Capítulo 1: O meio é o que mesmo?

Era uma tarde de inverno, era um inverno típico de Los Angeles. Para um Nova Iorquino não era tão frio, mas para os moradores da cidade, ensolarada na maior parte do tempo, os obrigava a usar roupas pesadas. Diferente do figurino habitual. E entre aqueles vários casacos e sobretudos de tons acinzentado, eu cruzava a sala de desembarque do Los Angeles Internationa Airport, mas conhecido como LAX, puxando apressadamente minha mala, usando um vestido rosa Pink e um casaco jeans em uma das mãos, rumo ao ponto de taxi.

Se este fato acontecesse em outro lugar do mundo eu chamaria a atenção, mas naquela cidade onde magia se choca com a realidade, aquela cena não era tão absurda. Os meus cabelos castanhos escuros estavam meio presos e meio soltos, o rosto com a maquiagem feita de forma improvisada, não estava ruim, ao contrário, eu já estava acostumada a me maquiar rápido, só que eu usei o simples de todos os dias, sem fazer a alta produção que um casamento exigia, afinal aquele vestido já fazia um belo trabalho em chamar a atenção. Ok, eu sou a dama de honra da minha melhor amiga, que naquele momento estava aflita no telefone:

- Katherine Thompson, se você não estiver na frente daquela Catedral em meia hora. Eu vou enlouquecer. Você já faltou no ensaio, em todos os preparativos, só por causa deste seu trabalho!...O que foi? Um ano em Nova York já a transformou numa viciada em trabalho? – Minha amiga falava impaciente e eu não lhe tirava a razão, mas eu também tinha uma ótima razão.

- Desculpa, se os membros do "Occupied Wall Street" resolveram fazer protesto esta manhã. Queria que eu fizesse o que? Falasse a seguinte coisa para o organizador: "Desculpa Senhor, mas dá para fazer só na segunda-feira o protesto, é que minha melhor amiga, Emily, está casando com James Jordan amanhã no final da tarde, então tenho que está em Los Angeles". Então ele me olharia e perguntaria: "James Jordan, o ator famoso?". Ai eu responderia na esperança dele compreender: "Este mesmo!". Só que ao contrário de compreensão eu ia ter revolta, por que ele faria um levante, por eu estar me aliando a um dos representantes do capitalismo cruel e destruidor, de uma indústria que vive da filosofia "Pão e Circo", deixando as pessoas alienada ao colapso que a economia mundial está entrando. – Eu entro no primeiro taxi livre que vejo, arrastando a mala de qualquer jeito e falo para o motorista - Catedral de Nossa Senhora dos Anjos, por favor.

- Você é dramática demais, e este negocio de cobrir jornalismo politico está te tornando uma destas "pseudo-intelectuais" politizadas. Conversava com seu editor, oras. O que me consola é que você está a caminho. – Reclama a noiva impaciente.

- Emily, se eu cobrisse a área de show business certamente já estaria sentada na primeira fila, entre o Ryan Seacrest e o Michael Ausiello, mas como não sou, espera que eu já estou chegando. E você conseguiu despistar os paparazzi? Por que eu não os quero me fotografando neste modelo horrível de vestido que você escolheu. Não tinha uma cor melhor? – Brinco enquanto tento enfiar o casaco jeans em um dos bolsos da mala, lutando um pouco contra a lei de que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço.

- Para de reclamar Kath! Ele realça sua pele, a cor dos seus olhos e certamente o batom rosa que você está usando. – Fala em tom de tédio.

- Como sabe que estou usando um batom rosa? – Pergunto surpresa enquanto olha no espelho do carro, ajeitando o que podia.

- Por que você usa este rosa pastel com zero glitter desde quando eu não sabia o que era um absorvente. – Responde a amiga na bucha. – Espero que tenha trazido o namorado novo para apresentar.

- Qual que eu não tenho? – Pergunto confusa, de onde ela tirou isso, parando subitamente meu embate com o casaco.

- Obrigada por confirmar minhas suspeitas, digo, certezas. Então você vai adorar o padrinho que consegui para você, deu trabalho convencer o James da escolha. Se bem que não foi tão difícil, é um dos amigos dele, está solteiro, é bonito, acho que irá gostar.

- Sem essa, Emily. Nenhum dos amigos idiotas do seu futuro marido. Por que pessoas famosas, só andam com idiotas, e ouvi que seu futuro marido tem andado com a pessoa mais idiota do planeta. É quase uma regra, eu sai de Los Angeles, mas não esqueci as regras, e uma delas é essa.

- Você adora um "mas". Então deixa pra lá, não vou me estressar com você, mas do que eu me estressei. E ele não é idiota, você verá, é tudo obra da mídia.

- Cheguei! – Eu anuncio animada, não sei se era pelo fato de chegar mesmo ou por finalmente ter conseguido enfiar o casaco dentro de algum lugar da mala.

Desligo o celular enquanto o taxi estaciona atrás da limusine diante da Catedral de arquitetura moderna, uma das principais igrejas da cidade. Rapidamente pago o taxista dando uma boa gorjeta, já que ele tinha feito bem a sua parte em chegar rápido e me entregar sã e salva. Desço do carro arrastando a mala, uma de nossas velhas amigas, Judy, que estava maravilhosa em seu vestido e cabelos ruivos muito bem penteados, se aproxima falando nervosa:

- Katherine, a Emily está quase tendo um ataque de nervos.

- Judy, eu sei disso. Ela me enlouqueceu no telefone, se bem que não entro mais nas neuras dela, aprendi a lidar com isso quando tinha 15 anos. Foram muitos bailes para ela me atormentar. – Falo calmamente enquanto caminhava arrastando a minha mala até a limusine, ao chegar diante da porta do carro eu falo para Judy – Agora me deixa fazer meu serviço, pegue a minha mala e guarde no seu carro, depois eu pego.

Tratei logo de entregar a mala para minha amiga, então dei duas batinhas na porta do carro enquanto olhava em volta. O motorista desceu, dando a volta e abrindo a porta, oferecendo a mão para que Emily saia do carro, linda, vestindo um tomara que caia branco bordado com pedrarias de forma deslumbrante, feito por algum estilista famoso, digno de qualquer princesa, com o véu bordado preso a uma tiara que emoldurava os belos cabelos loiros presos simetricamente. A moça se jogou nos braços da amiga.

- Ainda bem que está aqui Katherine, eu não ia conseguir sem você.

- E acha que atravessei a América só para sair no TMZ?

Mal me desfiz do abraço e comecei logo a ajuda-la na tarefa de arrumar a grande cauda do vestido. Logo um cordão de isolamento de seguranças se formou. Vários fotógrafos surgiram atrás da barreira, eles tinham vindo de todos os lugares, pareciam ratos saindo de várias tocas, como mágica. Segurei as mãos frias e tremulas da minha amiga, e a conduzi até a porta de entrada. Antes das portas se abrirem, fiquei de frente para Emily e disse carinhosa:

- Sei que está nervosa, sei que estes fotógrafos não ajudam muito. Mas confie que tudo vai dar certo, você conseguiu um cara que é mais que um príncipe, na verdade ele é um Rei. Pelo menos nas telas. Então aproveite seu conto de fadas. Quando cruzar essa porta sua vida não será a mesma. Mas algo me diz que vai amar a mudança.

Dei uma piscadela para a minha amiga de forma cumplice, arrumei pela última vez o seu vestido de noiva, antes de me perfilar diante dela, e entrar ao som da marcha nupcial. Andava calmamente, abrindo caminho, encarando todos a minha volta, isso parecia me distrair do nervosismo, dos olhares, ali tinham alguns rostos familiares, mas a grande maioria eram de estranhos. Assim como o próprio noivo, não o conhecia pessoalmente. Como todo mundo, eu só o conhecia pelas revistas, ele era James Jordan, ator famoso, galã de Hollywood, tinha acabado de fazer as mocinhas suspirarem com seu herói torturado saído da mente de Hemingway, e em breve estaria lançando um filme em que viveu o Rei Arthur. Ele era alto, olhos azuis, cabelos loiros, o típico príncipe de contos de fadas, cabelos cortados de forma curta para o casamento e a maratona de pré-estreias. Ele tinha aquele olhar sonhador que certamente quebraria o coração de qualquer fã, pois o solteiro mais desejado da América estava sendo agarrado naquele momento. Aquela era noticia do momento: "O queridinho das fãs ganhava dona". Horrível àquela manchete, que anta escreveria aquilo, será que a Emily aceitava isso calada, essa coisa ridícula de "dona".

Ao lado dele estava o padrinho, um pouco mais velho, o mais "novo melhor amigo de infância" do noivo, ele não era tão badalado, ao contrário, por muito tempo foi tido como o anticristo, só começou a ser cortejado pela imprensa depois da campanha forte de marketing em torno do filme sobre o Rei Arthur, todos queriam conhecer o Lancelot, e começaram a dar crédito por ter tido espaço em uma grande produção. Desde que ele apareceu na televisão promovendo o filme em milhares de entrevistas juntos com James Jordan – O Queridinho da América, Thomas Declan virou a sensação entre as meninas, o cavalheiro nobre, que já tinha uma carreira como cantor, que fazia as garotas (de memória curta) suspirarem, finalmente faz seu grande filme depois de muitos menores. O fiel cavaleiro do Rei Arthur tomava espaço no imaginário popular e a carreira de cantor era ofuscada e as confusões esquecidas diante do novo galã fabricado.

Logo baixei a cabeça, aquilo era muito para mim, muita informação, mesmo amando informações, as vezes parecia que aquele casamento era algum sonho maluco, daqueles que tenho tipo um filme com começo, meio e fim, com direito a trilha sonora. Era muito surreal, eu no meio daquela igreja de vestido pink, caminhando rumo ao altar, rodeada de estrelas de Hollywood, cuja uma das mais bem pagas e aclamadas do momento está se casando com a minha amiga. Eu tinha me tornado jornalista de mídia impressa por justamente gostar de ficar nos bastidores, nos cantos, sem chamar a atenção, e agora todos os olhares a minha volta me constrangiam.

Eu só me senti confortável quando consegui atravessar a nave central da grandiosa igreja. Ela era majestosa em todos os sentidos, ela era enorme, intimidante, e passar por essa situação sem tropeçar diante de aproximadamente 3.000 convidados era uma grande vitória. E eu respirei aliviada quando as atenções se voltaram todas para a noiva, que resplandecia ao sol do final da tarde, que mesmo no inverno, vinha em tons laranja, invadir a grande igreja pelas janelas tingindo tudo a sua volta com aquela cor mágica, e realçava a cruz que parecia flutuar em meio ao grande vitral.

A observava, casando-se, todo aquele ritual que eu ainda não conseguia lidar, a profissão é a minha paixão tão grande, que não conseguia ver outra pessoa naquele triangulo amoroso complexo. Já Emily deixara tudo de lado para viver a vida de Jordan, pois a vida dele dominava todos a sua volta, a imprensa não dava descanso sem qualquer possibilidade de rotina normal, as viagens, a agenda, tudo o isolava da palavra normalidade, e Emily sentiu esses efeitos desde o namoro, quando os paparazzi a seguiam para o trabalho, academia, supermercado, todos os lugares possíveis. Mesmo estando distante dela, acompanhei desde o início do namoro até todos os preparativos do casamento, através de fotos dela na loja de noiva, até na loja de moveis ela foi seguida, com eles tirando várias fotos pela vitrine, uma situação horrível. O que é de gosto é regalo da vida. E Emily estava disposta a viver daquela forma, a jurar como fazia diante do padre, que queria aquele homem do jeito que ele é e viverá a vida dele como sua metade.

Depois do tão esperado beijo, das pétalas caindo do teto e o coral cantando "Aleluia", ajudei a minha amiga, e agora senhora Jordan, a levantar, compor o vestido, e depois seguir ao lado do padrinho rumo a saída da igreja. Que naquele momento já tinha a frente tomada por uma profusão de fotógrafos, fãs que queriam ver o noivo e convidados famosos da festa, todo o caos começou, e a maior preocupação era que os noivos entrassem na limusine para saírem são e salvos. E mesmo com a partida deles o caos e empurrões continuaram, pois os convidados tinham apenas os seguranças os separando do assédio dos curiosos, que estavam assediando qualquer um, desde famosos a anônimos, tamanha era a confusão. Minha cabeça parecia rodar, não sabia para onde ir, o que fazer, só sabia que queria sair dali. Até que ouvi uma voz rouca dizer:

- Estou feliz por eles, terão uma vida cheia de alegrias e realizações.

Acho que falava com algum jornalista, não sei. Mas de repente fui surpreendida por alguém que pegou a minha mão, era um aperto forte e decidido, tudo se seguia ainda muito rápido, só sei que me arrastou para dentro de uma limusine, acho que estava participando de uma fuga estratégica, ouvi um baque surdo, os ruídos da algazarra ficaram para trás, silenciados pelos vidros negros que a isolavam de tudo aquilo. Quem foi o meu anjo salvador? E como resposta veio a voz rouca e educada até os meus ouvidos, era mesma que tinha escutado antes do salvamento:

- Como padrinho tinha o dever de tirar a madrinha daquela confusão.

- Obrigada. – Ouvi a minha voz ainda titubeante, meio confusa, ainda estava atordoada pelo caos que fui arrancada, a paz do interior do veículo ainda não tinha sido registrada ao certo. Mas acima de tudo estava grata.

- Tome. – O homem entregou um copo com um pouco de água. – Para quem não está acostumado é meio estranho no começo. Ah desculpa! Meu nome é Thomas Declan, o padrinho e amigo do noivo!

Ele se colocou um pouco mais a frente, estendendo a mão para cumprimenta-lo, então pude ver o rosto, na meia luz, o mesmo que já tinha visto no altar, não tão detalhadamente como via agora. Ele tinha os cabelos negros, olhos azuis, sorriso amigável, não tinha o mesmo porte de príncipe que o noivo, também não parecia tanto com o anticristo que imaginava. Thomas tinha mais aparência de cara boa praça, aquele melhor amigo, cujo sorriso até deixava umas covas, o que tinha senso de humor, só que certamente isso tudo escondia o idiota como boa parte dos membros de Hollywood, um viciado como muitos cantores, solteiro naquela idade por ser um grande mulherengo.

- Prazer, Katherine Thompson! Sou madrinha e amiga da noiva. – Apertei a mão do rapaz, ainda meio sem jeito por estar ali com um 'desconhecido', por que era estranho dizer desconhecido para alguém que você sabe tanto, eis que o artigo lido mais cedo vem a minha mente.

- Emis, me falou de você. Que era bem ocupada, não pode vir para o ensaio, ela falou que eu adoraria conhecer, aquela conversa dela de cupido.

Quase me engasga com a água, devido ao excesso de sinceridade dele, e também por pensar que minha amiga queria junta-la, alcovita-la com o anticristo, mulherengo, brigão, drogado e alcóolatra. A Emily havia surtado.

- A Emily é assim mesmo. Espero que agora o Rei a coloque na linha. – Disse já mais calma, sentia minha voz mais firme nas palavras.

- Tenho uma noticia não muito boa para lhe dar, o Jimmy é a Emis de calças, são muito parecidos os dois. Ele é meu irmão caçula, tivemos uma afinidade assim que nos conhecemos, ele é novo neste negocio, ainda não sabe de muita coisa, então ajudo ele a não entrar em certas roubadas. – O homem falava como se me conhecesse a muito tempo, com uma espontaneidade impressionante, mas não pude evitar o pensamento: "De roubada ele entende bastante. Espero que guie ele para o lado do bem".

- A minha relação com a Emily é longa, temos a mesma idade, mas eu sempre fui mais madura e pé no chão que ela. Salvando-a de roubadas, mas não conheço seu amigo ainda, não tive tempo de vir até aqui aprova-lo, então estou meio que dando um voto de confiança no escuro.

- Então confie neste desconhecido, que conhece ele a pouco tempo, mas profundamente. Ele é um ótimo rapaz. Os 2 anos que passamos gravando na Irlanda nos aproximaram muito, por que era só a equipe, longe de casa, então deu para criar este laço, e quando voltamos, durante as férias, ele conheceu a sua amiga e vi como tudo começou. Parece um pouco precipitado, mas neste meio, se esperar demais, as influências externas atrapalham com fofocas e intrigas. – Parecia que ele falava da parte das fofocas e intrigas com grande conhecimento de causa.

- Eu não vou dizer que entendo, por que não entendo. – Confesso minha ignorância. Mesmo morando em Los Angeles por um tempo, não conhecia aquele mundo, Beverly Hills parecia bem distante para mim, não tanto como agora.

- Bem, é complicado mesmo. – Ele suspira, meio desgostoso com essa faceta do seu trabalho.

O percurso da Catedral até a recepção foi aproximadamente de 30 minutos, que nem foi percebido por nós dois, até a limusine parar e a porta ser aberta por um segurança. Thomas desceu e ofereceu a mão para mim, que aceitei a ajuda de bom grado. Quando ela sai do veiculo, encontrei um jardim todo iluminado, em uma festa privada, em uma casa que ficava na parte alta da cidade, encrustada entre as curvas da Montanha Santa Mônica, de onde podia se ver toda Beverly Hills e ao longe os prédios do centro de Los Angeles. A paisagem mais a decoração pareciam ter saído de um filme ou conto-de-fadas moderno. A voz rouca e madura de Thomas me tirou do momento suspenso de pura admiração:

- Por aqui.

Ele ofereceu o braço para mim, que aceitei segurando e o acompanhando pelo tapete vermelho ao interior da festa. Assim que entramos, encontramos Emily e James em pé esperando os convidados.

- Olá James, parabéns! Trate bem minha amiga, ou eu venho aqui e acabo com você. – Falo sinceramente recebendo um sorriso amigável em resposta, então caminho até Emily e abraço. – Amiga, meus parabéns! Espero que seja muito feliz, e qualquer problema me ligue, eu venho aqui e arranco a cabeça dele.

- Acho que não terá este problema. E vejo que já encontrou o amigo que lhe falei. – Emily fala animada.

- Emily! Não chutarei seu traseiro hoje, por que está linda de branco.

Outros convidados já chegavam. Então me afastei, e assim que entrei no salão a funcionária responsável pelo cerimonial me conduziu até a mesa dos noivos, colocando-me na última cadeira da ponta, do lado da noiva, sendo separada da amiga apenas pelos pais, Lidia e Steve. Que ainda estavam a caminho da recepção. Ainda não tinha falado com eles, que eram como pais para mim, mesmo estando afastados a muito tempo. Não os via desde que tinha terminado a faculdade, quando eles vieram do Kentuck para a formatura dela e de Emily na UCLA.

Quem diria que as duas caipiras do Kentuck, que vieram para Los Angeles fazer uma universidade chegariam tão longe? Eu, uma jornalista com um bom emprego em Nova York, em ascensão, e Emily realizando seu sonho de casar com um cara legal, bonito e famoso. Tudo bem que aquele sonho era ridículo, mas era o sonho da jovem, fazer o que?

O garçom coloca uma taça para mim e diz educadamente:

- O senhor mandou servi-la.

Apontou com a cabeça para a outra ponta da mesa. Onde Thomas havia se sentado, este ergue a taça em um brinde a distância, e eu correspondo erguendo a minha taça também retribuindo ao brinde com um pequeno e educado sorriso, para depois beber um gole do champanhe, sem deixar de olha-lo. Era difícil vê-lo como o cara que eu conhecia dos artigos, matérias e escândalos, pareciam dois homens completamente diferente, e isso era realmente confuso. Isso era Hollywood.

***

- ...O amor é algo que não conseguimos explicar, desde que conheço a Emily ela sempre esperou por um príncipe lindo, no cavalo branco. Eu não conheço muito bem James, mas pelo pouco que pude saber, escutando hoje de vários amigos nossos, posso dizer que Emily encontrou mais do que um príncipe, ela encontrou um Rei. – Muitos riram da pequena piadinha que fiz. – Sendo Rei ou príncipe, ele tem apenas um único dever: fazer Emily muito feliz. Viva aos noivos!

- Viva aos noivos! – Todos erguem as taças, bebem um gole de champanhe e então aplaudem.

- Agora convidamos o Sr. e a Sra. Jordan para a primeira dança como casados. – Anuncia a responsável pelo cerimonial.

O casal de noivos sai da mesa que estavam, caminham ao centro da pista de dança e então começam a dançar ao som de "Fly To The Moon" de Frank Sinatra. A música vinha a calhar com a situação da minha amiga, olhando tudo a minha volta, a paisagem surreal, a beleza de tudo aquilo, era mesmo como voar para a Lua. Suspiro enquanto observo eles dançarem, olhando um nos olhos do outro, sorrindo, conversando baixinho, e mais risinhos. Enquanto todos olham encantados, fascinados com o novo casal.

- A pista de dança está aberta para todos. – A moça que fazia o cerimonial anuncia antes de retirar-se do pequeno púlpito.

Os pais dos noivos se levantam e vão dançar. E eu confortavelmente sentada sou surpreendida por uma mão estendida e uma voz próxima ao seu ouvido, para ser ouvida acima do som alto, mas completamente hipnotizante, um belo golpe baixo:

- Você não faria a desfeita de não dançar com o padrinho?

- Claro que não.

Respondi educadamente seguido de um sorriso tímido, então me levanto e acompanho Thomas até a pista de dança, onde uma seleção de Frank Sinatra embalava os casais.

- Frank Sinatra é sempre um clássico. – Comento maravilhada por que sempre fui uma fã do cantor.

- É meio difícil achar alguém da sua idade fã de Sinatra. E eu concordo que ele é um clássico e muito bom, sempre toca em casamentos. – Rindo um pouco no final da própria piada.

- Ele é cheio de esperanças, como toda festa de casamento. – Não consigo esconder a ponta de desdém na voz.

- É impressão minha ou você não acredita em casamento? – Pergunta Thomas intrigado.

- Não é que eu não acredite em casamento, eu não acredito na viabilidade dele. – Rindo do quanto tudo parecia ridículo – Duas pessoas unidas todos os dias, tendo que conciliar suas vidas, seus hábitos, grita para mim como a receita para o fracasso.

- Wow! Isso que é descrença mesmo! Mas não irei discutir, por que não conheço o assunto, não achei alguém que queira se aventurar nesta pesquisa, mas acredito que os sentimentos ajudam tudo a entrar no seu devido lugar, sem grandes dores de cabeça. É como a dança, um vai ajudando o outro a dar os passos e no final fica tudo muito bom, naturalmente.

- Então você tem meio caminho andado para o sucesso desta missão, por que é um bom dançarino. Mas vários pontos contra por causa da sua má fama.

- E você ainda tem que praticar muito, por que até agora é uma ótima jornalista, tirando suas conclusões precipitadas sem apurar os fatos. Sabia que isso é muito feio da sua classe?

- Como sabe que sou jornalista? – Pergunto surpresa.

- Emis me falou, ela praticamente me deu sua ficha completa, digamos que eu a conhecia muito antes mesmo de encontra-la pela primeira vez. – Thomas explica com um sorriso torto adorável.

- Aquela filha da mãe! – Reclamo indignada, baixo a cabeça tímida, sem coragem de encara-lo.

- Não se preocupe, você é melhor do que a ficha dizia. – Ele usa um leve toque de humor para me ajudar a relaxar, enquanto erguia o meu rosto, com o dedo em baixo do queixo, olhando-me nos olhos.

Depois de alguns minutos, achei melhor fugir daquela situação, estava tudo se tornando estranho.

- Bem, vou ali ajudar a noiva e já volto.

Caminho até Emily pegando-a pelo braço e a conduzindo até o banheiro, sem apertar o cotovelo, apenas conduzindo mesmo, com um olhar assassino fazendo que a acompanhasse de bom grado, e ia precisar da minha ajuda mesmo, enquanto seguraria o vestido para que fizesse xixi.

- Você é uma maluca mesmo!

- Por que diz isso?

- Como vai dizer várias coisas ao meu respeito, para o amigo do seu noivo sem minha autorização. Sem contar que este cara não presta e todo mundo sabe disso. Essa brincadeira de Cupido foi longe demais! – Falo indignada – E nem sei por que se dá ao trabalho de arrumar alguma mulher para ele, todo mundo sabe que ele não precisa disso, que só é estalar os dedos e pronto, elas saem até de buracos na terra.

- Ah amiga! Só estava querendo ajudar! E ele não é tudo aquilo que dizem, muito do que está por ai é mais ficção do que os filmes que ele faz. E essas mulheres todas ai não são mulheres que valem a pena, a maioria são aquelas que caçam seus minutinhos de fama. Você acha que dá pra começar alguma coisa séria e saudável do jeito como as coisas acontecem? – Argumenta minha amiga com uma calma impressionante.

- Dar um empurrãozinho tudo bem, ajudar a se esbarrar é aceitável. Mas empurrar do despenhadeiro e marcar praticamente um encontro as escuras com o demônio é o fim da picada.

- Deixa de drama! Você está precisando namorar, e segura meu vestido. – Fala Emily enquanto sentava no vaso e eu segurava o vestido.

- Eu não preciso namorar ninguém. Estou bem sem ninguém! Antes só do que ter a companhia péssima Dele! Sua chata!

- Precisa sim, e vou continuar armando até encontrar alguém!

- Sua louca! Da próxima vez será quem? O Marilyn Manson? – Saio batendo a porta deixando Emily em apuros com o vestido para trás. Por que a irritação era maior que a obrigação e solidariedade com a amiga, e talvez assim ela crie juízo.

Caminha até a ruiva deslumbrante que se soltava no salão, com seu vestido negro, já havia bebido um pouco e agora dançava. E não apresentava nenhum sinal de querer ir embora.

- Judy, eu preciso da minha mala, já estou indo para o hotel. Você sabe onde fizeram as reservas dos convidados de fora da cidade? A Emily me disse que ia ter este lance.

- A chave do carro está com o manobrista, aqui está a senha. – Judy entrega o cartão. – E o hotel é o Four Seasons, as reservas foram feitas pelos assessores do James, estão todas nos nomes dos convidados. Eles queriam despachar sua mala para lá, mas não sabia se queria, nem deu tempo de te perguntar com toooda aquela correria.

- Four Seasons? – Quase engasgo, ficando surpresa com a notícia.

- Isso que dá casar com um astro de Hollywood, queridinha. – A ruiva pega mais uma taça de champanhe, sem parar de dançar.

- E você não acha que deve parar de beber e ir também? Eu dirijo seu carro. – Pergunta preocupada.

- Faz uma coisa bem melhor! Leva meu carro e deixa que eu vou de taxi. Não vou poder dirigir mesmo. - Judy responde com uma gargalhada.

- Tudo bem, promete se cuidar. – Beijo o rosto da minha ex-parceira de alojamento.

- Nos vemos amanhã no café da manhã, se eu não sumir com o George Clooney. Uhu! – Judy beija o meu rosto e se afasta dançando, animada pela bebida.

Suspirou e caminhei até a saída da festa, precisava de um bom banho, uma boa cama e principalmente sair daquele hospício. Tinha esquecido como LA era louca, e agora conhecendo o outro lado, vi o quanto era louca mesmo. Pois gastar o que estavam gastando com aquele casamento, era algo fora das contas de qualquer mortal, por que se somarem todos os gastos, mas as passagens dos convidados e as diárias de pelo menos 100 deles no Four Seasons, já garantia o PIB de muitos países pequenos.

Lá estava eu tendo pensamentos politicamente corretos, mas não conseguia contê-los, sempre me vi direcionada a pensar o quanto aquilo era absurdo, aquele mar de dinheiro gasto quando muitos precisam, em uma nação afundada na crise. Hoje de manhã eu estava dentro do "Occupied Wall Street" e agora saia de um casamento cujo dinheiro empregado no vestido da noiva, poderia alimentar uma família americana por meses.

Os pensamentos foram roubados quando o manobrista entregou a chave falando: "Senhorita". Peguei a chave do carro e dirigi por Los Angeles até o Four Season. Ia lentamente, fazendo o caminho de 17 minutos levar quase meia hora, pensando em tudo que vivera naquela cidade e como conhecia cada curva dela.

Não era em vão que a cidade tinha o titulo de "A cidade do pecado", por que tudo estava ao alcance das mãos, muitas almas se perdiam ali, onde tudo era livre, sem amarras, as leis só existiam quando eram convenientes. Por isso muitos famosos despreparados ao chegarem ali se deslumbravam e logo começavam na tríade sexo, drogas e farras, transformando-se em cópias de Lohans, Spears e por ai vai.

Ao parar o carro na porta do hotel, a festa dos mimos começou, o manobrista pegou a chave do carro, o carregador logo retirou a mala do porta-malas, alguns fotógrafos estavam em pé na calçada, mas nem ligaram para mim, pois não era alguém digna de uma fotografia, ou rentável o suficiente para se vender na velocidade da luz. Para eles eu não era ninguém. Balancei a cabeça ainda surpresa com tamanho pensamento. Caminhei até o balcão e disse meu nome:

- Olá, boa noite, existe uma reserva no nome de Katherine Thompson. – Falei educadamente.

- Oh sim! Senhora Thompson! Pedirei para que levem as suas malas. – O gerente falou rapidamente, como se já me esperasse. Enquanto o mordomo vinha. – A equipe do senhor Jordan disse que era para trata-la como uma rainha e assim será. Só não podemos coloca-la na suíte maior do quarto por que já estava ocupada, mas espero que não se incomode. A Sra. Jordan disse que não se importaria com este fato.

- Não tem problemas, senhor. Eu entendo como são essas coisas.

- Eu ainda alertei que poderia coloca-la em outra suíte não tão grande como esta, já que os noivos ocuparão as outras, mas igualmente confortável, mas a equipe foi enfática na ordem. Na verdade a Senhora Emily Jordan em pessoa reforçou o pedido. E a senhora não precisa se preocupar com qualquer transtorno, pois sua suíte há uma porta individual, o mordomo responsável por ela irá explicar tudo. – Explicava o gerente enquanto caminhava comigo até o elevador, estava tão cansada que apenas balançava a cabeça, sem entender muito daquela ladainha, queria só uma cama e isso é tudo, simples.

- Mais uma vez, não se preocupe. – Foi o que me limitei a responder.

- Espero que tenha uma boa estadia, senhora Thompson!

O elevador se fecha e eu dou graças a Deus por ter terminado aquela sessão desnecessária de puxa-saquismo. O que será que Emily disse para o gerente levando-o àquele tratamento ridículo e excessivo. Imagino a lista de recomendações que haviam sido feitas. A começar pelo homem que estava em pé ao seu lado, um senhor de idade, lembrando um daqueles mordomos ingleses, que olhava para frente como um soldado de chumbo. O elevador ia subindo, até o último andar, deixando-me cada vez mais intrigada, onde a amiga a havia enfiado.

Ao saímos do elevador, o senhor virou a esquerda no corredor curto, a alguns passos, ele colocou o cartão e abriu a porta de duas folhas, e então avancei, emergindo em um mundo totalmente novo, quase que me viro para dizer que era um engano, mas seu comportamento resoluto deixava bem claro que não.

Então me vi em pé no meio de uma ampla sala, que era maior do que seu apartamento em Nova York, com quatro portas de folha dupla que se abriam para sacadas de onde se podia ver toda a cidade, um piano de cauda adormecia de um lado, uma mesa comprida com 6 lugares se oferecia do outro, com uma luminária que descia do teto como galhos esbranquiçados e secos. Os tons verdes e rosas, misturado com o creme, davam um ar delicado, antigo com alguns toques modernos. A lareira acesa tornava a grande sala aconchegante, e afastava o frio da noite que ia crescendo lentamente.

Ele a conduziu por um pequeno corredor, que possuía uma sala de estudos, e a uma porta dupla, que ao ser aberta, revelou o quarto todo em traços delicados. Roupa de cama, decoração, era tudo tão doce e feminino, e a porta de folha dupla que estava aberta para a sacada, deixava a cidade entrar, me saudar com a brisa marinha. Uma camareira estava na reentrância que levava ao banheiro, desfazendo as minhas malas e arrumando no closet, enquanto o mordomo se apressou indo até as portas da sacada e as fechando. Tudo como um balé finamente treinado.

- Senhora, eu espero que se sinta bem. Meu nome é George e a camareira se chama Brigite. – Falou o mordomo se postando próxima a porta de saída alternativa da suíte. – Sobre a mesa está este Tablet onde poderá efetuar seus pedidos, aqui fica a saída alternativa, caso queira evitar a área social. Brigite assim que terminar de arrumar suas coisas vai preparar o seu banho. Agora deixarei a senhora a sós, qualquer pedido é só me chamar.

O homem se retira, tendo mais uma vez meus agradecimentos pela ausência, eu não dei uma palavra não por falta de educação ou por ser esnobe, mas por que ao sentar naquela cama macia, o cansaço tomou o meu corpo. E assim que me vi a "sós" no quarto, retirei o sapato. Em seguida ouvi o barulho da banheira enchendo, e a voz delicada e baixa da mulher mais velha, mas de aparência pequena dizendo:

- Aqui está seu roupão, senhora. – Entregou-me o roupão. – Me deixe ajuda-la com o zíper.

- Obrigada, Brigite. – Falei de forma simples e agradecida, assim que o vestido apertado foi folgando em meu corpo.

A camareira retornou para o banheiro, enquanto retirava o meu vestido e colocava o roupão, depois retirei as joias e deixei sobre uma bancada. Então a senhora saiu do banheiro anunciando:

- O banho está pronto, senhora. Que roupas para dormir deseja usar?

- Primeiro, me chame de Katherine mesmo, Brigite. Sem essa história de "Senhora", vamos conviver por 2 dias, então deixe de lado isso. E segundo, eu não estou muito acostumada com isso tudo, hoje vou deixar, por que estou precisando, então me separa meu único pijama que veio. Aquele da calça verde clara. Mas amanhã não quero mais nada disso.

- Sim, se...Katherine. – A mulher deu um sorrisinho e se retirou para o closet.

Entrei no banheiro, retirei o roupão e ao afundar na banheira, todo o cansaço do dia, a correria para estar no casamento de Emily, o trabalho, o stress, tudo tomou o meu corpo, e saiu graças à água morna, olhei para frente e vi uma TV na parede, sorri e disse para mim mesma: "Já que está aqui, tente relaxar". Liguei o aparelho em um daqueles canais de música, fechei os olhos e relaxei.

Depois de um tempo, acordei. Na verdade nem sabia quanto tempo havia passado ali, mas a água estava fria e a espuma já tinha ido embora. Então deixei a banheira secando, escovei os dentes, penteei os cabelos e ao chegar no quarto encontrou a cama posta para dormir, a luz calma do abajur aceso e o pijama a esperando sobre a cama.

Em meio a um suspiro pensei: "Quem disse que dinheiro não trás felicidade?...Pelo menos muito conforto eu garanto que sim". Vesti o pijama, abandonei o roupão sobre uma poltrona de canto, fui até a janela olhar mais uma vez LA sob meus pés. Mesmo toda atrapalhada, ela devia agradecer a amiga por aquele conforto e volta triunfal a cidade, tirando a corrida no aeroporto, no vestido chamativo, apertado e ameaçando honrar o nome de tomara que caia, e cair mesmo. Vesti-lo no banheiro do avião foi quase uma missão impossível.

Mais um suspiro cansado, fui até a cama onde afundei e dormi pesadamente. Se o mundo acabasse agora, eu nem saberia.

***

O perfume do café me acordou dos meus doces sonhos. Onde eu era Alice e tinha caído em um buraco que me levou ao país das maravilhas para encontrar o Mágico de Oz que vivia fora ou dentro da Matrix. Lá sei. Só sei que aquele cheiro maravilhoso me despertou, fazendo com que me levantasse, passasse os dedos nos cabelos e caminhasse sonolenta, quase no automático, até a mesa que estava farta e ricamente posta na grande sala da suíte.

Brigite logo surgiu após ouvir o ruído da louça e da cadeira. Trazia uma jarra de café que serviu.

- Bom dia, se...Katherine. Espero que tenha dormido bem.

- Eu dormi como uma pedra. E daqui para segunda você se acostuma e me chamar pelo nome. Obrigada, e pode deixar que estou em casa.

Brigite saiu, me deixando a só com meu café, que preparei ao meu gosto colocando pão, ovos e baycon no prato. Ah! As panquecas não podiam faltar. Um verdadeiro caos alimentar. Enquanto tomava o café, peguei o jornal, começando a ler, interessada, procurando minha matéria, para ver como havia saído. Afinal, tinha sido escrita as pressas, na correria para estar no aeroporto e uma noiva aflita enviando mensagens.

- Pensei que não ia encontra-la acordada ainda, George me disse que estava muito cansada.

A voz rouca me despertou, não era o Mágico de Oz certamente, está bem que estava mais para Coelho Maluco. Baixei o jornal com total expressão de choque, encontrando Thomas Declan, de cabelos molhados e desorganizados, vestindo uma blusa branca simples e calça jeans.

- Bom dia! Vou começar a achar que está me perseguindo. – Falo desconfiada daquela aparição matinal. Como sabia que estava aqui, nesta suíte?

- Não. – Ele sorri expondo os dentes brancos, sentando a mesa do café da manhã. – Eu poderia tomar meu café em outra hora se isso a incomoda. Mas Emily disse que não tinha problema, que você não ia se importar em ficar na mesma suíte. – Ainda bem que não bebia nada naquele momento, por que certamente me engasgaria com aquela informação. Mas tentei esconder meu choque da melhor forma possível. - Por que ela insistiu que queria me colocar na presidencial, e eu particularmente acho um desperdício isso, tanto que sempre meu assessor fica no quarto a mais. Mas nesta viagem estou sem assessores na minha cola, é um pouco de férias, entende?

- Entendo. – Falo lentamente, dizia entender o que não entendia, ou melhor, eu compreendia, mas não aceitava aquele plano ridículo da que se diz minha amiga. Nem precisava dizer que eu ainda estava com uma mistura de choque, surpresa, incredulidade e por ai vai. Até que simplesmente anuncio com uma voz calma porém mortal. – Eu acho que vou matar a Emily!

- Se eu soubesse que fosse causar tanto incomodo, eu não teria aceitado. Mil desculpas. – Fala Thomas completamente sem jeito.

- Eu que peço desculpa por causa desta situação, tão constrangedora. É que a Emily meteu na cabeça que vai arrumar um namorado para mim, ai me coloca nesta situação a um bom tempo. – De repente fico sem graça ao perceber a forma como constrangi o homem.

- Então vamos fazer assim, ela pode não ter te arrumado um namorado, mas arrumou um amigo. Você tem seu quarto, eu tenho o meu, nem somos obrigados a olhar um na cara do outro e pronto. E na terça-feira mesmo vou ter que viajar para promover o filme na Europa, então você se livra de mim. Até lá podemos aproveitar como bons amigos, passear por ai. O que acha? – Ele pergunta amigável, me olhando nos olhos, passando a sinceridade da proposta.

- Tudo bem. Deixa eu acabar meu café da manhã, está bem? – Sorrio agradecida por tudo se resolver civilizadamente. E é impressão minha ou eu estava aceitando ser amiga do anticristo que mais parece um cordeirinho indefeso e educado?

- Você come parece um homem, um homem dos grandes. – Brinca ele ao ver o meu prato.

- Eu não jantei ontem, Emily não deixou. E tenho que aproveitar o que a natureza me deu de bom. Diferente de você que come parece uma mocinha educada demais.

- É que a natureza foi ingrata comigo, tenho que correr, malhar todas as manhãs e ainda seguir uma dieta rígida para não deixar de fazer o papel de guerreiro e fazer papel de baleia em algum ramake de Free Willy.

Dei uma gargalhada com a brincadeira, deixei o jornal de lado, me apressando em devorar o café da manhã.

- Ah! Você viu os sites esta manhã? Cheios de fotos do casamento do Jimmy com a Emis. Tem algumas fotos que você aparece. – Ele conta naturalmente.

- COMO? – Agora de fato quase engasgo com a comida ou cuspo toda quando pergunto assustada. – Onde?

Ele pega o tablet que estava sobre a mesa e mostra para mim, enquanto falava:

- Eu vi enquanto estava na academia do hotel.

Comecei a olhar as fotos, algumas eu aparecia ao fundo, tinha da Emily entrando na igreja, na hora que eles saíram, o caos, e algumas notinhas me colocando como a nova "amiga" de Thomas, com aspas bem grande, que algumas fontes me viram dançando com ele na festa, e muitos paparazzi haviam me visto entrar na limusine com Thomas. Eu estava com a expressão de quem havia levado um soco no estomago e então entreguei o tablet para ele. Na verdade parecia que eu havia sido atropelada e não sabia nem que marca de carro era? De onde tiraram toda aquela merda? Em cinco minutos de imprensa já tinha acontecido aquilo? Era um pesadelo? Acho que ainda não acordei, só pode.

- Esses pseudojornalistas. De onde tiraram esta amizade entre aspas? Que loucura. Eles não têm o que inventar mais sobre a vida dos outros, ai ficam criando factoides ridículos. Vão querer me incluir a força no seu hall de "amigas" pagas ou não. – Comento num desabafo em meio tudo aquilo, simplesmente saindo, sem filtro.

- Eles são assim, eles captam mensagens de qualquer gesto seu, de qualquer coisa que faça e tiram suas próprias conclusões, não importando como, quando ou onde viram tal coisa, os meios que tomaram para obter as informações. Eu me divirto as vezes, mas as vezes me irrito, por que eles extrapolam, surtam, inventam, criam e até forjam. – Fala Thomas calmamente, mas se irritando no final.

- Como aquele boato de que você era gay e o James era seu amante?

- Aquilo foi ridículo! – O homem fala irritado, ficando vermelho de raiva e os olhos faiscando.

De repente me vi tomada por algo que não sabia explicar, poderia ser pena, ou algo que não sabia nomear, mas pela primeira vez ouvia o outro lado, e começava a ver tudo parecia ser bem diferente.

- Bem, então deixa estes loucos de lado, vamos aproveitar o dia. – Resolvi acalma-lo, vendo o quanto aquilo o irritava e até machucava, como entregavam os seus olhos. Começava a visualizar certas coisas, que como jornalista que sou já devia ter percebido. Como pude ignorar todas as teorias e estudos de caso que havia visto na universidade?

- Isso mesmo...Mesmo eu achando este seu pijama legal, acho que deve trocar de roupa. Ah! E não se esqueça de pegar um chapéu e uns óculos escuros. – Ele fala já animado de novo.

- Tudo bem, mas por que isso? Estamos no inverno.

- Vai por mim, às vezes é necessário.

Ele sorri enquanto eu saia rumo ao quarto, ainda visivelmente confusa com o pedido.

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