trinta e cinco.

EuTeAmo.com | trinta e cinco.

20 de janeiro – Domingo.
Assunto: Houve um mal-entendido.

- A primeira parte do capítulo é exclusiva no livro físico e no ebook -

Ontem à tarde, Phillip e eu marcamos de nos encontrar no centro da cidade para eu comprar algumas roupas de inverno. O frio está mais rigoroso, e eu precisava de dois casacos para a estação. Conversamos sobre a minha decisão enquanto voltávamos para casa. A ideia de me acertar com o Arthur, dando uma chance a ele, não deixou o Phillip feliz. O pior dessa história não foi a sua reação, mas a de outra pessoa que chegou na hora errada...

— Alec, você está correndo um sério risco de se decepcionar de novo com aquele japonês — disse Phillip, estacionando o carro na frente da minha casa.

— Acho que o Arthur está falando a verdade dessa vez.

— Não confio nele, e você também não devia confiar. Ele é falso e já te usou uma vez.

— Não vejo motivos para ele mentir agora. Ele brigou com o melhor amigo para me defender!

— Mas antes estava andando com esse mesmo melhor amigo como se nada tivesse acontecido, esqueceu? — lembrou Phillip, desligando o carro e tirando o cinto de segurança.

Phillip insistiu em plantar dúvidas sobre o caráter e as intenções do Arthur. Aquela conversa, cheia de teorias e desconfianças, me fez ficar mais inseguro do que eu já estava.

— Obrigado por me acompanhar nesta tarde, Phillip! — agradeci, tentando tirar o cinto de segurança, mas não conseguindo destravá-lo.

— Eu te ajudo, gatinho. A trava está quebrada e não tive tempo para arrumar — disse ele.

Depois de liberar a trava, Phillip debruçou o corpo sobre o meu por um segundo para ajustar o cinto. Antes de eu sair do carro, ele me abraçou amigavelmente e beijou meu rosto para se despedir.

— O que está acontecendo aqui?! — exclamou Sam, batendo na janela do carro.

Sim, Matthew... Sam estava passando na rua justamente naquele momento. Ele pensou que Phillip e eu estávamos fazendo alguma coisa dentro do carro.

— Sam?! — exclamei, surpreso.

— Desgraçado! Você tirou o Phillip de mim! — gritou ele.

— O quê?! Não é nada disso... — tentei falar, mas ele já estava totalmente fora de si.

— Cala essa boca! Eu vou acabar com você, seu traidor! — gritou Sam, chutando o carro do Phillip enquanto tentava abrir a porta.

Foi um escândalo. Phillip saiu do carro e teve que segurar o Sam para que ele não me agredisse fisicamente. Sam gastou todo o vocabulário de xingamentos que conhecia para me ofender, e deve até ter inventado ofensas novas, pois eu jamais as ouvi em minha vida.

— Phillip e eu nunca tivemos nada além de amizade! — exclamei, também saindo do carro.

— Mentiroso! Você tem inveja de mim! Inveja porque eu tinha um namorado lindo e gostoso, enquanto você é um zé-ninguém nesta cidade! — gritou ele, tentando se soltar.

— Cala a boca, Sam! Você não sabe o que está falando! — exclamou Phillip.

— Que gritaria é essa, Alec?! — exclamou minha mãe, saindo de casa depois de ouvir toda aquela discussão.

Acredite, Matthew... A coisa foi tão feia, que até os vizinhos saíram de suas casas para ver o que estava acontecendo.

— Seu filho fingiu que era meu amigo para roubar meu namorado! — gritou Sam, assim que viu Joanne se aproximar.

— Alec e eu não temos nada, Sra. Stevens! — exclamou Phillip.

— Não tem nada? Eu os vi se agarrando dentro do carro aqui na porta da sua casa, Sra. Stevens! — exclamou Sam.

Minha mãe me encarou por um longo momento, depois encarou Phillip e Sam com uma expressão indecifrável. Eu a conheço o bastante para saber que ela estava do meu lado e que sabia que Phillip e eu não tínhamos nada além de amizade. Sem falar que Sam estava tão fora de si e tinha me ofendido tanto, que qualquer pessoa duvidaria do que ele falava. Matthew, não vou te dar detalhes de toda a baixaria, pois você sabe que não gosto de brigar com as pessoas. O que posso dizer é que não aguentei calado, pois eu já estava chateado com o Sam há algum tempo, e todas aquelas acusações injustas a meu respeito não podiam ficar sem resposta.

— Phillip é meu amigo, e o que aconteceu no carro foi só um abraço de despedida. De qualquer forma, vocês não estão mais juntos, e ele é livre para fazer o que quiser! — exclamei.

— Finalmente você está deixando sua máscara cair?! — exclamou Sam, gargalhando maléfica e enlouquecidamente.

— Acho que sim, Sam! Finalmente a máscara que eu usava para ser seu amigo caiu. Todas as vezes que fui te visitar para te ajudar, você só sabia atacar o Phillip e dizer que ele é uma pessoa ruim. Você nem se importou quando fiquei internado. Nem me perguntou se eu estava melhor, se precisava da sua ajuda ou de seus conselhos. Sempre era tudo sobre você e o quanto você odiava e amava o Phillip! — Acho que falei tudo isso e mais um pouco.

— Você devia ter morrido naquele maldito hospital! — exclamou Sam.

O som do tapa que minha mãe deu no rosto do Sam naquele momento ecoou pela rua. Todos que assistiam àquela cena lamentável ficaram em silêncio. Phillip e eu precisamos de uns segundos para processarmos o que tinha acontecido. Eu queria dizer que me senti mal pelo Sam, mas não vou mentir... Não gosto de brigas, mas depois de tudo o que foi dito a meu respeito, eu estava pronto para dar um segundo tapa no rosto dele se necessário.

— Nunca mais se aproxime do meu filho — disse Joanne, encarando Sam com um olhar que dava medo até nos mais corajosos.

— Sra. Stevens... — Phillip tentou falar, mas minha mãe o interrompeu.

— Phillip, acabei de fazer café. Você gostaria de entrar e beber um pouco? — perguntou ela, caminhando de volta para casa.

Phillip não questionou, apenas assentiu e a seguiu. Sam permaneceu parado na calçada, com o rosto vermelho e uma expressão surpresa, como se não acreditasse no que tinha acontecido.
Matthew, amizade é mais do que receber as pessoas em casa para contar seus problemas enquanto come biscoito e bebe refrigerantes. Nunca senti verdade em minha amizade com o Sam. As conversas que tínhamos eram sempre focadas nele, em seus sentimentos, gostos e vontades. Nunca houve uma troca sincera ou um ombro amigo da parte dele.

Momentos depois, na cozinha de casa, aquele assunto não havia acabado. Joanne estava disposta a saber os detalhes do que tinha acontecido entre Phillip e eu dentro do carro.

— Abracei o Alec e o beijei no rosto para me despedir — explicou Phillip, bebendo um pouco de café em seguida.

— Não estávamos nos beijando dentro do carro, mãe — murmurei, envergonhado.

— Acredito em vocês, porque sei que o Alec gosta de outro rapaz — disse Joanne, arrumando a cozinha.

— Como é? — questionei.

— Não é segredo para ninguém que você gosta daquele rapaz asiático, e não é segredo que ele também gosta de você — respondeu ela.

Phillip e Joanne começaram a rir, mas não entendi onde estava a graça. Permaneci quieto – imagino que com uma expressão estranha e confusa – e sem saber o que responder.

— Seu filho está pensando em perdoar aquele japonês, Sra. Stevens — disse Phillip.

O fuzilei com meu olhar.

— Não sei o que ele fez, mas se meu filho quer perdoá-lo, não vejo problema — disse minha mãe. — Alec já é grandinho para tomar suas próprias decisões.

— Podemos falar sobre outra coisa? — resmunguei, revirando os olhos e pegando meu celular para desviar minha atenção.

O final da tarde foi tranquilo. Phillip ficou aqui em casa me fazendo companhia. Assistimos a dois filmes na plataforma de streaming que ele tinha assinado e comemos porcarias pelo resto da tarde. Ele não insistiu em me convencer a não perdoar o Arthur. Depois da conversa que tivemos com minha mãe, ele concordou que eu devia seguir meu coração, mas estar preparado caso o "japonês" tentasse me enganar novamente.

Hoje o dia foi preguiçoso e agradável. Ajudei meus pais nos afazeres domésticos de manhã e, depois do almoço, nos recolhemos para descansar o resto da tarde. Antes de dormir, resolvi te escrever este e-mail para contar tudo o que aconteceu neste final de semana. Tenho certeza que quando você ler, vai morrer de rir, pois essas situações sempre te divertem.

Cada dia que passa sinto mais a sua falta, principalmente agora que sei que você estava comigo naquele acidente horrível. Não vejo a hora de ir te visitar e conversar sobre tudo isso com você. Preciso de notícias, preciso saber como está sua recuperação. Minha mãe disse que você está bem, mas preciso ouvir isso de você! Ainda não sei o que aconteceu contigo e que tipo de tratamento está fazendo. Me sinto culpado por isso, pois não era para você estar naquele ônibus. A culpa foi minha, mas espero que você me perdoe.

Obrigado por sempre estar aqui comigo.

Alec Stevens.

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