Era uma tarde nublada, em uma das mesas postas do lado de fora da fofa sorveteria cor-de-rosa, encontrava-se um trio de amigos sentados juntos, todos aproveitando um sorvete maravilhoso – mesmo o clima não sendo um dos melhores para um sorvete – enquanto ouviam os surtos do Jung.

— Como alguém pode ser tão tapado? — Wooyoung disse por fim, jogando-se para trás enquanto encarava seu sorvete, como se isso fosse o responder.

— Ninguém mandou se apaixonar pelo San, essa é a penalidade — Seonghwa respondeu recebendo um olhar estressado do Jung.

— Você não tem empatia nenhuma pela minha situação.

— Por que não fala diretamente com ele? É mais fácil —Hongjoong sugeriu, tentando ser prestativo.

— Querido Hongjoong, acha mesmo que eu já não teria feito isso? Mas e se... Sei lá, ele não curtir?

Seonghwa não conseguiu segurar uma risada que escapou ao ouvir, sendo seguido pelo Park ao seu lado. Aquilo foi como a maior piada que já tinham ouvido em semanas.

— Wooyoung, você realmente acha isso? Tipo, é o San, Choi San — Seonghwa dizia, era a coisa mais óbvia do mundo ao seus olhares — se chegar o dia em que ele falar que é hétero, eu juro que esse mundo explode. Você mora com ele, não venha me dizer que ainda duvida.

— Wooyoung, você já viu o jeito que ele fica com você? — Hongjoong perguntou — É tipo eu com o Seonghwa.

— Parem de falar como se eu fosse um enorme idiota, 'tá bom?

Woooyoung colocou o copinho de sorvete vazio em cima da mesa e observou os outros dois terminarem. Apesar de terem se reunido para discutir sobre essa crise apaixonada do Jung, enquanto ele se acalmava com um sorvete, ele se sentia uma vela ao lado desses dois.

— Como o Hongjoong conseguiu ficar com você, Seonghwa? — Wooyoung perguntou curioso.

— Insistindo. — Seonghwa respondeu simplesmente — Aí quando viajamos para Jeju juntos com aquele grupinho de formandos da faculdade, faltou espaço para dormir e acabamos tendo que dividir a cama.

— E depois?

— Ele dormiu abraçadinho comigo, não resistiu aos meus encantos e aceitou namorar comigo na noite seguinte, e olhe só, estamos aí até hoje — Hongjoong abraçou seu namorado ao seu lado, arrancando um resmungo do Park.

— Recebo todos os dias a penalidade de ter aceitado namorar com um idoso romântico — Seonghwa resmungou comendo mais um pouco do sorvete.

Wooyoung riu um pouco com aqueles dois, sempre era assim, Hongjoong extremamente meloso com Seonghwa e o outro fingindo que odiava, mas mesmo que se fizesse de difícil, o Park reclamava quando o Hongjoong parava de ser grudento.

— Acho melhor irmos, tenho certeza que vai chover — Hongjoong disse após sentir uma brisa gelada.

Os três se levantaram, o mais velho entrou no estabelecimento para pagar a conta, era uma sorveteria que iam com muita frequência, o atendente, que se chamava Yunho, já até estava acostumado com eles e provavelmente sabia muita da vida deles, de tanto que iam lá para reclamar disso e acabavam puxando o jovem para a conversa.

Eles seguiram até um certo ponto onde se despediram, Hongjoong e Seonghwa seguiram seus caminhos para a casa em que moravam juntos, enquanto Wooyoung seguia para a casa de San. Os dois viraram amigos durante o final do ensino médio, seguiram juntos para a mesma faculdade por pura coincidência, o Jung acabou por ter problemas ao pagar o aluguel, algo que também aconteceu com o Choi quando os pais dele se mudaram para os Estados Unidos e ele ficou na Coréia.

Conclusão da história, resolveram morar juntos e dividir a conta do aluguel.

Na época, Wooyoung só tinha uma pequena "atração" por San, mas digamos que morar com ele só tenha alavancado para um nível ainda maior e não sabia dizer se o outro sentia o mesmo, digamos também que Wooyoung era inseguro em relação a relacionamentos amorosos. Mas todos os seus amigos próximos sabiam disso, e ele nem precisou contar, os únicos que ele realmente conversava sobre isso eram Hongjoong e Seonghwa, porque esses dois já foram como cão e gato durante todo o colegial, e do nada apareceram namorando depois de algumas semanas. Então Wooyoung pedia conselhos para eles como se fossem resolver toda essa confusão amorosa.

Como o mais velho havia previsto, começou a chover antes mesmo do Jung conseguir chegar em casa, quando chegou estava ensopado e não parecia que ia ser uma chuvinha qualquer, chegou em casa completamente ensopado, San estava em casa, a TV estava ligada, apesar de ele não estar na sala e vir sons da cozinha.

— Wooyoung? — San chamou após ouvir o som da porta, saiu da cozinha com um avental branco, mas agora estava meio sujo — Meu Deus, você tá ensopado! — ele se aproximou com um tom preocupado, pegando o casaco pesado do Jung — Vai tomar um banho quente e se trocar!

Wooyoung tirou seus sapatos e meias, deixando perto da porta e colocou pantufas fofinhas para poder entrar em casa, San o ajudou de forma estabanada durante todo o processo. O Jung foi até o quarto e entrou no banheiro após pegar sua toalha, não pôde deixar de perceber os momentos em que a luz falhava e ficava fraca, talvez houvesse uma queda de energia.

Quando terminou e saiu do banheiro, sentiu o forte cheiro de comida vindo da cozinha, Wooyoung se arrumou rapidamente e correu para o lugar.

— Você cozinhou algo que não queimou ou explodiu a cozinha? Que milagre é esse? — ele brincou enquanto se aproximava.

— Milagre chamado tutorial do youtube, conhece? Você que me ensinou.

Os dois riram enquanto se serviam, esse era o clima normal dos dois, que se seguiu durante todo o tempo que moraram juntos, pode até ter tido uma briga aqui ou ali sobre coisas rotineiras, mas nunca levava a algo maior, gostavam de evitar brigas e ter um bom relacionamento, sem contar que Wooyoung não gostava da ideia de brigar com San, e parecia que o Choi dividia da mesma opinião. Quando terminaram, já estava tarde, por isso se levantaram, deixando a louça para o dia seguinte e cada um foi para seu quarto após dar um boa noite breve.

Mas foi então que algo aconteceu.

Quando o Jung já estava deitado, o abajur desligou repentinamente, assim como o aquecedor, confuso, se levantou e abriu a porta do quarto, realmente teve a queda de energia que imaginou. Wooyoung fechou a porta do quarto e se sentou na cama, ficando por um tempo, os minutos se passaram, meia-hora se passou e a energia não voltou. Wooyoung percebeu que teria de dormir em um casulo para não ficar com frio, mas então teve uma ideia, mais do que brilhante em sua cabeça.

Apesar de tudo, Seonghwa e Hongjoong lhe ajudaram sim.

O Jung se levantou da cama, abrindo a porta do quarto, segurando seu travesseiro e ligou a lanterna do seu celular, seguindo assim para o quarto do Choi, abrindo a porta devagar, San estava deitado todo enrolado nos cobertores, a única coisa visível era seu rosto. Wooyoung deu batidas na porta, esperando que isso acordasse o San sonolento, algo que só aconteceu pelo Jung focar a luz da lanterna em seu rosto.

— Woo? O que você tá fazendo aqui? — ele perguntou sonolento, se sentando na cama enquanto cobria os olhos para se proteger da luz.

— Eu não consigo dormir.

— Por que? Por causa do frio?

— Eu tenho medo do escuro, hyung.

San pareceu não ter muitas reações no momento por estar com sono, mas depois deu um tapinha ao seu lado na cama, falando que estava tudo bem Wooyoung se deitar com ele.

Wooyoung não perdeu tempo, fechou a porta do quarto e se jogou na cama, desligando a lanterna do celular, San o ajudou a se cobrir com o cobertor.

— Não sabia que você tinha medo do escuro. — San falou deitando sua cabeça no travesseiro de novo.

Nem eu sabia, Wooyoung pensou, mas não teve coragem de dizer isso, San não precisava saber.

O silêncio se seguiu entre os dois, por um momento, Wooyoung achou que San havia dormido de novo, ele se virou na cama para poder o ver, seus olhos estavam se acostumando com o escuro o suficiente para conseguir ver seu rosto, mas talvez não tenha sido a melhor alternativa que tomou, já que o Choi ainda tava acordado.

— Ainda não consegue dormir? — San perguntou ao perceber que o mais novo continuava inquieto.

— É só o frio.

Wooyoung respondeu inocentemente, já que era só uma desculpa para fugir da vergonha que sentiu ao ser pego, não esperava que San levasse isso a sério e o abraçasse, talvez, só talvez, o Jung estivesse entrando em combustão.

O mais novo ficou atento, acordado sem conseguir dormir, até perceber que a respiração do homem que o segurava em seus braços havia se normalizado e entrado em um ritmo calmo, mostrando que estava adormecendo. Aproveitando essa oportunidade que nem sempre podia ter, Wooyoung enterrou seu rosto para que ficasse mais perto de San, podendo adormecer calmamente enquanto inalava o cheiro doce e suave que ele tinha.

♡

No dia seguinte, ao acordar, Wooyoung percebeu que continuava nos braços de San, mostrando que não havia sido só mais um sonho maravilhoso, abriu os olhos devagar, observando que continuava na mesma posição da noite anterior, com o rosto enterrado no peito do mais alto, mas Wooyoung recebia um carinho suave no cabelo.

Levantou o rosto para ver o rosto do Choi, e o viu com o celular na mão, o brilho no mínimo porque as cortinas do quarto continuavam fechadas, impedindo que a luz do sol entrasse, San desviou sua atenção do celular e sorriu para o mais novo.

— Acordou? Fiquei com medo de me mexer e acabar acordando você.

Wooyoung se levantou meio encabulado, para quem nunca tinha conseguido dizer na cara de San que gostava dele, enfiar a cara no peito dele depois de se jogar na cama dele durante a noite podia ser visto como uma avanço, não é?

— Que horas são? — o Jung perguntou para aliviar o clima estranho.

— Acho que umas nove? — San respondeu antes de olhar para o horário no celular — nove e vinte e três.

Wooyoung levantou da cama em um pulo ao ouvir.

— Por que não me acordou antes? Eu estou atrasado!

— Calma, se você explicar que teve problemas em casa por causa da chuva ou queda de energia, o Mingi entende.

As tentativas de acalmar o Jung não deram muito certo, ele tinha arrumado esse emprego há somente dois meses e não queria pisar na bola com o chefe. San por sua vez tinha o fim de semana de folga, por isso passava o dia em casa ou saía com os amigos, voltava para casa e preparava alguma coisa para a volta do Jung.

Os minutos que se passaram foram bem frenéticos, Wooyoung praticamente corria pela casa toda, se arrumando da forma mais rápida que conseguia, por fim pegando alguma coisa da cozinha e indo calçar seus sapatos. San pegou um casaco e um guarda chuva, dando-o para o mais novo.

— Não volte ensopado de novo, talvez chova hoje de novo, nunca se sabe.

Wooyoung sorriu e aceitou o guarda-chuva e o casaco, que era do Choi, então provavelmente ficaria maior, agradeceu e saiu apressado.

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Seonghwa estava jogado no sofá, olhando para a TV enquanto ouviu San falando sem parar, o Park estava odiando servir de conselheiro amoroso duplo, mas de certa forma era bom ser bem atualizado sobre esses assuntos, tinha curiosidade de como isso acabaria.

— O que eu faço? — San perguntou por fim, se jogando na poltrona ao lado do sofá.

— Olha, San, pelo que eu saiba, Wooyoung nunca teve medo do escuro — Seonghwa contou, trocando os canais da TV, procurando algo interessante.

— Pera, como assim?

— Meu deus, nunca achei que conheceria alguém tão lerdo na minha existência inteira. — Seonghwa reclamou, se sentando e olhando para o Choi confuso — Enfim, ontem, eu e o Hongjoong conversamos com o Wooyoung e demos uma ideia para ele, talvez ele tenha tentado isso de uma forma diferente.

— Primeiro, você não pode reclamar de lerdeza — San disse revirando os olhos — segundo, ele mentiu para poder dormir comigo? — os olhos de San praticamente brilhavam.

— Parabéns, descobriu o óbvio — Seonghwa se deitou de novo — achei que eu e Hongjoong demoramos para ficar juntos, mas vocês dois nos ganharam.

— Obrigada, Seonghwa! — San ignorou a última frase do Park — Pode ir embora, xispa.

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A noite chegou, junto com Wooyoung em sua residência, San parecia meio estranho aos olhares do Jung, já que parecia radiante como se algo incrível tivesse acontecido, o jantar feito por ele nunca foi tão caprichado, Wooyoung estava meio desconfiado de tudo isso, mas iria aproveitar esse bom humor do Choi.

Como dito mais cedo, também choveu nesta noite, mas não foi como na noite passada, era uma chuva mais suave, Wooyoung foi para seu quarto um pouco tarde, já que San insistiu para assistirem alguma coisa juntos, o Choi estava mais grudento que nunca.

Quando Wooyoung se cobriu com seu cobertor, a porta do seu quarto abriu, ouvindo barulhos de pequenas batidas, vendo San com seu travesseiro nos braços.

— O que foi, San? — Wooyoung perguntou se apoiando nos cotovelos para levantar o corpo levemente.

— Não consigo dormir, tenho medo da luz — San sorriu e se jogou ao lado de Wooyoung na cama.

Wooyoung o olhou confuso, enquanto Choi se arrumava na cama alegre.

— Okay, você está estranho hoje, que bicho te mordeu?

San riu, mas não respondeu, os dois ficaram em silêncio, ficando um silêncio confortável.

— Você mentiu 'pra mim ontem, não foi?

Wooyoung não soube como reagir, fingiu que tossia violentamente e se virou para o lado contrário, evitando olhar para o Choi.

— O que você 'tá falando?

— Você não tem medo do escuro, Woo.

O silêncio instaurou mais uma vez entre os dois, Wooyoung estava nervoso, só queria se arrastar para baixo da cama e ficar lá até a manhã seguinte, e San esperava por alguma coisa vindo do Jung, com uma pitada de esperança.

— Se você gostava de mim, poderia só ter me falado! — San disse com um tom divertido após um tempo.

— Eu achei que você era hé...

San não esperou o Jung terminar de falar, se sentou na cama com a mão no coração e uma expressão de revolta um tanto cômica, Wooyoung se virou para ele, observando-o.

— Se você terminar essa frase eu te chuto da cama! 'Tá me estranhando?

Wooyoung riu com a reação do Choi e logo foi seguido, fazendo com que a risada dos dois preenchesse o local.

— Me desculpa por não ter falado antes e ter inventado aquela história ontem.

San sorriu e se deitou novamente, passando seus braços em volta da cintura de Wooyoung e o puxando para um abraço.

— Relaxa, aquilo serviu para isso daqui se desenrolar de uma vez, mas só não entendo porque usou Seonghwa como conselheiro amoroso, fala sério, Seonghwa?

— Ele tem uma boa história romântica, vamos concordar.

Wooyoung riu levemente e deixou ter seu corpo mais próximo do Choi, sendo completamente envolvido por ele, servindo como um aquecedor humano.

— ... Boa noite? — o Jung falou após um tempo em silêncio.

— Boa noite, Wooyoung.

San deixou um último beijo de boa noite rápido em sua bochecha, perigosamente próximo dos lábios do Jung e enterrou seu rosto na dobra do pescoço de Wooyoung, ouvindo um suspiro que o mais novo soltou antes de se aconchegar mais em seus braços.