doze.

EuTeAmo.com | um.

16 de novembro – Sexta-feira
Assunto: Sonho, campeonato regional e muita ansiedade para o final de semana.

Caro Matthew,

Sonhei com você essa noite! Não consigo lembrar os detalhes do sonho, mas sei que não foi legal. Na verdade, estava mais para um pesadelo, pois acordei assustado, suado e gritando seu nome. No sonho, estávamos no refeitório do nosso antigo colégio. Tudo estava perfeitamente bem e normal, até nossos colegas ficarem em silêncio enquanto olhavam para você.

— Por que tá todo mundo olhando para você, Matt? — perguntei, confuso.

— Não estão olhando para mim, Alec. — Você disse parecendo estar com raiva, antes de levantar da mesa em que estávamos e ir embora.

— Espera, Matthew! Você vai me deixar aqui sozinho?! — questionei, mas acho que você não conseguia mais me ouvir.

Tentei levantar da cadeira, mas uma sombra ruim me prendia nela. A sombra não tinha uma forma definida, mas sua presença era sombria e apavorante. Gritei seu nome algumas vezes, mas você se afastava cada vez mais e não olhava para trás. Tentei pedir ajuda, só que nossos colegas começaram a desaparecer um por um do refeitório. Comecei a entrar em pânico. De repente, percebi que meu corpo estava completamente coberto por um líquido estranho de cor marrom. Minha roupa, meu cabelo, meu rosto e minhas mãos estavam encharcados. Eu gritava, chamava seu nome e pedia ajuda às pessoas que estavam ali, mas ninguém conseguia me ouvir.
Quando me ouviu gritar, minha mãe veio até meu quarto, me abraçou forte pouco depois de eu acordar e repetiu diversas vezes para eu ter calma, que estava tudo bem e que só tinha sido um pesadelo.

— Onde está o Matthew? — perguntei, desorientado.

— Você teve um pesadelo, Alec — respondeu Joanne, ainda me apertando em seus braços.

— O que aconteceu com o colégio? Onde está todo mundo?

Pensando agora, possivelmente tive esse pesadelo por conta da saudade que tenho de você e de alguns de nossos amigos da minha cidade natal. Lembro que me mudei em um dia muito chuvoso e que quase não consegui me despedir dos meus amigos. Havia muita lama na estrada naquele dia. Eu parei para comprar um lanche durante a viagem e acabei sujando meu tênis e a barra da minha calça de terra... Deve ser por isso que tive esse pesadelo sem sentido.

Antes das aulas terminarem, o time de basquete e as garotas da torcida passaram pelos corredores cantando o hino do colégio e visitando cada sala de aula para deixar dois balões com as cores que representavam a bandeira do time. Asher foi o jogador que entrou na sala de matemática onde eu estava com Thomas e Nina. Ele passou pelos alunos e fez questão de me entregar os dois balões.

— Receba este presente do time de basquete, Alec — disse.

— Droga! Por que não entregou um balão para mim? — perguntou Thomas, indignado.

— Porque o Alec é quase um membro do time, Harris — respondeu Asher.

— Obrigado — agradeci, envergonhado.

Thomas e Nina franziram o cenho e, assim como eu, não entenderam a resposta dele. Eles me perguntaram se eu tinha feito teste para participar do time, mas neguei com a cabeça e balancei os ombros por estar tão confuso quanto eles.

O jogo foi complicado. O time convidado estava ganhando, e os jogadores do nosso pareciam estar cansados e tensos com o tempo. Estávamos nos últimos sete minutos do tempo final quando Asher, finalmente, conseguiu fazer dois arremessos de três pontos e dois passes que renderam mais três cestas para o time. Essas jogadas diminuíram um pouco a diferença no placar. A torcida, que antes parecia morta e sem esperança, começou a gritar o nome do Asher em coro pedindo mais cestas e a vitória.

— Por que o Arthur não entrou ainda? — perguntei tentando encontrá-lo, mas do lugar em que eu estava não dava para ver o banco de reservas.

— Arthur é apenas o reserva, Alec! Ele só entra se for muito necessário — disse Nina, em tom de deboche.

— Arthur joga muito bem! Tenho certeza que ele ajudaria o time a virar o jogo — afirmei.

Faltavam apenas três minutos para acabar. Todos os alunos da quadra, tanto do meu colégio quanto do colégio do time adversário, estavam em silêncio por conta da tensão e do placar que estava mais equilibrado. Eu ainda me perguntava o motivo de não chamarem o Arthur para entrar no jogo. Eu tinha a mais absoluta certeza de que ele ajudaria muito o time.  Quando faltava um minuto para o jogo acabar, Zach sofreu uma falta ao ser empurrado por um dos jogadores do outro time. Ele ficou no chão por alguns segundos reclamando de dor no tornozelo e o jogo teve que ser paralisado. Naquele momento, Arthur apareceu pela primeira vez, ajudando o amigo a levantar e a sair da quadra... Foi aí que chegou a tão esperada vitória.
Asher se posicionou para fazer os dois lances livres concedidos pela falta que Zach sofreu. Ele se concentrou por alguns segundos e conseguiu fazer a primeira cesta. O tempo do jogo voltou a correr depois que ele acertou a segunda. Meu colégio estava três pontos atrás no placar, mas o time conseguiu bons passes e arremessos nos segundos finais e ganhamos o jogo abrindo quatro pontos de vantagem.

— Ganhamos! — exclamou Thomas, me abraçando e me chacoalhando em comemoração.

— Não achei que nosso time fosse ganhar — resmungou Nina, parecendo entediada.

Eu nunca tinha visto um colégio tão apaixonado por basquete. Matthew, no nosso antigo colégio o esporte que os garotos jogavam era o futebol americano, e eles nunca conseguiram passar do primeiro jogo das seccionais nos campeonatos. Você lembra quando fez um teste para entrar no time? Lembro que eles te rejeitaram por você não ser alto e ser meio magrinho. Desculpe te lembrar disso.
Voltando ao assunto... O colégio estava em festa pela primeira vitória do time de basquete no campeonato regional. Faltam apenas dois jogos para o time finalmente competir pela primeira vez no campeonato nacional.

Thomas, Nina e eu decidimos cumprimentar o time antes de irmos embora. Naquele momento nossos colegas estavam reunidos na quadra para parabenizar os jogadores. Asher e Zach cumprimentaram Thomas e Nina, enquanto eu andava para os lados atrás de algum sinal do Arthur. Ele era o primeiro jogador que eu queria parabenizar por aquela vitória. Tudo bem que ele nem jogou, mas isso não altera o fato de que a vitória também pertence a ele.
Não demorei para encontrá-lo. Arthur estava afastado dos outros jogadores e conversava com duas pessoas. Deduzi que eram os pais dele por causa da semelhança física e a postura que eles tinham. Fiquei preocupado por ver que o Arthur não estava nem um pouco feliz com a presença deles. Era notável.

— Parabéns pela vitória, Arthur! — exclamei, indo até ele assim que se afastou dos pais.

— Obrigado, Alec — respondeu, cabisbaixo.

Ele estava chateado.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei.

— Parece que não sou bom o bastante — resmungou ele, passando por mim e andando em direção aos corredores do colégio.

Eu conheço bem o sentimento que Arthur estava sentindo naquele momento. Por vários momentos em minha vida também senti que eu não era bom em nada e que não era o bastante para meus pais ou meus amigos. Não é algo bom de se sentir, por isso, fui atrás dele para tentar ajudá-lo.

— Espera, Arthur! — exclamei.

— Alec, desculpa, mas não estou bem agora — disse ele, ainda caminhando para fora da quadra.

— Quero te ajudar! — exclamei novamente.

— Acho que ninguém pode me ajudar. — Arthur disse finalmente parando e colocando uma das mãos na cabeça com uma expressão de desconforto.

— Você me ajudou nesta semana e eu quero ajudar você agora — falei, voltando a me aproximar dele.

— Você pode me ajudar a não ser um perdedor? — questionou ele, cruzando os braços.

Franzi o cenho e fiz uma careta enquanto balançava a cabeça negativamente.

— Você não é um perdedor! Você acabou de ganhar o jogo do campeonato regional.

— Eu nem pisei na quadra, Alec!

— Se não fossem os treinos e sua ajuda indireta, o time nunca teria...

— Meus pais querem me tirar do basquete.

— O quê? Por quê?

— Minhas notas no colégio não subiram, e hoje eles viram que sou apenas um jogador reserva e sem importância para o time.

— Isso é ridículo!

— Meus pais são muito rigorosos com minhas notas e meu desempenho no colégio. Se minhas notas não subirem, eu...

— Vem estudar comigo neste final de semana em minha casa!

Matthew, juro que convidei sem pensar naquele momento. Eu queria tanto ajudá-lo de alguma forma que eu não estava pensando direito antes de falar.

— Estudar em sua casa? — questionou Arthur, confuso.

— Eu também não tenho as melhores notas, mas entendo um pouco de inglês e matemática. Também podemos estudar biologia, ou sei lá que aulas mais você tem — sugeri.

— Alec, eu não quero incomodar você com meus problemas pessoais — disse Arthur, sem graça e com a expressão mais fofa e perfeita que eu já vi.

— Eu quero muito te ajudar com suas notas e a continuar no time de basquete, por favor — insisti, quase implorando para ele aceitar a minha proposta.

— Não sei como te agradecer, Alec — disse ele, se aproximando para me dar um abraço.

O abraço dele foi totalmente inesperado. Claro que foi por ele estar tomado pela emoção da bronca que tinha acabado de receber dos pais e pelo medo de deixar o time de basquete. Por mais que o estado emocional do Arthur justificasse suas atitudes, eu sabia que ele estava começando a me ver com outros olhos. Pode não ser como eu gostaria, mas sei que agora ele me considera um bom amigo. E eu estou tão grato por isso!

Aí está o motivo por eu estar tão ansioso e feliz neste final de semana, Matthew! Arthur Arthit vai passar a noite de sábado para domingo em minha casa. Combinamos de estudar a tarde toda, jogarmos alguma coisa na parte da noite e estudarmos um pouco mais no domingo. Tenho sorte de estar de folga neste final de semana no Cyber.

Eu imagino sua preocupação e quase consigo escutar tudo o que você tem para me dizer quando penso demais no Arthur, mas não se preocupe, Matthew... Eu sei muito bem das condições desse amor que tenho entalado dentro do meu peito. Ele é secreto e deve continuar assim. Arthur nunca será mais do que um amigo para mim.

Obrigado por sempre estar aqui comigo.

Até nas horas de extrema felicidade!

Alec Stevens.

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