Capítulo 7
Eu, Amélia, Teodór, a chefe das empregadas e mais um batalhão de servos estávamos todos fazendo um tour pelo castelo, para quem visse aparentaria ser uma comitiva. Uma semana após o início da reforma do jardim que estava se encaminhando de forma promissora, meus olhos se voltaram ao interior do palácio. Olhando para sua estrutura, ela estava em boas condições, o problema era mesmo na aparência.
Não havia sequer um cômodo que pudesse ser mantido como estava. A maioria dos móveis dos quartos e anexos principais estavam em bons estados de conservação, o ponto é que eles não ornavam, eu havia assistido muitos canais dos irmãos a obra de tabela para saber disso com propriedade no assunto.
O palácio tinha cerca de cinco andares contando com o térreo e subsolo, abrigava nele em seu térreo um hall de entrada que dava acesso às duas salas de visitas, uma privada e a outra pública que ficavam em lados opostos, um enorme salão onde eram feitas as refeições e aconteciam as festas e banquetes, havia também uma sala de jantar menor, para uma refeição com poucos ou nenhum convidado. Nessa parte do castelo também ficava a cozinha dos empregados, depósito de provisões e alimentos e dava acesso através dela, a uma escadaria que descia ao subsolo onde moravam as empregadas. Respectivamente, abrigava um lance de escadas majestoso que dava acesso às duas alas do primeiro andar, onde ficavam os doze quartos de hóspedes na ala esquerda e na ala oposta encontravam-se a biblioteca pública, a sala de leitura, e a sala destinada a jogos e confraternizações dos hóspedes masculinos, ao lado ficava a sala destinada às damas, uma sala de chás, uma de reuniões e uma varanda que há muito tinham deixado as plantas morrerem. Seguindo para o segundo andar, ficavam na ala esquerda os dois quartos dos senhores, um ocupado por mim e Russell, e outro vazio. Na ala direita ficavam dois escritórios, um de Russell e um que deveria ser ocupado por mim, uma sala de reuniões e salas que eram usadas para guardar arquivos e documentos. E por fim, no terceiro andar, ficava a biblioteca privada que ocupava o andar inteiro.
Logo após passar boa parte do dia conhecendo os principais cômodos do palácio e mais duas horas tentando montar um plano de reforma para cada um deles e lamentando o fato de estar sem meu celular, pois esse trabalho teria sido bem mais fácil com ele, tomei ciência de alguns detalhes que Russell, segundo a empregada chefe, tinha me dado total autoridade sobre o palácio com exceção das masmorras, as alas destinadas aos guardas e a biblioteca privativa. Sendo a última motivo de confusão. Eu podia entender os motivos de Russell não me querer mexendo nas masmorras e afins, porém, a biblioteca privativa me deixou bastante confusa. Até mesmo durante a visita com os empregados, todos inclusive Amélia e Teodór pareciam determinados em fazer minha permanência lá a mais curta possível.
Após dispensar os criados, ficamos novamente somente Teodór, Amélia e eu. Não conseguia conter minha curiosidade referente a biblioteca, confesso que isso pode ter sido realmente infantil visto pelo lado do proibido me tentar. Bom, desde que Russell dissera que eu apenas não poderia reformar lá, suponho que sua ordem não se aplicava em ir e apenas observá-la, não é mesmo? Com o pensamento em escapulir para a biblioteca, olhei para meus dois companheiros que tinham suas atenções inteiramente voltadas para mim. Amélia não seria realmente um problema, já Teodór eu teria que pensar em uma forma de fazê-lo me deixar sozinha.
Enquanto caminhávamos de volta ao meu escritório, me ocorreu a ideia de como dar um perdido em minha tão capacitada escolta. Com um sorriso sapeca no rosto, tomei a frente no caminho até o meu recém-descoberto escritório, passando pelos corredores de aparência velha e mórbida. Entrando em minha sala, que não estava diferente do resto do palácio, tomei a nota mental de começar a reforma por ela.
Ao sentar-me em minha cadeira, fingi estar analisando alguns papéis relacionados à reforma do jardim, e tal qual uma atriz de novela, dei um leve tapa na minha testa com a palma da mão. Os olhos de ambos me encararam surpresos, como se minha atitude fosse tão inusitada quanto um macaco de saia.
— Minha senhora está bem? — A voz preocupada de Amélia deixou tudo mais engraçado do que era.
— Acabo de me dar conta de que cometi um grande equívoco... — disse simulando uma voz preocupada. Tanto Amélia quanto Teodór arquearam as sobrancelhas. — Esqueci de entregar esse relatório para o jardineiro responsável pelo jardim... O que eu faço? Estou tão cansada... — completei com um drama digno de Oscar. Teodór me encarou com os olhos suspeitos, enquanto Amélia parecia ter captado a mensagem.
— Oh meu... Eu realmente não sou uma serva digna de estar com a minha senhora — disse Amélia enquanto colocava uma falsa expressão de culpa no rosto atraindo a atenção de Teodór que a encarou com os olhos confusos. — Não se preocupe, minha senhora, Teodór irá entregar sua encomenda para o jardineiro.
— Oh! Fico muito agradecida por ser premiada com uma escolta tão gentil! — disse com um grande sorriso no rosto, acompanhada com a eficiência de Amélia que logo tratou de entregar os papéis para ele. — Ah, Amélia diga ao cozinheiro que prepare um almoço bem energizante, pois tenho muita fome...
— Como queira, minha senhora. — Minha cúmplice deixou o escritório com uma breve reverência e logo tratou de arrastar uma escolta confusa junto.
Depois de garantir que ambos já estavam longe o suficiente para não nos esbarrarmos, tomei o caminho de volta à biblioteca privativa. Após subir a sinuosa escada com pisos cintilantes, voltei a estar de frente com a enorme porta de madeira cheia de símbolos entalhadas em seu corpo. Cuidadosamente abri caminho através dela, tomando cuidado para não fazer barulho e atrair a atenção dos criados, empurrei a enorme porta para finalmente poder explorar o interior daquele cômodo cheio de livros.
Logo que adentrei o ambiente fui tomada pelo odor inegável de livros. De fato, não importa onde você esteja, biblioteca tem sempre um cheiro inconfundível. Observando com mais cuidado, a biblioteca estava em um estado diferente do restante do castelo. Ao contrário dos outros cômodos do palácio, que eram cheios de móveis e paredes escuras, a biblioteca era surpreendentemente decorada com tons claros, com estantes em tons pastéis e as poucas paredes visíveis eram brancas, um divã na cor branca estava posicionado ao centro da biblioteca, com uma pequena mesa com um abajur em cima ao lado. As janelas eram mais espaçosas do que as outras, deixando o ambiente mais iluminado, com cortinas claras, feitas de tecido blackout.
Ainda surpresa com a diferente biblioteca, andei por entre as estantes, para logo descobrir que a biblioteca tinha o teto muito elevado, dando a impressão de dois andares. Parecia que todos os livros do mundo estavam reunidos no mesmo lugar. Quanto mais eu passeava pelo local, mais e mais ia descobrindo o quão aquele cômodo era extenso. E ao parecer, do teto ao chão, não havia só um lugar das estantes vazio. Quanto mais eu olhava para aquela imensidão de amontoados de livros, mais eu sentia falta da tecnologia. Mesmo parecendo um problema fútil, era difícil imaginar ter que pesquisar qualquer coisa quando se olhava para uma quantidade imensurável de papéis prensados em capa grossa.
— Que falta o Google faz...
Apesar da vontade de continuar explorando a enorme biblioteca, eu tive que retornar depressa para meu escritório, pois logo Amélia e Teodór retornariam e seria difícil arranjar uma explicação para o último. Ao chegar de volta na minha sala e encontrar Amélia arrumando a mesa do almoço, me dei conta que na verdade estava com muita fome.
Amélia era uma moça muito discreta, não era do tipo que fazia perguntas. Era bastante fiel ao seu mestre. Apesar da aparência comum, prestando mais atenção ela era bonita, mesmo estando usando roupas de empregada, que convenhamos não valoriza ninguém.
Ao terminar de almoçar um belo cervo assado com rodelas de limão, finalmente senti o cansaço bater. Meus olhos estavam pesados pela sonolência, e meu corpo mole, dominado pela preguiça e vontade de deitar. Mas infelizmente, não poderia atender ao pedido do meu corpo, pois em meia hora conheceria meu novo professor...
Russell tinha cumprido sua promessa em partes, pois como eu pedi, ele me conseguiu um professor, discreto o suficiente para não tornar público que a futura mãe do Império precisaria tomar lições sobre a corte, e capaz o suficiente para me ensinar etiqueta e os costumes do palácio e alta sociedade. Porém, eu ainda não tinha uma pessoa para me ensinar equitação, acredito que Russell realmente se preocupava com um novo acidente pudesse ocorrer se eu montasse um cavalo novamente.
— Minha senhora. — Amélia chamou minha atenção pela terceira vez consecutiva. Aparentemente o professor havia chegado e me aguardava na sala de visitas.
Minha mente estava voando solta por aí depois que vi aquela enorme biblioteca, algo que é proibido só pode significar uma coisa: tem coisa boa lá.
— Todas as graças à futura senhora deste Império, princesa herdeira Ametista de Luziméria. — O homem me reverenciou de forma respeitosa, retribuí a atenção da melhor forma que pude.
O homem não era tão alto, e nem tão magro, tinha cabelos ondulados num tom de castanho-escuro, a pele preta refletia o dourado do sol, o que contrastava com os olhos de tonalidade azul-esverdeada, protegidos por detrás de uma armação simples de óculos. Ele não parecia ter mais de trinta anos, sua beleza seria muito atrativa se não fosse por um detalhe, o jovem adulto usava um saiote laranja?
— Seja bem-vindo ao Palácio do príncipe herdeiro, senhor...? — Sorri aguardando sua resposta.
— Oh, não tenho nome, minha senhora, nosso grupo não recebe diferenciação nominal, mas caso sinta necessidade, pode chamar-me por Miol. — O tom de sua voz era gentil ao extremo, mas ele transmitia uma energia diferente que eu não conseguia decifrar.
— Mi... Miol? — infelizmente repeti em voz alta.
— Mestre Intelectual do Ocidente Leste. — Ele tratou de se explicar. Como se aquilo fizesse algum sentido para mim.
Um ponto de interrogação gigante surgiu sobre minha cabeça.
— Certo, senhor Miol. — Vi pelo rabicho dos olhos uma Amélia satisfeita por me ver usando os pronomes corretamente. — E o que o senhor tem a me ensinar?
— Antes de mais nada a senhora deveria saber que meus métodos de ensino podem ser um tanto quanto não convencionais.
— Não convencionais? — Alô Nasa, o ponto de interrogação já pode ser enxergado aí do espaço?
— Permita que eu lhe mostre. — Ele estendeu a mão para me mostrar a direção.
— Por favor, mostre o caminho. — Sorri tentando esconder minha confusão. Vou fingir costume sim.
O homem seguiu na frente enquanto eu reduzi meus passos para ficar pareada com Teodór. Ombros com ombros.
— Psiu, Teodór — eu o chamei sem o bendito pronome e consegui escutar Amélia crispando atrás.
Teodór me olhou sem muito interesse.
— Teodór, me escuta — cochichei — Tá me escutando?
— Estou, senhora. — Ele suspirou.
— Quem é esse tal aí? Miol o quê? — perguntava enquanto cutucava a costela dele com o meu cotovelo. Ele precisava me dar atenção, carambolas. Tenho certeza que sabe quem é.
— É um monge, minha senhora. Miol é a denominação dada a todos os monges letrados.
— Monge... você diz um professor monge? — Forcei minha garganta a engolir a saliva. — Aqueles monges das montanhas?
— Sim, senhora. — Não sei por que, mas vi um flash de luz nos olhos de Teodór. Sádico.
Russell estava louco? Eu queria um professor de etiqueta, só isso... Não um professor monge. E se ele resolver quebrar meus dedinhos delicados se eu não conseguir responder suas questões? Aquela voz macia não me engana.
— Teodór, e eu posso confiar nele? — Voltei a perguntar.
Meu guarda me encarou receoso, aposto que eu poderia criar ali um duelo de pontos de interrogação.
— Sim, vossa Alteza.
Não sei por que, mas me senti mais aliviada após suas palavras.
O monge parou de andar assim que chegamos a uma grande sala com seus móveis afastados para nos dar mais espaço. Uma pilha de livros me aguardava ao lado da porta. Pelo visto eu iria ler muita coisa.
Amélia despediu-se de mim com um aceno de boa sorte, junto com uma versão alegre demais de Teodór. Ele disse que estaria do outro lado da porta, mesmo eu quase implorando para ficar na sala junto comigo. Pelos céus, Teodór só podia me odiar.
Miol andava em círculos pela sala, e eu só conseguia imaginar que logo ele faria um golpe de muay thai e me nocautearia. Eu tinha todos os motivos para sentir insegurança dos professores monges, primeiro que eles eram armas de carne e ossos que não faziam o uso de nenhum instrumento perfurante que fosse, e segundo que eles eram os responsáveis por moldar os senhores do ferro, geração após geração. Senhores herdeiros já são brutais, imagina quem treinou eles assim?
— Lição número um. — Ele parou de andar e me encarou, meu corpo gelou instantaneamente. — Solte os ombros, relaxe o corpo para relaxar a mente. Uma pessoa muito tensa queima sua imaginação cedo demais.
— Relaxar? Como assim relaxar? — questionei ainda tensa.
— Sente-se aqui. Onde o sol pega. — Miol sinalizou um ponto próximo a uma enorme janela. Ainda receosa fui até lá e me sentei, com as pernas cruzadas. — Tua mente é extensão da tua alma, criança. Sinta o calor da vida. — A voz suave me atingiu como um ronronar confortável e acolhedor.
— Feche os olhos — ele continuou. — Agora sinta o mundo nascer e morrer. Somos luz e universo, somos caos e confusão, bagunça e criação, malcriados e inacabados buscando a perfeição.
Senti um leve peso atingir o topo de minha cabeça.
— Relaxe, sinta a sua conexão, regule seus chakras, equalize o seu ser, veja-se por dentro. — Miol me orientava a atingir algum estado de... Nirvana? — Somos momentos, de tempos em tempos constelações, pura energia, em sincronia, somos canções, em paz, por fé, ou pela emoção. Somos imensidão.
Ele tocou levemente meus ombros, e eu não sabia mais o que era seu toque e o que era o toque do sol.
— Nossa mente comanda nosso corpo, nossa mente determina o que sentimos ou o que deixamos de sentir. — Os pássaros cantavam por todos os lados, o sol me abraçava como se me ninasse e minha mente explodiu em fogos de artifício, enviando descargas energéticas até meus dedos mindinhos. — Só sentirá fome se sua mente permitir, apenas doerá se perder a mente. Enquanto sua mente estiver no controle nada nunca a deixará.
Miol orientou-me a ficar em pé e andar pela sala, ainda de olhos fechados, confiando no meu sexto sentido. Eu sentia como se flutuasse. Leve feito uma pluma.
— Nossa mente faz maravilhas quando a permitimos agir. — O calor agora vinha de sua voz. — Abra os olhos, princesa.
Lentamente permiti que a claridade atingisse minha visão. No reflexo de um espelho emoldurado à parede eu pude ver que havia facilmente quinze livros empilhados sobre minha cabeça, e mesmo com aquele peso eu conseguia me mover graciosamente. Que bruxaria era aquela?
Arfei emocionada, Miol era incrível, um verdadeiro mestre da yoga, seria muito famoso na minha realidade.
— Vá até aquela cadeira e sente-se nela. — Ele apontou o móvel obsoleto sozinho no ambiente. — Eu gostaria de ensiná-la ao ar livre, princesa, mas o jovem mestre não permitiu, então teremos que nos adaptar.
— Tudo bem. — Suspirei agora tensa. E se aquela pilha de livros caísse de minha cabeça? Será que Miol sabia que eu não iria absorver o conteúdo daqueles livros por osmose?
— Relaxe e deixe acontecer. — Minha mente poluída de uma mulher de vinte e nove anos que não era mais nenhuma santa levou aquela frase totalmente ao sentido errado da coisa. Se Russell me falasse uma coisa dessas eu ia pular naquele homem tão forte que nem guindaste na causa.
— O que mais vou aprender? — Minha ansiedade ganhava voz.
— Primeiro você aprende a controlar sua mente, depois você recebe o conteúdo. — Apesar de ter sido um puxão de orelha, foi meigo.
...
Russell milagrosamente apareceu aquela noite para jantar comigo, eu poderia facilmente culpar sua curiosidade para saber como foi meu primeiro dia com o professor escolhido por ele.
— Como foi seu dia, princesa? — Seu tom neutro de sempre correu pelo ambiente.
— Meu dia foi emocionante em vários sentidos. — Sorri enquanto fazia uma ervilha dançar de um lado para o outro do prato. Provocando sua curiosidade.
— Deve estar cansada então... — ele comentou, instigando-me mais ainda. Maldito Russell.
— Para você? Nunca. — Sorri mostrando minha pior faceta. Russell apenas balançou sua cabeça de um lado para o outro e alcançou a taça de vinho. — Ainda mais depois das técnicas corporais que aprendi hoje.
Foi divertido ver Russell dar uma breve engasgada com o vinho e me encarar profundamente.
— O que disse?
— Russell de Montigomery, onde o senhor meu marido estava com a cabeça quando escolheu um monge para ser meu professor de etiqueta? — Eu o encarei de volta e vi um semblante de alívio se formar em sua testa. — Um monge, Russell?
— O que tem?
— E você diz o que tem? Russell, é um monge mestre de sei lá quantos tipos de artes marciais, você quer que eu aprenda a dançar ou a arrancar um coração com minhas próprias mãos?
Russell não conseguia mais manter a pose quando finalmente começou a rir. Parecia uma risada genuína, eu cheguei a ver um rubor subindo de seu peito até o pescoço. Definitivamente, eu nunca conseguiria me sentar naquele homem... Eu era uma espécie de piada para ele.
Talvez eu o tenha traumatizado e por isso o Imperador disse que ele não pretendia se casar novamente. Ametista, o terror dos principezinhos.
— Confesso que seria uma visão divertida te ver com um coração nas mãos. — Ele havia recuperado os ânimos.
— Você diz isso agora, quero ver se for o seu. — Eu o encarei firme.
— O meu, minha dama? — Russell elevou uma sobrancelha.
— Sim. O seu. — Sorri diabólica. — Você sabe, com minha mente eu poderia fazer qualquer coisa, até mesmo dominar o coração de um homem que supostamente não tem um.
— Mas eu tenho um coração. — Ele sorriu sem mostrar os dentes.
— Sei, e ele faz seu sangue pulsar por todos os membros de seu corpo como aço líquido. — Ai, como eu gostaria de conhecer outros lugares de aço.
— A princesa fala tanta besteira que é até difícil acreditar que está realmente sã.
— Ametista, já falei para me chamar pelo meu nome. — Pelos deuses, eu dava um passo para frente e dois para trás. — Confessa que você gosta mais de mim agora. Confesse ou usarei minha mente para obrigar você a confessar.
— Talvez, eu tenha minimamente preferido a sua versão da espora do cavalo. — Ele era cruel. Provocativo e cruel.
— E sobre seu coração, talvez, eu minimamente o prefira nas minhas mãos. — Russell balançou novamente a cabeça.
— Melhor ir dormir, já está falando besteiras demais. Chega de vinho para você.
— Não... — reclamei recusando-me a entregar-lhe a taça. — Preciso beber mais um pouquinho, toda aquela graça de poder da mente não está funcionando agora.
— Poder da mente?
— É, você sabe. Sobre configurar a mente para não sentir dor. — Suspirei tocando meu pescoço dolorido pelo peso que carreguei durante toda a tarde.
— Não é sobre não sentir dor, é sobre fazer seu corpo se acostumar a ela ao ponto dela não te incomodar mais. — Ele concluiu o pensamento.
— Isso é muito cruel, então serei obrigada a sofrer até calejar?
— Sim. — Ele sorriu.
— Russell, meu marido, você é uma criatura muito cruel. Sabia? Por que não poderia ter me dado um professor normal, desses que me fazem ler livros e decorar cartilhas?
— Porque confio que Miol será mais útil. Dê tempo ao tempo — ele disse se levantando e indo se ajeitar para dormir.
Mais que depressa eu fiz o mesmo, Amélia me ajudou a vestir uma camisola longa de seda prateada, sem muitos detalhes, que apesar do corte mais reto era muito bonita, enquanto os criados corriam para remover qualquer vestígio do jantar do quarto. Russell retornou quando eu me sentava na cama com a mão massageando o pescoço dolorido.
Ele deitou-se no sofá e se cobriu. Mas momentos depois estava olhando na minha direção.
— O que foi?
— Não consigo dormir com tanta lamentação.
— Mas está doendo. Poxa vida, deveria ter tomado mais vinho — falei mais para mim mesma do que para ele.
Ele suspirou e veio andando até mim. Os pés descalços, a calça escura folgada, uma camisa de linho clara. Aquele corpo divino de tão sensual.
— Deixe-me ver. — Seu corpo se projetou muito próximo ao meu. O toque de seu polegar na parte de trás do meu pescoço foi delicado e suave.
Seus dedos corriam atentamente por toda a delimitação da minha nuca. O contato suave perambulando pela região fez meu corpo incendiar. E sem perceber eu arfei. O cheiro de Russell era tão inebriante que eu poderia me afogar nele e morrer cantando.
— Está tudo bem, o que você sente deve ser apenas um desconforto momentâneo. — A voz dele estava baixa e convidativa. — Pela manhã já deve estar melhor.
— Tudo bem — concordei com certa dificuldade, por mais que tenha dado seu laudo ele não encerrou o contato.
— Suas pintas da região do pescoço parecem formar algum tipo de constelação. — Ele estava me examinando?— Algo que já vi.
— Você estudou as estrelas? — Minha voz ainda saía com dificuldade por ter ele colado a mim.
— Por um tempo. — Ele fez uma pausa longa. — A verdade é que prefiro apenas observá-las.
Virei meu rosto para conseguir olhá-lo nos olhos. Pude perceber quando a visão dele correu do topo de minha testa até a minha boca, e se demorou ali. Tomei coragem e comecei a me aproximar dele. Eu conseguiria aquele beijo.
Estava a centímetros de encostar nossas bocas, as respirações colidiram-se uma à outra, o calor que me dominou era tão intenso que fez minha visão embaçar. Senti um coração batendo forte e rápido, para só então me dar conta que aquele não era o meu, era o dele.
— Boa noite, princesa, lhe desejo melhoras — ele disse, lentamente saindo de meu lado na cama, vi nitidamente uma veia saltando em seu pescoço, ele estava lutando para resistir a mim? Era isso mesmo, produção? Russell evitou olhar na minha direção até o momento que se deitou no sofá e colocou-se de costas para a cama.
Meu corpo poderia facilmente desintegrar e virar poeira bem ali. Eu estava tremendo numa mistura de tensão e excitação. Russell era realmente cruel.
●・○・●・NOTA DO AUTOR・●・○・●
Bom diaaa!!!
Outonno e eu não temos palavras para agradecer todo o carinho, passamos de 1k de leituras <3
Um agradecimento especial para nossas guerreiras de aço que estão semana após semana conosco:
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Obrigada queridas que estão sempre comentando e nos alegrando, as que estão divulgando e ajudando nossa história a crescer, as que mandam mensagem no privado e até já criaram shipp <3
Obrigada de verdade <3
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