança de que este e-mail seria para contar que Arthur e eu nos acertamos, mas infelizmente isso ainda não aconteceu. Ouvi meu coração e estou disposto a dar uma chance a ele. Apesar disso, se o Arthur continuar agindo e pensando como agora, duvido que vamos ter um final feliz.
Terça-feira, Arthur e Asher voltaram ao colégio depois de cinco dias de suspensão. Cheguei bem cedo para ficar arrumando e desarrumando o meu armário e, assim, fazer hora e poder cruzar com o Arthur no corredor. Meu plano até deu certo, mas ele chegou rodeado de amigos e admiradores do time de basquete. Não consegui e nem pude me aproximar dele. Arthur até percebeu a minha presença, mas assim que me viu, abaixou a cabeça e continuou seu caminho para a sala de aula. Asher chegou sozinho e não estava rodeado de amigos como o Arthur. Ele entrou no colégio e passou pelo corredor principal como um foguete. Seu olhar cruzou com o meu, mas continuou seu caminho e não falou ou cumprimentou ninguém.
No almoço, achei que o Arthur tentaria uma aproximação e daria um jeito de falar comigo, mas me enganei. Ele passou todo o tempo junto aos membros do time de basquete – menos com o Asher, que se manteve isolado com as garotas da torcida – e não deu sinal de que pretendia falar comigo.
Na aula de inglês, achei que ele sentaria a meu lado como costumava fazer desde o dia em que começamos a ficar juntos, mas novamente Arthur se afastou. Ele sentou no mesmo lugar de antes, na última carteira ao lado da janela. Claro que isso me deixou chateado, mas tentei compreendê-lo e dar um tempo para que se sentisse confortável em querer falar comigo.
Na quarta-feira, Arthur passou pelo corredor novamente rodeado de amigos e, mais uma vez, abaixou a cabeça assim que me viu em frente ao armário. No almoço, ficou conversando com o Zach, enquanto o Asher se reaproximava dos membros do time de basquete. Na aula de inglês houve uma atividade em dupla, mas Arthur sentou com uma garota que eu nunca o tinha visto ter contato. Mais uma vez mantive a calma e tentei compreendê-lo. Muitas coisas haviam acontecido, e ele deve ter recebido uma bronca histórica de seus pais. Passei a aula inteira olhando-o, mas ele não desviou o olhar do caderno nem por um segundo. Quando o sinal tocou, arrumou rapidamente suas coisas, se despediu de um de seus amigos do time que também faz parte da nossa turma e saiu da sala sem nem olhar para trás.
Quinta-feira havia chegado e eu tinha a mais absoluta certeza de que o Arthur falaria comigo, porém, mais uma vez ele passou pelo corredor e abaixou a cabeça assim que me viu plantado em frente ao meu armário. Ele estava sozinho e não havia ninguém que bloqueasse seu caminho ou que estivesse puxando algum assunto para distraí-lo. Arthur tinha o caminho livre para falar comigo se quisesse, mas apenas caminhou em direção à sala de aula de cabeça baixa. Isso começou a me incomodar e a me deixar seriamente chateado. Comecei a me perguntar se aquele era o fim e se o Arthur realmente gostava de mim como dizia. A sensação de vazio e os pensamentos negativos começaram a invadir meu corpo e minha mente de uma forma diferente do habitual. Não senti tanto medo e também não senti que ia perder o foco ou o controle da situação. Pela primeira vez em muito tempo, senti que estou mais forte, mais centrado e com mais controle de minhas emoções e sentimentos... Sem falar que meus pensamentos foram interrompidos por um garoto asiático muito legal que conheci naquele dia.
— Você é o Alec, não é? — perguntou.
— Sou — confirmei com a voz fraca, pois eu ainda lutava contra aquelas sensações e pensamentos ruins.
— Muito prazer, Alec! Meu nome é Oliver Chen, sou do segundo ano e faço parte da equipe de natação — disse ele, com um sorriso simpático e a mão estendida.
Eu estava tão absorto em pensamentos que demorei para retribuir o cumprimento. Espero não ter parecido grosso ou metido para ele naquele momento.
— O prazer é meu, Oliver! — respondi, apertando sua mão e saindo rapidamente em direção à sala de aula.
Me dê um desconto, Matthew! Eu estava chateado com todo esse problema com o Arthur. Não é legal criar expectativas de uma situação e ela não sair da maneira que você esperava. De qualquer forma, tive a chance de me redimir com o Oliver no almoço.
— Eu também adoro o Homem-Aranha — disse ele, apontando para a minha camiseta assim que me viu na fila dos pratos e talheres.
— Ah! Devo ter umas vinte camisetas diferentes do Aranha.
— Eu adoro ler quadrinhos e mangás.
— Também gosto — afirmei, estranhando aquela interação repentina.
Apesar de estranho, foi legal conversar com o Oliver. Ele me seguiu e sentou à mesa onde eu estava com Thomas e Nina. Fiquei agradecido por meus amigos estarem ocupados com assuntos de casal. Eles nem se importaram com a presença do Oliver. Conhecendo-os como conheço, sei que fariam piadinhas que eu não ia gostar de ouvir... Pelo menos não na frente daquele garoto que eu tinha acabado de conhecer.
— Sei que é um pouco estranho, já que hoje é a primeira vez que falo com você, mas você me ajudou muito, Alec — disse Oliver.
— Ajudei? — questionei, curioso.
— Sei o que o Arthit e o Cooper fizeram com você.
— Sabe? — perguntei, passando de curioso a assustado.
— Eles são dois homofóbicos idiotas! Você foi muito corajoso em enfrentá-los e acusá-los para o diretor.
— E como isso te ajudou? — perguntei, respirando aliviado por saber que a história que o Oliver tinha ouvido não era a verdadeira.
— Ninguém sabe que sou gay, e este segredo estava começando a me incomodar. Quando você enfrentou aqueles valentões de forma tão corajosa, percebi que não preciso ter medo de ser quem sou — confessou, colocando a mão em meu ombro.
Nunca pensei que eu inspiraria uma pessoa a sair do armário, muito menos com uma história que não é verdade. Segundo Oliver, alguns membros da equipe de natação disseram que Arthur e Asher estavam me perseguindo e me intimidando por eu ser gay.
— As coisas não aconteceram dessa forma, mas fico feliz que você tenha compartilhado isso comigo — comentei.
Oliver franziu o cenho.
— Eles não te agrediram por você ser gay?
— Asher me agrediu, mas o Arthur me salvou antes que as coisas piorassem. O Arthur é um dos meus melhores amigos e não é homofóbico como andam dizendo — falei, desviando meu olhar na direção do Arthur.
Ele estava numa mesa distante da dos outros membros do time de basquete. Lia um quadrinho do Homem de Ferro enquanto comia um sanduiche e tomava um suco que parecia ser de limão.
— Você é meu herói, Alec! — disse Oliver, encerrando aquele assunto.
Um pouco antes do sinal tocar, Oliver se despediu e deixou um chocolate de presente para mim. Se por algum instante pensei que o Thomas não estava prestando atenção na conversa que tive com o Oliver, me enganei completamente...
— Nina, sinto muito, mas tenho uma coisa para confessar — disse Thomas, adotando um tom sério e uma expressão preocupada.
— O que aconteceu? — perguntou Nina.
— O Alec! — exclamou ele, apontando de maneira dramática para onde eu estava.
— Eu?! O que eu fiz?! — questionei, confuso.
— Ele é tão corajoso e tão bonito! Ele é meu super-herói e me deu forças para dizer ao mundo uma coisa que eu tinha medo de dizer... — disse Thomas, com um tom debochado e engraçado.
— Droga, Thom! Eu fiquei preocup... — Tentei falar, mas ele continuou me zoando.
— Eu sou gay! Eu sou muito gay! Ai meu Deus, Alec, como você me deixa louco! — exclamava Thomas, sentando a meu lado para me abraçar e distribuir vários beijos em meu rosto e pescoço.
Todo aquele clima de descontração no almoço me animou e me fez esquecer, mesmo que por algumas horas, toda a ansiedade em relação ao Arthur.
Hoje de manhã fui para o colégio decidido a resolver tudo. Eu precisava saber o que estava acontecendo e o que passava pela cabeça do Arthur em relação a mim. Criei milhares de teorias, uma mais maluca que a outra. Cheguei a pensar que ele não me amava mais, e até cogitei que nunca me amou e que estava só fingindo estar arrependido para conseguir alguma outra coisa. A teoria mais maluca foi a de que ele e Asher nunca brigaram de verdade, e que tudo foi uma grande encenação para me fazer cair novamente em suas mentiras. Felizmente não era nenhuma dessas hipóteses. Era algo que eu não imaginava. E o pior é que não sei se devo ficar feliz ou triste depois da conversa que tive com ele hoje à tarde...
— Você tem um minuto? — perguntei, assim que a aula de inglês acabou.
— Tenho — respondeu ele, bem sério enquanto arrumava suas coisas para ir embora.
Esperei a professora e nossos colegas saírem da sala para falar.
— Como você está, Arth?
— Bem, e você?
— Preocupado com você — afirmei, cruzando os braços.
Ficamos em silêncio por um longo e constrangedor momento.
— Você quer me dizer alguma coisa? — perguntou, colocando a mochila nas costas.
— Sinto muito a sua falta, Arth — falei, sentindo meus olhos lacrimejarem.
Arthur sorriu, abaixou a cabeça e apertou aqueles lindos olhos puxados. Naquele momento achei que ele estava feliz com o que eu havia dito, mas quando levantou a cabeça, percebi que ele estava chorando.
— Também sinto sua falta, Alec.
— Se sente, por que tem me evitado?
— Não mereço você depois de tudo que fiz.
— Como assim?! Isso é ridículo, Arth!
— Eu te fiz muito mal e demorei para perceber o quão grave foram minhas ações.
— Eu perdoo você, ok?! Se você estiver falando a verdade e quiser ficar comigo, eu...
— Mas eu não me perdoo pelo que fiz! — exclamou ele. — Eu te amo e quero muito ficar contigo, mas você não merece um idiota como eu.
Suspirei e engoli a vontade de chorar. Ao mesmo tempo em que eu estava feliz por ele retribuir meus sentimentos, fiquei triste ao descobrir o motivo daquele distanciamento.
— Arthur, você me salvou!
— Eu não precisaria ter te salvado se não tivesse te colocado em perigo.
— Você não me colocou em perigo, você...
— Fui egoísta mesmo já gostando de você — disse ele, quase completando a seu modo o que eu iria dizer. — Te usei para conseguir o que eu queria e continuei com aquele plano sem pensar nas consequências.
— Mas você se arrependeu!
— Esse arrependimento apaga o que eu te fiz?
Não encontrei um argumento ou uma saída para aquela situação. Arthur estava arrasado, e não acho que eu o convenceria a mudar de ideia. Ele se punia muito pelo que me fez, mesmo sabendo que eu estava disposto a deixar tudo para trás e recomeçar.
— Por favor, Arth...
— Quero que você seja feliz, Alec.
— Você ficar a meu lado me fará feliz.
— Não é o que pareceu nas últimas semanas.
Arthur enxugou as lágrimas do rosto, respirou fundo e voltou a sorrir antes de se despedir de mim. Ele andou calmamente até a porta da sala, mas hesitou e parou antes de ir embora.
— Juro que não vou te abandonar. Sempre vou cuidar de você, mesmo que de longe — disse ele, voltando a atenção com aqueles lindos olhos escuros para mim. — Estarei sempre te vigiando.
Não consegui responder, pois eu estava muito mal. Também não me atrevi a ir atrás quando ele saiu, pois sabia que aquele não era o momento para tentar convencê-lo a mudar de ideia.
Droga, Matthew... Preciso dos seus conselhos!
Acabei de chegar do colégio e corri para o quarto para te escrever este e-mail. Minha cabeça está cheia e meus sentimentos estão explodindo dentro de mim. Acho que vou ligar para o Thomas ou para o Phillip, pois preciso do conselho e da companhia de um deles neste momento.
Obrigado por sempre estar aqui comigo.
Alec Stevens.
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