Forseti - reflexão
Conhece a frase: "Pessoas boas também fazem coisas ruins"? O mesmo deve valer para: "Pessoas ruins também fazem coisas boas".
Certo e o errado são testados o tempo todo, especialmente hoje em dia, muitos dos valores ditos universais estão sendo questionados, contestados e até ressignificados. Basta comparar o ritmo das narrativas das obras de entretenimento das décadas passadas, com as atuais. Uma linha marcadamente Netflix de ser, carrega nas tintas do surreal, em meio à cenários paradisíacos, com personagens mergulhados no mundo do crime, das drogas, do sexo e dos valores "questionáveis"; antigamente classificados como tabu; em um Zeitgeits (espírito de época), em que as verdades eram absolutas e as mentiras também.
Naturalmente, todos nós ouvimos dizer que o ser humano é capaz de qualquer coisa, quando acossado. E trazendo essa discussão sobre as narrativas para o cotidiano, para a realidade, em uma época em que as pessoas vivem no limite da exploração e do controle social, diante da escassez de recursos cada vez mais acentuada... Acho que é precipitado afirmar que "nunca" ou "sempre" agiremos dessa ou daquela maneira. Mais precipitado ainda é julgar os outros quando não estamos na pele deles, em determinadas situações.
Situações extremas.
Claro que existe limite para tudo. Não se pode relativizar atrocidades, aceitando-as como parte normal de um contexto... ou da vida! Os romanos jogando os cristãos aos leões; os cristãos torturando e matando "hereges"; os hereges torturando e matando os cristãos; os nazistas mandando os judeus para as câmaras de gás; os judeus oprimindo os palestinos; Thomas Edison eletrocutando animais para vencer sua guerrinha publicitária; enfim... Atrocidades não têm justificativa.
Também não dá para pactuar com a indústria da drogadição e tudo o que a move. Cada ser humano que se vicia em drogas, é uma mente brilhante que se perde; que se apaga antes de ter a chance de brilhar. Por isso, eu nunca vou escrever um livro enaltecendo o poder irrestrito dos profissionais das drogas (lícitas ou ilícitas). Lamento, mas não curto reis e rainhas do tráfico, muito menos políticos mais lisos que pau de sebo.
Este livro não é particularmente sobre esse tipo de submundo, posso garantir. Este livro é sobre pessoas que vivem e trabalham nas sombras e operam em situações extremas, lidando com todo tipo de baixeza. Obviamente, para as pessoas que vivem nas sombras, os parâmetros de comparação entre o certo e o errado se alteram. Tornam-se tênues demais para acompanhar o fio delimitador que as pessoas da superfície conhecem.
Bem, seria ingenuidade acreditar que as questões morais nunca estiveram aí. Elas não são novas. Aliás, nos acompanham desde a Ilíada de Homero, e até antes, nas paredes das cavernas... As fraquezas humanas que alimentam e fornecem os alicerces cada vez mais tenazes do Capitalismo, também estão aí desde sempre: cobiça, luxúria, inveja, traição... Elas criam a forma da atual comercialização da vida humana e das propriedades em geral, das perseguições e das matanças.
Anjos e demônios retratados ao longo da História da Humanidade, podem muito bem ter sido demônios e anjos na vida real.
Como vamos saber, se não estávamos lá?
Napoleão disse algo do tipo: a História conta os eventos a partir da ótica dos vencedores. Quanto aos perdedores, tornam-se patéticos fantasmas circulando pelos corredores mal-assombrados da civilização, vendo a História se repetir de tempos em tempos.
Assim sendo, este livro é sobre pessoas que se encontram em situações extremas ou fazem delas o seu negócio. Vivem no fio da navalha. Não são "mocinhos" nem "mocinhas" de telenovela. Mas podem ser bons, se conseguirem escapar dos maus. E podem ser maus, se ficarem longe dos bons.
Seu sucesso reside em nunca figurar na história contada pelos vencedores. A não ser que seja para fazer um filme de espiões e agentes secretos.
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