Capítulo 22
Camila
16 anos
Olho para o prato de comida a minha frente e automaticamente sinto meu estômago se embrulhar, me sinto enjoada.
— Karla, você está bem querida?- mama pergunta ao notar que não toquei na comida.
Nossos olhares se encontram e eu apenas aceno em resposta. Mama solta um suspiro em derrota, sei o quanto ela está preocupada comigo mas não a nada que eu possa fazer para tranquiliza-la.
O clima na mesa é tenso e isso não é de hoje, começou há dois anos, depois daquela noite eu não fui mais a mesma. As ameaças eram frequentes, ainda são, ele continua roubando tudo de mim, um pouco a cada dia.
— Posso me retirar?- pergunto baixo.
— Pode ir querida- papa autoriza, o que só faz mama lhe dar um olhar atravessado.
Saio da mesa fazendo o máximo para não encostar no garoto sentado ao meu lado, nem sequer olho em sua direção. Subo as escadas apressadamente e só paro após estar trancada em meu quarto, a falsa segurança é tudo o que eu tenho aqui dentro destas paredes.
De repente sinto o enjôo voltar, ele tem se tornado frequente e eu também tenho vomitado muito, não tenho me alimentado bem há algum tempo, mas como poderia?
Caminho a passos lentos até o banheiro e então coloco a banheira para encher, talvez um banho faça esse enjôo ir embora. Assim que a banheira está suficientemente cheia entro nela, não me dou ao trabalho de tirar o vestido que estou usando, o que preciso é esquecer tudo por algum tempo.
★★★★★★
Depois de mais de uma hora saio da banheira e fico de frente para o espelho, não me importo se molhei todo o caminho por onde passei, a essa altura já não me importo com muita coisa.
Encaro meu reflexo no espelho e instantâneamente meus olhos se enchem de lágrimas. Eu o odeio. Odeio o que ele fez e faz comigo. Odeio me sentir desta forma por sua culpa. Violada, ele me roubou de mim mesma.
Com a visão turva abro a gaveta da pia, rapidamente encontro o par de lâminas. Eu não aguento mais, não quero passar por isso outra vez, não consigo mais viver.
Com as mãos trêmulas pressiono a lâmina contra meu pulso, um único corte basta para acabar com tudo. Mas antes que eu pudesse terminar com toda a dor sinto uma pontada forte na barriga, não é o enjôo outra vez mas algo ainda pior.
Gemendo de dor me sento no chão do banheiro, a cada segundo a dor fica ainda mais insuportável, levo minha mão até o meio das minhas pernas e constato que estou sangrando muito, apavorada grito.
— MAMA- grito me apoiando ao vaso sanitário tentando levantar.- PAPA.
De repente me sinto tonta, fraca. Ouço passos no corredor e logo a maçaneta da porta do quarto sendo forçado.
— KARLA- mama grita do lado de fora.
— Querida, o que está acontecendo?- papa pergunta batendo fortemente na porta.
Forço meu corpo a reagir e caminho lentamente até a porta do quarto, respingos de sangue ficam pelo caminho. Ao abrir a porta encaro os olhares preocupados dos meus pais.
— Oh meu Deus, Karla o que houve?- mama pergunta ao ver o sangue escorrendo por minhas pernas.
Antes que qualquer palavra pudesse deixar meus lábios tudo fica escuro.
★★★★★★
Assim que acordei logo notei o lugar onde estou, em um quarto de hospital. Minutos depois uma enfermeira entrou no quarto, perguntei o porquê de eu estar ali e ela apenas me informou que passei por uma cirurgia mas não me explicou o motivo.
À aparelhos ligados ao meu corpo e o efeito da anestesia ainda não passou, gostaria de me levantar mas fui proibida pela mulher.
— Por favor- imploro.- Me diga o que aconteceu.
A enfermeira me lança um olhar preocupado, então vai até a porta do quarto e a encosta.
— Eu não deveria fazer isso- ela diz se aproximando e se sentando na beira da cama.- O que aconteceu com você?
— O que?- pergunto sem entender.
— Foram feitos exames, eles constataram lesões- ela explica.
Não consegui assimilar suas palavras até que ela prosseguir.
— Você foi abusada sexualmente, e...- ela hesita ao ver que começo a tremer, mas aceno para que ela continue.- E deste abuso resultou uma gravidez, você sabia disso?
Nego e então sinto as lágrimas escorrerem por minhas bochechas, de repente tudo faz sentido, os enjôos e vômitos frequentes. Tento ao máximo segurar o choro pois sei que não é apenas isso.
— Sinto muito.- a mulher lamenta.- Você deu entrada no hospital com um sangramento intenso, sofreu um aborto espontâneo. Seus pais estão muito preocupados lá fora.
Eu não consegui ouvir a mais nada depois disso, não consegui acreditar naquelas palavras, não parecia real. Eu sem saber carreguei dentro de mim uma vida, fruto de uma uma violação, e foi naquele momento que me senti morta.
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