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EuTeAmo.com | dois.
26 de outubro – Sexta-feira
Assunto: Você não vai acreditar!
Caro Matthew,
Já é tarde e era para eu ter ido embora há mais de meia hora, mas não consegui me concentrar no fechamento do caixa ou no que tenho que fazer antes de fechar o Cyber Café. Tenho novidades que te farão duvidar de mim, mas prometo que estou dizendo toda a verdade. Você é meu melhor amigo e se eu não te contar essas coisas, não vou ter mais ninguém com quem me abrir.
Vou começar com o que aconteceu noite passada...
Assim que terminei de te enviar o e-mail de ontem e fechei a loja do Sr. Walsh, passei em um mercado perto de casa para comprar pão, leite e cigarros para minha mãe. No caminho, acabei conhecendo um rapaz muito divertido chamado Sam. Ele estava bem atrás de mim na fila para o caixa.
— Gostei da sua camiseta. — disse ele.
— Obrigado! Ganhei de presente de um amigo da minha cidade natal.
— Drag Race é demais!
Saímos juntos do mercado, e por todo o caminho de volta para casa, conversamos sobre nossos gostos musicais e sobre as séries que costumávamos assistir. Sam disse que não tinha amigos gays e que tinha ficado extremamente feliz em me conhecer. Ele até me convidou para comer um lanche na casa dele amanhã à tarde junto com Danna, irmã dele, e Phillip, seu namorado. Sam mora na mesma rua onde estou morando agora. A casa dele fica alguns metros mais à frente, e ele fez questão de mostrar onde era.
— Então você vem no sábado à tarde? — perguntou Sam.
— Conte comigo.
— Fechado! — exclamou, animado.
Pensei que eu teria dificuldade em encontrar novos amigos nesta cidade, pois você e eu não tínhamos o costume de conversar com ninguém além da nossa turma do colégio. Sempre fomos fechados e tímidos na hora de fazer novos amigos... Mas Matthew, não se preocupe. Por mais que eu faça novos amigos, você sempre será o melhor!
Assim que cheguei em casa, encontrei meus pais discutindo como sempre. Todas as noites têm brigas e quase sempre elas são pelo mesmo motivo. Minha mãe estava reclamando da sujeira e da bagunça que estava a sala. Meu pai, por outro lado, estava bêbado demais para entender alguma coisa ou conversar de maneira civilizada.
— Mãe! — chamei.
— Alec, querido! — exclamou assim que me viu.
— Finalmente ele chegou! Por que você não manda ele arrumar a sala? Ele não lava nem um copo nesta casa! — gritou meu pai do sofá.
— Não é obrigação dele, Brad! — retrucou minha mãe, recolhendo garrafas de bebida na mesa de centro.
— Por isso ele é tão malcriado, Joanne! Você mima ele demais! — gritou meu pai.
— Mãe, deixa eu te ajudar? — perguntei tirando minha mochila das costas.
— Não! — exclamou ela, irritada. — Você teve um longo dia de estudos e trabalho. Quero que vá para seu quarto, tome um banho e desça para jantar.
— Eu posso ajudar você — insisti.
— Está tudo bem. Você sabe que estou acostumada a arrumar a bagunça do seu pai. Você saiu cedo hoje e deve estar cansado.
Matthew, você sabe que a situação aqui em casa nunca foi das melhores. Minha mãe disse que meu pai só começou a beber depois que eu nasci, mas que a culpa não era minha e sim dela que nunca havia conseguido engravidar. A família do meu pai sempre a criticava e colocava toda a culpa nela. Acredito que havia um pouco de preconceito racial misturado às críticas, mas minha mãe diz que não é por ela ser afrodescendente, e sim por ela não poder ter filhos.
As irmãs do meu pai sempre eram cruéis, tanto com ela quanto comigo. Não sei se você lembra daquela festa de aniversário de uma das minhas primas. Aquela que pedi para minha mãe falar com seus pais para deixar você me acompanhar. Naquele dia, na hora de tirar a foto da família, uma das irmãs do meu pai pediu para minha mãe pegar a câmera e tirar a foto. Só hoje eu entendo que ela fez este pedido para que minha mãe não aparecesse na foto da família. Quando eu, sem entender o que estava acontecendo, corri para o lado do meu pai para sair na foto com ele, uma de minhas tias pegou no meu braço e disse: "Você não é da família! Você já tem sete anos e já está grandinho o bastante para saber e entender que você é adotado e não merece estar aqui."
Talvez a culpa realmente seja minha. Talvez meu pai tenha começado a beber assim que eles resolveram me adotar. Por isso ele é tão revoltado. Talvez ele quisesse ter um filho de sangue, mas tudo que conseguiu foi ter um filho que não se parece nada com ele.
Hoje de manhã tudo estava normal no colégio, até um dos professores avisar que estava com um problema pessoal e que ia precisar se ausentar no meio da aula. Com o resto do tempo livre, todos da minha turma foram à quadra para acompanhar o treino do time de basquete. Eles tinham um jogo de campeonato importantíssimo agendado para os próximos dias.
Thomas e Nina estavam mais próximos um do outro e eu logo desconfiei que alguma coisa estava rolando entre eles. Apesar de negar, minha colega Nina tem uma queda pelo Thomas e a turma inteira desconfia disso. O que ainda não consigo entender é o motivo do Thomas ser tão escorregadio com ela e quase sempre me usar como escudo para se defender das indiretas da Nina.
— Olha só quem está ali, Alec! — Thomas apontou para um dos jogadores com aquele tom provocativo e malicioso.
— Quem? — perguntei, tentando parecer indiferente.
— Arthur Arthit. — respondeu ele, mordendo o lábio inferior em seguida.
— E...? — questionei.
— Ué, você não queria saber dele? — perguntou Nina.
— Por curiosidade, só isso — falei balançando os ombros.
— Mesmo? — Nina insistiu.
— Ele é bonito, mas a maioria dos meninos do time de basquete são bonitos — afirmei para tentar encerrar o assunto.
— Então você não tem uma queda por ele? — perguntou Thomas acariciando meu rosto para me provocar.
— Achar um rapaz bonito não significa que eu tenho uma queda ou que quero ficar com ele — falei afastando a mão do Thomas de mim.
— Você ficaria comigo? — perguntou Thomas, aproximando-se um pouco mais para apoiar o braço em meu pescoço.
— Você é meu amigo, Thom. — O lembrei, envolvendo meus braços na cintura dele.
— Sabia que tenho a curiosidade de beijar um garoto? — confessou Thomas, aproximando o rosto dele do meu.
— Arrumem um quarto! — exclamou Nina.
— Vai continuar curioso — resmunguei antes de dar um soco sem força na barriga do Thomas para ele se afastar.
Meu amigo começou a gargalhar.
Thomas tem uma beleza física que chama bastante a atenção. Ele é alto e, apesar de ser magro, o corpo é bem definido e isso dá para notar por causa das camisetas que ele costuma usar. O cabelo dele é castanho claro, mas quando está tomando sol no intervalo, os fios ficam com uma tonalidade mais próxima ao loiro. Os olhos dele são castanho-claros e ele tem uma pinta pequena e bem escura no canto inferior da boca. Acredito que todos esses detalhes chamam bastante a atenção das garotas.
Deve ser por todas essas qualidades que Nina está interessada nele.
A tarde de hoje passou muito rápido. Antes que eu pudesse perceber e me cansar fisicamente do trabalho, já era noite e restavam menos de trinta minutos para eu fechar a loja. Foi quando ele apareceu... Eu sei que você não vai acreditar em mim, mas é verdade!
Arthur Arthit apareceu aqui na loja.
Eu estava limpando o chão próximo a um dos computadores, pois uma das clientes tinha derrubado sorvete enquanto fazia um trabalho para a faculdade. Assim que percebi de quem se tratava, guardei rapidamente o esfregão no armário de limpeza e corri para o caixa.
— Boa noite — disse Arthur, aproximando-se do caixa.
— Boa noite — respondi com um sorriso torto por estar morrendo de vergonha.
— Meu computador está meio estranho e acabou a tinta da minha impressora — Arthur começou a vasculhar a mochila procurando por alguma coisa. — Preciso usar meia hora de internet e fazer algumas impressões para um trabalho do colégio.
Ele ainda não tinha me olhado diretamente nem por um segundo desde o momento em que entrou na loja.
— Você já tem cadastro em nosso Cyber Café? — perguntei, tentando não olhar muito para ele.
Era muita distração para controlar.
— Tenho sim! — respondeu, fechando a mochila e a colocando nas costas. — Meu cadastro é Arthur Arthit.
Minha cabeça começou a falhar naquele momento. Minha barriga estava gelada e minha mão começou a suar. Eu não queria e nem conseguia olhar diretamente para o Arthur, e por mais que eu olhasse para o monitor do computador à minha frente, eu não via absolutamente nada.
— Oi?! — Arthur chamou minha atenção depois de alguns segundos de silêncio.
— Ahn?...
— Meu cadastro está no nome de Arthur Arthit!
— Ah, sim... O que deseja mesmo?
— Usar um computador por meia hora e fazer algumas impressões.
— Ah, claro! — exclamei depois que minha cabeça voltou ao lugar. — Desculpe minha distração.
— Qual computador posso usar? — perguntou Arthur.
— O computador número seis está livre, então fique à vontade — respondi, querendo pular da cadeira de ansiedade.
Arthur virou e foi sentar no computador que indiquei. Ele colocou a mochila na cadeira ao lado, ajustou o monitor do computador para ficar mais confortável à visão dele e neste exato momento ele está aqui, sentado a menos de três metros à minha frente. O sistema do Cyber Café permite que eu veja o que os usuários estão acessando em tempo real, mas eu não tenho coragem suficiente para ficar espionando o que ele está fazendo...
Eu sei que ele é hétero e eu entendo completamente isso, mas...
Ele é tão lindo.
O cabelo dele é tão bonito. Nunca vi um cabelo preto natural tão bonito quanto o dele. A pele do Arthur não possui marcas de acne ou cravos. Os olhos são bem puxados e ficam ainda menores quando ele sorri. Estou contando os sorrisos que ele deu desde que sentou na frente do computador do Cyber...
Foram onze sorrisos até agora.
Desculpe Matthew, mas agora tenho que me apressar e fechar o caixa da loja. Também tenho que terminar de atender o Arthur. Te conto mais detalhes do que acontecer por aqui na segunda-feira. Amanhã é sábado e eu não tenho aula. Também não vou trabalhar, pois o Sr. Walsh disse que não pretende abrir a loja. Ele quer ir ao médico e quer que eu o acompanhe.
Droga!
Arthur levantou do computador e está vindo para cá...
Até segunda-feira!
Obrigado por sempre estar aqui comigo.
Alec Stevens
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