Capítulo 20

Shawn

  A maneira como a luz que entra pelas janelas reflete em seu corpo é quase hipnótica, sua expressão é serena, imperturbável e linda. Karla é linda, tanto acordada quanto dormindo, nem toda a tristeza que carrega é capaz de mudar isso.

  Desde que seus olhos se fecharam eu não consegui parar de admira-la. Fico perguntando a mim mesmo o porquê de uma garota tão bonita parecer tão assombrada quando está consciente, seu olhar se torna nebuloso e assustado, sua expressão carrega mistérios que sou incapaz de desvendar.

  Nossos rostos estão tão perto que sinto sua leve respiração,os corpos tão próximos que sinto o calor emanando dela e sua cabeça levemente apoiada em meu ombro enquanto a mão esquerda está entrelaçada a minha.

    — Onde você estava?- pergunto num sussurro sem esperar qualquer resposta.- O que te machucou tanto Karla?

  Assim que abri a porta e a vi com o olhar tão preocupado soube que não poderia deixa-la ir, nem naquele momento e nem nunca. Me agarrei a esse pensamento e só então me permiti adormecer.

★★★★★★

  Acordei assustado ao ouvir um grito ensurdecedor, ao meu lado Karla se contorce balbuciando palavras incoerentes, sua respiração é descompassada e suor escorre por sua testa.

    — Karla- chamo tentando acorda-la. Tento outra vez.- Karla.

  Ela então acorda abruptamente, posso ver a confusão em seus olhos.

    — O que... O que aconteceu?- pergunta ainda ofegante.

    — Você estava tendo um pesadelo, eu acho.

  Seus olhos se perdem outra vez na escuridão antes de se encherem de lágrimas. Em poucos segundos Karla começa a chorar, como se então se lembrasse do que a assombrou.

    — Ei, tudo bem- digo a puxando para meus braços. Ela se agarra a mim e continua a chorar copiosamente.- Tudo vai ficar bem, você está segura.

  Karla continuou a chorar durante algum tempo e eu a segurei cada minuto, a impedindo de cair ainda mais na escuridão. Ela só pegou no sono próximo ao nascer do sol.

★★★★★★

  Quando a luz do sol se tornou forte demais eu me levantei e fechei as cortinas, não consegui dormir depois de ver Karla daquela maneira então sai do quarto o mais silenciosamente possível para não acorda-la.

  Duas horas depois quando voltei para verifica-la cheguei a tempo de vê-la acordar.

    — Bom dia- cumprimento me recostando no batente da porta.

    — Bom dia- responde puxando o lençol e tapando o corpo envergonhada.

  Droga, eu temia por isso.

    — Está com fome?- pergunto mudando o peso de um pé para outro.- O café da manhã está pronto.

    — Acho que prefiro tomar um banho primeiro- responde evitando me olhar.

  Não posso deixar que voltemos para o começo de tudo, não agora. Me aproximo devagar e paro em frente a ela que continua sentada na cama.

    — Confia em mim?- pergunto lhe estendendo a mão.

  Karla hesitou por um segundo antes de colocar sua mão na minha. Com nossas mãos entrelaçadas eu a guiei até o banheiro.

    — Preparei isso pra você, achei que seria bom.- digo parando em frente a banheira. Nela coloquei alguns sais de banho e pétalas de rosas.

  Um pequeno sorriso surge nos lábios de Karla, um lindo pequeno sorriso.

    — Obrigada- sussurra em agradecimento.

    — Vou te esperar na cozinha- digo ao me afastar mas ela segura firme minha mão.

  A maneira com que seus olhos se prenderam aos meus me fez prender a respiração, a mensagem neles tão clara quanto água. Fique.

  Olhei para nossas mãos entrelaçadas, eu a seguraria para sempre. A puxo para perto e a envolvo em meus braços, senti as pontas de seus dedos subirem por minhas costas ao mesmo tempo em que o lençol que envolvia seu corpo foi ao chão, sem palavras porquê elas não resolveriam as coisas, apenas toques para nos conectarmos um ao outro.

    — Eu amo você- sussurro em seu ouvido sem conseguir mais esconder.

  Sinto seu corpo estremecer, lágrimas brotam em seus olhos mas Karla não as deixa cair, ao invés disso ela sorri. O sorriso mais bonito que já vi.

★★★★★★

    — Posso perguntar uma coisa?- sussurro no ouvido de Karla.

  Ainda estamos na banheira, não sei ao certo há quanto tempo. Suas costas estão apoiadas em meu peito, seus dedos brincando e fazendo pequenas ondulações na água.

  Ela não responde de imediato e quando o faz é apenas com um aceno de cabeça.

    — O pesadelo que teve essa madrugada, tem haver com o seu passado?- pergunto cautelosamente. Ela acena outra vez. _Sim_.- Sobre o que?

  Desta vez ela se afasta, obviamente o assunto é delicado e isso fica estampado em seu rosto.

    — Não sei se quero falar sobre isso- responde ficando na extremidade oposta da banheira.

    — Tudo bem, não precisa se afastar. Eu só quero conhecer você.

    — Não há nada para conhecer, não resta nada.

    — Por que eu tenho a sensação de que você esconde muito mais do que deixa transparecer?- pergunto.

  Uma lágrima solitária escorre por sua bochecha e ela vira o rosto, eu tenho que calar a boca, não quero fazê-la chorar ainda mais.

    — Porque você está certo- ela solta voltando a me encarar.

    — Você não perdeu a memória?!- pergunto mas soa mais como uma afirmação.

    — Não, não perdi- Karla responde soltando um suspiro.

    — Você estava fugindo aquela noite. De quem?

    — De um homem que faz parte do meu passado, meu pior pesadelo.

    — O que ele fez com você?

    — Ele roubou a minha vida.

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