seis.

EuTeAmo.com | seis.

04 de novembro – Domingo
Assunto: Tenho uma confissão a fazer...

Querido Matthew,

Sei que você deve estar ansioso para saber tudo o que aconteceu no baile e na festa na casa do Zach. Te adianto que não sei mais o que fazer ou como evitar sentir o que estou sentindo...
Acho que estou apaixonado pelo Arthur.

Imagino que para você já era óbvio, pois não paro de falar dele desde que comecei a te enviar e-mails. Até tentei evitar e encontrar desculpas para mascarar o sentimento que crescia em mim, mas não consigo mais esconder.

Ontem à tarde, usei um aplicativo de transporte para pedir um táxi e chegar à casa do Thomas. Ele mora em um apartamento com os pais e é filho único, como nós dois. Thomas estava sozinho em casa. Segundo ele, estar sozinho era conveniente para poder conversar comigo sem problemas ou interrupções.
Espero que você não me julgue Matthew, pois não pude evitar...

— Alec, você me acha atraente? — perguntou Thomas, tirando a camiseta na minha frente.

— Como assim? — questionei, sentando na cama dele e colocando as mãos na boca para esconder minha vontade de rir.

— Você acha que sou um rapaz atraente? — Thomas perguntou novamente. — Acha que as pessoas me acham bonito?

— Thom, você é muito bonito — falei sinceramente.

— Você ficaria comigo? — questionou Thomas, abaixando a bermuda que estava vestindo.

Matthew, é melhor não rir dessa situação. Thomas estava tão desesperado e inseguro em relação a si mesmo, que eu me recusava a zombar dele.

— Se você não fosse meu amigo, é claro que eu ficaria com você — respondi, engolindo a vontade de rir e pigarreando em seguida.

— O que você acha do meu corpo? — perguntou, chegando um pouco mais perto de mim. 

Sim, Matthew...
Ele ainda estava só de cueca.

— Aaann... — resmunguei, me afastando um pouco dele. —Você tem um corpo magro e definido muito bonito, Thom!

— O que você acha do meu pau? — Ele já estava ameaçando tirar a cueca.

— Hey! — exclamei, tapando meus olhos com as mãos e começando a rir. — Calma aí, Thom! O que você está fazendo?!

Eu não estava esperando por aquilo.

— Você é meu melhor amigo e é gay, então deve saber se um pênis é grande e bonito o bastante para agradar uma garota.

— Calma! Acho não funciona desta forma.

Thomas estava agindo e falando sério. Meu amigo estava muito preocupado com o que Nina ia achar dele. Ele queria saber se era bom o bastante para agradar uma garota. Achei estranho um rapaz tão bonito e legal como o Thomas ter esse tipo de insegurança.

— Thom, eu entendo suas dúvidas, mas acho que você não devia se preocupar com isso — afirmei.

— Eu nunca fiquei com alguém antes, Alec — confessou mais uma vez. — Não sei como vou agir esta noite com a Nina.

— Você é bonito, meio inteligente, tem uma personalidade bacana e é super engraçado — comentei. — Geralmente as garotas gostam dessas qualidades.

— Como assim 'meio inteligente'? — Thomas me olhou de forma confusa.

— O fato é que suas inseguranças são besteiras — falei, tentando passar tranquilidade para ele. — Tenho certeza que vai dar tudo certo entre você e a Nina.

Me aproximei novamente do Thomas para abraçá-lo, mas ele continuava a olhar para o nada com uma expressão confusa e preocupada. Eu tinha me comprometido a ajudá-lo, mas nunca imaginei que ele queria aquele tipo de ajuda.

— Alec, você já beijou alguém? — perguntou assim que o abraço terminou.

— Sim! Meu primeiro beijo foi com quinze anos.

— Você poderia me ensinar a beijar?

— O quê?!

Thomas se adiantou e encostou os lábios dele nos meus antes que eu conseguisse ter qualquer tipo de reação. Ele não os moveu e nem forçou meu rosto contra o dele. Ele apenas ficou parado esperando que eu tivesse alguma reação.

— Você está bem? — perguntou, se afastando um pouco para me olhar diretamente.

— Estou bem — respondi, um pouco confuso. — Só é estranho estar assim com um amigo.

Thomas parecia envergonhado. Era fofa a forma com que ele se preocupava com tudo aquilo. Meu amigo não tinha a noção do quão bonito e atraente ele era.

— Alec, me desculpa por isso? — pediu Thomas, levantando para se afastar um pouco. — Não sei onde estou com a cabeça! 

Não sei se vou me arrepender da decisão que tomei naquele momento, mas eu não podia deixar o Thomas com toda aquela insegurança e dúvida em relação a si mesmo. Por isso, fiz o que eu tinha que fazer...
Por favor, não me julgue!

— Okay! Eu não sou especialista em beijos, pois só beijei uma vez na minha vida, mas...

— Não quero te forçar, Alec...

— Me beija logo, Thom!

Thomas voltou a sentar a meu lado na cama e me beijou. Não vou dar detalhes de como foi esse beijo, mas saiba que ele foi muito bem para alguém que beijava pela primeira vez. Também não importa quanto tempo durou, mas posso dizer que foi tempo suficiente para ele se sentir seguro e pronto para sair com a Nina.

— Como você se sente por seu primeiro beijo ter acontecido com seu melhor amigo gay? — perguntei assim que os lábios dele descolaram dos meus.

— Espero que você não se apaixone por mim, pois sou irresistível — disse Thomas com o mesmo bom humor de sempre.

Era a confirmação que eu precisava. Meu amigo Thomas estava bem consigo mesmo e pronto para ficar com a Nina.

— Obrigado, Alec — agradeceu. — Você é o melhor amigo que eu já tive.

— Fico feliz em ter ajudado — respondi, ainda um pouco desconsertado.

Mas ainda não tinha acabado...

— Alec, será que você pode ver meu pênis agora?

Matthew, não vou comentar sobre isso.
Não insista!

Pouco antes do anoitecer, Thomas e eu já estávamos prontos e a caminho do baile de outono do colégio. Mesmo depois de todo aquele assunto referente às inseguranças dele, Thomas estava feliz e ansioso para aquela noite.
Thomas e eu fomos até a entrada do colégio, que estava decorada com balões e galhos secos de árvores para representar o outono. Havia uma movimentação estranha próximo à entrada, e tudo indicava que uma briga estava acontecendo ali, mas não conseguimos ver ou entender nada até chegarmos mais perto. Havia diversas pessoas na minha frente e eu não consegui identificar aquelas vozes alteradas, até uma delas gritar o nome do Arthur. Ele era um dos que estavam no meio da briga.

— Você é uma grande mentirosa! — gritou Arthur.

— Não sou mais uma garotinha, Arthur! — retrucou uma garota que eu não conhecia.

— Você não passa de uma... — Arthur conteve as palavras antes de empurrar algumas pessoas que estavam na frente dele e entrar correndo no colégio.

Sim, Matthew! Aquela garota era a namorada do Arthur.
Correção: ex-namorada.

— Zach, o que aconteceu aqui? — perguntou Thomas para o amigo de time do Arthur.

— Arthur descobriu que a namorada o traiu com um cara do time de basquete da faculdade dela. — explicou Zach.

— Ela traiu o Arthur? — perguntei, inconformado.

— Não só traiu como fez questão de expor isso para o colégio todo — disse Zach. 

Matthew, não entendo o que leva uma pessoa a trair a outra. Sempre fui da opinião de que se não houver mais sentimento ou vontade de estar com alguém, a melhor alternativa é terminar com a pessoa antes de fazer uma coisa assim.

Do que eu estou falando mesmo?
Eu nunca namorei na vida, então...

O baile estava cheio, e o escândalo que aconteceu na porta do colégio foi o assunto da noite em todas as rodas de conversa. Arthur estava em um canto da quadra, isolado com alguns de seus amigos do time de basquete, e não deu entrada para ninguém se aproximar deles. Thomas e Nina estavam dançando todas as músicas juntos e praticamente me obrigaram a ficar ao lado deles. Foi meio chato, pois por mais que eu tentasse me afastar para deixá-los sozinhos, eles me puxavam de volta, me obrigando a segurar vela. Ainda bem que estava tocando músicas boas no baile, pois quase nem vi o tempo passar.

Thomas e Nina resolveram ficar no baile e não ir à festa na casa do Zach. Eu também quase desisti de ir para essa festa, pois não conhecia ninguém do time de basquete além do Arthur, e ele provavelmente não me daria a menor atenção naquele momento.
Mas o destino me deu um presente.
Eu acho...

— Alec, você vem com a gente? — Zach perguntou me abordando enquanto eu segurava os refrigerantes do Thomas e da Nina.

— Não sei, Zach! Não conheço quase ninguém que vai na sua festa e o Thomas disse que vai ficar por aqui esta noite, então...

— Bobagem! Arthur contou que você o ajudou a fazer um trabalho de inglês e que você é um cara bacana. Qualquer amigo do Arthur é nosso amigo também!

Arthur tinha falado sobre mim para os amigos...
Tive que prender a respiração para não surtar.

— Falando no Arthur, como ele está? — perguntei, preocupado.

— Está bebendo escondido dos professores por causa da ex-namorada. — Zach respondeu pegando os refrigerantes da minha mão, colocando sobre a mesa e envolvendo um dos braços em meu pescoço.

— Ele está bêbado? — questionei, surpreso.

E a conversa que tive com Phillip, no ponto de ônibus perto de casa, de repente ecoou em minha mente: "Já fiquei com um cara hétero uma vez em uma festa. Estávamos tão bêbados que ele nem se importou quando fiz um oral nele." ; "Alguns caras heterossexuais são facilmente afetados por uma festa, uma garrafa de vodca e uma ereção. Eles se soltam e despertam uma bissexualidade oculta, mas nunca passa de uma noite e no dia seguinte o cara vai odiar o que fez pelo resto da vida."
Matthew, sei muito bem o que você deve estar pensando de mim, mas não precisa se preocupar. Tenho total consciência do que é certo e errado em situações como essa. É fato que eu desejo o Arthur como jamais desejei alguém em minha vida, mas eu não seria louco de tentar despertar a "bissexualidade oculta" que, supostamente, os rapazes héteros como ele desenvolvem quando estão bêbados.
E acredite se quiser... Não foi por falta de oportunidade.

Passei a noite toda sozinho na festa do Zach. Eu estava em um canto da sala ouvindo os garotos do time de basquete conversarem sobre garotas, campeonatos e de como eram chatas as aulas do colégio. Em vários momentos me senti invisível. Eu sentia como se minha existência naquele lugar fosse totalmente ignorada. Arthur também ficou calado boa parte da noite. Eu já estava na festa há quase três horas e não tinha ouvido ele dizer uma só palavra. Ele apenas bebia e andava pela casa como um zumbi a procura de comida e mais garrafas de cerveja.
Até a hora em que ele cansou e resolveu ir deitar...

— Aê, galera! — exclamou Arthur, depois de dar um último gole em sua garrafa de cerveja. — Tô indo deitar! Vou vomitar se beber mais uma cerveja.

— Está cedo, Arthit! — disse um dos membros do time que eu não conhecia. — A gente ainda nem foi para a piscina.

— Quero deitar, Tristan! — respondeu Arthur, cambaleando até a escada. — Não estou me sentindo bem.

Zach foi rapidamente ao encontro do Arthur para ajudá-lo a subir, mas parou no meio da escada para também pedir minha ajuda... 

— Alec, percebi que você não bebe e deve ser o único cara sóbrio da casa neste momento. Você pode me ajudar a colocar o Arthur na cama?

Senti meu corpo congelar.

— Claro! — respondi prontamente.

— Eu estou bem! — resmungou Arthur, se soltando do Zach e subindo o restante das escadas de forma desengonçada. — Não estou tão bêbado assim!

— Achei que você fosse cair da escada, Arthur! — resmungou Zach, revoltado, indo atrás dele.

Subi a escada e segui os dois até chegar no quarto do Zach. Arthur não parecia bem, e Zach parecia impaciente com aquela situação.

— Não estou tão bêbado, Zachary! — resmungou Arthur. — Só estou um pouco tonto e com dor de cabeça.

— E não quer aceitar minha ajuda? — retrucou Zach. — Você é muito teimoso, Arthit!

— Pode deixar que o Alec me ajuda — disse Arthur, tentando desabotoar a camisa que estava usando. — Você tem uma festa e uma casa para cuidar.

— Tem certeza? — perguntou Zach.

— Pode deixar comigo, Zach! — confirmei, antes de respirar fundo para tentar manter a calma.

Zach concordou e deixou o quarto. Arthur sentou na cama e ficou alguns minutos olhando para o nada. Ele se movia como se sentisse algum desconforto em seu corpo.

— Você está bem? — perguntei, parado ao lado da porta.

— Acho que exagerei na cerveja — disse Arthur, começando a rir e a tentar tirar sua camisa.

— Quer ajuda? — perguntei, mas eu não tinha certeza de qual resposta eu queria ouvir.

Arthur não respondeu. Ele levantou da cama e tirou a camisa sem se importar com os botões que estouraram. Em seguida, tirou os sapatos, as meias e o cinto que estava usando.
Matthew, você deve imaginar como me senti naquele momento.

— Eu gostava muito dela, sabia?

— Eu lamento o fim do seu relacionamento, Arthur.

— Alec, você gosta de alguém?

Congelei novamente.

— Sim — respondi com um tímido meio sorriso.

— E essa garota sabe que você gosta dela? — perguntou Arthur, desabotoando a calça.

— Nã... Não é uma... Não sabe! — gaguejei e depois pigarreei.

— Essas garotas não nos dão valor! — resmungou. — Só se preocupam em ser populares e bonitas, passando por cima de qualquer coisa.

Arthur abriu o zíper da calça e a deixou cair sobre os pés. Ele não parecia estar bem e era visível que ele tinha bebido muito naquela noite. Apesar de tudo isso, ele estava lúcido e sabia muito bem o que fazia e falava. Eu estava tão preocupado com o estado da saúde física e mental do Arthur, que juro que não fiquei admirando o corpo dele. Não percebi nem um certo "detalhe", até ele mesmo comentar...

— Droga! — exclamou Arthur, começando a rir novamente.

— O que foi? — questionei, preocupado.

— Estou excitado — disse, segurando o volume que a cueca boxer preta que ele estava usando fazia.

— Droga — resmunguei, sentindo como se um buraco se abrisse embaixo dos meus pés.

Não sei se você vai me achar o garoto mais sortudo ou o mais azarado do mundo. Acho que o que aconteceu foi uma prova de fogo da qual eu saí ileso. Sem falar que saí com a certeza de que gosto de verdade do Arthur.

— Me desculpa, Alec — disse Arthur, ainda rindo enquanto deitava e se acomodava na cama do Zach.

— Ereções acontecem quando menos esperamos — falei, andando até o outro lado da cama. — Você precisa de alguma coisa? Tem certeza que está bem? Está se sentindo enjoado?

Arthur balançou a cabeça negativamente.

— Você é um bom amigo, Alec! Como não te conheci antes?

— Mudei para esta cidade há pouco tempo.

— Quero te recompensar por ser um bom amigo.

— Ter sua amizade já é suficiente. Do colégio só converso com o Thomas e a Nina e...

Não tenho certeza se Arthur ouviu minha última frase, pois ele já tinha fechado os olhos e apagado completamente. Fiquei observando e admirando o Arthur por um tempo antes de me aproximar da cama e deitar ao seu lado. O rosto dele estava virado em minha direção, então pude, pela primeira vez, admirar aquela pele perfeita bem de perto. Matthew, não se preocupe, pois mantive a distância de alguns centímetros e não encostei nem um dedo no corpo dele. Não sei quanto tempo passou enquanto eu estava ali, admirando o Arthur dormindo. A festa do Zach, o baile do colégio e o fato de já estar tarde e eu precisar ir embora pareciam não ter importância.
Eu só queria viver aquele momento para sempre.

Como já deixei claro, não me atrevi a tocá-lo. Constatei que não sinto apenas uma forte atração física pelo Arthur...
Eu estou completamente apaixonado por ele.

Recebi uma ligação do Thomas pouco antes da uma e meia da manhã. Ele perguntou se eu ainda estava na casa do Zach e se eu queria dormir na casa dele, já que seu pai estava de carro e foi buscá-lo no colégio. Eu aceitei e avisei minha mãe por mensagem para que ela não me esperasse e não ficasse preocupada.
O pai do Thomas não demorou para me pegar na casa do Zach. Também não demoramos para chegar ao apartamento deles.

Thomas me emprestou roupas confortáveis para dormir e uma toalha para me secar depois do banho. Ele não tinha uma escova de dentes extra, então tive que improvisar e escovar os dentes com meus dedos.

— Como foi com a Nina? — perguntei assim que Thomas voltou para o quarto depois de sair do banho.

— Acho que estamos namorando — respondeu, tirando a toalha e ficando nu na minha frente.

— Thomas, veste alguma roupa, por favor! — resmunguei, começando a rir.

— Grande coisa! Você já viu, lembra?! — Zombou Thomas pulando na cama sem se vestir.

— Tudo bem se eu usar seu computador para enviar um e-mail? — perguntei, sentando na escrivaninha dele.

— Vá em frente!

E aqui estou eu, Matthew. Sentado à escrivaninha e usando o computador dele para te enviar este e-mail. Thomas ainda está acordado jogando no celular e se recusando a colocar uma roupa. Ele quer saber para quem eu tanto escrevo...

Acho que este e-mail ficou um pouquinho longo e peço desculpas por isso. Estou curioso para saber qual será sua reação ao ler todos os absurdos que escrevi aqui.
Até o próximo e-mail, Matthew.

Obrigado por sempre estar aqui comigo.

Alec Stevens.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top