Capítulo 2: Um pouco de Noelle-Neumann para você!

O dia não estava tão frio, por que em LA o inverno não era tão rigoroso, e mesmo no início de dezembro, as baixas temperaturas ainda não tinham dado as caras, mas o sol brilhava, como se fosse um belo dia de verão, apenas o vento frio que vinha do mar o contrariava. Por isso wu vestia um casaco preto, calça jeans e sapatilha, e Thomas completou seu visual de blusa branca e jeans com um casaco de couro preto, boné e óculos escuros, e me aconselhou que o acompanhasse no estilo, mas eu usava um chapéu de aba curta e óculos escuros.

- Não parece uma prisão ou condicional isso tudo? – Pergunto curiosa.

- Um pouco, mas você com um tempo aprende estes truques, que prolongam sua paz em público, até algum garçom, atendente ou pedestre que é fonte de alguém ligar e avisar. – Fala ele calmamente, com as mãos no bolso enquanto caminhavam pela calçada da praia de Santa Monica.

- Eles possuem fontes? – Pergunto surpresa. – Se é que pode se chamar de fontes. Pensei que só os jornalistas sérios, aqueles de verdade tinham fontes.

- Sim, eles têm fontes. E elas contam sobre o que ouviu da conversa, sobre localização de alguém. Algumas fazem pelo dinheiro, outras apenas pelo prazer de saber que ele deu aquela informação. No início eu achei aquilo tudo muito maluco, mas depois aceitei por que é o risco da profissão, para fazer o que ama você paga certos preços. Você perde muitas festas importantes, não tem vida pessoal por que o trabalho a consome, eu sou quase a mesma coisa, sempre tenho que tomar cuidado com o que faço. Hoje, por exemplo, estou sendo irresponsável por estar aqui com você, por que depois das notícias isso pode se transformar numa bela fofoca e eu vou te trazer para esse furacão sem ter consultado. Na verdade... – ele dá um longo suspiro cansado. – Eles nunca te consultam.

- Não se preocupe. Amanhã estas notícias bobas estarão embrulhando objetos de mudança e os bites serão esquecidos em algum canto da rede. – Sorri otimista.

- É a primeira jornalista que acha que notícia se esquece.

- E quem disse que acredito nisso, apenas estou tentando ser otimista. – Rio enquanto caminhávamos para o Pier Santa Monica.

Ali passamos a manhã, brincando entre os brinquedos, rindo. Para mim era tão normal estar ali, se divertindo, aproveitando o dia, mas para ele era tudo muito novo, fazia muito tempo que ele não andava sem seguranças, sem assessores, sem tudo cronometrado e orquestrado, uma vida planejada. Ele era um homem que naquele dia deixava um pouco a alma jovem para aproveitar aquele dia, como um cara comum, um cara que ele não era desde os 17 anos, quando afundou naquele mundo. Era quase 17 anos de prisão, ou seja, metade da sua vida.

Para mim eram apenas 26 anos de liberdade, de vitórias, de todas as apostas dando certo. E a maior liberdade foi quando vim para LA, não precisei dar satisfação para os meus pais e sempre fui muito correta. Na verdade a minha prisão eram as minhas neuroses, medo de errar, medo de dar um passo em falso, isso fazia com que fugisse das relações, fosse cuidadosa ao escolher os amigos, tentando calcular tudo para não errar. Mas naquele fim de semana, naquela cidade, eu estava me permitindo quebrar um pouco as regras, aproveitar o dia com alguém que repugnaria no passado por ser a receita da confusão. Talvez Los Angeles estivesse me libertando outra vez.

Ambos estávamos livres ao seu modo, ele me fazia rir, e eu o fazia dizer coisas bobas, ele se esforçava para ganhar um urso no tiro-alvo só para presenteá-la, e ela se esforçava para ver um homem comum, mas acabava vendo um rapaz que se encantava com a liberdade como um menino que pela primeira vez podia sair sem os pais. Nos divertíamos com algumas pessoas, que olhavam um pouco para ele, com aquela impressão que o conhecia de algum lugar, mas depois desistiam.

O saldo do passeio foi um belo urso de pelúcia branco, presente de Thomas, que ganhou sem trapaças no tiro ao alvo, graças ao treinamento que tinha passado para o novo seriado que ele tinha lançado em setembro. Ainda estava sendo conhecido pelo público, mas muito bem recebido pela crítica, onde Declan vivia um detetive todo certinho que sempre solucionava os homicídios de Nova York, e tinha uma quedinha por outra detetive, que era interpretada pela atriz queridinha do momento, Molly Evans. Os poucos fãs que a série já tinha, torciam pelo envolvimento dos dois. Mas adianto logo que só saberia disso bem depois, quando fosse revirar o Google, mas isso não é assunto para agora.

No momento entravamos no carro, colocamos o ursinho no banco de trás, na verdade Thomas o colocou acomodado com direito a cinto de segurança e tudo mais. Já era por volta de 2 da tarde, e ele dirigia até um restaurante, calmamente, sem pressa, enquanto comentava:

- Sabia que os paparazzi decoram o número das placas dos carros dos artistas?

- Mesmo? – Dou uma gargalhada diante daquela informação ridícula.

- Por isso quando estou aqui, eu só uso carros alugados, assim eles não têm como me pegar, e não sou eu que alugo. Sempre alguém aluga para mim, assim não tem como eles saberem com que carro eu estou. Por que se eles passarem em um lugar e ver uma placa de carro conhecida, eles param e começam a olhar em volta para saber onde a pessoa está.

- Isso é muito louco. – Só podia rir das peculiaridades daquele universo paralelo.

- Um dia quase que perguntava para um quanto ele lucrava comigo. Mas deixei para lá, fiquei com medo de saber que um acéfalo qualquer era mais lucrativo do que eu.

- Oh! Ia ferir seus sentimentos! – Brinco fazendo um biquinho, depois rindo e ele ri também.

- Se eles começassem a me dar uma participação nos lucros, eu ia sair até andando nu por ai.

- Você não me parece ser do tipo que anda nu por ai. Mesmo dando bastante lucro com as fotos sobre as apreensões, as prostitutas, as diversas namoradas, brigas e escândalos. – Não mediu as palavras mais uma vez, quando viu, já tinha saído, lamentando em seguida o erro cometido.

- E que tipo eu sou? Certamente deve pensar que sou o pior tipo possível. – Mesmo diante da minha direta, percebi que ficou admirado por eu não ser igual a todas as pessoas que o cercam, sempre tomando cuidado com as palavras e dizendo meias verdades. Eu era autentica. Minha franqueza o surpreendia e ao mesmo tempo o agradava.

- Não me pergunte Thomas. Pode não gostar da minha opinião. Sou muito avessa a tantas coisas deste meio, só aquele casamento nababesco da Emily, os carros caros, roupas, premiers, contratos, salários, é tudo muito maluco. – Mesmo percebendo que ele admirava minha franqueza, não quis abusar.

- Para quem está de fora, mas isso é apenas os pequenos prazeres que nos restaram, quando você não pode mais viver em paz, ter uma vida, fazer coisas simples, então só lhe resta esses pequenos prazeres, que para você são fúteis, mas para nós foi tudo que restou, as experiências que vivemos e sabemos que poucos têm essa chance, as vezes só nós temos esta chance. E quanto aos salários, muitos de nós doamos boa parte, mas não fazemos alarde por que isso não merece alarde. Infelizmente apenas as coisas ruins de uma adolescência inconsequente e os fatos inventados partindo de antigos precedentes imbecis viram notícia. Mas já cansei de ficar tentando provar que não sou mais aquele cara, deixo para aqueles que se aproximem de mim tirem suas próprias conclusões, mas creio que seja muito prematuro para você ter alguma conclusão, por isso vou me abster de fazer qualquer pergunta por hora.

Aquela resposta dele tão franca e inteligente, que me calou, admito que até me encolhi um pouco, reconhecendo que eu mesmo errei em meu preconceito, ele me deixou sem qualquer chance de retrucar, e assim o silêncio se instalou até Chateau Marmont Restaurant, onde almoçaríamos.

***

Ao chegarmos no restaurante, entramos por uma porta lateral, onde Thomas saudou pessoalmente a chefe de cozinha, Carolynn Spence.

- Carolynn! Que bom revê-la. Soube que os rapazes estão rondando lá fora.

- Que bom que John lhe avisou, pedi que mandasse uma mensagem avisando isso. – Fala a chef feliz em rever o amigo.

- Carolynn, esta é Katherine, uma grande amiga que trouxe para conhecer sua bela comida.

- Que ótimo! Prazer em conhecê-la Katherine.

- É um prazer conhecer Carolynn! – A cumprimentei educadamente.

- Eu sei que ele vai querer o de sempre: Bolos de caranguejo com purê de abacate e cebola roxa em conserva, também lula crocante com molho de tomate assado, concasséde pimenta, acompanhado de risoto de trufas negras. E para sobremesa cheesecake chèvre e sorvete de framboesas rosa. Acertei monsieur, Declan?

- Acertou sim, mademoiselle Carolynn. Sabe que apenas você faz com que saia da minha dieta e deguste toda esta comida dos deuses, digo, da Deusa. – Ele pegou a mão de Carolynn, a beijou e depois me conduziu educadamente, mantendo uma certa distância, para o restaurante, que devido ao adiantado da hora só tinham poucos clientes, já que estava próximo de terminar o horário de almoço.

Tinha um ator conhecido na mesa do canto, que cumprimentava Thomas e outro cantor, ele acenou em resposta e depois apontou a mesa para mim, que o acompanhava. Esta ficava centralizada em meio a um sofá oval, com luminárias sobre ela, reforçando o tom íntimo do lugar com sua pouca luz e longe dos olhares curiosos que poderiam vir de fora. O garçom logo trouxe o vinho que é de gosto do cliente habitual, o homem agradeceu e logo depois falou:

- Espero que goste, sempre venho a este lugar quando estou em LA.

- Você mora aonde? Ou mora em algum lugar? – Pergunto curiosa.

- É tão bom conversar com alguém que não saiba tudo sobre mim por que leu em algum site com minha biografia resumida ou completa, que já tenha me procurado no Imdb. – Ele sorri aliviado e então diz. – Tenho uma fazenda, em algum lugar do Oklahoma, não gosto que saibam onde é, isso mantem os curiosos longe. Assim tenho a privacidade que preciso com os meus cavalos.

- Estranho, como alguém tão ligado a ação, música alta pode estar em uma fazenda.

- Eu já fui cantor de banda, depois virei cantor solo, mas hoje sou mais ator que cantor, isso me completa, me tornou mais individual, pois na música sempre serei o ex-vocalista da banda tal, no campo da atuação, sou o ator e ponto. Canto quando sinto falta, quando preciso deste lado eu faço um show, mas não é mais ponto principal. Então depois de parar de viajar muito em turnês, de ter uma vida mais fixa, eu pude ter essa fazenda.

- Que bom, Thomas. É bom fazer o que quer.

- Falando em fazer o que quer. Eu quero que você deixe de lado este Thomas, e me chame de Tom. Como meus amigos me chamam. Segundo, quero pedir que transferisse seu voo e participasse da pré-estreia do Rei Arthur aqui em LA. Você adiará apenas por um dia, será bom ter a presença de uma amiga, e Emily irá gostar. E prometo que não precisará passar por tapete vermelho, entrará por outra entrada, pouparei você de tudo isso.

- Certo, Tom. Mas só vou se me chamar de Kathy e ai ficamos empatados.

- Tudo bem, Kathy. Assim que chegar no hotel, falarei com a minha equipe para providenciarem seus convites para a pré-estreia e para a festa que acontecerá depois.

- Estarei lá, prometo não ter todo aquele PRÉ-conceito latente. – Enfatizo no "pré" fazendo-o sorri.

- Que ótimo! E também a espero para jantarmos hoje à noite, no restaurante do hotel, terá um encontro com o elenco, antes da Press Conference que será no domingo, durante o dia. Juro que não terá nenhum membro da imprensa neste jantar no restaurante do hotel, será fechado. Emily estará lá.

- Não está abusando demais de mim. Ainda nem almoçamos e já está pensando no jantar? – Brinco com ele lançando um olhar charmoso.

- Por favor! Eu não tenho companhia, a maioria das pessoas levarão acompanhante. – Faz todo um ar de menino pidão, usando seu melhor lado ator.

- É só por isso que está me convidando? – Finjo estar chocada.

- É claro que não, apenas estou tentando sensibiliza-la.

- Tudo bem, eu vou.

- Ótimo! Vamos brindar! – Ele comemora tocando a taça dele na minha e depois dando um gole com olhar satisfeito.

As comidas chegam e almoçamos calmamente, conversando amenidades. Ele contava algumas histórias engraçadas de bastidores e eu ria das piadinhas, aproveitando todo aquele momento descontraído. Contava também algumas aventuras, que o fazia rir, e ambos elogiavam a comida, que era de um paladar sublime e especial.

A única nota triste do almoço foi que na hora que saímos do restaurante, não passamos despercebidos, paparazzi cercaram o carro de Thomas, tirando fotos, obrigando o ator a forçar a passagem, enquanto pedia pelo pequeno espaço do vidro educadamente que se afastassem. Eu instintivamente e timidamente baixei o rosto, usando o chapéu e os óculos para me esconder, enquanto Tom colocava a mão na frente do para-brisa tentando estragar a foto e me proteger do batalhão armado com maquinas fotográficas.

Depois de passar da barreira, do caos e barulho. Tom pegou a minha mão e falou em tom culpado – Me desculpa.

Apenas respondi compreensiva com um encolher de ombros. – Tudo bem.

Eu sabia que ele estar comigo tinha o deixado muito nervoso, pois se preocupava com a minha integridade, os possíveis boatos e toda aquela algazarra poderiam assustar alguém que não estava acostumado com tudo aquilo. Eu apenas sorri, acariciei a costa da sua mão com o polegar, e não soltei, pretendendo assim deixa-lo calmo. Então ele sussurrou preocupado:

- Você sabe que no hotel terá outra confusão?

- O que podemos fazer? Estou na chuva, agora só posso cantar e dançar nela.

Dei de ombros e arrancou um sorriso do homem, que mesmo diante de toda a descontração com a situação e sorriso, os olhos azuis dele não deixavam de inspirar preocupação. E quando foram se aproximando do hotel, um novo batalhão foi se formando ao ver o carro, todos se arrumando assim como os seguranças.

Thomas estacionou o carro, deu a volta correndo, com a ajuda de um dos seguranças do hotel, abriu a porta para mim e me conduziu para dentro do hotel, tocando com a mão a base da minha costa, usando o corpo para me proteger. E assim que estávamos na segurança do lobby, ele falou para um dos carregadores do hotel:

- Pegue o urso que está no banco de trás do meu carro que foi levado para a garagem e leve para a suíte da Senhorita Thompson. – Assim que terminou de falar, o gerente se aproximou e então ele continuou. – Trate de alugar outro carro, eles já conhecem esse. - Eu apenas olhava a movimentação e o tom de urgência que Thomas usava.

Aproximou-se deles um homem magro, franzino, meio baixinho, tinha o cabelo preto partido milimetricamente e cara de Nerd. Fala com Thomas preocupado, mas sem deixar aquele ar meio esnobe e que sabe de tudo.

- Tommy meu amigo, estava dando entrada no hotel, quando vejo este caos e você no meio dele. Saiu sem os seguranças? Sabe o quanto isso é arriscado? – Ele olha meio de lado para mim e pergunta desdenhoso para Tom. – Espero que não seja mais uma daquelas suas "amigas". – Ele faz questão de fazer as aspas.

- Matt você não chegou meio cedo demais para a Press Conference?...E ela se chama Katherine e tome muito cuidado como fala dela, é uma grande amiga minha, do Jimmy e da Emis. Então respeito, cara! – Percebi a irritação irradiando dele como se aquele comentário tivesse se somado a tudo que tinha acontecido nos últimos minutos.

Enquanto assistia o embate entre os dois homens, um dos funcionários do hotel trazia triunfante o urso e me entregada, recebendo de mim um sorriso agradecido, por ter sido tão atencioso por me entregar pessoalmente e não seguir as ordens de Thomas, leva-lo para a suíte. Matt não deixou de perceber com seus olhos de águia o acréscimo ao círculo, acrescentando algo que não pude perceber o que era.

- Oh Desculpa, meu amigo! – O tal de Matt se vira para mim como se tivesse me percebido pela primeira vez e aperta a minha mão se apresentando. O aperto de mão dele, assim como seu dono, tinha uma aparência de pura falsidade. – Matthew Stone, agente do Thomas.

- Prazer, Katherine Thompson, amiga do Thomas e jornalista nas horas vagas. – Falo com um leve tom de desdém, sem perder o pequeno sorriso torto de Thomas diante a minha piadinha.

- Você não vai public... – Ele ia falando, mas o interrompo.

- Eu sou jornalista, não fofoqueira ou pseudo-jornalista, Senhor Stone. – Respondo na cara fazendo Thomas olhar para o agente com uma cara de "bem feito".

- Bem, tenho que subir. – Ele ia se distanciando comigo, até que se volta para o agente e fala. – E Matt vê se desaparece hoje, esquece de mim, aproveita a cidade, não me incomode na minha suíte, esqueça que eu existo e só nos falamos amanhã durante a Press Conference. Agora realmente, eu quero paz. – Ele mostrava todo o cansaço e falta de paciência com aquele mundo, precisava de um tempo.

Thomas me conduziu para o elevador de forma preocupada e atenciosa, demonstrando que ainda estava em alerta. No pequeno quadrado encontramos a segurança, estando sozinhos, apenas com o ascensorista. Ele ainda estava nervoso, tenso, como se ainda estivesse naquele caos tentando defender-me da curiosidade alheia e de Matt. Então eu segurei a sua mão e disse baixinho, sussurrando para que o funcionário do hotel não ouvisse:

- Está tudo bem, sobrevivemos.

Ele a olhou nos meus olhos, grato pela compreensão e então respondeu – Obrigada por compreender.

- Se ninguém compreender você ficará só, sem amigos, companhias para passeios. E aturando o Matt. – Faço uma careta.

Ele sorriu, continuando em silêncio o resto da viagem do elevador. Seguimos até o apartamento de mãos dadas, como se eu o mantivesse de pé. Ao entrarmos na grande suíte, o olhei preocupada e aconselhei:

- Você precisa de um banho e um cochilo, que tal dormir até a hora do jantar?

- Seguirei seu conselho, faça o mesmo. Mas quando saberei que é a hora do jantar? – Perguntei preocupada de perder a hora.

- Não se preocupe, eu providenciarei isso.

Ele levou a minha mão, que ainda estava segurando a dele, até os lábios, depositando um delicado beijo, com um olhar agradecido pelo dia diferente e por ter enfrentado todo o caos da imprensa com serenidade e compreensão, por que era difícil atravessar o assédio sem se assustar.

As mãos se afastaram lentamente, cada um de nós caminhou para seu quarto, eu levava nas mãos o grande urso, segurado apenas por uma das mãos do bicho de pelúcia, como uma menina descuidada, enquanto caminhava para o quarto. Ao fechar a porta do cômodo, coloco o seu presente sentado na poltrona de canto, olhando enquanto me deitava na cama, com olhos pensativos, e um último pensamento me pegou antes de adormecer: "Carpe Dien, aproveite seu dia".

***

Aos poucos fui saindo do mundo dos sonhos com uma voz me chamando, era doce e delicada, bastante cuidadosa:

- Senhora Thompson...Katherine...Está na hora de acordar.

- Que horas são? Onde estou? – Pergunto confusa.

- São 6 da tarde e está no Four Seasons, senhora. E está na hora de acordar, ou se atrasará para o jantar. – Falou Brigite delicadamente.

- Oh Brigite! Acredita que eu pensei que estava sonhando? – Sorri sem jeito.

- Não, a senhora não está sonhando. – Brigite sorri com uma mistura de divertimento com compreensão. – Seu banho de banheira está pronto de forma especial como me foi recomendado. Enquanto a senhora aproveita seu banho, eu arrumo sua cama e o vestido desta noite.

- Oh droga! – me sento na cama lembrando – Como marquei de ir a um jantar se o único vestido que tenho é o de dama de honra, o resto não passa de calças jeans e um vestido floral, mas não acredito que floral combine com este jantar. Lá eu ia adivinhar uma coisa destas. Se bem que eu pensei que qualquer coisa eu compraria um vestido ou alugaria, mas esqueci completamente deste detalhe e está muito em cima da hora.

- Mas senhora, parece que pensaram nisso por você. O senhor Declan me perguntou se possuía algo adequado para a ocasião, e eu lhe confidenciei que não. Eu não sei se fiz mal, mas pensei que era melhor ter a ajuda de alguém, então ele lhe providenciou o necessário para esta noite. Então pode aproveitar seu banho enquanto arrumo tudo para a Senhora.

- Brigite, eu não sei se te mato ou te beijo. Mas obrigada, não foi muito bom contar o segredo de uma mulher, mas foi valido, obrigada.

Eu levantei rapidamente e corri para o banheiro, me surpreendi ao encontrar a banheira cheia de pétalas de rosas, velas aromáticas acesas. Até que ponto tinha sido iniciativa de Brigite ou Thomas, qual deles havia pensado em todos os detalhes? Se ele tivesse pensado em tudo, isso o tornava mais perigoso do que podia imaginar.

Entrei na banheira e relaxei. Eu me sentia uma princesa naquele banho maravilhoso, com cheiro de rosas a minha volta, com tom doce e romântico. Eu não podia está tendo toda esta sorte, tendo um cara famoso e bonito me cortejando, eu sei que isso pareceu tão Jane Austen, mas isso parecia tão à moda antiga que mereceu muito bem o termo. Eu não era nenhuma menina sonhadora, nunca se quer pensei em algo assim ou desejei, nunca fui daquelas que querem um encontro dos sonhos, não acreditava em príncipes encantados, ao contrário, eu achava que um simples beijo os transformaria em sapos. Então era tudo muito surreal, como um sonho, meio louco. Eu balançava a cabeça como se quisesse apagar aqueles pensamentos, ele apenas me via como amiga e estava sendo cortês com todos aqueles mimos e agrados. E também uma parte de mim falava de forma divertida: "Acho que alguém está se vendendo a este estilo de vida".

- Senhora, eu não quero apressá-la, mas acho que deve se vestir.

Brigite mais uma vez me trouxe a realidade, então levantei da banheira, vesti o roupão e fui para o quarto. Assim que entrei encontrei tudo arrumado, o vestido preto repousando sobre a cama, ele era simples, de alças finas, assim como as tiras finas da sandália preta de salto. A minha expressão é de pura surpresa, e o sorriso da camareira foi complacente.

- Brigite pode ir, deixe que eu me arrumo.

- Sim, Senhora. Espero que tenha um bom jantar.

Ela ia saindo quando foi interrompida por mim:

- Eu já disse que não sou senhora, sou Katherine. Lembre-se disso Brigite.

Ela sorriu para mim de forma atenciosa, e ela retribuiu sem jeito e se retirou do quarto, me deixando a sós com os preparativos.

***

Thomas bebia uma dose de uísque enquanto observava, escorado na porta, a vista da cidade de Los Angeles, as luzes já estavam acesas, no inverno a noite chegava mais cedo, o sol que brilha as vezes até 7 da noite no verão, vai mais cedo no inverno.

O ruído dos saltos contra a madeira do piso despertou-o, ele se virou e ficou surpreso com o que viu, encontrou comigo usando uma maquiagem natural, os cabelos castanhos escuros e ondulados presos em um rabo de cavalo longo, deixando livre para observação meus olhos verdes. O vestido que ele havia escolhido, moldava o corpo perfeitamente, realçando as curvas de forma educada, indo recatadamente até os joelhos e acompanhando de forma majestosa os saltos pretos.

Ele por sua vez estava muito bem alinhado, usava calça preta que combinava com o terno preto e a camisa azul clara, os cabelos negros, partido milimetricamente para o lado, o rosto estava com a barba feita, deixando os olhos azuis livres para admiração. Parecia um menino, mesmo passando dos 30. Algumas teorias diziam que os homens ficavam mais bonitos depois dos 40, então ele estava já se preparando para o grande feito.

- Está estonteante. – Ele comenta com a voz cheia de surpresa e admiração.

- Você também. – Respondo sem jeito, sem saber o que fazer.

Tom percebeu a situação, deixou o copo de lado, caminhou rapidamente até a mim para depois seguirmos até a porta – Vamos. - Ele acompanhou até o elevador. Sempre um olhando o outro quando este não via, às vezes os olhos se cruzavam e nós sorriamos sem jeito. E assim seguiu até a entrada do restaurante do hotel.

A nossa chegada atraiu vários olhares, cumprimentamos as pessoas, algumas eram apresentadas para mim, ao longo da grande mesa montada para a equipe. Até que nos sentamos, eu ao lado de Emily, e Thomas se sentou a minha frente, ao lado de James que estava olhando de forma admirada para a esposa, e se surpreendeu com a chegada do amigo, logo começando uma conversa. Enquanto Emily conversava comigo.

- Amiga, que bom que você veio. Fico tão feliz.

- E eu estou querendo te matar, Emily. Como me faz passar por um papelão me colocando no mesmo quarto do Thomas.

- Não é quarto, é suíte! Uma grande suíte! Ah! Deixa de ser chata! Pelo que vejo vocês conseguiram contornar muito bem isso, até almoçaram juntos e tudo mais. O pessoal da equipe estava comentando, alguns até vieram me perguntar se eu sabia de algo, se estava rolando namoro mesmo.

- Como? Aqueles abutres já colocaram as fotos na saída do restaurante?

- Querida, as coisas são rápidas com os paparazzi e sites de fofocas. Vocês já chegaram até no E! Online e Just Jared. O fato de terem tirado as fotos de vocês dois no Pier Santa Mônica, na saída do restaurante e entrando no hotel, fizeram os boatos explodirem, e a senhorita já está sendo posta como a nova namorada do Tom. É queridinha, a imaginação deste povo ligando um ponto no outro é ótima. Agora será que é só imaginação mesmo? – A loira e radiante, por sinal minha amiga, dá um sorriso malicioso.

- É claro que é imaginação, Emily! Nós saímos apenas como amigos, já que não tínhamos nada melhor para fazer!

- Sei...Quer me enganar? Veio então hoje à noite por quê?

- Por que ele me pediu!

- Oh que boazinha! Nossa Senhora Salvadora dos Astros Sem Companhia! Acorda Katherine! – Continua falando baixo para não ser escutada, mas ainda cheia de descrédito.

- Estou bem acordada! Você que está sonhando!

- Talvez esse seja o seu problema, você fica acordada demais e sonha de menos. Aproveita a viagem, aproveita os momentos, não é todo dia que você tem um cara como o Tom ali, do seu lado, tentando te agradar, sendo educado e cavalheiro. Deixa de ser um pouco séria e rígida. Deixa um pouco a opinião da maioria das pessoas vencer a sua, deixa eles gritarem por você, acredita no que todos já estão vendo. Não perca nada disso. Deixa aquela tal de Noelle-Neumann estar certa uma vez, silencie sua mente em nome do que a maioria grita, você é a minoria aqui. Aceite.

- Amiga. – Tento argumentar, mas não tinha o que dizer, talvez a amiga estivesse certa.

- Não sei o que essas mulheres fofocam tanto? Espero que não esteja contando detalhes da nossa Lua-de-mel para a Katherine. – James corta a nossa conversa em tom brincalhão.

- Lembra o que você disse? Que a Lua-de-mel só acontecerá durante o seu tour na Europa para promover o filme? – Emily brinca.

- E eu vou segurar vela? – Perguntou Thomas fingindo estar chocado com a notícia, arrancando risinhos de todos.

- Leva a Katherine com você, oras! – Incentiva James, me deixando sem jeito.

- Ela é muito responsável, tem o trabalho dela, já foi muito conseguir que ela fique para a pré-estréia na segunda. – Thomas comenta com um sorriso satisfeito, me olhando com admiração. – Afinal, alguém aqui tem que ser responsável.

- Olha quem fala? O Senhor Responsável! - Brinca o rapaz com o amigo.

- Talvez este seja o problema de vocês dois: Excesso de responsabilidade. Mas você já conseguiu uma vitória, é mais fácil ressuscitar o Kennedy do que fazer a Kathy faltar trabalho, mas já conseguiu um milagre Tom, agora mais dois e você é canonizado. – Brinca Emily comigo.

- Você é muito engraçadinha Emis. A menina das piadas. – Falo completamente sem jeito, queria me enterrar.

- Não se preocupe Emis, eu a farei quebrar algumas regras, sem que ela perceba. – Tom sorri olhando para mim.

- Tom, eu te amo! – Emis falou rindo e depois toca na mão do amigo.

O diretor do filme fica de pé, chamando a atenção de todos e começando um discurso sobre como foi bom fazer o filme e como está feliz em o ver chegar às telas na Segunda. E que ele fica feliz por ter aproveitando cada momento da produção e naquela reunião que aconteceu e que pode não se repetir, e que aqueles momentos podem não ter outra oportunidade, "que as estrelas podem não se alinhar novamente, os unindo mais uma vez, possibilitando vivenciar o convívio que tiveram, então por isso aproveitou cada segundo, por ter a consciência de que tinha que vivê-lo, pois ele não voltaria".

Eu pensei muito nas palavras do diretor, vendo que tinha que aproveitar aquele momento, e que estava aberta para receber tudo que ele ofertasse, tudo que aquele "alinhamento de estrelas" me proporcionasse, pois preferia ficar arrependida pelo que fiz, do que pelo não fiz. Agora só restava saber o que a estrela ia me ofertar, o que estava preparado para mim, escrito em algum lugar.

***

- Você é uma chata, isso sim! – Emily reclama de mim enquanto riamos, com algumas taças de champanhe na cabeça.

- Olha quem fala! A maior fã do Backstreet Boys. – Brinco entre risadas.

- Eu não sou tão velha assim!

- Mas esse é o problema, você é tão lenta que só ficou fã dos caras depois que eles acabaram. – Caio na gargalhada.

- Lenta é você que demorou um tempão para tomar uma iniciativa e convidar o Ethan para jantar.

- Claro, eu achava que ele era gay!

- Você e o seu tato completo! Primeiro perguntou se ele era gay para depois convidá-lo para jantar.

Escondi a cara envergonhada, retruquei para a amiga:

- Claro! Depois gasto uma grana preta em vão!

- Mas estava na cara que ele não era gay. – Emily joga na minha cara.

- E com o Thomas? – Emis aponta com a cabeça para o amigo, que conversava com James no balcão. - Você vai cometer o mesmo erro? Quando estiver lá em Nova York a quilômetros de distância vai tomar uma decisão?

- Eu já disse que não tem nada. Não tem decisão para ser tomada! – Fico sem graça.

- Ai Kathy! Conheço o Tom por tempo suficiente para saber que ele está gostando de você. Tudo isso só por que ele é famoso? Acha que ele não tem direito a viver a vida, ter alguma experiência só pelo fato de ser famoso?

- Não é isso! Também é isso, não quero me ver por ai, como fofoca!

- Amiga você já está como fofoca, já está com a fama. É só deitar na cama. Ou então tem algo mais, além disso? – Na hora ela percebe que suas suposições estavam apenas na superfície.

- Esta diferença de idade, pode criar mais confusão ainda. São 7 anos de diferença, isso é muito!

- Mas não vejo esta diferença entre vocês, o seu excesso de maturidade somado a jovialidade dele os colocam quase com a mesma idade. – Argumenta Emis. – Eu acho que você deveria aproveitar este momento, é só até segunda. Faça isso para não se arrepender de não ter feito.

James se aproxima da mesa, os cabelos loiros desalinhados, o primeiro botão da camisa aberta, as mangas enroladas até o cotovelo, sem terno. Assim como Thomas, que estava despojado como os outros, se aproximava da mesa também com amigo, sorrindo com alguma brincadeira.

- Meninas, eu sei que vocês estão adorando fofocar, falar mal de nós homens, mas meu amor, vamos dormir? – James pergunta calmamente e ainda se justifica. – Amanhã teremos um dia longo com a imprensa, em pleno domingo, ninguém merece isso! Todos fazendo as mesmas perguntas: "Como foi fazer esse filme?", "O que podemos esperar desta versão do Rei Arthur?", "Como foi a preparação e treinamento para fazer este personagem?", "Você tem alguma coisa do personagem, ou levou alguma coisa sua para o personagem?"...Argh!

Todos riram enquanto James imitava um jornalista.

- Poxa, não fala assim dos meus colegas de trabalho, mas é que precisamos levar a informação, fazer o que? –Tento defender, mas ri, por que era a mais pura verdade a falta de criatividade para perguntas feitas pelos jornalistas.

- Não liga não, Kathy. Ele é um chato mesmo! E vamos!

Emily se levanta, passando o braço pelo braço do marido, este pegou o terno e jogou na costa, se despediu de todos e saiu, conversando com a esposa, alguma gracinha, por que ela riu.

- Bem, agora que eles foram. Eu gostaria de convidá-la para subirmos, tomar um último drink antes de dormir. Um vinho, eu já pedi no bar que entregue na suíte. O que acha? – Perguntou Thomas como o gentleman que era na sua voz calma.

- Eu aceito, o convite é maravilhoso. Só estou receosa quanto misturar as bebidas, mas amanhã terei o dia todo para dormir. Diferente de uma certa pessoa! – Eu pisco enquanto me levanto e passo por ele, que pegou o casaco e me seguiu.

Nos despedimos de todos, antes de sair do restaurante, sob os olhares curiosos e alguns murmúrios. Atravessamos o lobby que mesmo tarde da noite, ainda estava movimentado com hóspedes que chegavam de jantares e balada, e alguns que saiam para aproveitar a noite da cidade. Algumas pessoas que passavam e funcionários olhavam curiosos para nós dois, e quando ele pegou a minha mão, me conduzindo até o elevador, vários sorrisinhos de "eu já sabia" brotou no rosto de alguns funcionários.

O ascensorista nos cumprimentou quando entramos no elevador, apertando logo o último andar. Ele se aproximou mais de mim, deixando a lateral do braço dele colado com o meu, a mão ainda segurando a minha. Inclinei a cabeça, repousando no ombro dele. Tudo parecia fluir, parecia correto, as ações e reações vinham naturalmente, como um toque divino de alguém, ele me deixava confortável para agir daquela forma, tinha algo que não sabia explicar, quando estávamos só nós dois, eu esquecia quem era ele de verdade, as notícias, era como se fosse outra pessoa, aquela pessoa que apenas eu conhecia. Não tínhamos pressa ou urgência, tudo apenas fluía. E um sorriso foi a resposta dele ao voto de confiança que inspirava o pequeno gesto.

Chegamos ao nosso andar e caminhamos até a suíte, sem as mãos se soltarem, apenas se separando quando entramos, ele delicadamente as soltou, meio relutante, quando caminhou até o bar para servir as duas taças, no caminho deixou o casaco sobre uma das poltronas. A garrafa estava sobre a bancada do pequeno bar, a lareira acesa, de forma acolhedora. Caminhei até a porta que separava a sacada, erguendo primeiro uma perna para trás, tirando o sapato, depois a outra perna copiou a posição anterior de sua irmã, exigindo um certo equilíbrio, para então retirar o outro lado do sapato, deixando-os largados de forma displicente num canto da sala, os olhos estavam na paisagem, como se estivesse hipnotizada, as nuvens baixas e densas refletiam a luz, dando aquele tom fantasmagórico, vermelho, pesado, como um veludo sendo estendido, um grande toldo que parecia estar tão próximo a cobertura do hotel, que apenas um esticar de braços poderia levar as mãos para tocar e sentir a maciez.

Não havia raios, nada, apenas o silêncio da noite sob as nuvens paradas, que poderiam parecer ameaçadoras, mas não eram para mim. O ruído do fogo estalando na lareira e o vento que vinha do mar eram as únicas lembranças de que ainda existia vida e som. Eu podia sentir os olhos dele em minha costa, aquela sensação de que você está sendo observado, eu sabia que ele estava me observando naquele momento de contemplação, o malabarismo sedutoramente desajeitado para tirar os sapatos. Meus gestos não eram calculados, eram automáticos, despretensiosos, mas mesmo assim pareciam mexer com ele, o ar do quarto parecia aos poucos se eletrificar, ficar carrego, eu podia sentir isso, não se ser por que quando ergui a perna para trás, ele pode ver algumas curvas do corpo realçar com o movimento. Olhei por cima do ombro rapidamente e pude capitar o olhar dele que traduziam aquela admiração e agradeciam a boa escolha que ele fizera do vestido que me cobria de forma perfeita, discreta e insinuante ao mesmo tempo. Como eu poderia ser tão inconsciente dos efeitos que causei durante toda noite? Como poderia ter uma estima tão baixa que não poderia notar o quanto um homem pode se sentir atraído por mim? Como pude perceber tudo isso só agora? O olhar dele me fazia perguntas parecidas.

Ele pegou as taças, caminhou até mim, sem quebrar aquela troca de olhares. Entregou uma depositando em minhas mãos, então sorriu e ao tocar a taça dele na minha, disse delicadamente:

- Um brinde a este encontro. – Thomas falou enquanto me olhava nos olhos sem quebrar o contato.

- Um brinde a este encontro. – Repeti, sem perder o olhar dele em meio ao gole.

Os olhos dele eram tão intensos, que senti um leve arrepio pelo corpo. Ele parecia ver tudo que existia em mim, eram intensos e reveladores, e aquela admiração que via ali, naqueles olhos azuis, nunca tinha visto antes. Não parecia ser a mim, mas sim, parecia outra mulher que ele vislumbrava, por que eu não podia ser digna de tantos elogios contidos naquele olhar intenso e profundo.

Ele sorriu. Um sorriso largo e brilhante na boca perfeita. Caminhou até o piano, colocou a taça sobre ele, levantou a tampa e começou a tocar as teclas, fazendo a introdução de uma música. Fiquei surpresa, meus olhos verdes ficaram redondos e claros, caminhei até o piano e me debrucei sobre ele para ter uma visão privilegiada, observava enquanto degustava o vinho, e logo as notas da introdução da música se revelaram numa versão acústica, em piano, da música Everything do Lifehouse. Uau! Ele estava querendo impressionar com aquela música.

A voz de cantor, treinada, começou a delicadamente cantar a música cuja letra era à maior declaração de amor que um homem poderia fazer à uma mulher, pois além dele dizer que ela é tudo, ainda exemplifica, dizendo que ela é a força que o mantém andando, é a esperança que o mantem confiante, que é a vida para a alma, segura com as mãos e não deixa cair, que rouba o coração e que depois deixa sem folego. Depois de tudo isso a música ainda afirma: "Você é tudo que eu quero, tudo que eu preciso, você é tudo". E completa dizendo ser impossível estar ali e não se comover com a amada, e como tudo poderia ser melhor do que já era?

A interpretação de Tom foi tão profunda, ele tocando de forma tão delicada o piano, como se o instrumento fosse uma extensão do seu corpo e parte da sua voz, a voz parecia acariciar a música com a delicadeza de um amante, os olhos dele sobre os meus, como se recitasse cada frase daquela música para mim. E eu amava aquela música e sempre dizia que uma mulher que recebesse aquela música como declaração de amor, era a mulher mais feliz deste mundo, pois certamente era muito amada.

Quando chegou na última parte, ele deixou de tocar o piano, se levantou, aproximando-se de mim, pegou as minhas duas mãos, que agora estavam livres da taça, e levou-as até seu peito, segurando e cantou como um sussurro a última parte: "Como eu não ficarei aqui diante de você...e não me comoveria com você?", seguindo de um leve suspiro, e aquele olhar que seguiu a música, foi longo, como um séculos, cheio de significados e cumplicidade, e de repente uma compreensão sobre tudo me atingiu, só então percebi que minha amiga estava certa, que ele gostava de mim, que sentia algo por mim, por isso tinha se desdobrado em delicadezas.

Lentamente os lábios foram se aproximando, como se uma força nos puxasse, um em direção ao outro, calmamente, até que se encontraram. Primeiramente era um beijo delicado, apenas um roçar de lábios, um toque, para aos poucos se intensificar, de forma gradual, com os lábios se encaixando a princípio, e depois a língua dele ia lentamente abrindo passagem entre os lábios, para encontrar a minha língua, que se acariciaram com um leve deslizar. Os olhos estavam fechados, denunciando à entrega as sensações proporcionadas por aquele momento.

Um momento que aos poucos foi se tornando mais intenso e urgente, como se a busca tivesse terminado, encontrando um no outro. Tudo naquele momento foi esquecido, o mundo lá fora, se resumindo a eles, ao momento que viviam e ao sentimento que compartilhavam. Não seriamos ingênuos em classificar aquele sentimento como amor. Pois sabiam que um sentimento como este só o tempo constrói. Mas sim, compartilhavam paixão, e ela por si só é conhecida pela força que possui, que é avassaladora. Assim como o beijo que trocavam.

Logo os toques, mãos e abraços que se tornaram quentes e cheios de desejo, como uma represa sendo aberta, e a água tomando conta do rio rapidamente, arrastando tudo que encontra pela frente. E Tom me conduziu para a cama que ele vinha ocupando, no quarto que ficava do lado oposto ao meu na grande suíte presidencial. Não ofereci resistência, estava perdida naquele mar de sensações, deixando que ele me guiasse, apenas o beijava intensamente, acompanhando-o, sem quebrar o contato.

No caminho as mãos dele deixaram cair pelo meu ombro as alças do vestido, acariciando o ombro. Eu com minhas mãos, tomada por uma súbita decisão, desabotoei a camisa dele, que por sua vez lentamente abriu o zíper do vestido que foi retirado com a minha ajuda, e aos poucos as peças foram deixando nossos corpos, até que descemos sobre a cama, nus.

O corpo dele não era musculoso, mas também não era sem formas, ele tinha a quantidade certa de músculos, de curvas que um homem devia ter, era um pouco esguio, a pele branca, pálida, um reflexo do seu estilo de vida. As mãos dele percorriam meu corpo, viajavam por cada forma enquanto ele sussurrava elogios delicados, deixando bem claro o quanto estava maravilhado.

Até que ele se posicionou entre as minhas pernas, meu desejo implorando por ele, querendo ele com cada célula provocada por aquela nossa aproximação. Até que ele estava em mim, deliciosamente em mim, que com movimentos calmos parecia me absorver. Até que ali entre gemidos baixos encontramos o prazer que buscávamos, ficando alheios a tudo que se passava em volta, como a chuva que caia agora sobre a cidade, lavando qualquer culpa que poderíamos sentir, que eu poderia sentir.

Depois de nos entregarmos completamente um ao outro, dormirmos abraçados, em meio à confusão de lençóis tendo a chuva jogada contra as portas da sacada uma canção que embalava nossos sonhos e esfriava mais a noite, obrigando ao meu corpo se aninhar ao dele buscando calor em meio ao sono.

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