Capítulo 19

Camila
14 anos

    — Eu não posso acreditar nisso- mama sussurra nervosa parando em frente ao carro.- Não acredito que isso aconteceu. O que deu em vocês hoje?- ela pergunta se virando para mim e para meu irmão adotivo.

  Mama foi chamada no colégio depois que meu irmão se meteu em uma briga por minha causa, ele bateu em um dos garotos que fazem bullying comigo. Eu nunca tinha visto ninguém tomar um soco na minha frente, pelo menos não até duas horas atrás.

    — Me desculpe, eu só não queria que eles a machucassem- ele responde abaixando a cabeça e olhando para o chão.

    — Eu sei querido- mama diz tocando seu rosto e fazendo-o encara-la.– Fico feliz que defenda e proteja sua irmã, mas não pode sair por aí batendo nos outros garotos. Violência nunca será a solução, entendeu?

    — Entendi.- ele confirma e então fixa seu olhar em mim.- Eu nunca mais vou fazer de novo.

  Eu não sei porquê mas algo em seu tom de voz, e na maneira como ele disse isso olhando fixamente nos meus olhos me deu calafrios. E também dúvido de que ele vá cumprir o que disse, a maneira como bateu no garoto mais cedo me assustou, ele desferiu uma série de socos no rosto do menino e a verdade é que parecia cego de fúria.

    — Tudo bem- mama confirma abrindo a porta do motorista.- agora entrem no carro, vamos para casa.

  O caminho até nossa casa foi tranquilo, ninguém disse nenhuma palavra e como nossa casa é um pouco afastada da cidade isso significa quase uma hora em completo silêncio. Eu me sentei no banco da frente, nunca posso me sentar aqui mas sinceramente não quero ficar perto dele, ele me assustou muito hoje mesmo que tenha sido para me proteger.

  Quando o carro parou em frente a nossa casa eu rapidamente desci, preciso ficar sozinha.

    — Karla, espera- mama pede.

    — Eu vou estar no meu quarto- respondo entrando na casa.

  Subo as escadas correndo, e vou direto para o quarto. Desde que o vi naquele estado de completa fúria senti algo estranho, medo, para ser mais específica, toda aquele ódio que vi em seus olhos me deixou assustada. Sempre ouve um abismo entre nós dois, nossa relação nunca foi como a de irmãos de verdade e agora tenho certeza de que nunca vai ser, dele eu tenho medo e não carinho.

★★★★★★

  Já havia passado das duas da manhã quando eu me remexi na cama mais uma vez, não estou conseguindo dormir essa noite.

  O relógio no criado mudo indicava 02:45 quando a porta foi aberta, lentamente uma fresta de luz iluminou o quarto e aos poucos invadiu parcialmente o lugar, era ele, a luz do corredor desenha sua silhueta enquanto seu rosto permanece mas sombras. O que ele quer?

    — O que faz aqui?- pergunto me sentando na cama.

    — Shh...- ele sussurra pedindo silêncio.- Você vai acordá-los.

    — O que faz aqui?- repito a pergunta só que dessa vez mais baixo.

  Ele olha para os dois lados do corredor e então fecha a porta, quando ouvi o barulho da fechadura sendo passada a bile me subiu a garganta. Devagar se aproximou da cama, a cada passo que ele dava para mais perto sua silhueta parecia maior e mais assustadora, ele é apenas um ano mais velho mas é infinitamente maior.

    — Eu vim pedir desculpas- sussurra se sentando na beira da cama. Automaticamente dobro minhas pernas e me encolho.- Eu te assustei hoje, não foi minha intenção, juro que não foi.

  Não respondi, não há o que dizer, ele realmente me assustou e muito. Tanto que ainda estou com medo, e ainda mais agora com essa sua visita noturna.

    — Eu só queria te defender- ele diz acariciando meu rosto de leve.

    — Você pode ir agora, amanhã temos que acordar cedo para ir ao colégio.- peço sentindo minha pele se arrepiar, arrepios de medo.

    — Eu não deixaria nada acontecer com você Camila, nunca...- ele continua ignorando ao meu pedido.- Você é linda, não deveria nunca ser machucada.

  Seus sussurros eram suaves assim como o vento lá fora, mas não se pode confiar no vento, o vento as vezes é traiçoeiro e causa estragos, quando ele se aproximou aos poucos do meu rosto eu soube que também não podia confiar nele. Suas mãos seguraram minha cabeça e ele colou nossos lábios forçando um beijo, eu o empurro.

    — Saia daqui, AGORA- peço sentindo minha garganta fechar.

    — Eu te amo- confessa tentando se aproximar novamente.- Sempre amei, desde a primeira vez que te vi.

    — Você está louco- digo me levantando da cama. Em pânico, eu estou entrando em pânico.

  Rapidamente ele se levanta e me segura forte pelo braço.

    — Como nunca percebeu Camila?- ele pergunta me jogando na cama e ficando sobre mim.- Eu sempre fui louco por você.

    — Não, por favor...- imploro sentindo as lágrimas escaparem pelos cantos dos meus olhos.

  Suas mãos aprisionaram meus pulsos sobre a cabeça, meu coração parece prestes a explodir no meu peito. Sufocando. Eu estou sufocando, quero gritar mas nenhum som sai da minha boca, tento me soltar mas o peso de seu corpo me mantém presa ao colchão.

    — Eu não vou te machucar- prometeu enquanto tirava meu pijama a força.

  Ele repetiu essas mesmas palavras depois que eu estava completamente nua, também as repetiu quando me violou agressivamente e depois que o mal estava feito. Eu sangrei, não só meu corpo mas toda a minha alma sangrou naquele momento, e continuei a sangrar até perder os sentidos.

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