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09 de novembro – Sexta-feira
Assunto: Fui esquecido.

Querido Matthew,

Às vezes sinto como se você estivesse aqui a meu lado cochichando em meu ouvido: "Vai dar merda. Sai dessa enquanto você pode! Arthur não é o caminho certo para você querer seguir..."
Eu posso até te ouvir, mas não consigo te escutar...

Hoje de manhã cheguei ao colégio bem cedo, pois descobri que haveria treino de basquete antes da aula. Os garotos do time estão bem focados. O campeonato regional vai começar na sexta-feira que vem, e toda a escola está ansiosa para os três últimos jogos. Fiquei sabendo que Arthur não costuma jogar nos campeonatos, já que ele é apenas um dos reservas. Dizem que apesar de ter um ótimo desempenho, ele não tem o nível dos titulares do time. Uns dizem que Arthur é muito distraído e mulherengo, mas não acreditei nessa fofoca, pois jamais o vi ter esse tipo de comportamento.
Não sei como será agora que ele está solteiro.

— O Alec chegou para nos dar sorte! — exclamou Asher, assim que me viu na arquibancada da quadra.

— Olá, pessoal! — exclamei, acenando para ele e para os outros garotos do time.

Eu entendo um pouco de basquete para saber que Arthur estava jogando muito bem naquele treino. Ele não perdia passes, roubava boas bolas e finalizava a jogada sempre fazendo uma cesta. Asher estava no time adversário e também foi muito bem nos improvisos e finalizações. Na minha humilde opinião, Arthur e Asher são os melhores jogadores do time, e as fofocas em relação a como o Arthur joga são bem equivocadas.

— Você está querendo entrar para o time? — perguntou Asher, durante uma das pausas do treino.

— Não sei jogar basquete — respondi, acanhado —, mas gosto de assistir vocês jogando.

— Você sabe que não é permitido que alguém veja os treinos do time, né? Eles são secretos e você poderia ser um espião de outro colégio.

— Não sou um espião. Eu só vim aqui falar com o...

Minha língua quase me ferrou naquele momento. Tenho que começar a ter cuidado com o que falo e para quem falo. Asher é um cara legal, mas não quero que ele desconfie que gosto do Arthur.

— Falar com quem? — perguntou Asher, esperando que eu terminasse aquela frase.

— Com todos vocês! — exclamei, já nervoso. — Vocês são meus amigos, né?

— Sendo assim, você sabe que é bem-vindo aqui — disse Asher, dando três tapinhas em meu ombro.

— Prometo não atrapalhar vocês — falei, enquanto ele levantava e voltava para a quadra.

No final do treino, todos os garotos do time foram para o vestiário tomar banho e se trocar para o início das aulas. Arthur – que havia tirado a camisa e exibido aquele corpo definido e perfeito mais uma vez – apenas acenou em minha direção e entrou no vestiário antes que eu pudesse chamá-lo para confirmar nosso "encontro" de amanhã. Pensando melhor agora que estou te escrevendo, eu devia ter ido embora e fingido ter esquecido aquele convite. Por favor, não venha me dizer: "Eu te avisei, Alec!"

— Arthur, você tem um minuto? — perguntei, assim que o vi sair do vestiário.

— Claro! — exclamou, vindo em minha direção.

Naquele momento meu coração começou a acelerar e parecia que tinha um saco de gelo em minha barriga.

— Você foi muito bem no treino — falei, envergonhado. — Você joga muito bem!

— Obrigado. — Arthur agradeceu com um sorriso.

— Então... — Tentei começar, mas senti meu corpo tremer e um buraco se abrir embaixo dos meus pés.

Arthur me olhava atentamente esperando eu terminar o que tinha para falar, mas eu não conseguia nem começar aquela frase. Tinha simplesmente travado e me perdido no olhar apaixonante dele.
O tempo estava passando e a situação já estava ficando estranha.

— Você está bem? — perguntou Arthur, adotando um olhar preocupado e colocando a mão em meu ombro.

— Só me sinto estranho — respondi, por impulso, pois não era o que eu queria dizer.

— Quer que eu te acompanhe até a enfermaria? — perguntou.

— Não, tudo bem! — respondi, depois de pigarrear.

Arthur e eu continuamos nos olhando por alguns segundos. Ele parecia temer que eu fosse passar mal ou algo parecido. Não sei como era meu olhar, mas acho que de uma pessoa louca e sem nem um pingo de noção.

— Sobre o cinema... — Consegui falar depois de muito lutar contra minha insegurança.

— Ah, sim! — exclamou Arthur, colocando uma das mãos na cabeça. — Desculpe, Alec, mas esqueci de te avisar! Tem uma garota aqui do colégio que sempre me chama para sair. Ontem ela veio falar comigo e eu acabei a convidando para ir ao cinema no sábado comigo. Me desculpa, eu juro que tinha esquecido que tinha convidado você.

E a opção número treze foi oficialmente descartada.

— Uma... Uma garota? — gaguejei.

— Você tem que ver que garota linda — disse Arthur, envolvendo o braço em meu pescoço e andando comigo em direção aos corredores do colégio.

— Droga! Esqueci que tenho que pegar um livro muito importante com o Thomas antes de começar a aula — menti, apressando o passo e me afastando do Arthur para entrar primeiro no corredor que já estava lotado de gente.

É claro que fiquei com raiva, Matthew. Nem precisa me perguntar algo tão óbvio. Por um lado, fiquei com raiva do Arthur por ter me esquecido, por outro, eu estava com raiva de mim mesmo por saber que fiz papel de idiota. É óbvio que o Arthur prefere sair com uma garota e que não liga para o que sinto ou deixo de sentir. Ele provavelmente pararia de falar comigo se soubesse que sou gay e que estou gostando dele.

Matthew, acho melhor eu mudar de assunto. Não gosto de lembrar dessa vergonha que passei hoje no colégio.

Fui encontrar com Phillip hoje na parte da tarde. Marcamos de ir a um parque que tem perto do meu colégio, pois ele não queria ir ao shopping ou a lugares cheios e fechados. Ele queria conversar tranquilamente ao ar livre.
Phillip confessou que tinha traído o namorado, mas que se arrependeu de ter feito aquilo imediatamente depois. Ele sabia que tinha que terminar o relacionamento deles agora, algo que achei digno da sua parte, já que traição é uma das coisas que eu nunca perdoaria que fizessem comigo.

— Foram três anos perdidos com o Sam — disse Phillip, cabisbaixo.

— Sempre podemos recomeçar — falei, me aproximando dele para abraçá-lo e confortá-lo.

— Acho que ele não vai reagir bem ao término — disse, pegando em uma de minhas mãos carinhosamente. — Por isso, quero te pedir um favor.

— Ficarei feliz em ajudar.

— Quero que você esteja ao lado do Sam quando eu terminar com ele — disse. — Assim você poderá dar o apoio que ele precisa. Eu o conheço e sei que ele não vai reagir bem quando eu contar. Sam pode até tentar fazer alguma besteira.

— Sem problema — confirmei. — Vou estar com vocês!

Foi aí que alguém inesperado apareceu...

— Alec! — Asher estava passando de bicicleta onde Phillip e eu estávamos conversando.

— Asher! — exclamei, sentindo meu corpo congelar com a surpresa.

Ele olhou para Phillip e eu juntos de maneira estranha, depois sorriu e desceu da bicicleta para vir nos cumprimentar.

— Que surpresa te encontrar aqui com seu... amigo! — disse Asher com uma expressão curiosa.

— Este é meu amigo, Phillip — falei, levantando para apresentá-los.

— Prazer, Phillip! Meu nome é Asher e sou do mesmo colégio do Alec — disse, me segurando pelo braço e me puxando para nos afastarmos um pouco do Phillip.

Naquele momento fiquei preocupado com o que Asher poderia pensar. Phillip e eu estávamos próximos e segurando na mão um do outro... Qualquer pessoa que visse aquela cena não pensaria que era só um amigo dando apoio ao outro em um momento delicado.

— Você é gay? — perguntou Asher, com curiosidade e graça na voz.

— Por que acha isso? — questionei, tentando me esquivar, mas sabia que não daria certo.

— Vi os dois coladinhos e olhando um para o outro, cheios de amor — disse, aparentemente em tom de brincadeira.

Ele parecia mais curioso do que maldoso.

— Eu sou gay — falei sem rodeios. —, mas o Phillip é só meu amigo.

Asher olhou para Phillip e acenou com um largo sorriso. Phillip franziu o cenho como se estivesse desconfiado, mas retribuiu o aceno.

— Só amigo?! Tem certeza?!

— Asher, por favor, não conte para ninguém sobre isso e...

— Relaxa, Alec! Não sou o tipo de pessoa que sai espalhando fofocas por aí.

— Obrigado!

— Confesso que fiquei surpreso em saber que você é gay. Eu devia ter desconfiado disso antes.

— Só Thomas e Nina sabem sobre mim.

— Com certeza vou querer saber mais detalhes depois.

Asher se despediu, montou na bicicleta e saiu com ela pelo parque. Ainda não o conheço bastante para dizer se confio nas palavras dele. Estranhei a forma como ele me olhava e perguntava sobre o Phillip, mas talvez só estivesse surpreso e curioso.

Segunda-feira voltarei a trabalhar no Cyber. Não sei como será sem o Sr. Walsh no comando, mas espero que a Sra. Beth Walsh seja tão legal e gentil quanto ele. Sobre o Arthur, não tenho muito a dizer. Me apaixonei por uma pessoa que nunca vai me amar ou me olhar com carinho e desejo. Achei que eu teria maturidade suficiente para evitar que isso acontecesse, mas constatei que sou o mesmo bobão que era antes de me mudar para esta cidade.

Até o próximo e-mail, meu amigo!
Estou com saudade.

Obrigado por sempre estar aqui comigo...

Alec Stevens.

***

09 de novembro – Sexta-feira
Assunto: Uma coisa incrível acabou de acontecer!

Você não vai acreditar!
Acabei de receber uma mensagem de texto do Arthur me pedindo desculpa por ter esquecido o convite para irmos ao cinema. Ele disse que quer me encontrar no domingo e perguntou se topo passear com ele pela cidade.
Claro que aceitei!

Prometo te contar tudo no domingo à noite.

Alec Stevens.

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